Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Depois do porre colossal que a Mione tomou, como será que vai ser o dia seguinte? E será que um certo ruivo vai aparecer com explicações?

Espero que gostem :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/692675/chapter/22

Abrir os olhos no dia seguinte foi um suplício, o alarme do meu celular tocava parecendo uma sirene na minha cabeça que explodia. Levei algum tempo para conseguir desligá-lo, pois meus membros estavam mais pesados do que o normal. Mesmo com a sede insuportável que eu sentia, não consegui levantar imediatamente, porém eu já não tinha ido para o escritório no dia anterior, não dava para faltar de novo.

No tempo em que fiquei tentando lidar com o fato de que teria que levantar, flashes da noite anterior passavam pela minha cabeça, eu lembrava de ter ido com o Harry para um bar e me acabado em doses de tequila. Eu sabia que tínhamos extravasado as nossas mágoas em relação aos “irmãos problema” das nossas vidas, tudo regado a mais álcool e xingamentos, mas além disso, o resto parecia um borrão na minha memória. Em algum momento eu devo ter ligado para o Ced, ele aparecia em algumas cenas, e me trouxe para casa. A última imagem que eu tinha, era do rosto dele sorrindo para mim ao meu lado na cama.

Coloquei para o fundo da minha mente atordoada, o fato de que eu não tive nenhuma notícia do Ron, mais um dia que passou e ele não fez nada. Eu precisava não prestar atenção nisso, se não, ou eu começaria a chorar de novo por querer que fosse diferente, ou teria um acesso de raiva por ainda acreditar que era possível. Com o humor que eu estava, o mais provável era a raiva desenfreada, então para o bem de tudo e todos a minha volta, eu joguei todos os pensamentos sobre aquele ruivo dentro de uma caixinha e tranquei com chaves e correntes, o dia precisava começar.

O alarme tocou de novo, dessa vez eu decidi levantar de verdade. Sentei-me com certa dificuldade e peguei o objeto estridente do criado mudo. Quando vi que já estava uma hora atrasada, entrei no modo desesperado. Mesmo de ressaca, eu não suportava chegar tarde. Ao pousar o celular de novo na mesinha, notei um copo de água com um bilhete do lado.

“Toma esse remédio antes de levantar, vai fazer bem pra sua cabecinha. Feliz primeira ressaca!

Até amanhã

Beijos

Ced”

Eu ri, o máximo que a minha dor de cabeça permitiu, com o gesto que era tão a cara do Ced. Peguei o comprimido que estava ao lado e engoli, realmente era a minha primeira ressaca, então era bom confiar no meu amigo nesse quesito, ele tinha muito mais experiência. Depois de tomar um banho e me arrumar, o efeito do remédio começou a agir, e eu melhorei consideravelmente, porém tudo ainda parecia alto demais à minha volta e a minha cara era a de alguém que tinha sido atropelado no dia anterior. Adicionando um óculos escuro ao meu visual, peguei a minha bolsa e fui trabalhar.

Pela primeira vez no decorrer da nossa amizade, o Ced chegou primeiro no trabalho, fato esse que não passaria batido por ele de jeito nenhum. Se até o segurança da portaria me perguntou se eu estava doente por ter percebido a minha ausência, eu já tinha me preparado psicologicamente para as gracinhas que escutaria do meu assistente.

—Consegui!! Cheguei primeiro, já posso morrer feliz! – ele se vangloriou ao correr atrás de mim enquanto eu entrava o mais sorrateiramente possível na minha sala.

—Você precisa gritar? – reclamei, ainda escutando os ecos de tambores na minha cabeça.

—Pode parar de ser rabugenta, essa dor de cabeça é culpa sua, não minha – ele me olhou de cima a baixo – aliás, na próxima ressaca eu deixo uma muda de roupa do lado do remédio, seu senso de moda foi comprometido pelo álcool.

—Não tem nada de errado com as minhas roupas – me defendi, jogando a bolsa sobre a mesa e me afundando na minha cadeira.

—Não exatamente, mas já teve dias melhores – ele ainda me olhava de canto de olho, claramente perturbado.

—Acordei atrasada, não deu pra experimentar o guarda-roupa inteiro – eu praticamente rosnei.

—Deixou a simpatia em casa também? Não coube na bolsa? Você devia ter trocado por outra – ele continuou implicando.

—Ced, você está querendo levar patadas? – encarei-o séria, meu humor não estava pra isso.

—Alguém está realmente rabugenta hoje.... está decidido, nada de porres pra você, terminantemente proibido! Gosto mais da minha amiga quando ela é legal.

A brincadeira me fez lembrar da outra proibição que ele havia feito já há um tempo, meus olhos se ergueram para buscar o quadro que ele tinha pendurado na porta da minha sala, encontrando apenas um lugar vazio. Esse era o Ced, barulhento e intrometido, sempre fazendo perguntas indiscretas, mas ao mesmo tempo, o amigo que se lembrava de tirar da minha vista algo que me fizesse recordar de quem tinha me machucado.

—Obrigada, Ced – falei de repente, tão do nada que ele parou no meio do que estava falando.

—Ao que devo a honra do agradecimento? – ele ergueu a sobrancelha, claramente desconfiado.

—A tudo... só obrigada – um sorriso tímido se instalou nos meus lábios e ele assentiu, entendendo que a minha reação englobava coisas que não precisavam ser ditas.

—Estou às ordens, chefinha.

—Eu só quero que esse dia acabe...

—Infelizmente, acabou foi de começar, vai levar um tempo ainda, mas com a minha maravilhosa companhia, vai ficar melhor – completou presunçoso.

—Eu amo como tudo pode virar de pernas para o ar, mas o seu ego continua firme e forte, ótimo ter alguma certeza na vida – brinquei, meu mau humor estava se esvaindo, outra das vantagens de ter o Ced por perto, ele clareia qualquer dia nublado.

—Prezo muito a constância da minha personalidade.

Eu ia responder mais alguma frase sarcástica, continuando nosso habitual jogo de gracinhas, quando escutei o meu celular tocando. Sem que eu pudesse evitar, meu coração deu uma cambalhota, já juntando todas as expectativas de que fosse o Ron. Como que sincronizados, meus olhos e os do Ced foram de encontro ao ponto de origem do som, sem que eu conseguisse me mover.

—Olha logo, Mi – ele me encorajou – se quiser eu atendo pra você.

Eu fiz que não com a cabeça e puxei o dispositivo de dentro da bolsa. Com certeza foi visível na minha cara a decepção quando vi que o nome escrito ali não era o dele, pois o olhar de ansiedade do Ced morreu junto com o meu.

—É o Harry – falei baixinho, fui com intenção de atender, mas um pensamento me veio cabeça – desde quando eu tenho o telefone dele?

—Atende que eu te conto depois – ele balançou a mão me apressando.

—Oi, Harry – atendi meio sem saber o que dizer, nosso encontro do dia anterior tinha terminado de maneira bem constrangedora para ambos.

—Oi, Mione ainda bem que consegui falar com você – ele parecia um tanto fora de eixo, como se estivesse preocupado com alguma coisa.

—O que foi? – perguntei querendo ajudar.

—Você por acaso não sabe onde está o meu carro, sabe?

—Você perdeu seu carro? – aquilo parecia tão absurdo que eu não consegui não achar graça.

—Eu não perdi... só não sei onde está  - completou encabulado.

—Ah, claro! Completamente diferente de perdido – eu inclinei o celular pra fora da boca e perguntei ao Ced – você viu o carro do Harry?

—Ele disse que tinha ido com você – meu amigo respondeu rapidamente, mas se sentou um pouquinho mais para frente da cadeira a fim de escutar tudo o que desse.

—Ah, é verdade! – voltei o celular a posição normal – você foi comigo no meu carro para o bar, Harry, deve ter deixado o seu carro lá perto do meu prédio.

—Ótimo, tudo o que eu queria era ter que ir até lá buscar.

—Mas hoje é sexta, você não vai encontrar problemas no caminho – ele sabia exatamente do que eu estava falando.

—Pelo menos isso. Obrigado pela ajuda com o carro.

—De nada, Harry.

—Só mais uma coisa... – ele fez uma pausa – eu me lembro de ter pegado o celular e tentado ligar para ela, me diz que eu não fiz isso.

—Eu me lembro vagamente disso também, mas não sei como terminou, espera um pouco, o Ced deve saber – perguntei ao meu amigo a dúvida do Harry.

—Claro que não o deixamos ligar, você podia estar bêbada, mas eu não. Vocês estão pensando que eu sou um amador, é? – ele respondeu indignado.

—Ouviu isso, Harry? – perguntei rindo do acesso do meu amigo.

—Ouvi, ainda bem. Agradece a ele depois.

—Pode deixar – eu não ia falar nada, mas acabei perguntando – Harry, você está bem?

Ele ficou alguns segundos em silêncio.

—Não – admitiu – e você?

—Também não, mas vamos ficar.

—Vamos – ele concordou.

Mais um momento mudo se instalou, ambos sabendo que nossas afirmações positivas soaram completamente falsas, no entanto admitir o contrário estava fora de cogitação.

—Vou indo, Mione, já estou mega atrasado. Qualquer coisa me liga

—Tchau, Harry o mesmo vale pra você.

Encerrei a ligação, e joguei o celular de qualquer jeito na mesa.

—Agora me conta melhor o que aconteceu ontem – pedi ao Ced.

—Bom, quando eu cheguei vocês já estavam bem bêbados e chorões, nada de surpreendente – ele deu de ombros – eu levei vocês pra casa e só, você pediu o telefone dele no caminho.

—Acho que a Ginny não ia gostar de uma cena dessas – zombei - ela me olhou estranho só de eu falar das roupas deles, mas.... – foi ai que me dei conta da besteira que estava falando, por um momento me esqueci que eles haviam brigado.

—Mas o que?

—Mas nada, eles brigaram, e pelo que ele disse, ela não está ligando muito para o que ele está fazendo – respondi.

—Você acredita nisso?

—Nem um pouco, ela gosta dele, mas minhas crenças não estão muito corretas ultimamente – completei amarga – a noite de ontem é a prova disso.

—Eu acho que você não está errada em nenhum quesito – ele olhou bem para os meus olhos, tentando me dar confiança.

—Bem que eu queria que fosse verdade, mas o relógio está correndo, Ced... cada volta de ponteiro aponta para um erro de minha parte.

—Vamos ter que esperar e ver então.

—Só não sei até quando eu aguento – confessei.

Meu coração ainda batia com a esperança teimosa, mas ficava cada vez mais difícil com o tempo passando. No dia seguinte, eu me recordei de que havia marcado uma reunião com a Martha para começar o trabalho do vestido da filha dela. Um novo dia em que eu não acordei bem, mais um em que o Ron não apareceu. Porém, eu não cancelaria, minha vida não podia parar em virtude dele. Joguei a cara feia de lado, obriguei o meu coração a afrouxar um pouco as amarras que o deixava batendo tão apertado esses dias e fui até o endereço que a minha cliente tinha me passado.

Foi fácil encontrar o local com as instruções detalhadas que me tinham sido dadas, além do fato de que se tratava da maior casa que eu já tinha visto na vida. Aparentemente ser um dos donos de uma empresa de moda era um ramo bem lucrativo para se investir. Parei meu carro em frente à portaria, o funcionário naquele posto me falou que eu estava sendo esperada e abriu o portão para que eu estacionasse o carro no interior da propriedade. Percorri o caminho até a porta onde toquei a campainha. A casa era tão grandiosa que sinceramente eu não me surpreenderia que um mordomo ou uma governanta viesse atender a porta, no entanto foi a própria Martha que me recebeu.

—Olá, Hermione, vamos entrando – ela me cumprimentou e se afastou para que eu entrasse – estamos ansiosas para começar.

—Quem bom, eu vim cheia de ideias – não era exatamente verdade, a confecção daquele vestido ficou um pouco esquecida nos últimos dias, mas eu estava realmente empolgada, estava fora de cogitação deixar o que aconteceu afetar o que me deixava animada.

—Eu não sei onde fica melhor para conversarmos.

—Hoje é apenas uma entrevista inicial, Martha, qualquer lugar está bom – expliquei.

—Então vamos para a sala de visitas.

Ela me guiou até o cômodo, passando por vários outros, todos muito bem decorados, percebi  só de ver o ambiente. Eu notei que aquela mulher à minha frente tinha bom gosto, o que só me deixou mais feliz por ela ter apreciado tanto o meu vestido.

—Aqui estamos – entramos na sala de visitas, que era praticamente do tamanho do meu apartamento e nos sentamos em poltronas uma ao lado da outra – a minha filha já vem, está terminando de se arrumar, sabe como são as meninas dessa idade.

—Nem melhora tanto com o tempo – falei bem humorada.

—Nisso você tem razão – ela concordou sorrindo – enquanto ela não chega, o que você precisa saber para o trabalho ficar perfeito?

—Todos os detalhes da festa que você puder me dizer ajudam. Por exemplo, a festa é temática?

—Ah, sim! Nem me lembra da dor de cabeça que foi escolher esse tema – o olhar de sofrimento que ela me lançou já me deu a entender que foi uma lista longa – ficamos quase dois meses só para a Bel se decidir, estava me deixando louca. Você vai ver que ela é muito indecisa, e sempre que ela escolhia um, acabava mudando de novo depois de ir na festa de alguma amiga.

—Não se preocupe, estou acostumada com indecisão, lido com isso diariamente, mas então, qual é o tema?

—No final ficamos com Alice no país das maravilhas.

—Dá para pensar em várias decorações lindas com esse tema! – eu já estava divagando nas possibilidades.

—Tantas que ainda não está tudo definido. – mais uma vez a cara de desespero apareceu, decidi mudar de assunto.

—Então temos um vestido de Alice para fazer?

—Acho que ela está tendendo mais para rainha de copas... – a mãe não parecia muito satisfeita com o assunto.

—Preto a vermelho são bem incomuns para a ocasião.

—Foi o que eu disse a ela, vamos ver se ela te escuta.

Nesse momento a porta se abriu e uma garota, miudinha e loira, que era só sorrisos e animação entrou na sala.

—Hermione, essa é a Isabel, minha filha – eu me levantei assim que ela veio em cumprimentar.

—Pode me chamar só de Bel, mesmo.

Tudo bem, Bel – nos sentamos novamente – sua mãe estava me falando do tema da sua festa.

—Ai, vai ser lindo não vai? – ela tinha os olhos brilhando só de pensar no assunto, eu quase ri de tanta empolgação, mas era compreensível.

—Com certeza. Então me diz o que você quer no seu vestido.

—Não sei direito o que eu quero...

—Você sabe o que não quer pelo menos? – tentei uma outra abordagem.

—Ah isso eu sei! Não quero parecer um suspiro – ela disse convicta.

—Suspiro?

—Ela diz que esses vestidos brancos bufantes parecem suspiros – a mãe me explicou.

—Bom, quando não são feitos de maneira correta, podem dar um resultado de merengue mesmo – eu me diverti com essa ideia, o Ced pensaria a mesma coisa.

—Pois é, eu acho horrível, e todo mundo fica igual, não quero usar branco.

—Você tem a possibilidade de se vestir com as cores dos personagens do tema, ficaria bom.

—Eu estava pensando nisso, poderia ser preto com alguns detalhes em vermelho, igual a rainha de copas – a Martha me olhou por detrás da filha, me implorando com os olhos para fazer alguma coisa.

—Isso é uma ideia, mas posso ser sincera, Bel?

—Claro.

—Um vestido preto com vermelho, não combinaria tanto com o seu tom de pele e cabelo quanto um mais claro, como o azul da Alice – era a mais pura verdade, eu não estava dizendo aquilo só para agradar a mãe da menina – e além disso, quem tem que se destacar mais nessa festa?

—A aniversariante! – a menina não precisou nem de cinco segundos para responder.

—Exatamente, e qual você acha que é a cor que a maioria dos convidados usa?

—Preto – ela falou, compreendendo onde eu queria chegar.

—Não dá pra se destacar muito assim, dá?

—Acho que você tem razão

—Então que tal ser a Alice? Os cabelos loiros você já tem – eu sorri encorajando a decisão, e ela pareceu se animar com a ideia.

—Mas não quero que seja um vestido azul sem graça.

—Não vai ser, eu prometo.

Emendei uma conversa animada sobre vários detalhes que eu precisava para saber o gosto dela, além de tirar medidas e avaliar o formato do corpo. Aos poucos fui formando uma imagem do que a menina realmente queria, mesmo que ela ainda não tivesse isso muito claro na cabeça. Eu coletei informação o suficiente para trabalhar em algumas ideias, terminando a reunião com olhares ansiosos por parte das minhas clientes. Combinamos de nos vermos novamente quando eu tivesse alguns esboços. A Bel se despediu de mim quase aos pulinhos, e a mãe dela veio em acompanhar até a porta.

—Não sei como você conseguiu, mas obrigada por se livrar da ideia da Rainha de copas.

—Só estou fazendo o meu trabalho, realmente o azul claro vai ficar melhor nela.

—Ainda bem que ela te ouviu, essa meninada adora não escutar o que as mães dizem.

—Ela vai ficar linda de Alice – eu afirmei, ganhando um sorriso da minha cliente.

Ao voltar para casa, toda distração da tarde passada com a garotinha animada e a sua mãe foram novamente eclipsadas pelos sentimentos dos quais estava difícil fugir. Eu tinha conseguido adiar pensar nele, colocando a minha mente totalmente no trabalho, mas chegar no meu apartamento vazio, que nos últimos tempos sempre tinha a presença dele num final de semana, tornou impossível continuar ignorando. Eu queria saber o que ele estava fazendo, se pensava em mim tanto quanto eu pensava nele, por mais que eu achasse que não. A melancolia atingiu o ponto máximo com a chegada da noite, onde não tinha nenhum sorriso para me acompanhar no jantar.

Me rendi ao poço de memórias e quando vi eu estava sentada na minha cama, rodeada de cada pedacinho de lembrança que eu tinha dele. Bilhetes que ele havia deixado para mim, as fotos que eu tinha no celular, a caneta que eu havia ganhado, o desenho ridículo das árvores feito durante nossa viagem e até mesmo o ingresso do primeiro filme que tínhamos ido ver junto. Revi tudo, parando em cada foto, interpretando cada palavra, tudo em busca de alguma resposta para a pergunta que me atormentava: eu tinha me enganado? O pior era ver o sorriso dele, tão lindo e vibrante ao meu lado nas nossas fotos, e pensar que não foi o suficiente, mas por outro lado, ainda era sábado, quem sabe ele só não precisava do final de semana para colocar as ideias em ordem.

Meu domingo foi passado numa morosidade sem fim, eu não estava muito animada para sair, até porque eu ainda tinha esperança de que ele fosse aparecer. Com a chegada da segunda feira, minhas expectativas se dissolveram.

—Que cara é essa, Mi? – o Ced perguntou logo no inicio do dia.

—A minha – declarei seca.

—Ainda bem que eu sei falar hermionês – ele zombou – e consigo traduzir essa frase para: ele não veio me procurar.

—Eu não quero falar sobre isso, Ced – eu estava com raiva, e magoada, não precisava de ninguém me lembrando.

—Tudo bem... mas só foram alguns dias ainda – ele disse com simpatia.

—Alguns dias? – levantei a voz indignada - pode até parecer assim para quem precisa aparecer, mas para quem está esperando já foi tempo demais.

—Não seja tão impaciente, Mi.

—Ele não vai me procurar – murmurei.

—Não tem como você saber isso ainda.

—De que adianta ficar esperando? Ficar me enganado dizendo a mim mesma que ele só precisa de mais tempo, teria sido melhor se ele tivesse dito na minha cara que não queria nada a mais – a raiva voltou para ficar.

—Acho que você está se precipitando, chefinha – ele me olhou com cuidado, medindo cada uma das palavras.

—Não tem precipitação nenhuma, eu só cansei. Cansei de ser a pessoa que espera a boa vontade de outra para ser feliz. Não quero mais ir dormir aguardando a minha campainha tocar. Eu falei pra ele que não ia ficar esperando para sempre.

—Você nem sabe porque ele agiu como agiu.

—Mais um motivo para eu não esperar mais, pois se eu não sei, é porque ele não em contou.

—Eu não vou te dizer como viver sua vida, mas sempre deixei a minha opinião bem clara em relação a tudo e acho que você está se apressando – ele completou com cautela.

—Que bom que eu não pedia a sua opinião! – falei seca.

Na mesma hora eu me arrependi das palavras, pois o olhar machucado do Ced conseguiu fazer o meu coração se apertar ainda mais, eu nunca o tinha visto assim, ainda mais por minha culpa. Abria boca para me desculpar, mas ele foi mais rápido.

—Acho melhor eu voltar para a minha mesa, tem muito trabalho a ser feito.

Eu fiquei tão mortificada que nem consegui ir atrás dele. Ótimo, eu estava ali me remoendo em raiva pelo Ron, e acabei magoando o meu amigo que nunca fez nada além de me apoiar. Ele me evitou o resto do dia, quando eu fui chamá-lo para almoçar, ele já tinha ido, e parecia sumir todas as vezes que eu tentei falar com ele. Fui embora naquele dia, me sentindo a pior pessoa do mundo. Cheguei em casa totalmente enfurecida pela minha reação em relação ao Ced, acabei descontando tudo na pessoa que deveria ser o alvo da minha raiva, ou melhor, no que tinha sobrado de evidências dele a minha volta.

Peguei um saco preto de lixo e comecei a juntar ali tudo o que eu tinha guardado do meu tempo com o Ron. Os bilhetes, o ingresso, aquele desenho idiota, até as lingeries que eu comprei para os aniversários dele entraram na dança. Fechei o saco com força e larguei na área de serviço ao lado da lata de lixo que eu tinha, apenas esperando para ser jogado fora. Terminei a limpeza sentando no sofá e pegando meu celular. Para o lixo também foram todas as fotos que tivessem sequer um vislumbre de cabelos ruivos. Apaguei tudo o que me lembrasse dele, disposta a deixar de vez para trás o que me prendia no lugar.

Eu tinha mesmo feito aquilo, fiquei encarando a galeria do meu celular, onde não tinha mais nenhum vestígio dos meus olhos azuis favoritos e senti uma pontada de arrependimento. Contudo, já era tarde para voltar atrás, e o melhor que eu tinha a fazer era seguir em frente a arrumar as coisas com o Ced, pois perder o meu amigo também não podia ser nem uma possibilidade. Fiquei alguns minutos pensando em como remediaria a situação, eu precisava pedir desculpas. Acabei decidindo o que fazer, só esperava que o meu amigo se dispusesse a me escutar.

Montei guarda do lado da mesa dele no dia seguinte, ele teria que vir até ali quando chegasse, não conseguiria me evitar.

—Está precisando de algo? – nada do humor habitual dele permeava a pergunta.

—Oi, Ced – comecei meio sem saber como prosseguir – eu queria falar com você.

—Se não for algo do trabalho, eu não estou interessado Srta Granger – o que mais doeu não foi nem a recusa, foi o ele não me chamar por nenhum dos vários apelidos que tinha para mim, aquilo soou tão distante que eu me desesperei um pouco.

—Não faz assim, Ced. Deixa eu me desculpar, por favor – ele sentou na cadeira dele e eu fiquei com as mãos apoiadas na mesa, olhando insistentemente enquanto ele permanecia calado.

Aquilo era a reprise de uma cena que eu não queria reviver nunca mais.

—Fala alguma coisa, Ced, você também não – murmurei.

Ele respirou fundo, ainda sério.

—Com essa cara de criança perdida não dá nem pra te ignorar.

—Vamos jantar hoje, deixa eu me desculpar direito, você pode brigar comigo o quanto quiser – eu me encorajei com a reação dele.

—Posso escolher o lugar também? – ele arqueou a sobrancelha.

—Claro, qualquer lugar – concordei imediatamente.

—Vou reservar e te aviso – ele pegou o telefone e eu entendi que era a minha deixa para sair, ele não queria falar mais no momento.

Eu já estava a alguns passos quando ele me chamou.

—E mais uma coisa, é bom você se desculpar direitinho, eu sou exigente! E pagar a conta também – eu assenti , e ao ver um sorriso minúsculo surgindo no rosto dele, me alegrei por saber que aquela batalha eu não ia perder.

Claro que o restaurante que o Ced escolheu estava na lista dos mais exclusivos da cidade, elegante e disputadíssimo. Eu não fazia ideia das mágicas que ele usava para conseguir reservas, pois aquele era o tipo de lugar que estaria lotado até mesmo numa terça feria qualquer. Ele falou que me encontraria lá as oito, e que era para eu ir muito bem vestida. Relevei totalmente a observação sobre minha escolha de roupas e a provável fortuna que eu pagaria por esse jantar, eu tinha sido grossa de uma maneira inaceitável com ele, isso seria pouco para me desculpar.

Acabei me atrasando para chegar em casa, o trânsito não colaborou muito, mas já fui pensando no caminho o que usaria, então foi só chegar em casa, tomar banho e colocar o vestido xadrez que ele tinha insistido para que eu levasse no dia em que fui escolher o presente da Ginny. Ao terminar de arrumar o cabelo e a maquiagem, fiquei sem tempo para trocar de bolsa, e terminei pegando a mesma bolsa preta que eu tinha usado esses dias, por sorte ela era elegante o suficiente para combinar com o resto do look, eu não correria o risco de me atrasar e dar a impressão errada ao meu amigo.

Fiquei contente ao constatar que tinha chegado primeiro no restaurante. Eu estive ali apenas uma vez, em um jantar de comemoração com os meus pais, o lugar continuava tão encantador como naquela época. Fui levada a mesa designada para o nosso jantar e pedi uma água enquanto esperava o Ced chegar. Quinze minutos já tinham passado do horário combinado e eu comecei a me preocupar, será que ele tinha desistido de vir? Meu estômago afundou com a possibilidade, que as oito e meia eu já achava ser bem provável. Meus olhos escaneavam a entrada do restaurante periodicamente, e eu nem me importava que todos percebessem, já que eu estava sentada de costas e tinha que me virar para poder ter a visão do local.

A ansiedade me levou a tamborilar os dedos na mesa, eu estava quase ligando para ele, quando uma voz conhecida soou atrás de mim.

—Com medo que eu não viesse? – o Ced estava vestido em toda a sua glória, me olhando como se me desafiasse a contestar.

—Você fez de propósito – declarei com a certeza de que ele tinha ficado me observando esperar por ele.

—Quem está bravo aqui sou eu, pode arrumar outro papel para você, além disso, foi só pra você dar mais valor ao seu amiguinho aqui – ele passou por mim e sentou a minha frente.

Um garçom veio em nossa direção mas eu indiquei que faríamos os nossos pedidos mais tarde.

—Ai, Ced, desculpa – eu respirei fundo, me lembrando de que a errada da história era eu -  eu vou representar o papel da idiota arrependida, pode ser?

—Claro, já pode começar – ele fez um gesto com a mão indicando que estava esperando.

—Eu não podia ter falado daquele jeito com você, Ced, por favor, me desculpa, eu estava nervosa e acabei descontando em você que não tem nada a ver com isso – fiz uma pausa, tentando juntar as ideias.

—Prossiga.

—Você nunca deixou de estar ao meu lado para tudo e eu amo todas as suas opiniões, mesmo as mais descabidas, pode continuar com elas – eu vi um lampejo de satisfação no olhar dele e comecei a relaxar.

—Ótimo, eu não pretendia parar mesmo – ele deu de ombros -  só não quero mais patadas, esse rosto lindo não nasceu para saco de pancadas.

—Não vai se repetir, eu prometo. Já desisti que algo possa acontecer em relação ao Ron, não vou mais ficar remoendo as coisas, pode ficar sossegado, você não vai mais me ver de cara feia por isso.

—Desistiu? Como assim? – ali estava o Ced curioso de volta, ele dispensou a pose de sentido com a qual tinha chegado, e já queria saber da minha decisão.

—Já me desfiz de tudo, juntei no lixo.

—Tudo o que? – ele perguntou confuso.

—Tudo o que eu guardei dele, bilhetes, as fotos do meu celular, até as lingeries que eu me dei ao trabalho de comprar.

—Ah, não, Mi! Eram tão lindas! – ele resmungou.

—Mas iam sempre me lembrar dele.

—E você já jogou fora?

—Eu... – acabei percebendo que não tinha terminado de me desfazer das coisas - esqueci de tirar o lixo hoje, mas vou jogar sim!

—Hum... – ele levou a mão ao queixo.

—O que é esse hum? – perguntei desconfiada.

—Nada.

—Nunca é nada, Ced – revirei os olhos.

—Eu só acho que você está se enganando com isso.

—Primeiro, nós estamos bem, Ced? Ou você ainda está bravo comigo?

—Estamos bem, a sua sorte é que eu te amo demais para continuar bravo, além de te conhecer muito bem e saber que não era sua intenção.

—Obrigada – falei sincera - eu também te amo demais, com suas opiniões intrometidas e tudo – ele riu e eu me juntei a ele.

—Fico feliz, mas para que a declaração toda de amor?

—Foi só para ter certeza que eu podia dizer que você é o enganado nessa história, eu não estou errada, apenas deixei de me iludir e me livrei de tudo que pudesse me lembrar dele e me fazer continuar com essa ilusão.

—Ah é? – o tom de ironia não passou despercebido.

—Sim – declarei com firmeza.

—Me passa a sua bolsa, por favor – ele esticou a mão em direção a ela.

—O que você quer com a minha bolsa?

—Só provar um argumento.

Eu passei o objeto para ele, achando aquilo muito estranho.

—Primeiro, nesses anos todos que eu te conheço, nunca vi você usar a mesma bolsa por tanto tempo, o que em si já é um sinal, e se você quer tanto assim se livrar de tudo que te lembre do seu Ron, o que isso está fazendo aqui? – ele abriu a minha bolsa e puxou de lá de dentro a caixinha com a caneta que o Ron tinha me dado.

Eu havia contado a ele sobre o presente, e claro que ele era observador o suficiente para se lembrar exatamente onde estava.

—Eu... não me lembrei que estava ai – murmurei engasgando com as palavras.

—Não lembrou, tem certeza? Nem a bolsa você trocou que era para não ter que mexer na caneta.

—Não tem nada a ver, Ced, até esqueci que estava ai – aquilo não era exatamente verdade.

—É pior ainda, então. Inconscientemente você não quer se desprender totalmente, Mi, eu aposto com você como o saco de lixo vai continuar onde está.

—Você está sendo malvado comigo – reclamei, ele não precisava ficar jogando na minha cara que eu não ia conseguir me livrar de tudo.

—Só estou te poupando horas de negação, como o amigo maravilhoso que sou – ele colocou a caneta de volta e me devolveu a bolsa.

—Eu não quero continuar esperando, Ced.

—Tem coisas que a gente não controla, Mi, entende logo isso que vai doer menos.

—E eu faço o que então? – essa era a pergunta para qual eu não tinha resposta.

—Espera – ele falou sem demora.

—Esperar? Esperar o que?

—Ou ele aparecer, ou esse sentimento passar, de todo jeito não é fácil.

—Desde quando você é tão sábio?

—Esse acessório vem de fábrica, Mimizinha – ele disse convencido e eu me alegrei ao ouvir o apelido idiota de novo.

Com o assunto das minhas desculpas resolvido, eu chamei novamente o garçom e finalmente demos inicio ao nosso jantar. Mantemos o resto da conversa em assuntos mais leves, principalmente com as milhares de perguntas que o Ced tinha sobre o vestido da minha cliente. Nos despedimos com um beijo e um abraço, me deixando segura de que tudo esta normal entre nós, e fazendo uma nota mental de nunca mais ser uma idiota rude com o meu amigo.

Nos dias que se seguiram, eu me habituei a chegar mais tarde do que o normal em casa, eu não gostava de todo o tempo que eu tinha apenas comigo como companhia, ainda mais num local em que cada canto guardava alguma memória. Passei a adiantar o serviço até mais tarde, e a pensar no design do vestido de Alice que eu tinha para fazer, eu queria que fosse perfeito, então precisaria de muitas tentativas. O final de semana chegou se arrastando e apenas para me jogar na cara de que o Ced estava certo e o saco de lixo que eu juntei ainda permanecia firme e forte na minha área de serviço, onde eu sempre olhava e “deixava para amanhã”.

Na tarde do sábado, eu estava precisando ocupar a minha mente, alguns minutos antes eu havia chegado, a duras penas, ao final de um livro e não tinha mais o que fazer. Acabei tendo a ideia de fazer um bolo, fui até a cozinha e me certifiquei de que tinha tudo o que precisava. Encher a cara de bolo era uma boa ideia, principalmente de chocolate com bastante recheio. Eu estava separando os ingredientes quando a campainha tocou. Minha mão ficou parada no ar, segurando o pote de farinha que eu tinha tirado do armário. Todo o meu discurso de conseguir esquecer e continuar a minha vida foi suplantado pela força da esperança que voltou radiante. Tinha que ser ele. Com o coração martelando no peito, eu abri a porta, mas os olhos que me encararam, apesar de parecidos, não eram os dele.

—Oi, Mione – a minha vizinha me cumprimentou.

Ela tinha um ar meio cansado, e a cara de quem tinha desaprendido a sorrir. Eu sabia muito bem qual era o sentimento, bem como a razão por trás do estado de espírito dela. No entanto isso não diminui a minha decepção por ela ser o integrante errado da família Weasley à minha porta.

—Oi – eu disse seca, mas imediatamente me lembrei do que fiz com o Ced e emendei uma resposta mais simpática – entra Gin, mas qualquer coisa sobre o seu irmão fica do lado de fora – fiz questão de deixar aquilo claro de uma vez.

— Mione, não consigo lidar nem com os meus problemas, você acha que vou tentar resolver a do meu irmão? – eu assenti e ela entrou.

Por mais que eu não estivesse com o humor bom para conversar com a irmã do Ron, antes de mais nada ela era a minha amiga, e se tinha vindo até ali, era porque estava precisando realmente, já que eu duvidava que ela não soubesse o que tinha se passado entre mim e o Ron.

—Você está bem, Ginny? – tentei fazer a pergunta no tom mais casual possível, eu não ia revelar que já sabia a história toda contada pela boca do Harry na mesa de um bar.

—Não exatamente – ela respondeu desanimada.

—Vem cá, me conta isso direito – nos sentamos no sofá e eu joguei de lado os meus problemas para fazer direito o papel de melhor amiga.

—Eu e o Harry brigamos – ela começou.

Ser uma boa atriz estava fora das minhas competências, então decidi desviar a atenção da minha reação fazendo outra pergunta.

—Foi sério?

—Foi, terminamos – ela detalhou os acontecimentos, dizendo que ele tinha sido insensível e que não quis escutar.

O problema é que eu tinha escutado o outro lado da história, e mesmo com as partes apagadas pelo álcool, sabia que não tinha sido bem assim, os dois tinham saído magoados daquela briga, cada um com suas razões que, sem saber o real motivo, eu não conseguia avaliar de maneira imparcial.

—Pelo menos ele falou alguma coisa – deixei escapar ácida.

Ela me olhou de canto, sem dizer nada, mas ficou claro para mim que ela tinha entendido. Eu não ia perguntar sobre o Ron, por mais que eu estivesse morrendo para saber qualquer coisa.

—Eu preferia que ele não tivesse gritado, nem falado as coisa que falou – ela continuou – ele me chamou de ingrata e egoísta! Eu sou egoísta, Mione?

Ela me encarou e eu vi no fundo dos olhos dela, a insegurança que tão raramente aparecia naquele semblante, era claro que ela não queria estar separada dele.

—Claro que não, Ginny. Ele também não acha isso, com certeza falou só no momento de raiva.

—Você não viu a maneira que ele me olhou, o jeito que ele falou comigo.

—Posso não ter visto, mas você também não viu como ele ficou depois – mordi a língua com o meu deslize, ela me olhou confusa e eu tratei de remendar a situação – o que eu quero dizer é que não dá pra você ter certeza, Gin, ele deve estar sofrendo tanto quanto você.

—Duvido, ele foi embora e pronto.

—Ginny, eu vi vocês dois juntos, vocês se gostam bem mais do que só um pouco. Tenho certeza que isso vai se ajeitar.

—Ele já devia ter aparecido e pedido desculpas – o tom dela me dizia que ela não estava conseguindo lidar com o fato de que nada disso tinha acontecido, e eu entendia perfeitamente qual era a sensação de esperar por alguém que não chegava nunca.

A nossa situação não estava muito diferente, ambas precisando de qualquer tipo de distração, até porque eu duvidava que alguma coisa que eu dissesse fosse melhorar o animo da minha amiga, não adiantava nada ficar ali dizendo que tudo ia melhorar e que o futuro a nossa espera era cor de rosa com estrelinhas douradas. Decidi partir para uma tática mais prática, ocupar a mente para não se afundar nos pensamentos.

—Eu estava começando a fazer um bolo, que me ajudar? Daqueles bem cheios de chocolate, depois a gente se acaba de comer, o que acha?

—Adorei a ideia de muito chocolate, mas eu não sou muito confiável na cozinha.

—Não precisa ser, só vai seguindo minhas indicações.

Fizemos o bolo quase que em silêncio, deixando de lado nossas respectivas preocupações. Quando terminei de rechear e cobrir a sobremesa, eu peguei dois pratos e nos sentamos a mesa para dar início a melhor parte que era comer. Estávamos quase no meio do bolo, ainda sem falar sobre nada muito significativo, quando a Ginny levantou os olhos do prato e disse.

—O que eu faço, Mione?

Como ela esperava que eu tivesse uma resposta para isso, nem sobre a minha vida eu tinha muita ideia, imagina a de terceiros. Mas ela estava precisando de conforto e de alguém que dissesse algumas coisas que provavelmente ela não estava disposta a ouvir.

—Olha Gin, não vou fingir que sei a resposta certa para isso, mas pelo tanto que você me contou da história, eu acho que você devia ir falar com ele, escutar o que ele tem a dizer agora de cabeça fria.

—Ele diz aquelas coisas e eu tenho que ir atrás dele? – ela não estava nervosa, parecia apenas perdida sobre o que deveria fazer.

—Você mandou ele embora, Ginny. Acho que a palavra final foi sua, mesmo que ele tenha dito o que não devia.

Ela ficou calada ponderando o assunto, aparentemente meu conselho deu bastante o que pensar. Nos despedimos pouco tempo depois, ela saiu levando metade do que sobrou do bolo, não que tenha sido muita coisa. Eu fechei a porta assim que ela entrou no apartamento em frente, dividida entre o arrependimento e o alívio de não ter perguntado nada sobre o Ron.

A próxima semana passou sem que eu nem prestasse muita atenção, meus dias viraram um sucessão de horas de trabalho. Eu chegava mais cedo do que nunca e saia o mais tarde possível, de maneira a estar cansada o suficiente para me jogar na cama e dormir. Foi a maneira que eu encontrei para deixar de ficar pensando em como mais uma semana tinha passado sem que eu tivesse notícias do Ron. Quem não estava gostando dessa história era o Ced, que me chamou atenção diversas vezes, até que na sexta feira ele decidiu ser mais incisivo.

—Chefinha, você está passando dos limites, pode arrumar suas coisas que você vai embora – ele me olhou sério.

—Ainda não são nem cinco horas, Ced!

—E daí? Você trabalhou mais horas nessa semana do que muita gente trabalha num mês.

—Eu não me importo, tenho muita coisa para fazer.

—Você está achando muita coisa para fazer, é diferente – ele não ia me deixar mudar de assunto.

—Eu não gosto de ficar sem nada pra fazer, Ced. Ficar em casa não está me ajudando – expliquei.

—Mi, você não pode simplesmente trabalhar até o ponto de exaustão, isso não está te fazendo bem, a cada dia você está mais cansada.

—Eu aguento – afirmei, por mais que eu soubesse que ele estava certo.

—Vou ter que ligar para a sua mãe? E não pense que eu não ligo!

—Ai, Ced... – eu nunca duvidaria que ele seria capaz mesmo de ligar, decidi que seria mais fácil entrar na onda dele, pelo menos aquele dia – tudo bem, eu vou.

—Adoro quando você é sensata – ele zombou.

Comecei a arrumar as minhas coisas, me distraindo com a papelada na minha mesa a ponto de não perceber o meu celular tocando.

—Chefinha – levantei os olhos e encontrei o meu amigo encarando a tela do meu celular com os olhos espantados.

Segui o olhar dele e gelei inteira ao ver o nome do Ron no display. Peguei o celular e não consegui me mover mais, nem desgrudar os olhos da tela eu conseguia.

—Não vai atender? – ele perguntou com cuidado.

Eu ia atender? Pra ser sincera eu não sabia o que pensar. Tudo começou a passar tão rápido na minha cabeça... Mais de duas semanas se notícias, todo esse tempo  debatendo entre a loucura e a sensatez que seria esperar por algum sinal dele. Agora que tinha se concretizado, eu não me senti disposta a escutar. Se ele me fez esperar tanto tempo, não era pelo telefone que eu ia ouvir o que ele tinha a dizer. Deslizei o dedo na tela e recusei a ligação.

—Por que você fez isso? – o Ced falou surpreso.

—Não quero escutar, só isso – dei de ombros.

—Você não está falando sério – ele estava incrédulo.

—Acho que eu mereço mais do que uma ligação depois de dias e dias de silencio – declarei.

—Bom, você não está errada, mas...

—Não tem mas, Ced – eu o interrompi – estou indo para casa, lugar esse que ele também sabe o endereço.

Meu amigo não falou mais nada depois disso. Eu peguei as minhas coisas e corri para o meu carro. O tempo todo com a sensação de que eu tinha deixado uma oportunidade passar por mim, mas eu não queria mesmo ser dispensada pelo telefone. Pois era isso que eu sabia que ia ser, não se demorava mais de duas semanas para ir atrás de alguém que se gosta. Acabei desistindo de ir direto para casa, era cedo demais para passar tanto tempo lá. Fui tomar um café num lugar que não ficava muito longe do meu prédio, enrolando o máximo que consegui, sem parecer que eu simplesmente não queria sair do local.

Já estava escurecendo quando eu finalmente cheguei na garagem do meu prédio. Peguei o elevador, apertando o botão automaticamente como sempre. As portas se abriram e eu sai sem prestar a mínima atenção, porém a alguns passos da minha porta, meus olhos se fixaram na imagem que eu não sabia se vinha de algum sonho ou de um pesadelo. Ele estava sentado encostado na minha porta e os braços apoiados nos joelhos. Os olhos dele encontraram os meus assim que o barulho dos meus passo atraiu a atenção dele.

—Mione – ele disse baixinho.

Foi tudo o que precisou para eu não saber se corria de volta para o elevador ou para os braços dele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ai meu Deus!!! O Ron está lá esperando por ela!! Tem como pensar em qualquer outra coisa?
Teve Ced magoado, Harry perdendo o carro, bolo com a Ginny pedindo conselho, maaaaaas o que fica é o fato de que o nosso ruivo querido deu as caras! O que será que vai sair dai?
Aguardem o capítulo da semana que vem que está especial ;)
Me deixem feliz e comentem!!

Bjus