POV Lily Evans

                Odeio quando fico muito tempo sem me encontrar com Severus e é exatamente isso que está acontecendo dês de que as aulas começaram. Infelizmente, eu sou a única que deve ser culpada por isso.

                Apesar de amar Severus, Dorcas, Alice e Marlene existem e, cada dia que passa são mais horas acumuladas ao lado delas, e estaria mentindo se falasse que não as amo tanto quanto Sev. Mas elas não entendem minha relação com ele e não posso culpa-las.

                Saio mais cedo que elas de nosso dormitório, como uma fatia fina de torta de abobora no salão principal e vou até a biblioteca, onde sempre ia quando queria sair um pouco do ciclo vicioso que era minha vida.

                Entro na biblioteca com a mão deslizando pelas lombadas de diferentes tamanhos e cores até meus dedos pararem em um movimento automático ao passar por um livro mal colocado na prateleira.

                O pego em minhas mãos e me acomodo em uma poltrona de frente a mesa para ler o livro intitulado: Um Estudo dos Monitores Chefe de Hogwarts e suas Carreiras.

                — Esse é fraco. – Escuto uma voz vindo de cima de mim e me deparo com Remo segurando uma pilha de livros. – Terminei ele ontem.

                - Por isso estava tão mal colocado. – Sorriu para ele. – Faz tempo que não conversamos, não é? Deveríamos combinar para sair com nossos amigos.

                - Não acho isso seja uma ideia muito inteligente. – Ele responde com um resquício do sorriso aparecendo no rosto. – Você sabe, considerando que você não gosta muito dos meus amigos e que gosto demais da conta das suas.

                Riu.

                - O que exatamente isso quer dizer, Remo Lupin? – Pergunto rindo.

                - Você sabe, Dorcas é legal. Bem legal. – Ele fala ficando vermelho como um tomate. – Bom, você deixar você voltar a ler.

                - Não, olha a hora! Vou com você para a aula! – Digo com um pulo, guardo o livro no lugar que achei e me posiciono ao lado de Remo.

                Não deixo de notar os diversos livros abandonados por ele, todos sobre transfiguração, animagos e esse tipo de coisa. Resolvo não comentar nada.

                Em nossa aula de Herbologia, vejo Tiago com os olhos cravados em mim durante todo o período, mas tento ignora-lo enquanto converso com Alice, que adora esse tipo de aula.

                Antes do fim da aula, escrevo um bilhete para Severus dizendo: “Severus, podemos nos encontrar na árvore próxima ao lago? Estou com saudades! Até depois do almoço! Com amor, Lily” e jogo para ele, que pega o bilhete e sorri para mim como resposta.

                Saio das estufas ao Lado de Alice, que falava sobre Frank Longbotton. Ele era um garoto ainda mais calado e tímido que eu e Alice, mas mexia com minha amiga de um jeito que eu não conseguia entender. Nem ela conseguia explicar.

                - Lily! Alice! Que bom ver vocês! – Escuto um grito e vejo Sirius vindo em nossa direção. Aceleramos o passo. – Ei! Não corram de mim!

                Ele vem até nós e nos envolve em um abraço. Vejo Tiago atrás dele bagunçar ainda mais os cabelos pretos caindo em seus olhos.

                - Ele pode abraçar você e eu não? – Tiago pergunta para mim indignado. Alice ri.

                - Você quer transar com ela, eu não! – Sirius responde me fazendo escapar braços dele. – Qual o problema?

                - Vocês são dois pevertidos! Esse é o problema! – Falo me afastando deles e caminhando rápido ao lado de Alice. – Por favor não nos siga!

                Os dois riem, mas seguem por outro caminho.

                Depois de me empanturrar com as comidas deliciosas servidas na hora do almoço, digo para as minhas amigas que vou estudar com Remo e escapo pelos grandes portões de mármore da escola. Vou saltitando até o jardim onde me sento para esperar Severus.

                Dois minutos depois, ele chega calado com um livro em mãos. Se senta ao meu lado com as pernas cruzadas.

                - Hoje os bolinhos de chuva estavam tão deliciosos, não? - Pergunto lambendo os lábios. Ele ri.

                - Não gostei. Estavam estranhamente aguados. – Ele discorda me fazendo rir.

                Olho para trás e vejo quem não queria. Sirius, Pedro, Remo e Tiago. Reviro os olhos e cruzo os braços me preparando para as possíveis provocações.

                Tiago passou a mão no cabelo quando me viu e sorriu com o canto da boca. Ele andava com um pomo de ouro voando perto dele, se exibindo.

                - Ranhoso! Que bom ver você por aqui! – Debochou Sirius rindo junto a Tiago. Remo se encolheu segurando Pedro pelos ombros. Tanto eu quanto Snape ficamos de pé. – Hoje seu cabelo está mais seboso que o normal, se é que isso é possível.

                Potter gargalhou.

                Severus se moveu para pegar a varinha, mas Tiago foi mais rápido e, em um segundo, meu amigo estava levitando.

                -COLOQUE ELE NO CHÃO, POTTER! – Grito tentando não encarar Snape. – POR FAVOR!

                - Só estamos nos divertindo, Lily. – Sirius falou entre gargalhadas. Remo apertava a mão no ombro do menor deles, com a testa enrugada de preocupação. – Não seja careta!

                - O que ele fez para vocês?! – Pergunto ignorando Sirius. Agora olhava diretamente para Tiago, que imediatamente passou a mão livre nos cabelos.

                - Ele existe, não é mesmo, Evans? 

                Algumas pessoas idiotas riram: agora nos encontrávamos no meio de uma rodinha de alunos, inclusive minhas amigas. Olho para elas procurando apoio, mas nenhuma delas se mexe.

                Alice segurava a varinha com medo e soprava os cabelos pretos que caiam em seus olhos, Dorcas tinha um pequeno traço de preocupação, mas sabia que isso não tinha nada a ver com Snape e Marlene acenava com a cabeça para que eu saísse de perto da confusão.

                Não iria abandonar Severus com os dois garotos o humilhando daquele jeito.

                - Você é um nojento, idiota que se acha melhor que todo mundo, Potter! – Cuspo as palavras com raiva. Seus olhos castanhos-esverdeados parassem vacilar e ele olha para Snape. – DEIXE ELE EM PAZ!

                - Saia comigo...                 Hogsmeade no próximo final de semana! – Tiago fala voltando a me observar. – E eu solto ele.

                - Nunca sairia com alguém como você! – Respondo grossa. – Impertinente, prepotente, amostrado! Você é absolutamente TUDO o que eu desprezo.

                Finalmente Severus pareceu conseguir apontar a varinha para Tiago, com um lampejo, ele caiu para trás com um corte no rosto. Sirius deu um jeito de imobilizar Severus.

                - Por favor, solte ele! – Lagrimas de raiva começaram a brotar em meus olhos e acho que isso assustou os dois agressores. A única pessoa que os covardes queriam fazer chorar era Severus.

                Tiago acenou para Sirius e, com raiva, ele soltou meu amigo, que caiu no chão.

                - De graças a Deus por Evans estar aqui, Ranhoso! – Tiago murmurou com a mão no corte do próprio rosto.

                - Não preciso da ajuda de uma Sangue ruim imunda como ela! – Severus gritou.

                Por um momento notei os olhares de todos ao meu redor se voltaram para mim, agora as lagrimas que caiam não eram de raiva e sim de tristeza. As palavras de Severus me acertaram em cheio.

                - Se desculpe, Ranhoso! – Tiago voltou a apontar a varinha ameaçadora para Severus. Dessa vez não me importei. – Estou mandando você se desculpar!

                - Você é tão ruim quanto ele, Potter. Não preciso que você me defenda! – Digo sem conseguir conter as lagrimas.

                - Eu nunca chamaria você de... de você sabe o quê!

                - Se exibindo por aí, azarando qualquer pessoa que você não goste, sem se importar com quem você machuca, bagunçando os cabelos o tempo todo para parecer descolado... você é nojento Potter! – Grito com todo o ar de meus pulmões.

                Saio da rodinha de estudantes correndo o mais rápido que posso para voltar para meu dormitório sem deixar que mais ninguém me veja em um momento de extrema fraqueza.

                Minhas pernas estavam bambas quando finalmente me sentei em cima de minha cama com a cabeça encolhida entre as pernas. Lagrimas rolavam pelo meu rosto e eu odiava Severus pelas suas palavras, odiava Potter por tudo que ele tinha feito com Severus durante cinco anos, por todas as vezes que deu em cima de mim, por todas as vezes que tinha falado com ele, por ele ter me defendido.

                E me odiava por ser tão ingênua.