Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos! Capítulo mais cedo essa semana!
Vaos ver como a Mione encara as novas revelações sobre o que sente.
Espero que gostem :)



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Eu sabia que não podia passar o resto da noite naquela poltrona, o mundo não pararia para que eu pudesse lidar com as mais recentes descobertas dos meus sentimentos, então depois de mais alguns minutos tentando me recompor, eu me levantei, pronta para sair dos bastidores. Me dei conta, assim que meus dedos tocaram a cortina que separava os ambientes, de que eu tinha combinado com o Ron de dormir na casa dele naquela noite também, porém isso tinha se tornado inviável na minha cabeça. Eu sentia ao mesmo tempo uma vontade doida de me agarrar a ele e nunca mais soltar e também de sair correndo em direção contrária sem olhar para trás. Contundo, no momento eu precisava de um pouco de distância, nem que fosse para me acostumar a sentir tudo o que enchia meu peito.

—Ced – chamei meu amigo que ainda estava ao meu lado – preciso te pedir um favor.

—Diga.

—Eu tinha combinado de dormir na casa do Ron hoje de novo, mas não vai dar – ele levantou a sobrancelha, esperando que eu continuasse – posso ficar na sua casa?

—Por que você não quer ir com ele?

—Ced, não posso ficar com ele hoje.... – suspirei - vou dizer que vou ficar com meus pais.

—E por que você não fica com seus pais? – ele parecia confuso.

—Não quero que eles pensem que tem alguma coisa errada.

—Bom, mas tem alguma coisa errada.

—Você vai me emprestar seu sofá ou não? – perguntei irritada.

—Claro que não! – ele falou sem rodeios.

—Não? – aquela resposta foi inesperada.

—Você acha que eu vou te emprestar o sofá? Te empresto um lado da cama, claro, vamos fazer uma festa do pijama – ele abriu um sorriso e eu até me senti mal por ter duvidado dele durante alguns segundos.

—Você é o melhor, sabia? – dei um abraço nele - Ah, é você, o que eu estou falando? Claro que você sabe.

—Mi, você me conhece tão bem! – ele balançou a minha bochecha e acabamos rindo, algo que eu estava precisando.

—Agora preciso ir dizer a ele que não vou junto – agarrei novamente a cortina, sem coragem de abri-la – tenho certeza que aquela Sasha ainda vai estar pendurada nele – resmunguei.

—Anda logo! Vamos, eu vou com você – agradeci silenciosamente o apoio, e passei meu braço pelo dele, sem nenhuma preocupação com o que isso poderia parecer.

—Assim não, chefinha – ele tirou a minha mão da dele e passou o braço pela minha cintura – agora está perfeito – o olhar maldoso dele me dizia que ele tinha entendido direitinho a minha intenção ali.

Caminhamos junto pelo salão, até chegar ao local onde o Ron ainda conversava com a modelo. Ao me ver chegando, ele parou de prestar atenção na pessoa ao seu lado e sorriu, mas só até registrar que eu não estava sozinha. Vi o sorriso morrer e se transformar em contrariedade com a maior satisfação do mundo.

—Oi, Ron espero que tenha gostado – fiz questão de exibir meu sorriso mais radiante – a Sasha estava linda, não é?

—Sim, tudo lindo – ele respondeu com a voz grave, sem tirar os olhos do local exato onde a mão do Ced tocava a minha cintura.

A modelo ao nosso lado estava radiante com os elogios, alheia a qualquer coisa que pudesse estar acontecendo.

—Deixa eu apresentar vocês, Ced esse é o Ron – apontei na direção dele e depois fiz o mesmo alternadamente.

—Muito prazer – o Ced esticou a mão direita que estava livre, na maior cara de pau, ainda mais se contar que ele tinha no rosto a expressão mais charmosa dele, daquelas que faziam qualquer mulher desavisada engasgar.

—Igualmente – o Ron apertou a mão dele, mas o tom de voz e os olhos faiscantes em sua direção me contavam uma história muito diferente das palavras que ele tinha dito.

Eu não sabia exatamente o porquê de estar fazendo aquilo, mas eu sentia uma satisfação imensa de ver o ciúme queimando no fundo daqueles olhos azuis, do mesmo jeito que havia me torturado antes. Finalmente reconhecer que eu o queria todo só para mim, acabou fazendo surgir um lado da minha personalidade que eu nem tinha ideia que existia. Talvez aquela não fosse a melhor maneira de agir, mas era o que eu precisava por hora.

—Eu só vim avisar que não vou voltar com você hoje, Ron – ele me olhou espantado, e mais insatisfeito ainda.

—Por quê? – a pergunta era quase uma acusação.

—Eu...

—Vai ter a festa de comemoração para os funcionários da empresa – o Ced me cortou, e eu contive um sorriso ao ver o quão sério ele parecia, meu amigo tinha levado a sério o papel dele.

—Isso, aí depois eu vou direto para casa, tenho que levar meus pais para o aeroporto amanhã cedo – terminei a explicação.

O Ron não disse nada, apenas resmungou algo que eu não consegui entender.

—Pode deixar que eu cuido bem dela, né Mi? – o Ced me olhou, sorriu em minha direção e levantou a mão para o meu ombro me trazendo mais para perto.

Aquele foi o momento em que eu temi pela segurança do meu amigo, pois a cara que o Ron fez, principalmente quando o meu apelido foi pronunciado, me deu a impressão de que ele ia pular no pescoço do Ced. A Sasha permanecia calada, distraidamente olhando em volta, porém a minha vontade era que ela desaparecesse logo, mas pelo jeito ela não conseguia ler pensamentos, resolvi dar um jeito nisso de uma maneira que ela entendesse.

—Sasha, você já deveria ter ido tirar o figurino, com certeza estão te esperando – ela me olhou meio assustada, meu tom deixando passar mais irritação do que eu gostaria.

Ela se despediu e saiu deixando um olhar comprido na direção do Ron que só serviu para me deixar menos contente. Ficamos nos encarando por alguns segundos, até que eu decidi que já era hora de partir, não adiantava prolongar essa situação.

—Tchau, Ron – ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas fechou logo em seguida.

O Ced se virou para podermos ir embora, eu comecei a acompanhar o movimento, mas uma mão se fechou no meu pulso, me impedindo e trazendo para perto, de modo que eu me separasse do abraço do Ced, apenas para cair no do Ron. Ele grudou os lábios nos meus, num beijo que mais parecia uma declaração. Meu coração, agora livre para agir como um coração apaixonado, se apertou com a proximidade e eu desejava, com todas as minhas forças, que as reações dele indicassem que por baixo daqueles olhos, também existisse mais sentimento do que aparentava. Eu me contive para não moldar o meu corpo no dele, e me afastei rapidamente.

—Tchau – sem mais nenhuma palavra ele se virou e foi embora, me deixando paralisada no lugar.

—Bom, acho que começamos bem – o Ced conclui satisfeito.

—Você é um ótimo mentiroso – me livrei do estupor e retomamos nosso caminho original para encontrar os meus pais.

—Só estava ajudando, e deu certo, você viu a cara dele? – meu sorriso foi resposta suficiente – só que você vai ter que me recompensar pelos danos sofridos.

—Danos?

—Você não está entendendo a força que ele usou para apertar a minha mão! Os meus pobres dedinhos... – falou dramático.

—Oh, coitadinho, mas acho que você sobrevive – meu humor estava melhorando com cada observação.

—E aquele beijo, hein? O Sr Incêndio estava bem a fim de mostrar quem a senhorita gosta de beijar – ele empurrou o meu ombro com o dele, zombando, e eu senti as minhas bochechas ficando vermelhas.

—Ele só estava se despedindo – rebati, mas ambos sabíamos que era uma afirmação fraca e mentirosa.

—Ah, sim... por que ele não se despediu assim de mim, então? – ele colocou a mão no queixo – uma pena.

—Pode parar, vai arrumar um Sr Incêndio pra você! – dei um tapinha nele que caiu na gargalhada.

—Quem sabe eu não acho...

Cheguei até os meus pais, apenas para encontrar a minha mãe com uma cara muito curiosa, pelo jeito ela tinha visto uma boa parte da interação do nosso pequeno grupinho.

—Oi, querida, eu e seu pai já vamos indo – ela me puxou num abraço e disse no meu ouvido para que somente eu pudesse ouvir – amanhã você vai ter que me dizer o que foi a cena que eu assisti.

—Não foi nada, mãe.

—Então por que o seu hábito, que aliás você nem fez o favor de me apresentar, foi embora? – nem fiquei surpresa por ela ter identificado o Ron sem que eu dissesse quem era.

—Eu vou com o Ced na festa de encerramento, depois encontro o Ron na casa dele mais tarde.

—Isso mesmo, Sra Granger – o meu amigo endossou minha desculpa esfarrapada.

—Tudo bem, se vocês estão dizendo.... – mas ela olhou para mim e o meu amigo deixando claro que não tinha acreditado em uma palavra, fiz um agradecimento silencioso pela minha mãe ser compreensiva o suficiente para não insistir no assunto.

—Tchau, mãe – abracei-a de novo – Tchau, pai. Fiquei muito feliz de vocês estarem aqui.

—Claro, princesa – meu pai deu um beijo na minha testa e eles se foram, em busca de um taxi.

—Acho que podemos ir também – eu concordei com o Ced e fomos pegar nossas coisas.

Chegamos a casa dele, que eu já tinha visitado várias vezes. Joguei a minha bolsa de qualquer jeito no sofá, me afundando no mesmo, em seguida. O Ced veio se juntar ao meu lado.

—O que você precisa nessa nossa festa do pijama, álcool? Chocolate? Sorvete?

Inclinei a cabeça avaliando as possibilidades.

—Você tem tudo isso aqui?

—Claro, nunca se sabe quando será necessário, e eu adoro chocolate.

—Você nunca me disse isso! – estranhei essa falta de informação nos meus arquivos.

—Eu estava tentando não me incriminar... – ele sorriu brincalhão.

Fiquei confusa com a declaração dele, o que ele podia ter feito em relação a gostar de chocolate que pudesse ser considerado crime... Foi aí que me veio a resposta.

—Era você que roubava o meu chocolate da geladeira! Não acredito! – dei um tapa com gosto no ombro dele.

—Um dos dias mais deprimentes da minha vida foi quando você decidiu escondê-los na sua sala – ele levou a mão à testa e fez um bico ressentido.

—Seu abusado! Podia ter me pedido, eu te daria um pedaço sempre que você quisesse.

—Mas ai não tem a mesma graça, roubado tem gosto diferente.

—Então é a minha vez de fazer um estrago no seu estoque, quero um pouco de cada.

Ele me olhou meio admirado, mas concordou.

—É pra já – ele se levantou para ir até a cozinha buscar as coisas, mas mudou de ideia – você não quer tirar esse vestido primeiro? Eu ia ter um treco se manchasse bem debaixo do meu teto.

—Só você, Ced – eu ri da preocupação dele, porém aceitei a sugestão – você vai ter que me emprestar alguma coisa para dormir, não está calor o suficiente para eu ficar desfilando de calcinha e sutiã.

—Tenho que te entregar em perfeitas condições amanhã, vem – ele foi até o quarto e eu o segui.

Tudo no apartamento dele era elegante e sofisticado, nossos gostos eram parecidos nesse quesito, por mais que ele tendesse um pouco mais para coisas coloridas. Entramos no quarto e ele abriu uma das portas do armário enorme, puxou uma gaveta e disse:

—Fique a vontade para escolher.

—Você tem uma gaveta inteira de pijamas? – em frente aos meus olhos estavam pijamas no que provavelmente seriam todas as cores que o olho humano conseguia diferenciar.

—Só porque eu vou dormir tenho que estar desarrumado? – decidi nem rebater a lógica dele.

Peguei a esmo a primeira blusa que eu vi pela frente, de seda cor tangerina.

—Ai chefinha, essa não! Não combina com a sua pele, você vai ficar parecendo uma mexerica - ele arrancou o tecido da minha mão.

—Se você vai ficar reclamando então escolhe logo!

—Coloca esse – a nova opção era azul marinho, e não dava pra negar que o tecido era muito bonito.

—Se desse, eu fazia uma blusa disso aqui, ia ficar lindo – admirei.

—Ia mesmo, mas vá assassinar os pijamas do seu namorado, querida, esses aqui tem dono – eu mostrei a língua pra ele, englobando todas as provocações que ele tinha feito em uma só frase.

—Vira aí pra eu te ajudar a sair desse vestido – eu fiz como ele pediu.

Realmente seria uma tarefa quase impossível abrir os vários botões e laços que mantinham o meu vestido no lugar. Já pra colocar ele teve que me ajudar, a única coisa era que eu esperava que fosse outra pessoa abrindo aqueles botões... Ele terminou e eu deixei o tecido escorregar pelas minhas pernas.

—Eu queria só saber o que o seu Ron ia dizer se ele soubesse que a senhorita anda arrancando a roupa na frente dos outros assim – ele sorriu maldoso – eu devia tirar uma foto e mandar pra alegrar a noite dele.

—Ced! – peguei um dos travesseiros que repousavam na cama dele e joguei sem dó, ele levantou os braços defendendo rosto – você só fala besteira mesmo.

—Besteira? Aposto que ele dava um jeito de bater aqui na porta em menos de 10 minutos... – eu sorri ao imaginar a cena – que cara é essa? Se você quiser eu mando mesmo!

—Não vou nem responder.

—Vou logo pegar nosso lanchinho, sinta-se a vontade – ele sorriu pra mim e saiu.

Coloquei a blusa do pijama, que era de manga comprida e dispensei o shorts, era comprido o suficiente para usar como uma camisola. Sentei na cama e comecei o trabalho minucioso de tirar todos os grampos do cabelo. Eu não tinha terminado ainda quando o Ced voltou com um pote de sorvete de morango, uma barra de chocolate e uma garrafa de vinho, deixando tudo no criado mudo.

—Poxa, seu cabelo estava tão lindo – ele parecia chateado por todo o glamour estar no fim.

—É, mas não dá para dormir assim – passei a mão pelos fios, tentando descobrir se tinha ficado algum prendedor perdido.

—Toma – ele arrumou uma escova e eu me coloquei a desembaraçar as minhas mechas, do contrário, seria bem difícil de pentear no dia seguinte.

Enquanto eu fui ao banheiro tirar a maquiagem, o meu amigo também trocou de roupa, e eu o encontrei olhando para o terno que tinha usado como se estivesse se despedindo de um amigo querido que morreu.

—Ced, você pode usar de novo – dei uns tapinhas no ombro dele.

—Ah, eu sei, Mi, mas estrear é uma vez só – ele suspirou, pegou a roupa e pendurou num cabide – pronto, agora podemos começar a parte boa da nossa festa.

 Nos deitamos lado a lado na cama, começando uma conversa animada em que discutimos todos os altos e baixos do desfile, esmiuçando as roupas da maioria dos convidados. O papo só era interrompido por goles de vinho ou pedaços de sorvete e chocolate. Com seu entusiasmo e animação sem igual, o Ced conseguiu desviar a minha mente do ruivo com quem eu tinha combinado de passar a noite, eu era muito grata por isso. Acabamos pegando no sono já no meio da madrugada.

Acordei bem cedo no dia seguinte, como eu não tinha dormido no Ron, minha intenção era chegar em casa antes que meus pais acordassem para que eu pudesse trocar de roupa sem deixar surpresas. O Ced ainda estava no milésimo sono quando eu me levantei e eu sabia que seria inútil, e até cruel, tentar acordá-lo. Me arrumei rapidamente, o melhor que pude, e passei a chave por baixo da porta ao sair. Ele entenderia o que eu fiz, não precisaria deixar bilhetes nem nada. Por ser uma manhã de domingo, o trânsito estava tranquilo, o que me fez chegar em casa em poucos minutos.

Entrei pé ante pé, me certificando de não fazer muito barulho, mas é claro que minha tentativa foi frustrada, minha mãe já estava acordada e me encontrou ao sair do quarto.

—Oi, filha chegou cedo – ela avaliou o meu estado de arrumação e franziu as sobrancelhas – e nem se trocou...

—É que... – eu ensaiei o começo de uma desculpa, mas acabei desistindo, afinal por que mentir?

—Você não dormiu na casa do Ronald?

—Não – respondi meio encabulada, agora não tinha mais como escapar do escrutínio dela.

—Por quê?

—É meio complicado, mãe...

—Quem bom que ainda é cedo, assim dá tempo de você me explicar – ela sentou no sofá e fez um gesto para que eu me juntasse a ela.

Acabei me rendendo e sentando ao seu lado.

—Você não me parecia muito feliz ontem quando fomos embora, foi uma briga?

—Não, nada disso.

—O que foi então, querida? – ela soou preocupada.

—Eu... eu descobri que ele não é um habito.

—Ah, entendo – ela me olhou com o olhar terno que sempre me dizia que tudo ia dar certo – descobriu isso ontem?

—Sim – ela permaneceu em silêncio, esperando eu me decidir se desenvolveria a minha explicação ou não. Acabei cedendo à vontade de contar tudo, e foi o que fiz.

Ela não sabia quase nada da nossa relação, então contei desde como nos conhecemos, passando rapidamente pelos vários anos que se sucederam e focando nas mudanças mais recentes, principalmente da nossa viagem e do meu choque de realidade ao ver aquela modelo atrevida se insinuando para o lado dele.

—Pelo que você me contou, vocês parecem bem felizes juntos – ela concluiu, depois que eu terminei o meu monólogo, que ela escutou com muita atenção.

—Me faz muito feliz estar com ele, mãe, mas...

—Mas você não sabe se ele quer a mesma coisa, certo?

—Sim.

—Filha, meu conselho continua o mesmo da última vez que você me perguntou, eu sei que parece difícil, mas não existe nada que você se decida a fazer que não termine bem feito – ela passou a mão no meu rosto, num carinho aconchegante – só se dê o tempo para juntar a coragem e se acostumar com tudo o que você está sentindo, isso não é uma corrida para fazer tudo apressadamente.

—Obrigada, mãe. Vou pensar sobre tudo isso.

Ela assentiu, e de repente seu rosto tomou um ar bem humorado.

—Poxa, vou ter que criar um novo apelido, não posso mais chama-lo de hábito!

—Mãe! – me surpreendi com a gracinha e acabamos rindo.

—Não se preocupe queria, que até você leva-lo para nós conhecermos, eu já terei um apelido novo.

—Agora você está parecendo o Ced – revirei os olhos.

—Que bom, ele é um ótimo menino, muito sensato.

—Sensato? Vocês por acaso andaram conversando?

—Uma coisinha ou outra – ela deu de ombros, mas eu logo me alarmei, o Ced não dava ponto sem nó.

—Ai, Deus! O que ele falou pra você, mãe? Não leve nada a sério, por favor – juntei as mãos quase em prece.

—O que é isso, Hermione? Pois saiba que ele não falou nada de errado, e concordamos em todos os pontos.

—Você não vai me dizer o que foi, vai? – a pergunta foi só parar dizer que tentei.

—Só vou te dizer que você tem um ótimo amigo, o resto é entre ele e eu.

—Não acredito que vocês viraram uma unidade – o Ced conseguia entrar nas graças de qualquer pessoa, talvez todas menos o Ron no momento.

—Preciso ir acordar seu pai, o tempo voou – eu concordei e ela se levantou, voltando para o quarto.

As palavras dela me deram muito o que pensar, mas isso teria que ficar para depois, já que a hora de levar meus pais ao aeroporto e me despedir havia chegado. A estadia deles foi tão pequena, daquelas que no fim das contas deixam mais saudades do que matam, mas eu aproveitava cada tempinho em que podíamos estar juntos. O caminho até o aeroporto foi recheado de conversa, eles já estavam planejando a minha próxima visita que, se tudo desse certo, seria no natal. Ainda faltava um bom tempo, porém quando se tratava dos meus pais, era o suficiente para eles já aguardarem ansiosos.

Eles despacharam as bagagens assim que chegamos, e ficamos mais um tempo enrolando até que desse a hora do embarque deles. Me despedi com abraços apertados, sabendo que agora só os veria no natal. Minha mãe até que conseguiu segurar as lágrimas, mas o meu pai cruzou a porta de acesso ao embarque enxugando o rosto. Fiquei até que eles passassem pela curva que não me permitiria mais enxerga-los, só então eu deixei um suspiro triste sair dos meus lábios e algumas lágrimas mais teimosas me fizeram companhia. Em todos esses anos que meus pais moravam longe, eu tentei ao máximo esconder o choro em cada despedida, eu sabia como era difícil para eles a decisão de ter se ido para um lugar tão distante, eu não precisava lembra-los de que eu também sentia cada um dos quilômetros que nos separavam.

Voltei para casa com o humor mais melancólico do que o normal, o desfile havia sido um sucesso e meus pais tinham vindo, mas agora não estavam mais aqui e eu fui deixada a sós para pensar no que fazer em relação ao Ron. Como a noite anterior não me permitiu muito sono, a primeira coisa que fiz foi trocar de roupa e me enfiar na cama, eu precisava de mais algumas horas de descanso e enquanto eu dormia, não precisava sentir o peso das decisões que eu tinha pela frente.

Passei a tarde dividida entre ligar ou não para o Ron, afinal, além de tudo, eu tinha deixado várias coisas na casa dele que, invariavelmente, eu precisaria de volta. Porém esse não era o motivo pelo qual eu queria ligar... de alguma forma parecia que as coisas tinham ficado estranhas entre nós e, mais do que nunca, eu não aceitaria que simplesmente não nos falássemos mais, só que telefonar significaria enfrentar tudo por uma nova ótica, e eu não me sentia preparada ainda. Depois de pegar o celular pela milésima vez, resolvi deixá-lo no quarto e me distrair com outras coisas. Acabei me entretendo com um livro que eu havia começado há alguns dias e quando dei por mim, já não havia mais luz o suficiente para ler, a tarde chegou ao fim.

Levantei para acender a lâmpada da sala e preparar algo para comer, eu tinha almoçado cedo e estava ficando com fome. Eu não estava há muito tempo na cozinha, ainda olhava para dentro da geladeira tentando produzir uma receita viável na minha cabeça, quando escutei a campainha tocando. Curiosa para saber quem seria, fechei com pressa a geladeira e fui até a porta. Como a pessoa não tinha sido anunciada, eu deduzia que a minha vizinha estava fazendo uma visitinha, o que não era tão incomum assim. Porém, encontrei o Weasley errado ao abrir a porta.

—Ron? – meu cumprimento saiu mais como uma pergunta.

Ele segurava uma bolsa nas mãos e ficou alguns segundos me encarando, até que decidiu falar.

—Oi, Mione – ainda meio atordoada com a aparição repentina dele, dei espaço para ele entrar - ou você prefere, Mi? – disse passando por mim - Mas eu posso chamar assim ou é exclusividade do "Ced"?

Ele não tinha se livrado do tom sarcástico que se habituou a usar quando o assunto era o Ced, e eu me fiz de desentendida mais uma vez, o ciúme dele já me dava uma satisfação que eu nem negava mais. Uma hora eu teria que esclarecer essa história, mas com certeza não seria naquele momento.

—Ele que inventou, mas quando quer ser exclusivo mesmo, ele chama de Mimizinha – respondi, colocando mais lenha na fogueira.

Ele me olhou com uma careta, claramente não esperando a minha resposta, depositou a bolsa que ele tinha trazido no sofá e se aproximou de mim, que ainda permanecia parada perto da porta.

—Vou inventar um apelido para mim também – disse com um sorriso misterioso.

Pensei que ele não fosse chegar mais perto, mas ele passou a mão pela mina cintura para me beijar, um alívio correu pelas minhas veias, as coisas estavam normais.

—E então, qual é o meu apelido? – perguntei, curiosa, assim que ele se afastou.

—Isso fica pra depois – mas alguma coisa no olhar dele me dizia que ele já tinha uma boa ideia.

—Ah, não! Você tem que falar – resmunguei, sentando ao lado dele no sofá.

—Não, o apelido é meu, eu uso só quando quiser – torceu o nariz.

—Simpático – revirei os olhos, não deixando dúvidas do meu descontentamento.

—Eu vim trazer suas coisas – ele puxou a bolsa que estava ao seu lado e me entregou.

—Ah, obrigada – a bolsa parecia meio leve, e eu tinha levado mais de uma, tinham coisas faltando – você não trouxe o resto?

—Tinha mais? – ele coçou a cabeça, mas eu olhei desconfiada para a reação dele.

Será que ele tinha deixado lá de propósito?

—Sim.

—Ah, eu não vi, depois você passa lá e pega – ele deu de ombros.

—Tudo bem – coloquei a bolsa na mesa de centro e me aconcheguei novamente ao lado dele – você nem me falou ontem se gostou do desfile...

—Não deu tempo, você saiu correndo tão rápido com o seu amigo – ele respondeu ríspido, e eu acabei me irritando, afinal a culpa não era só minha.

—Teria dado se você não tivesse ficado tanto tempo conversando com a sua nova amiga – rebati no mesmo tom.

Nos afastamos, agora nos encarando com expressões idênticas de insatisfação.

—Ela não é minha amiga! – ele quase gritou.

—E ele é só meu amigo! – eu acompanhei.

Que cena era aquela? Desde quando nós tínhamos ataques que chegavam a esse nível? As coisas estavam começando a se descontrolar, eu respirei fundo algumas vezes, ainda encarando os olhos dele que me fuzilavam.

—O que estamos fazendo, Ron? – ele pareceu cair em si com a minha pergunta, provavelmente chegando à mesma conclusão que eu.

—Não sei, estou me sentindo na quarta série – ele passou as mãos pelos cabelos, exasperado.

—Isso não combina com a gente.

—Não... – houve um momento de hesitação antes que ele continuasse – é, acho que não.

—Você me diria, né? – não entendi a pergunta dele.

—O que?

—Se ele fosse mais do que isso, porque eu não quero ficar no meio, você me diria como das outras vezes? Sempre foi o combinado e... – a voz dele começou a diminuir, mas eu interrompi aquela linha de pensamentos.

—Ron, que pergunta idiota! Claro que eu diria, mas não tem nada a dizer – agora seria uma boa hora para contar que entre eu e o Ced nunca haveria nada, mas me mantive calada porque eu percebi que queria a confiança dele.

—Ótimo – finalmente um sorriso voltou ao rosto dele - e sobre o desfile, você estava linda.

—Obrigada.

—Só foi uma pena eu não ter conhecido aquele vestido de perto – ele se esticou, pegando algumas mechas do meu cabelo entre os dedos.

—Engraçado, o vestido pensou a mesma coisa sobre você – eu também me aproximei e ele me puxou para o colo dele, trazendo o meu rosto para perto do seu.

—Temos que marcar um dia para sermos apresentados então.

—É só você arrumar um evento apropriado – provoquei, antes de me afundar entre seus lábios.

Ficamos um bom tempo no sofá, até que eu senti o meu estômago me avisando que estava na hora de comer.

—Você já jantou? – perguntei.

—Ainda não, já está com fome? – eu assenti e ele disse que também estava.

—Eu estava vendo a geladeira antes de você chegar, está praticamente vazia.

—Tem um negócio chamado supermercado, melhor ser visitado regularmente – ele zombou e eu mostrei a língua em resposta.

—Eu estava muito ocupada.

—Claro – mesmo assim não parou de rir – podemos pedir alguma coisa, ou melhor ainda, vamos sair pra jantar?

—Você vai ter que esperar eu me arrumar – avisei.

—Oh, não! Morrerei de fome! – ele espalmou as mãos no rosto, todo dramático.

—Seja bonzinho e não reclame, e se reclamar eu vou inventar de lavar o cabelo de novo.

—Não está mais aqui quem falou! – eu ri e dei um beijo antes de me levantar para me aprontar.

Me esforcei ao máximo para não demorar muito, porém ainda foram mais de 30 minutos. Escolhi peças de roupas casuais para combinar com o estilo que ele estava vestido. Quando eu voltei toda arrumada, ele me olhou admirado.

—Até que isso foi rápido!

—Acho que você que está se acostumando – sugeri.

—Bem provável – ele olhou o relógio e viu que não foi tão pouco tempo assim.

Escolhemos um restaurante que já havíamos visitado várias vezes, conhecíamos de cor o menu então foi rápido escolher, em pouco tempo nossa comida já estava servida. O Ron tinha pedido um prato com camarão, enquanto eu escolhi uma lasagna. Foi minha vez de ficar de olha comprido para o prato dele, mas me contive ao pedir, pois sabia que ele iria me pentelhar sobre o assunto. Acabei tendo uma ideia para resolver meu problema, espetei um pedaço no meu garfo e chamei a atenção dele.

—Troco por um camarão.

—Ah, quem é que está de olho no prato dos outros hoje? – ele levantou a sobrancelha, muito satisfeito do jogo ter virado.

—Só estou adiantando o processo, sei que você vai pedir mesmo – dei de ombros e ele riu.

Ele garfou um camarão e trocamos os garfos entre nós, não nos preocupando em destrocar depois. Continuamos a conversar, sem nos preocupar de ter pressa em voltar para casa.

—E agora que o desfile acabou, vem o que pela frente?

—Lojas de roupa são quase iguais a escolas de samba, Ron. Termina uma apresentação, já estão pensando na próxima. Agora é com a equipe de marketing para fazer a promoção dos que lançamos, e nós da área de criação temos que iniciar os trabalhos para a próxima estação – eu tinha certeza de que ele não tinha o menor interesse em como funcionava o mundo da moda, mas mesmo assim escutou atentamente.

—Nossa, não tem nem um descanso?

—Não se quisermos que dê tempo até o próximo lançamento, se enrolarmos vai chegar a data e todos estarão enlouquecendo.

—Sei como é, é a mesma coisa quando estamos para liberar um jogo novo.

—Não sabia que vocês tinham prazos para isso.

—Temos, e nunca são muito simpáticos.

—Mas não é a sua empresa que define isso? Ou seja, você?

—Não exatamente, a gente desenvolve o jogo, mas eles são distribuídos por uma companhia maior que compra os direitos, assim não precisamos nos preocupar com várias coisas, apenas com o jogo.

—Interessante esse sistema – eu também não era muito familiarizada com vídeo-games, mas ele ficava tão empolgado ao falar do trabalho, que acabava contagiando.

—Aliás, vai ter uma feira de games sem ser nessa semana, na próxima, e vamos ter um estande. Se você quiser ir, posso arrumar um convite.

Eu quase ri de como aquele convite foi parecido com o que eu havia feito a ele.

—Eu adoraria, quem sabe não aprendo a jogar algum?

Ele continuou me explicando como funcionava aquele tipo de evento, eu fazia perguntas esporádicas sobre as coisas que eu não entendia. Nunca tínhamos conversado assim sobre nossos trabalhos, e eu me senti um pouquinho mais incluída na vida dele. Já era bem tarde quando terminamos e ele me levou de volta para casa, tínhamos vindo no carro dele. Ele parou em frente ao meu prédio.

—Não vai estacionar? – perguntei franzindo a testa.

—Não sei, vou? – os olhos dele davam a mensagem subliminar nessa pergunta.

—Vai – confirmei, feliz ao vê-lo sorrir.

Ele achou uma vaga com facilidade ali perto e subimos para o apartamento. Ficamos conversando e assistindo televisão, até que o filme escolhido terminou. Fui para o quarto, com ele me seguindo. Ele tirou os sapatos e deitou na minha cama enquanto eu trocava de roupa para algo mais confortável e removia a leve camada de maquiagem que eu tinha usado para sair. Quando voltei do banheiro, ele estava confortavelmente deitado de buços, no lado que ele sempre escolhia. Coloquei o joelho no colchão e engatinhei até ele, me deitando também de bruços, com o rosto virado para o dele.

—Dormi uma boa parte do dia e ainda estou com sono – resmunguei.

—Isso é toda a tensão do trabalho – ele passou a mão de modo a enlaçar a minha cintura.

—Quero umas boas semanas tranquilas no escritório.

—Você já quer dormir?

—Aham – confirmei, balançando a cabeça.

—Tudo bem – ele tirou o braço de mim para tomar impulso e levantar, mas eu segurei a camiseta dele, impedindo-o de ir embora.

—Onde você está indo?

—Tirar a calça e a camiseta, posso? – o tom foi ligeiramente convencido, eu podia ter gritado que queria que ele ficasse que daria o mesmo efeito.

—Ah – fiquei meio embaraçada pelo meu gesto – pode.

Aproveitei que ele se levantou para entrar por debaixo das minhas cobertas, ele logo se juntou a mim usando apenas a cueca boxer. Nem esperei que ele me puxasse para perto, dessa vez eu mesma tomei a iniciativa, me ajeitando para moldar meu corpo contra o dele.

—Boa noite, Mione – ele me deu um último selinho.

—Agora era uma boa hora para você me falar aquele tal apelido que você inventou – pedi, como quem não quer nada.

—Ainda estou pensando – a desculpa não foi nada convincente.

—Mentiroso – reclamei.

—Dorme, vai – pra desconversar mais ainda, ele começou o carinho que sempre me fazia dormir mais rápido.

—Não pense que eu desisti – murmurei, com os olhos já pesados.

—Eu não esperaria outra coisa.

Acordei cedo no dia seguinte para ir trabalhar, o Ron acabou acordando quando eu sai da cama, mas eu falei que ele podia voltar a dormir para acordar num horário mais ameno, ele iniciou um protesto, dizendo que me acompanhava para tomar café, mas eu vi que ele ainda estava com sono.

—Não precisa, continua dormindo, depois você deixa a chave no lugar de sempre – ele me deu um beijo e se rendeu a voltar para o travesseiro.

O clima no escritório estava muito mais tranquilo naquela segunda feira, não se via ninguém correndo de um lado para o outro, e os gritos estavam reduzidos. O consenso geral era de que o desfile tinha sido um sucesso, depois do almoço teríamos uma reunião geral para resumir os acontecimentos.

—Como foi o resto do fim de semana, chefinha? – o Ced já chegou interessado em receber as últimas fofocas.

—Tranquilo, levei meus pais no aeroporto cedinho, voltei, dormi, li e depois o Ron apareceu lá em casa – enumerei os acontecimentos mais importantes.

—Estou duplamente chocado! – ele levou as mãos ao rosto – primeiro você me conta tudo sem eu ter que implorar, e o Sr Incêndio ainda vez uma visitinha. E como foi?

—Normal, Ced, como seria?

—Ele estava bravo ainda?

—Não... só

—Só o que?

—Discutimos por causa das nossas respectivas companhias no fim do desfile – confessei.

—Ai que lindinho! Já estão até com ataquezinhos de ciúmes, um casal completo.

—Para com isso, Ced – olhei feio pra ele, esperando que ele entendesse o recado – e durou no máximo 5 segundos.

—Mais fofo ainda, nem brigar por muito tempo vocês conseguem – ele estava tão alegre que eu quase ri.

—Desisto de você – declarei, revirando os olhos.

—Desiste, nada! Eu sou a luz da sua vida aqui no trabalho – convencido até o último fio de cabelo.

—Você não tem trabalho para fazer não? – qualquer coisa para ele me dar uma folga.

—Na verdade não, mas me diz... ele foi pra casa depois? – ele me olhava com tanta atenção que eu nem me dei ao trabalho de mentir, seria só mais tempo gasto, porque com certeza ele perceberia.

—Não, dormiu lá em casa.

—E você saiu hoje e deixou ele lá, por acaso – ele perguntou desconfiado.

—Sim, por quê? Tá achando que ele vai roubar alguma coisa, Ced? – zombei.

—Claro que não, afinal o que tinha pra roubar ele já roubou – aqueles olhos verdes me encaravam quase me desafiando a refutar a afirmação, mas qual seria o sentido?

—E o pior é que eu nem percebi...

—Você é uma lindinha assim toda apaixonadinha, só falta falar pra ele, para poderem ser dois lindinhos apaixonados.

Eu sabia que não ia demorar muito para ele começar essa campanha, só não esperava que fosse tão rápido. O fato é que eu ainda não tinha coragem para isso, e gostaria que ele não ficasse me lembrando.

—Ced, por favor, não insiste com isso – pedi com seriedade na voz.

—Ok, parei – ele levantou as mãos – vou te deixar com seus pensamentos, de volta para a minha mesa – ele fez graça me lançando um beijo e saiu.

Depois do almoço, fomos para a maior sala de reuniões, onde a Dolores repassou para toda a equipe, como os diretores tinham ficado satisfeitos com o nosso trabalho e como a imprensa especializada entregou críticas muito positivas da nossa nova coleção. Ela nunca parecia à vontade para fazer qualquer tipo de elogio, mas dessa vez ela teve que engolir e fazer o trabalho dela. Eu nem liguei, só fiquei contente. Depois ela passou para outros avisos, incluindo o de que teríamos uma nova consultora na empresa, ela chegaria no dia seguinte e foi contratada para auxiliar nos planos de expansão que a direção tinha idealizado. Com o sucesso crescente de vendas, eles queriam aumentar a escala das nossas coleções e migrar também para o ramo de roupas infantis e de gala. Senti pelo tom da conversa que essa consultora observaria de perto o meu trabalho, e na verdade não soube como me sentir a respeito.

—Consultora? Como eles ousam pensar que nosso trabalho precisa de consulta? – o Ced saiu indignado da reunião.

—Calma, Ced, você nem a conhece ainda.

—Não conheço e já não to gostando – ele sentou emburrado na minha sala, parecia uma criancinha.

—Vamos esperar para tirar conclusões amanhã, quem sabe ela não é legal e tem boas ideias – ponderei e voz alta, tentando me convencer também.

—Duvido, mas vou fazer como você pediu.

Ao chegar em casa, eu tentei não ficar pensando no que significaria para o meu trabalho, ter uma pessoa observando cada passo que eu desse. Entrei no quarto sem prestar muita atenção, e apenas na hora que fui me deitar que eu notei um bilhete em cima do travesseiro do Ron.

“Deixei tudo arrumadinho para não levar bronca, agora a fronha dessa semana já está com seu perfume favorito.

Beijos

Ron”

Senti minhas bochechas vermelhas, só de me lembrar do monólogo, induzido por vinho, que eu fiz sobre esse bendito travesseiro, e claro que ele não ia esquecer. Num impulso, ao invés de jogar o bilhete fora como eu sempre fiz, eu abri a gaveta do meu criado mudo e guardei. E daí se eu parecia uma adolescente guardando cartinhas?

Me arrumei com cuidado extra no dia seguinte, não querendo que nem um fio de cabelo estivesse fora do lugar para quando eu conhecesse a nova consultora. Não tinha porque dar brechas à criticas. Percebi que o Ced chegou até um pouco mais cedo, e também muito bem arrumado, não que ele já tivesse alguma vez aparecido em qualquer estado de desmazelo. Eu achei que teria uma reunião com os chefes de cada área para a apresentação da nova integrante do escritório, porém me surpreendi ao ver que ela decidiu se apresentar individualmente a cada um. Ela chegou a minha sala juntamente com a Dolores. Ali estava uma mulher, segura de si, loira, alta e uns bons anos mais velha do que eu.

Ela foi muito simpática ao se apresentar, disse que estaria por perto para melhorar no que pudesse, não para atrapalhar. Apenas pelo jeito que ela se portava, eu notei que ela sabia do que estava falando, a Dolores ainda fez questão de dar quase a ficha completa de trabalho da mulher, e eu me impressionei com o currículo, ela já tinha trabalhado para empresas muito importantes. Gostei da conversa que tivemos, ela explicou alguns pontos do que faria, e quando ela foi embora, eu estava positivamente impressionada. Em resumo: uma mulher muito bem sucedida, que era tudo o que eu almejava ser também.

Não demorou um segundo depois que as duas deixaram a minha sala, para o Ced entrar como um foguete.

—Agora já posso dizer? Não gostei dela, que cara de sonsa! – ele estava indignado – nem olhou na minha cara, a dondoca.

—Pois eu a achei muito simpática e acho que vai ajudar bastante com as novas expansões, ela já trabalhou em lugares incríveis!

—Ah, não – ele colocou a mão na testa.

—O que foi?

—Você está impressionada.... péssimo sinal – ele balançou a cabeça descrente.

—Estou mesmo, é um currículo digno de nota.

— Escuta o que eu estou falando, Mi, essa daí é só fachada, falsa desde a cor loira daquele cabelo – ele estava muito sério - nem nome de gente normal ela tem, tinha que ser fresco por isso me recuso a falar, vou chamar de dondoca e você vai me acompanhar!.

—Não vou chamar a Sra Malfoy de dondoca! – protestei.

—Ai, Jesus, não quero ouvir nenhum nome dela – ele tampou os ouvidos.

Esperei que ele parasse com a birra e voltasse ao normal.

—Ela é meio dondoquinha, mas só um pouco – concedi.

—Então está ótimo, apelido decidido!

Ele ficou todo contente depois disso, e se fosse para ele parar de dar piti, eu aceitaria escutar as invenções dele. Voltei para casa aquele dia, pensando que até que as coisas não foram tão ruins quanto eu esperava.


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Notas finais do capítulo

E o que vocês acharam?
Teve ciúmes correndo solto com os nossos lindinhos, até briguinha rolou.... um fofos, né? huahuaha
Mas como o próprio Ced disse, nem brigar por muito tempo eles conseguem.
A Mione ainda não teve coragem de falar com ele, e nem apresentou o boy pros pais! Ainda bem que a mãe dele estava lá para dar uns conselhos a mais, espero que ela escute.
Até no trabalho estão havendo mudanças, o que vale só para ver o Ced indignado hauhauah
Deixem seus comentários me dizendo sias opiniões ;)
Até o próximo capítulo.

Bjus


Crossover: esse capítulo não tem ligações diretas com DV, mas coisas muuuito importantes estão acontecendo por lá, não percam!



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