POV Lilian Evans

                Quando pudemos sair das carruagens puxadas por “animais fantasmas”, como Dorcas costumava chamar, junto com minhas amigas, meu coração já estava acelerado.

                Todo ano era a mesma sensação incrível e eu nunca enjoava dela. O coração batendo forte em meu peito, o sorriso que não se apagava de jeito nenhum de meus lábios, meus olhos verdes brilhando, e meu corpo, que parecia flutuar pelas escadarias e corredores repletos de quadros e monumentos magníficos.

                Me sento ao lado de Alice no salão comunal, de frente para Dorcas e Marlene na mesa grandiosa da Grifinória, com duas mesas me separando de Severus, que era da Sonserina.

                Enquanto minhas amigas conversavam, vidro meu olhar para a mesa dos professores, esperando Dumbledore dar as boas-vindas aos alunos e iniciar a cerimonia do Chapéu Seletor, que tanto adoro.

                Ele caminha até o pódio dourado vagarosamente, mas é o necessário para chamar a atenção de todos os alunos presentes que queriam logo começar a comer.

                Ele fala tudo o que tem que falar enquanto Marlene imita o discurso fazendo nossos colegas rirem abafadamente e a cerimonia das casas começa.

                Amo ver os rostinhos acovardados dos garotos e garotas, que viam aquele novo mundo pela primeira vez, pois me faz lembrar de meu nervosismo no momento em que o chapéu tocou minha cabeça, me enviando para a Grifinória. É engraçado ver todos os meus amigos agora, cinco anos depois, com as mesmas carinhas da primeira vez que os avistei na multidão, sem nem imaginar que sequer lembraríamos do nome um do outro.

                Com os avisos dados, professores apresentados e alunos novos selecionados, o jantar foi servido.

                - Lily, me passe um bolinho de morango, por favor. – Alice pede apontando para um castelo de muffins parecendo apetitosos.  Ela dá uma mordida e lambe os lábios. – Como consegui passar três meses sem comer esse pedacinho de céu?

                - Me pergunto mais ou menos isso sempre que saímos de férias, sabiam? – Falo pensando na saudade que havia sentido de nossas conversas sem sentido, de Alice comendo tudo que fosse de morango, das palhaçadas de Marlene e Dorcas. – Nem sei como sobrevivo três meses inteiros sem vocês para me animar.

                - Lily sempre fofa! – Marlene ri segurando minha mão por cima dos pratos e bandejas. – Também me pergunto como vocês conseguem passar tanto tempo sem mim.

                Dorcas faz uma careta nos fazendo Alice e eu gargalhamos. De repente, a Marlene brincalhona que conhecemos, fica seria e entra debaixo da mesa com presa, nos incentivando a fazer o mesmo.

                Deslizo pelo banco e me encolho para entrar ali sem chamar tanta atenção. Entre os que parecem ser milhões de pés, vejo Dorcas gargalhar de si mesma ao bater a cabeça na madeira.

                - Me dê uma boa razão para estarmos embaixo da mesa, Lene! – Dorcas diz soprando os cabelos loiros do rosto.

                - Greg Stuart é uma boa razão! – Marlene fala com as mãos fazendo gesto para que nós parássemos de falar. – Vocês lembram dele, o garoto baixinho e gorducho da Corvinal. Bom, a puberdade o atingiu como um soco na cara e eu beijei ele na festa que dei na minha casa e ele não sai do meu pé!

                - Você fica chateada se eu rir de sua desgraça? – Pergunto prendendo o riso. Ela cruza os braços e faz um bico. – Não consigo entender, Marlene. Se você não quer se envolver emocionalmente com um garoto não o beije!

                - Lilian, Lilian, Lilian. Sempre a garotinha inocente que não sabe de nada sobre quase relacionamentos! – Minha amiga fala me deixando com as bochechas coradas. – O que se faz quando você está extremamente entediada no meio de uma das melhores festas que você já deu?

                - Fica bêbada. – Dorcas diz rindo.

                - Ler um livro? – Alice pergunta baixinho. – Pelo menos era isso que eu faria.

                - Qualquer coisa menos sair por aí beijando bocas de garotos com quem não quero me relacionar? – Questiono irônica. – Essa foi fácil.

                - Quem saiu por aí beijando bocas de garotos que não quer se relacionar?

                Escuto uma voz conhecida e quase pulo quando vejo o dono da voz, Remo Lupin, sendo seguido por Tiago, Sirius e Pedro. Todos em fila indiana, um atrás do outro, Peter por último com uma maçã na boca.

                - Espero que não tenha sido você, em respeito ao seu relacionamento com meu amigo, Lily Potter. – Sirius gargalha me deixando ainda mais envergonhada. Tiago passa a mão no cabelo com um sorrisinho no rosto.

                - O nome dela não é e nunca será Lilian Potter seu imbecil! – Dorcas me defende batendo de leve na cabeça de Sirius, que vai gritar, mas Tiago cobre sua boca com a mão. – E o que diabos vocês estão fazendo embaixo da mesa?

                - Amarrando os cadarços uns nos outros. Isso não é obvio? – Tiago pergunta com o sorrisinho desprezível no canto da boca. – E vocês?

                - Escondendo Marlene de um garoto que ela, com apenas um beijo, partiu o coração. – Alice responde fazendo eu e as meninas a olharem com raiva. – O que foi que eu disse agora?!

                Alice não consegue mentir, ou disfarçar algo, ou sequer calar a boca na hora certa, mas todas nós já estamos acostumadas. E por incrível que pareça, até os quatro meninos possuem um carinho especial pela garota tão pálida de cabelos cortados na altura dos ombros.

                Talvez tenha sido por isso que nem Sirius nem Tiago falou nada, perdendo a oportunidade de fazer as piadas que tanto gostavam.

                De repente, a toalha da mesa foi levantada com pressa e nos deparamos com Minerva McGonagall nos olhando com os óculos na ponta do nariz e expressão fria.

                - No primeiro dia de aula, garotos? – Ela olha para os meninos. Tiago abre o maior sorriso que consegue sem sua boca rasgar. Reviro os olhos. – E vocês meninas? O que pensam que estão fazendo?

                Exatamente quando o olhar de Minerva está sobre nós, um dos garotos com os cadarços amarrados se levanta, se desequilibrando e caindo sobre a mesa, causando um terrível estrondo, o garoto ao seu lado cai para trás e pelo menos dez alunos se desequilibram e caem.

                Os meninos caem na gargalhada e vejo Tiago cobrir a boca com o fardamento da Grifinória. Reviro os olhos novamente.

                - Foram eles, Professora McGonagall! – Dorcas aponta para os quatro babacas vermelhos por prender a risada. – Olhe só para a cara deles de suspeitos!

                - Apenas saiam de baixo da mesa e vão direto para seus dormitórios. – Minerva suspira frustrada. – E meninos, detenção amanhã depois da aula.

                Saímos de baixo da mesa com todos nos olhando e vamos em silencio até o dormitório. No salão comunal, Sirius chuta a porta, e mesmo assim, nenhum de nós abre a boca, até ele chutar pela quinta vez.

                - Dá para parar de chutar essa merda, Black? – Marlene grita parando de subir as escadas que davam em nosso dormitório.

                Sirius vai retrucar, mas subo as escadas correndo e me jogo na cama mais próxima à janela sem sequer trocar de roupa. Primeiro dia de aula e já estava metida em encrenca por causa de Tiago e os amigos. Não sei como lidar com aquele idiota. Tenho tanta raiva dele que minha barriga gira sempre que ele está por perto.

                Me remexo na cama e tento dormir o mais rápido possível com o travesseiro no rosto tentando tapar os sons da briga que acontecia no salão comunal entre minhas amigas e os amigos de Tiago.