Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Começo hoje agradecendo a linda da Maria Black que fez uma recomendação muito especial! As suas pelavras me deixaram feliz demais, adoro saber que a história está sendo tão bem recebida, sua recomendação me inspira a querer escrever mais e mais, obrigada!

O segundo capítulo da semana, como prometido! Chegou bem no finzinho do dia, mas chegou ;)

Espero que gostem



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Acordar ao lado do Ron já não era nenhuma novidade, mas trazia um sorriso aos meus lábios mesmo assim. Acabamos indo dormir muito mais tarde do que o normal na noite anterior, então não me surpreendi ao ver que era quase hora do almoço quando abri meus olhos naquele domingo. Assim que eu consegui focar o mundo a minha volta, constatei que o Ron também estava passando pelo processo de tentar se livrar de todo o sono que parecia nos prender à cama.

—Bom dia – ele me cumprimentou dando um beijo na minha bochecha.

—Está mais para boa tarde – falei tentado contar um bocejo.

—Não é a toa que eu estou com fome.

—Eu também, mas está tão gostoso aqui – resmunguei me aconchegando de novo ao lado dele, tentando impedir a luz de chegar aos meus olhos.

—Infelizmente mágica não existe para fazer a comida aparecer.

—Eu ia adorar, com certeza facilitaria muitas coisas.

—A gente podia sair pra almoçar, espantar essa moleza toda... – ele sugeriu.

—Hum... estou precisando de um convencimento maior do que minha fome para sair dessa cama – ele riu da minha manha, mas não demorou a buscar argumentos.

—E se a gente fosse almoçar no shopping? Podíamos ver se tem algum filme bom passando depois.

—A oferta está melhorando – eu adorava ir ao cinema, mas o tempo andava tão corrido ultimamente que não dava tempo, além disso, eu nunca tinha ido com ele, o que não deixava de ser um ponto positivo.

—Vou tomar isso como um sim – ele tirou o braço de baixo de mim, se levantando de vez – anda, levanta.

—Já estou levantando – falei, mesmo que eu não tivesse intenção nenhuma de me mover ainda.

—To vendo – ele riu e contornou a cama indo em direção ao banheiro – não quer tomar um banho comigo antes de ir? – me virei para encará-lo, encontrando-o com seu melhor sorriso atrevido.

—Você devia ter começado com essa frase – brinquei estendendo a mão para que ele me desse um impulso para levantar.

Levamos uma hora para conseguir sair de casa. O Ron reclamou de fome o tempo todo que o fiz esperar por mim, mas ninguém o mandou molhar meus cabelos, eu tive que secá-los antes de concordar em aparecer em qualquer lugar público.

—Até que enfim chegamos! – ele comemorou ao entrarmos no shopping – vai ficar muito feio se eu for correndo para a praça de alimentação?

—Extremamente feio – prendi a mão dele na minha, impedindo-o de tentar qualquer gracinha, apesar de ter achado engraçado.

—Estraga prazeres – ele resmungou - meu estômago está praticamente um vácuo, mas pelo menos seu cabelo está lindo – completou com ironia.

—Que ótimo que você gostou – passei a mão pelos cabelos só para provocar mais um pouco.

Como era domingo, dia em que a maioria das pessoas acaba almoçando mais tarde, tivemos um pouco de dificuldade de encontrar uma mesa. Assim que nos sentamos, ele me perguntou o que eu queria e se prontificou a buscar a nossa comida. A fome era tanta, que não foi nem um problema interromper a conversa até que tivéssemos resolvido esse problema.

—Nem me lembrava da comida desse lugar ser tão boa assim, melhor coisa que já comi na vida! – o Ron falou ao chegar ao fim do prato.

—Seu exagerado – revirei os olhos e ele fez uma careta em protesto – a fome ajudou, isso sim.

Deixamos nossas bandejas nos locais adequados e fomos para o cinema ver se tinha algum filme que nos interessasse. Acabamos nos decidindo por uma comédia que tinha estreado naquela semana, não era nosso gênero favorito, mas estávamos ali para nos distrair apenas, e pela companhia, claro. Fiquei esperando na fila de entrada enquanto o Ron foi comprar algo para beber na bomboniere do cinema. Minutos depois, ele voltou com cara de criança levada e os braços cheios.

—Não acredito que você comprou um balde de pipoca! Acabamos de comer! – eu disse, incrédula, já rindo sem ele nem ter começado as desculpas, pois a cara dele dizia que sabia muito bem do absurdo.

—Mas é pipoca doce, considere sobremesa – ele pegou algumas e começou a comer – adoro pipoca doce.

—Eu nunca comi – confessei, e recebi um olhar arregalado de espanto de volta.

—Como assim? Você não teve infância?

—Claro que tive! Só não envolveu esse treco grudento – olhei com desdém para o saco cheio do doce.

—Você nunca comeu aquelas pipocas vermelhas que sempre tem em parques de diversão? – eu balancei a cabeça em negação – ou em praças, em quermesses? – quanto mais eu negava, mais ele tentava achar exemplos, mas foram todos mal sucedidos.

—Eu era uma criança de algodão doce, com licença? – me defendi.

—Pois não sabe o que perdeu a vida inteira, abre a boca – ele levou uma pipoca até os meus lábios.

—Não quero – desviei da mão dele, e logo em seguida a fila começou a andar.

Escolhemos os nossos lugares e nos acomodamos, esperando os minutos finais antes do filme começar.

—Experimenta, vai? – ele insistiu colocando novamente a pipoca na frente da minha boca.

—Ai, tá bom – me rendi à perseverança dele e abri a boca.

Ele ficou me olhando atentamente enquanto eu mastigava, aguardando minha opinião com ansiedade. E não é que aquilo era realmente uma delícia? Porém, eu decidi evitar a cara de convencido que ele teria até o fim da noite se eu admitisse aquilo em voz alta, então tentei sair pela tangente.

—Hum... até que é gostosinho.

—Gostosinho? Só isso? – ele me olhou desconfiado.

—Só, agora fica quieto que o filme já vai começar – salva pelo gongo, as luzes se apagaram e eu interrompi a discussão sobre a pipoca.

Ele levantou o apoio de mão que tinha entre nós e eu me acomodei encostada a ele, o que além de confortável, me colocou numa posição mais próxima ao saco daquelas delícias açucaradas, que eu comi junto com ele, sem perceber que estava me empolgando demais. O filme foi bom, garantiu boas risadas, e foi uma experiência diferente tê-lo ao meu lado para comentar as melhores partes. Assim que as luzes se acenderam, nós nos levantamos para sair. O Ron olhou para o pacote vazio de pipoca antes de jogar tudo no lixo.

—Se é assim que você come alguma coisa que achou “gostosinha”, não quero nem pensar no tamanho dos algodões doces que você comia – zombou, passando a mão na minha cintura e nos encaminhando para a saída.

—Eu nem comi tanto assim, estava só te ajudando a terminar – dei de ombros, mesmo sabendo que era uma mentira deslavada.

—Vou fingir que acredito só para te deixar feliz, tá? – ele deu um beijo na minha bochecha terminando esse assunto.

—Vamos passear um pouco? – pedi já usando minha cara de pidona, pois eu sabia não ser o local favorito dele.

—Hum...

—A gente olha só um pouquinho.

—Por que será que eu acho que você nunca ficou “só um pouquinho” entre lojas de um shopping? – ele estreitou os olhos enxergando rapidamente por trás da minha enrolação.

—Não faço ideia... você nem nunca andou comigo num shopping para saber, use isso como um experimento – sorri, incentivando uma decisão positiva.

—Ok, ok, mas a gente tem que sair antes das lojas fecharem, combinado?

—Bobo – reclamei, mas ele me deu um selinho, me distraindo da reclamação.

Andamos lentamente por entre os corredores, claro que eu prestava atenção em todas as vitrines e fazia comentários aos quais o Ron escutava com atenção, fazendo gracinhas sempre que possível. Acontece que para mim, uma ida ao shopping não era completa sem sair com pelo menos alguma coisinha, foi aí que uma ideia surgiu na minha cabeça, ajudada pela camisa linda que eu vi na loja que estávamos passando, claro.

—Você não me disse quando é a feira de games que vamos – comecei, como quem não quer nada.

—Ah, sim. É no sábado, começa de tarde e termina.... quando terminar.

—Muito preciso – eu ri, e ele ficou meio encabulado.

—Essas coisas não tem muita hora mesmo, vão ter os lançamentos da temporada e as pessoas às vezes se empolgam e não querem sair, mas você não precisa ficar o tempo todo.

—Tudo bem. Sabe... eu estava pensando – coloquei a mão no queixo, ajudando a minha pose de ponderação.

—Sobre?

—Você é o dono do seu estande, certo?

—Sim, tem um estande para a minha empresa.

—Então tem que ir bem vestido – continuei com a minha linha de raciocínio.

—Não é nada super chique que envolva um smoking, mas tenho que ir arrumado, claro – ele concordou, sem se dar conta de para onde minha mente estava indo, o que só deixava tudo mais divertido.

—Já pensou no que vai usar?

—Não, na hora eu penso.

—Como assim? Você vai expor o seu trabalho, não pode pensar de ultima hora, acho melhor darmos uma olhada por aqui...

—Comprar uma roupa nova? – ele perguntou meio desconfiado.

—Ótima ideia, Ron! Vi uma camisa linda na loja que passamos, vamos lá ver – eu puxei a mão dele para que me acompanhasse.

—Oi? Não entendi como isso aconteceu – ele disse ao parar na frente loja.

—Não é bonita? – apontei para a peça que eu havia gostado, sem dar atenção à cara de confuso dele.

—É – ele parecia meio hesitante.

—Vamos entrar para você experimentar – sorri animada, e ele só ficou mais atordoado ainda.

—Ai, Mione, detesto experimentar roupa.

—Só pra ver se essa fica boa – eu usei todas as minhas armas sem pudor, não estava muito longe de fazer um bico.

—Ai, Deus.... não sei nem como cheguei aqui, tá bom, vamos – ele suspirou, mas me acompanhou mesmo assim – pode ficar felizinha.

—Já estou.

Uma moça veio nos atender no instante em que passamos pela porta, eu pedi para ver a camisa azul marinho da vitrine e dei o número certo. Ficamos aguardando no balcão enquanto ela providenciava o que requisitei.

—Não sei nem qual foi a última vez que alguém escolheu minhas roupas por mim – ele coçou a cabeça pensativo.

—Você não precisa experimentar se não gostou, Ron.

—Não, não é isso! – balançou as mãos em negativa – falei num sentido positivo, é só que sou só eu há muito tempo, a Ginny nunca contou nesse quesito, ela liga tanto para roupas quanto eu.

—Pois saiba que ela anda sempre muito bem vestida – defendi a minha amiga, mas eu sabia que ele estava certo, a Ginny era uma pessoa prática, e isso se refletia nas escolhas do guarda roupa.

—Não vou discutir com você nesse tópico.

—Saudade da época que sua mãe escolhia as roupas? – eu não sei o que me fez perguntar, mas no momento em que as palavras saíram da minha boca, eu percebi que tinha falado demais, não que ele não fosse responder, mas a hesitação disse tudo.

—É... é isso.

—Desculpa, Ron, eu não devia ter me intrometido.

Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas a atendente voltou com o meu pedido, silenciando a resposta dele e me deixando eternamente curiosa, pois eu não traria o assunto à tona de novo, fazer a mesma besteira duas vezes não era algo que combinasse comigo.

—Vai lá provar, e trate de me mostrar como ficou antes de tirar – exigi, e ele revirou os olhos rindo, antes de entrar no provador.

Homens podiam até ser rápidos para trocar de roupa, mas se tinha algo mais rápido ainda, eram boas vendedoras. Enquanto o Ron se ocupada com a camisa que eu escolhi, a atendente me chamou a atenção.

—Eu trouxe mais alguns modelos no mesmo tamanho, camisas e camisetas da nova coleção, chegaram essa semana.

Não precisava falar mais nada para conseguir fisgar o meu foco, eu fui me juntar a ela olhando a pequena montanha de roupa que ela tinha colocado sobre o balcão, e rapidamente selecionado as que eu achava que combinariam muito bem com o Ron, já pensando, claro, em como eu o faria experimentar.

—Mione – ele me chamou, e pelo tom não tinha sido a primeira vez.

Fui até ele para avaliar o resultado.

—Ficou ótimo, Ron! Combina bem com a cor dos seus olhos – eu murmurei, ajeitando a gola.

—Você está elogiando só para eu levar, né?

—Não, estou elogiando porque é verdade – declarei de forma convicta – você vai levar?

—Acho que você não me perdoa se eu deixar essa blusa “tão linda” aqui abandonada, né? – provocou.

—Provavelmente, não....

—Já tem a resposta então – eu sorri contente, e ele se juntou a mim.

—Vou avisar a atendente – ele se virou para fechar a porta novamente – mas antes de você sair daí, não quer experimentar mais umas? – não custava tentar, eu adorava escolher roupas, não importa para quem, e as deles tinham um interesse especial.

—Mione! – exclamou exasperado – você disse quer era só essa.

—Ah, mas a moça veio me mostrar as peças que chegaram, e são todas tão lindas, eu separei as que combinam mais com você. Não precisa levar se não quiser, mas suas blusas estão precisando de uma renovada – eu tagarelava sem parar, usando a velha tática de vencer pelo cansaço.

—O que tem de errado com as minhas roupas?

—Nada, mas umas novas não fazem mal.

Ele estreitou os olhos, me observando calado por alguns segundos, antes de deixar um suspiro derrotado passas pelos lábios.

—Trás as roupas, vai – ele concordou, mesmo parecendo meio contrariado e eu não contive o sorriso triunfante.

Peguei a pilha e levei até ele.

—Tudo isso? Você desmontou a loja toda? – perguntou horrorizado.

—Para de drama, vai logo experimentar, vou sentar aqui nesse sofá e você vai me mostrando, se tiver alguma que você não gostar logo de cara, nem coloca.

—Que gentil da sua parte – comentou com sarcasmo – não vai se acostumando com isso, não, ouviu?

—Claro que não – concordei, mas o meu sorriso dizia o contrário, se fosse por mim, eu escolheria as roupas dele por um bom tempo.

Ficamos quase uma hora na loja, da onde saímos com várias sacolas depois de eu convencê-lo a levar a maioria das blusas que ele provou. Ficaram todas muito bem nele, e por mim, ele levaria todas, no entanto ele alegou que nem teria lugar para usar tanta roupa.

—Me lembre de nunca mais vir ao shopping contigo, se não vou à falência – ele resmungou.

—Até parece.

—Além da falência, eu teria que mudar de casa, porque não ia caber eu e toda a roupa.

—Ronald Weasley, você é um resmungão! – exclamei em meio a risadas.

Depois do filme e de todo o tempo gasto comprando roupas para o Ron, já estava na hora de comer de novo, então decidimos fazer nossa refeição ali mesmo antes de ir embora.

—Você vai ficar? – perguntei a ele ao nos aproximarmos do meu prédio.

Parecia que tínhamos entrado num tipo de rotina, onde não era mais estranho passarmos finais de semana juntos e o que eu mais queria era ele ao meu lado novamente essa noite.

—Hoje não dá – ele falou como se estivesse se desculpando – tenho uma reunião amanha bem cedo, não ia dar tempo de passar em casa antes e me arrumar.

—Roupas você tem – eu brinquei.

—Isso realmente não seria um problema, mas tenho que ter as minhas coisas a mão, não dá pra ir visitar um cliente sem toda a papelada.

—Tudo bem, tenho que chegar cedo amanhã também, com certeza tem muito trabalho me esperando.

—Mas você podia vir comigo...

—Podia?

—Aham, tem umas coisas que você precisa pegar lá em casa, não é? E você pode levar o que precisar pra se arrumar amanhã – argumentou.

—Tá, vou subir rapidinho e pegar o que eu preciso, te encontro na sua casa.

—Hã? – ele me parou quando fui abrir a porta para descer na calçada da frente do prédio.

—Preciso do meu carro amanhã, Ron – expliquei.

—Ah, claro, até daqui a pouco, então – ele se esticou para se despedir com um beijo rápido.

Fiz exatamente como planejado, cheguei ao meu apartamento e em menos de 15 minutos tinha juntado tudo o que precisaria para me arrumar na manhã seguinte. Desci até meu carro e dirigi até a casa dele. Quando eu cheguei, ele já tinha colocado uma roupa mais confortável e eu imitei a ação. Ainda tentei fazê-lo experimentar as blusas novamente, mas dessa vez combinando com as calças e sapatos que ele tinha, porém a tentativa foi em vão. Depois de olhares desesperados e exclamações frustradas por parte dele, eu desisti, pelo menos me arrancou boas risadas. Não muito tempo depois, fomos deitar, o dia começaria cedo para ambos.

—Tenho que tomar cuidado – ele murmurou depois que já estávamos aconchegados e as luzes apagadas.

—Com o que? – perguntei curiosa.

—Você!

—Eu? O que foi que eu fiz? – indaguei, por mais que já tivesse uma ideia de que mais manha sobre roupas novas estivessem chegando.

—Você não fez nada, eu que fiz e esse é o problema.

—Não vou nem fingir que entendi o que você está falando.

—Percebi agora como você é boa em me convencer a fazer qualquer coisa – comentou pensativo.

—Sorte a sua que eu nunca pensei em roubar um banco, então – zombei, mas na verdade o meu coração estava quase explodindo de felicidade no peito, mesmo que eu não soubesse exatamente o que essa declaração significava.

—Verdade, porque pelo jeito eu seria o primeiro a ser preso.

—Mas não se preocupe, não precisa tomar cuidado, eu sou apenas uma influência positiva.

—Positiva para o caixa das lojas isso, sim.

—Ai meu Deus, vai voltar no assunto das blusas de novo? Melhor esquecer isso, se não, uso meu novo super poder e te convenço a comprar mais – falei séria, mas mordendo a boca para evitar uma gargalhada, o lado bom é que o escuro não o deixava ver essa parte.

—Tá bom, já esqueci – respondeu depressa.

—Melhor assim – dei um beijo no ombro dele e poucos minutos depois estávamos dormindo.

Ele saiu tão cedo no dia seguinte que eu vi apenas vagamente quando ele se levantou. O cliente que ele visitaria era bem distante, então teria que sair realmente cedo de casa. No meu horário de sempre eu levantei, me arrumei e fui até a cozinha preparar um café da manhã rápido, apenas para encontrar um sanduiche já feito na geladeira e café pronto na garrafa térmica.

“Bom dia,

pena que não deu para tomar café da manhã com você, mas eu deixei uma coisinha na geladeira. Mais tarde a gente se fala.

Beijos

Ron”

Claro que eu li o bilhete sorrindo como a boba que eu era, mais um para a minha coleção de pequenos momentos. A nossa convivência mais assídua tinha me mostrado cada vez mais, um lado carinhoso e protetor do Ron o que tornava fácil eu me apaixonar mais a cada dia. Eu já era um caso perdido há um bom tempo, agora eu reconhecia, mas eram detalhes como ele ter pensado em deixar alguma coisa para mim, mesmo precisando sair tão cedo, que me mostravam que talvez, apenas talvez, eu não estivesse tão doida ao pensar que ele poderia querer a mesma coisa que eu.

Sentada sozinha na cozinha dele, passei os poucos minutos do meu café, ponderando se eu não estava sendo covarde à toa, quem sabe eu não devesse colocar tudo às claras e dizer como eu me sentia. Falar que pra mim, essa meia relação já não dava mais, eu queria tudo, era isso ou nada. Mas o monstrinho da insegurança ainda rondava a minha cabeça, e eu não consegui pensar em seguir em frente com essa ideia. Eu ia esperar mais um pouco, o quanto esse pouco seria, ainda estava aberto para debate.

Como eu esperava, muito trabalho atrasado me aguardava quando eu cheguei ao escritório. Inteirei-me rapidamente de tudo o que precisava ser feito, e não perdi tempo em começar, parando apenas quando o Ced entrou como um foguete na minha sala.

—Chefinhaaaa, que saudade! – ele pulou no meu pescoço, me abraçando como se não me visse há meio século.

—Menos, Ced, você está me mantando – dei uns tapinhas nas costas dele, tentando fazê-lo voltar ao seu modo normal, não que isso significasse muita coisa.

—Essa semana foi horrenda! Nunca mais fique longe de mim, pelo amor de mim! – uma semana sem esse drama todo já era o suficiente para me fazer rir com vontade de qualquer sofrimento dele.

—O que aconteceu? – não precisei pedir duas vezes, ele sentou na cadeira de sempre e passou o relatório completo.

Pelo jeito a dondoca, como eu já estava habituada a chamar a Sra Malfoy, tinha pegado o meu assistente para auxiliá-la nessa semana em que eu estava fora, e o Ced odiou cada minuto.

—Essa mulher é um pavor, Mi! Só de pensar na cara dela me dá vontade de me jogar pela janela.

—Mas o que foi que ela fez? Ela foi rude com você?

—Não exatamente.

—Te mandou fazer algo que não devia?

—Também, não.

—Ai, Ced! Está tudo na sua cabeça então, pare com isso! Que implicância besta! – repreendi o meu amigo, pelo jeito sem nenhum efeito, pois ele não parecia nem minimamente constrangido.

—Não gosto dela e pronto, é um país livre, certo? Posso não gostar de quem eu quiser – revirei os olhos, mas fiquei calada, sabendo que não teria como convencê-lo, ele era teimoso feito uma mula - E eu não fiz nada de errado ao trabalhar com ela, fui eficiente como sempre, só não gostei de nem um segundo.

—Ced, ela não vai a lugar nenhum, o melhor é pelo menos aceitar a presença da mulher por aqui, todo esse estresse vai te dar rugas – zombei.

—Claro que não! Rugas por essa dondoca? Jamais! – vociferou, indignado – só promete me levar na mala da próxima vez que você tiver que viajar sem mim, por favor – ele juntou as mãos em prece.

—Vou ver o que posso fazer, mas espero não ter uma próxima vez, o curso foi bem fraquinho – reclamei.

—Ah, conte tudo.

—Não tem o que dizer... O curso não ajudou em muita coisa, só para eu ficar com saudade de casa.

—E de um certo alguém – ele completou sorrindo.

—Sim.

—Adoro essa nova fase em que estamos! – ele declarou todo animado.

—Que fase? – perguntei confusa.

—A fase em que eu falo alguma coisa sobre o Sr Incêndio e você nem se dá ao trabalho de negar mais.

Esse meu amigo não existia mesmo. Mas de que adiantava negar na frente dele? Depois de tudo o que eu já falei, ficava até idiota, e além disso, era bom ter alguém com quem dividir tudo o que eu sentia, já que a pessoa mais óbvia para o cargo, não estava a par do assunto.

—Fico feliz de te deixar tão contente – falei em tom debochado – e você vai ficar mais alegre em saber que ele não só me ligou todos os dias, como estava me esperando no aeroporto quando eu cheguei.

—Isso era pra deixar quem contente mesmo? Eu ou você? – ele tinha um talento especial em sorrir como se soubesse de tudo o que estava passando na sua mente, e o pior é que eu acreditava que ele realmente soubesse.

—Fiquei feliz mesmo – dei de ombro como se não fosse nada.

—Tem mais é que ficar, esse seu Ron é um fofo, tá saindo melhor do que a encomenda. Você ficou com ele no final de semana? – eu assenti e, como se fosse possível, o sorriso dele só aumentou.

—Vim da casa dele hoje.

—Cada vez melhor.

—E ainda ficamos um tempão comprando roupas para ele no domingo, você precisava ver a cara de desespero dele quando eu mostrei a pilha de roupas que ele teria que experimentar – eu ri ao me recordar do momento.

—Own, já estão até brincando de casalzinho! Mi, você tem que falar com ele de uma vez!

—Eu vou falar, Ced... só ainda não – respondi relutante.

—Bom, eu espero, né? Fazer o que....

A semana passou sem muitos acontecimentos, começamos a implementar algumas mudanças instauradas pela nova consultora e a trabalhar nos primeiros esboços do que viria a ser nossas novas coleções. Claro, que tudo isso regado a muitas a muitos resmungos e reclamações do meu assistente, que era todo sorrisos na frente dos outros, mas era pra mim que sobrava o mau-humor. Nada de novo.

Pelo jeito o Ced estava certo ao dizer que eu tinha entrado em uma nova fase, agora era normal o fato de que eu e o Ron nos falávamos todos os dias. Não conseguimos nos ver durante a semana, pois ele estava muito atribulado com a feira do sábado, mas sempre encontrávamos um tempinho para uma ligação ou mensagens, o que me deixava muito feliz. Ver o nome dele no visor do celular, ou escutar a sua voz quando eu ligava, era garantia de um sorriso.

Na sexta feira, havia um recado me esperando quando eu voltei do meu horário de almoço. Aparentemente, a esposa de um dos nossos diretores tinha ido ao desfile e se apaixonado pelo vestido que eu estava usando. Ela ligou pedindo para que eu retornasse com a informação de quem havia desenhado o vestido. Eu era sincera o suficiente para admitir o orgulho que eu senti ao ouvir aquilo, nada melhor do que ver um trabalho seu sendo reconhecido. Isso não era algo pequeno, e eu corri para contar ao meu amigo, que com certeza daria pulinhos de alegria junto comigo.

—Ela falou especificamente do seu vestido, Mi? – ele perguntou admirado.

—Sim!

—Você tem que ligar logo para ela e ver o que a mulher quer! Não fica aí parada, pega o telefone.

Ele estava tão empolgado, que eu nem me importei de fazer a ligação com os olhos, e ouvidos, atentos dele me avaliando. A mulher, que agora eu sabia chamar Martha, atendeu no segundo toque, e ao ouvir a voz dela eu fiquei um tanto tensa, mas respirei fundo e me apresentei.

—Ah, sim! Que ótimo que você me retornou tão depressa – ela falou satisfeita, no que eu sentia ser uma voz simpática – então, teria como você me dizer quem foi o responsável pelo seu vestido, ou foi de alguma loja?

—Não senhora, foi feito aqui na nossa empresa mesmo.

—Oh, que ótimo, assim fica até mais fácil, você tem o contato do estilista? E por favor, me chame de Martha.

—Fui eu mesma quem desenhou – não sei porque, mas subitamente senti um ataque de timidez ao dizer aquilo, mas o olhar encorajador do meu amigo me deu confiança para continuar.

—Melhor ainda! Você tem muito talento, Hermione, posso te chamar assim?

—Claro.

—Sabe o que é, minha filha mais nova faz quinze anos em breve, e ela não quer nem pensar em ir atrás de vestidos nesses lugares de sempre. Nisso eu concordo com ela, os ateliês da cidade já estão muito batidos, vou em dezenas desses aniversários por anos e parece que todas estão vestidas da mesma maneira.

Eu não tinha uma resposta para isso, apenas indiquei que estava ouvindo e ela continuou.

—Então quando vi o seu vestido, eu percebi um tom diferente e a minha filha amou a descrição que eu fiz. Eu estou enrolando, querida, a questão é, eu gostaria de saber se você pode desenhar o vestido da minha filha para o aniversário.

—Nossa, eu... – aquilo me pegou de surpresa, e eu não soube como responder.

—Não precisa se apressar com a resposta, ainda temos um tempinho, mas eu adoraria que você aceitasse, não se preocupe com o orçamento, pois estou disposta a pagar o que for necessário.

O dinheiro não era o que estava preocupando a minha mente, e sim o quão certo seria fazer isso em relação ao meu trabalho.

—Eu vou ter que pensar, Martha. Como você sabe, eu já tenho um trabalho fixo aqui na empresa, e não sei se seria muito certo fazer serviços por fora.

—Ah, quanto a isso, eu discuti a possibilidade com o meu marido e ele não vê problema nenhum, desde que não atrapalhe os serviços da empresa.

—Isso já me deixa mais tranquila, mas mesmo assim preciso pensar no assunto – respondi com cautela, eu estava muito animada para dizer sim, mas era algo que teria que ser ponderado.

—Entendo, por que não fazemos assim: você pensa por um tempo, e aí me liga para dar o veredicto, que tal?

—Tudo bem, eu tentarei ter uma resposta o mais breve possível – com certeza a mulher não ia desistir fácil, mas eu agostava de pessoas que lutavam pelo que queriam, então não era um ponto negativo ao meu ver.

—Foi ótimo falar com você, Hermione, espero que possamos fazer negócios.

Eu me despedi e encerrei a ligação. O Ced me olhava ansioso por saber todos os detalhes, mas por um momento eu perdi o poder de fala. Essa era uma oportunidade quase mágica, pois estando dentro de uma empresa onde eu não tinha um cargo dentro do setor de design propriamente dito, ficava difícil ter a possibilidade de criar modelos como eu queria, e essa era a parte que eu mais amava. No fundo, o que eu sempre quis foi ter a minha própria empresa, onde pessoas viriam em busca de um sonho no formato de roupa, e eu me esforçaria para realiza-lo.

—Chefinha, eu to morrendo aqui, fala logo o que a mulher queria!

—Ela queria saber quem desenhou o meu vestido.

—Essa parte eu entendi, e? – ele balançou a mão pedindo mais.

—A filha dela vai fazer quinze anos e ela quer que eu desenhe o vestido! – só de falar para ele, eu sentia meus olhos brilhando.

—Chefinha! Isso é demais! – ele sorriu batendo palmas – mas por que você não aceitou? – claro que ele já sabia a minha resposta também.

—Não sei, Ced, eu tenho meu trabalho aqui...

—Ah, mas isso não tem nada a ver.

—Ela falou a mesma coisa, vou dar uma pensada no assunto.

—Pois pra mim você não tem nada para pensar, é só aceitar e pronto.

—Pra você tudo é feito sem prensar, não é mesmo?

—Nunca deu errado – ele deu de ombros.

Cheguei em casa naquele dia doida para ligar para o Ron e contar a novidade, no entanto ele não atendeu nenhuma das duas vezes que eu tentei. Provavelmente estava ocupado com os últimos preparativos do estande. Deixei o celular de lado, meio decepcionada de não poder compartilhar logo a notícia, e fui jantar. Eu já estava na cama quando ele retornou a ligação.

—Oi, Mione, desculpa não ter te atendido, só consegui ver meu celular agora, o dia foi uma loucura – ele falou tudo tão depressa que deve ter ficado sem fôlego.

—Não tem problema, Ron. Já está em casa?

—Jogado na cama, e rezando pra tudo dar certo amanhã.

—Vai dar sim, tenho certeza.

—Como você conseguiu dormir no dia antes do desfile?

—Vamos dizer que eu tive uma boa ajuda – respondi numa voz sugestiva.

—Eu devia ter ido buscar ajuda também, mas agora estou tão cansado que a cama não me deixa sair daqui – ele resmungou.

—A ajuda nem vai se propor a ir até você, porque de todo jeito a porta não vai se abrir sozinha – provoquei.

—A ajuda pode pular a janela, que tal? – ele falou, rindo.

—Pular janelas não está no currículo dessa ajuda em particular, mas não se preocupe que ela te encontra amanhã de tarde.

—Estarei esperando. E o seu dia? Mais tranquilo que o meu, eu espero...

—Com certeza, mas tenho uma novidade! – respondi animada.

—Fala.

Eu passei os próximos minutos recontando os acontecimentos daquela tarde, e fiquei mais feliz ainda ao ver que ele se animou junto comigo.

—Isso é fantástico, Mione! – ele me parabenizou antes de fazer uma pausa – o que me deixou mais triste ainda por não ter conhecido de perto esse vestido.

—Faço um jantar aqui em casa para apresentar vocês se esse é o problema, deixo até os dois sozinhos para se conhecerem melhor.

—Prefiro você dentro do vestido – ele murmurou, me fazendo rir para o nada – mas e a proposta, já pensou se vai aceitar?

—Ainda não, tenho que pensar direito nesse assunto, não é algo que eu possa decidir sem pesar tudo, afinal tenho um emprego.

—Claro, você está certa, mas eu acho que devia aceitar sim.

—Você e o Ced deviam fazer um time... – resmunguei sem pensar, esquecendo aquele tópico delicado.

—Quer dizer que o seu “amigo”, pensa igual a mim? – perguntou com o sarcasmo habitual.

—Por mais incrível que pareça para você – respondi de maneira bem humorada, tentando amenizar o clima.

—Até que ele é meio esperto então – eu contive o impulso de fazer uma gracinha sobre o Ron estar elogiando o Ced, era melhor nem chamar muita atenção ao assunto, uma evolução sem precedentes nessa história.

Nos despedimos pouco tempo depois, já que o Ron parecia realmente moído dos afazeres do dia e precisava descansar para encarar tudo o que viria pela frente no dia seguinte.

Eu combinei com ele de chegar no final da tarde na feira, assim ele teria um tempinho para passear comigo entre as apresentações do começo e da noite. Me aprontei com cuidado, prestando atenção para não estar arrumada demais nem de menos. Escolhi um vestido simples de magas longas cor de uva, ele tinha o corte solto e o decote alto, mas tudo o que escondia em cima, era recompensado pelo comprimento quase perto de ser escandalosamente curto. Completei o visual com uma meia preta, sapatos de salto alto e um colar comprido. Decidi sair com os cabelos cacheados naquele dia, o que na verdade me dava mais trabalho do que se eu simplesmente escovasse o cabelo como era o hábito, mas eu adorava o resultado, e valia a pena o esforço.

Cheguei ao centro de convenções que abrigava a feira e andei por entre os corredores apinhados, procurando o local que o Ron havia me indicado. Achei-o facilmente no estande da sua empresa, ele estava muito bem vestido com a camisa que eu escolhi, conversando animadamente com um rapaz que conseguia gesticular mais do que ele naquela empolgação toda. Esperei que ele terminasse o assunto e me aproximei passando a mão pela cintura dele.

—Oi, Mione – ele se inclinou para me dar um beijo – achou fácil?

—Sim, está bem animado por aqui – parabenizei, olhando em volta a quantidade de pessoas que entravam e saiam do local.

—Ainda bem, tudo dando certo por enquanto, o lançamento mais aguardado vai ser feito de noite, mas as senhas para jogar a demo já estão esgotadas – ele me contou com a animação de uma criança no dia de natal.

—Que ótimo!

—Vamos dar uma olhada por ai? Tenho um tempo agora, outros clientes que queiram falar comigo só devem aparecer mais tarde.

—Vamos.

Ele me levou para ver os estandes das empresas mais “legais e importantes” de acordo com ele. Eu não entendia muita coisa de videogames, mas foi muito divertido poder tentar a mão em vários jogos diferentes, em alguns eu nem era tão ruim. Paramos em um, que consistia em um jogo de tiro com realidade aumentada, o que eu achei fantástico, parecia mesmo que estávamos dentro do jogo. Colocamos as máscaras necessárias e jogamos os minutos permitidos. Com armas em mão, tínhamos que matar os monstros, bem feios por sinal, que vinham nos atacar. Comecei errando todos os tiros, mas peguei o jeito daquela coisa, e no final já estava acertando direitinho cada feioso que vinha em minha direção. Rimos muito com nossos erros e acertos, e eu fiquei desapontada por ter terminado tão rápido.

—Poxa, eles podiam deixar a gente brincar mais um pouco.

—A fila está enorme, Mione acho que nos tiram a tapas se ficarmos para mais um round.

—Verdade – falei notando pela primeira vez a multidão formada ali, como o Ron era expositor, não precisamos esperar – não vim com roupas certas para entrar numa luta de verdade.

—Não mesmo! – ele me olhou de cima a baixo.

—Mas eu fui bem, não fui? Quem diria que eu sei atirar em monstrinhos!

—São zumbis – ele me corrigiu rindo e eu revirei os olhos dizendo que pra mim dava no mesmo – e eu não esperava menos de você, Natasha – completou baixinho ao meu ouvido.

—Shh! – levei o dedo à boca dele – já pensou se descobrem o meu segredo, e ainda mais que te deixei vivo?

—É só eu te dar uma arminha daquelas de novo e me esconder atrás de você – ele falou com seriedade fingida.

—Estou me divertindo bastante, de verdade.

—Deixa eu adivinhar, sua infância não incluiu vídeo games também? Você era uma criança de quebra cabeças, certo? – zombou.

—Para sua informação, eu já até tive um vídeogame, tá! Eu era muito boa no Mario – ele me olhou impressionado.

—Por essa eu não esperava.

—Mas eu era criança de quebra cabeça mesmo – confessei e ele caiu na gargalhada.

—Pelo menos em alguma coisa eu estava certo.

—Podemos organizar um reencontro seu com o Mário – ele sugeriu – eu tenho em casa.

—Vixe, não nos vemos há tanto tempo que eu duvido que ele me reconheça – eu certamente perderia de longe para ele, mas a ideia não era ruim, eu só tinha que me acostumar com o fato de não ganhar – você devia ter um desses que usa os óculos, são muito divertidos.

—Eu estou babando para comprar um já tem tempo, mas acabo sempre deixando para depois.... ser gente grande é um saco as vezes, trabalho sempre entrando no caminho.

—Já tentou pedir por Papai Noel? – zombei.

—Boa ideia, mas será que eu estou na lista de crianças comportadas? – ele colocou a mão sobre o queixo fingindo pensar no assunto.

—Você tem até o fim do ano para garantir um lugar na lista.

—Vou me esforçar!

Passeamos mais um pouco e comemos antes de o Ron precisar voltar para o estande. Ele fez a apresentação do lançamento do jogo novo e eu me maravilhei com a empolgação que ele tinha para falar sobre o seu trabalho, que para muitos podia parecer como algo simples, mas eu sabia as horas infinitas que ele passava se dedicando aquilo. A salva de palmas, e a multidão que esperava para experimentar a versão demo, foi tudo o que eu precisei saber para ter certeza de que tinha sido um sucesso, orgulho enchia o meu peito ao vê-lo tão bem.

A hora já estava avançando pela noite, sem nenhum sinal de que aquelas pessoas iriam embora tão cedo. O Ron insistiu que eu não precisava ficar até o fim, mas eu estava relutante em ir embora.

—Por que a gente não faz assim então? – ele tirou um chaveiro do bolso e colocou na minha mão – vai pra minha casa e quando eu sair daqui a gente se vê.

Eu fiquei distraída olhando para o molho de chaves na minha mão, o peso se multiplicando várias vezes pelo tamanho do significado que aquele gesto tinha para mim. Podia até ser que ele tivesse chegado à conclusão mais lógica, afinal ele sairia cansado e a casa dele era mais perto do que a minha, além de ter as coisas dele, mas era a primeira vez que eu entraria lá sem ele estar, o que me pareceu uma ação muito íntima.

—Mione? – ele esperava a minha resposta.

—Tudo bem, te espero lá – eu sorri, tentando mascarar a minha surpresa.

—Não precisa esperar acordada, deixa a chave debaixo do tapete pra mim e pega o que você precisar – ele me deu um abraço – obrigado por ter vindo.

—Claro – dei um beijo nele, me despedi dos funcionário dele, aos quais eu tinha sido apresentada, e fui para a casa dele.

Estacionei o carro na vaga de sempre, já estranhado o fato de não ter o dele ao lado. Peguei a chave e hesitei um pouco na frente da porta, antes de destrancá-la e entrar. Eu já havia estado ali sozinha quando ele saiu mais cedo, mas encontrar tudo apagado e vazio, por algum motivo não parecia a mesma coisa. Fiz como ele falou, peguei uma toalha e uma blusa dele no armário e fui tomar um banho. Esperei algum tempo assistindo televisão, mas acabei desistindo e indo para a cama.

Olhei no relógio, ao acordar com o barulho da porta sendo destrancada, e vi que já passava da uma da manhã, estar ali sozinha a espera dele, deixou o meu sono leve. Ele entrou quietinho no quarto, mas eu falei que não precisava de tanto cuidado, pois eu estava acordada. Em pouco tempo ele tomou um banho e se juntou a mim, deixando as últimas novidades da feira para o dia seguinte.

Passamos o domingo juntos, com ele detalhando tudo o que aconteceu depois que eu fui embora. Nos despedimos de noite, pois dessa vez eu não tinha vindo preparada para trabalhar no dia seguinte. A semana passou mais uma vez tranquila, tudo o que me preocupava era o fato de ainda não ter decidido se ia aceitar ou não o pedido de fazer o vestido. Um novo final de semana chegou, passado novamente junto com o Ron, que acabou cedendo ao meu pedido de fazer o molho que eu tanto gostava, nem precisei de muito esforço, pois ele mesmo tinha prometido fazê-lo toda vez que eu quisesse, já que não tinha me passado a receita correta.

A primeira situação incomum na semana seguinte não teve nada a ver com o meu trabalho. Recebi uma ligação Da Ginny no meio do dia, o que não era nem um pouco usual. Atendi, meio preocupada com o que pudesse ser, mas ela precisava apenas de uma ajuda para achar um restaurante que servisse o prato favorito do Harry, era aniversário dele. Nada mais apropriado do que colocar o Ced na missão, assim como ela me pediu. Chamei-o a minha sala e expliquei a situação.

—Hum... então a Srta Incendinho vai fazer uma surpresa para o namorado? Que romântico! – foi tudo o que precisava para o Ced criar uma história completa e mirabolante na mente dele, me apressei em diminuir os fogos de artifício.

—Não é exatamente namorado dela – expliquei.

—Ai, pronto... outra dessas? Me conta essa história direito.

Resumi pra ele os pontos mais importantes que eu sabia, onde se conheceram, há quanto tempo estavam juntos e assim por diante.

—Deixa eu ver então... preciso entender a relação deles para escolher um restaurante ideal – ele estava levando aquele trabalho muito a sério, e eu sabia que ele tinha ficado super orgulhoso por sua opinião ter sido requisitada – ainda mais se eu tenho que conseguir até sábado!

—O que mais você precisa saber? – entrei na onda dele.

—Como eles são juntos?

—Depende de pra quem você perguntar.

—Se eu perguntasse pra ela?

—Ela diria que é o cara com quem ela está saindo – respondi sem nem pensar, eu conhecia muito bem a minha amiga.

—E se eu perguntar pra você? – o sorriso no canto da boca já sugeria que ele esperava uma resposta diferente.

—Eu diria que são loucos um pelo outro – afirmei, também sem precisar pensar muito.

—Já sei o lugar perfeito! – ele sorriu todo satisfeito.

Pegou o meu telefone, fez uma ligação que durou alguns minutos e conseguiu a reserva, como ele fazia essas coisas eu nem imaginava, pois não foi necessária nem muita insistência para que ele tivesse a exata mesa que queria.

—Pronto, pode avisar a ela – ele ditou as informações que eu anotei num papel para passar à minha vizinha mais tarde.

Mandei uma mensagem para a Ginny, torcendo para que desse tudo certo, mas eu não estava realmente preocupada, se tinha uma coisa em que eu confiava na vida, era no bom gosto do meu amigo. Voltei para casa naquele dia, me lembrando de que o aniversário dela também não estava muito longe, eu teria que pensar num presente em breve.


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Notas finais do capítulo

E aí o que vocês acharam? O que é a Mione convencendo o Ron a experimentar todas as roupas da loja? E os dois indo ao cinema comendo pipoca doce juntos? Dá pra ser mais casal? Até videogames ela já joga com ele...
Parece que a Mione está fazendo sucesso com as criações dela, será que isso vai dar fututro?
As coisas estão indo bem entre os dois lindinhos, não? Amo essa fofura toda ;)

Deixem suas opiniões nos comentários, please!

Bjus

Crossover: Como foi essa história da Ginny ligar para perdir a ajuda do Ced? Vejam no capítulo 22 de DV postado ontem pela Paulinha. E será que ele acertou na escolha? Essa resposta fica para o capítulo que será postado amanhã (23), não percam!!
https://fanfiction.com.br/historia/687490/Deja_vu/