Tangled Hearts escrita por bmirror


Capítulo 7
Capítulo 7 – Sobre um (re)encontro


Notas iniciais do capítulo

Cof, cof.

Desculpem pela (hiper mega blaster) demora!
Como eu tinha dito em The Unspeakable Rule, bloqueio criativo é uma BITCH.

Enfim, tentei recompensá-los com um cspítulo mais longuinho ♥

(Ps. Eu queria agradecer pessoalmente à Clenery Aingremont, porque ler suas recomendações das minhas histórias foi uma das coisas que mais me ajudou a voltar a escrever ♥ ♥)



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Capítulo 7 – Sobre um (re)encontro

 

Lily sorriu agradecida quando a amiga lhe entregou o remédio e um copo de água.

— Obrigada, minha fada madrinha. Vou te recompensar com um dos chocolates que estava guardando para mais tarde.

— Não precisa me recompensar com chocolate nenhum. É só se lembrar de tudo que eu faço por você quando você está com cólica no dia que eu estiver. – Lene devolveu o sorriso e voltou para a mesa de jantar, onde lia uma revista antes de ter se levantado.

Lily mostrou a língua em sua direção e deitou-se no sofá, dobrando as pernas e segurando os joelhos rente ao corpo.

— Pare com isso, eu sempre te ajudo quando você está com cólica.

A outra deu os ombros e virou a página da revista com um barulho alto. Ela lia uma matéria sobre como o filhinho do Príncipe William fugia das aulas na escolinha, e o jornalista fizera um assunto entediante parecer um suspense digno de Sir Arthur Conan Doyle.  

— É verdade, não posso reclamar.

As duas estavam em casa praticamente o dia inteiro e, apesar de adorar ficar deitada no sofá, Lily não estava aguentando mais. Já fazia mais de três dias que ela não tinha uma interação social (que não fosse com o homem do restaurante chinês da rua de baixo) e talvez a última tivesse sido no final de semana passado, quando saíra com James e os meninos. Ela tinha arrastado Lene consigo, mas quase desejou que não o tivesse feito, porque ela e Sirius engataram em uma discussão política que durou uma hora cravada, e só terminou quando Remus derrubou sem querer – ou não – um copo de coca-cola inteiro no amigo. De qualquer modo, estavam sendo as férias mais entediantes até o presente momento – e ainda era a primeira semana. Lily estava quase rezando para ter mais trabalho só para ter o que fazer em casa.

— Você tem mesmo que ir para o interior nesse final de semana? – perguntou, zapeando os canais sem prestar muita atenção. – Estou me sentindo muito sozinha aqui nessa cidade.

— Infelizmente, sim. Meu irmão vai levar o filhinho para lá e minha mãe quer que eu esteja presente também – ela respondeu, prendendo o cabelo com um lápis sem tirar os olhos da foto do Príncipe George de roupa social. – Por que você não chama James para fazer algo?

— Ele está viajando com o pai. Foram pescar, ou caçar, sei lá – ela bufou, sem perceber no quanto deixava transparecer a frustração.

— Então saia com as meninas, ué! Você está passando tanto tempo com aquele garoto que esquece que elas existem. Dorcas queria te matar semana passada porque você desmarcou com elas.

Ela riu, e Lily revirou os olhos com um sorriso debochado. Precisava admitir que só estava saindo com James nos últimos tempos mesmo. Sentou-se, tirando o cabelo que caíra em seu rosto. Talvez fosse uma boa coisa ele passar algum tempo fora. Ela estava quase perdendo o finzinho de controle que tinha de sua vida.

— Está bem. Vou mandar uma mensagem para Emme. Tem certeza que não quer ir com a gente?

— Irmão. Sobrinho. Mãe. – ela fez um gesto de descaso com a mão. – Para de insistir que eu já disse que não posso.

Lily riu, levantando-se do sofá e andando em direção ao quarto. Agora que o remédio começava a fazer efeito, ela achou que poderia sair de casa e comprar um café. Além do mais, estava fazendo um fim de tarde bonito, e sentia-se mais deprimida ainda por desperdiçá-lo no sofá. Ela tirou as calças moletom e a blusa, trocando-os por um vestido jeans que definitivamente precisava ser lavado. Mas como o passeio seria rápido, ela não via problema em usá-lo uma última vez.

— Aonde você vai? – Lene perguntou, levantando o rosto da revista.

— Comprar um café. Passear um pouco. Quer ir junto?

— Arg. Passo – ela balançou a cabeça enfaticamente – Estou muito bem aqui com minhas pantufas, obrigada.

Lily sorriu antes de abrir a porta.

— Imaginei – e desceu as escadas rapidamente.

Já na rua, pegou o celular e virou-o na mão. Nenhuma mensagem nova. Não é que ela estivesse esperando algo de alguém específico, mas era sempre frustrante não ter notícia nenhuma de ninguém.

O sol estava quente o suficiente para deixá-la com calor, mas uma brisa bem leve batia em seu rosto, quase tentando lutar contra o verão. Ela andou distraidamente, subindo a rua, até perceber que o Starbucks ficava para o outro lado. Rindo de si mesma, mudou a direção. Em poucos minutos, o prédio branco de esquina já estava visível e ela conteve um muxoxo ao ver, através do vidro, a enorme fila que se formava no caixa. De qualquer maneira, era melhor do que mofar o resto do dia no sofá, então balançou a cabeça e seguiu o caminho.

Lily parou no lugar porque o viu assim que entrou no ambiente refrigerado. Ele estava há umas duas ou três pessoas na sua frente, as costas curvadas enquanto analisava a vitrine atentamente. Ela se perguntou se deveria cumprimenta-lo ou apenas fingir que não o tinha visto. Mas não se sentiria bem se o ignorasse. Ela deu um tapa na própria testa, amaldiçoando-se por não vestir algo diferente. Tinha acabado de lavar aquele vestido amarelo, por que não resolveu vir com ele?

Ele estava muito bonito, o cabelo penteado para trás e uma camisa jeans de manga curta impecável. Ela não pôde evitar olhar seus braços quando com um movimento suave, ele tirou o celular do bolso de trás e olhou para a tela distraidamente.

— Hm, Edgar? – ela murmurou, achando que talvez tivesse sido baixo demais. Mas funcionara, porque ele levantou a cabeça e olhou a sua volta curioso. Quando seus olhares se cruzaram, ele abriu um sorriso que fez um arrepio percorrer sua coluna.

— Lily! O que está fazendo aqui? – perguntou, saindo da sua posição da fila e vindo ao encontro dela com os braços abertos. Ela se perguntou o que devia fazer a seguir, mas ele a abraçou antes que pudesse decidir.

— Oi – ela sorriu quando se afastaram – Você não precisava ter saído do seu lugar.

Edgar olhou para frente e fez um gesto despreocupado com a mão. A vez que seria dele chegou, mas ele voltou a observá-la e não desviou o olhar do rosto dela, o que fez suas bochechas esquentarem consideravelmente. Lily achou que se lembrava de toda a aparência dele, mas olhando-o novamente, ela estava certa de que não tinha reparado no tom lúcido de azul que eram seus olhos no aniversário de Emmeline. Chegava a ser hipnotizante.

— Então, o que está fazendo aqui? – ele perguntou, cruzando os braços e Lily forçou-se a não desviar o olhar nessa direção – Eu te procurei na festa da Emme depois, mas não a encontrei em lugar nenhum...

Lily tossiu, engasgando repentinamente com a resposta. Ela mudou o peso de um pé para o outro e colocou o cabelo atrás da orelha.

— Eu estava com um...hm, amigo.

Edgar concordou com a cabeça, sorrindo sem mostrar os dentes, como se já soubesse a resposta mas quisesse ouvi-la dizer mesmo assim.  A fila andou mais um pouco e eles ficaram lado a lado.

— Eu moro aqui perto – ela mudou de assunto, virando a cabeça para olhá-lo. A luz passava pela enorme janela de vidro e  formava quase uma aura celestial ao seu redor. – Estava entediada e resolvi dar uma volta. E você?

— Aqui é a exata metade do caminho entre minha casa e a clínica que eu trabalho.

— Clinica? – Mas antes que ele respondesse, ela concordou com a cabeça e deu um tapa na própria testa. – Ah, é verdade. Eu lembro que há uns anos você estava fazendo Veterinária. Tinha esquecido que você ganha a vida cuidado de filhotinhos e tudo mais. Uma vida difícil.

Edgar riu e deu mais um passo para frente. Eles pararam na frente do caixa e Lily pediu o habitual Moccha Branco, mas quando o rapaz fez menção em pagar a sua bebida, ela empurrou-o para o lado e entregou as notas amassadas para a barista rapidamente.

— Está bem – ele brincou, levantando o rosto com uma cara falsamente séria. – Posso te comprar uma torta de mirtilo então?

Lily contorceu o rosto em um misto de confusão e diversão. Ela olhou por cima do ombro em direção à vitrine de doces.

— Que coisa mais aleatória. Pode, ué – e voltou a olhá-lo – Mas não tem torta de mirtilo aqui.

— Puxa vida – Ele sorriu e ficou óbvio para ela que Edgar sabia muito bem que não vendia torta de mirtilo ali – Acho que vou ter que fazer uma para você, então.

Lily riu e revirou os olhos, sentindo o rosto esquentar ligeiramente. A moça atrás do balcão os chamou para pegar o café e ele esticou os braços para recebê-los. Depois lhe entregou o copinho branco, e ela agradeceu com uma piscadela.

— Então – continuou, quando se apertavam para sair da cafeteria – Eu infelizmente preciso voltar ao trabalho, mas eu não posso ir embora sabendo que estou te devendo uma torta de mirtilo.

Ela sorriu, achando melhor dar um gole no café do que responder.

— Jantar na minha casa? – Ele perguntou, levantando as sobrancelhas em expectativa. Lily não o encarou nos olhos por alguns segundos. – Hoje, amanhã, no final de semana...?

— Eu não sei... – respondeu, com uma sensação engraçada no estômago.

— Vamos lá, vai. – Edgar tirou óculos escuros do bolso e colocou-os no rosto. Lily mordeu os lábios inconscientemente, porque parecia estar olhando para um modelo ou algo assim. – Se você pensar muito, vai mudar de ideia. Só diz sim e pronto.

— Arg, ok, tudo bem. – Ela balançou a cabeça, e ele levantou o braço , dando um soco no ar. Depois pegou um celular do bolso e escreveu algo rapidamente na tela.

— Aqui, coloca seu telefone – falou, estendendo o aparelho. Ela o pegou com cuidado e digitou os números. – Beleza, vou te mandar o endereço por mensagem.

— Ok. Mas meu celular é muito antigo, tenha paciência. – Ela sorriu, soterrada por uma sensação de dejà-vu.

— Não tem problema. Eu te aviso o horário e tudo mais. Não mude de ideia!

Ela concordou com a cabeça, sorrindo. Edgar se despediu com um beijo na bochecha, que fez seu rosto formigar. Enquanto ela o observava se afastar gradativamente, não conseguiu parar de pensar como raios aquele mirradinho branquelo que ela conhecera há alguns anos se transformara repentinamente em um garoto propaganda da Ray Ban.

Lily voltou para o apartamento o mais rápido que conseguiu, engolindo o café praticamente num gole só. Subiu as escadas de dois em dois andares e só parou para respirar quando encostou no batente da sua entrada.

— Ok. Me ajude.

— O que aconteceu? – Marlene perguntou, sem levantar o rosto da revista quando ela fechou a porta atrás de si. – Se for o cachorro da Sra. Figgs de novo, sinto muito, você vai ter que se vir...

— Não é nada disso –balançou a cabeça, sentando-se na frente da amiga à mesa. – Acho que tenho um encontro hoje à noite.

Marlene levantou os olhos intrigada. Lily mordeu o lábio inferior, esperando a resposta da morena.

— Como assim, acha que tem um encontro? – Arqueou a sobrancelha – James voltou, por acaso?

Lily olhou para o lado. Não tinha parado para pensar em James na última hora. Isso era ruim? Bom? Ela não sabia mais discernir. Eles não tinham falado nada sobre exclusividade, e também era muito cedo para dar nome àquilo. Mas ela franziu a testa e pensou o que sentiria se James dissesse que tinha marcado um encontro com outra pessoa. Estaria tudo bem?

— Hm. Não. Com o primo de Emme.

Bones? – Lene fechou a revista com um gesto rápido. – Como isso aconteceu?

Ela respirou fundo e contou o que tinha acontecido, procurando uma reação nas expressões que a amiga fazia. Marlene apoiou o rosto com a mão e quase não piscou.

— Lily, na boa, o que você espera que aconteça na casa dele?

— Não pensei muito sobre isso – Ela esfregou as mãos no rosto. – Você acha que foi uma péssima ideia?

— Na verdade não, eu vi como aquele cara estava gato na festa – balançou a cabeça com um sorriso lascivo no rosto. – Eu também sairia com ele se tivesse sido convidada. Mas eu não estou comprometida, né.

Lily franziu as sobrancelhas.

— Eu também não, oras.

Lene a observou sem mudar a expressão.

— Tem razão, desculpe – levantou os braços num gesto descontraído – Saia com esse cara. Maldita sortuda. Queria saber como é que você faz isso. Vê se me conta todos os detalhes quando voltar!

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Lily conferiu o batom no reflexo do celular. Não dava para ver muito bem, mas parecia estar tudo certo. Ela tamborilou os dedos nervosos no banco do carro e olhou para fora da janela.

— Moça, qual é a rua mesmo? – O taxista perguntou, desviando de dois carros parados na rua. Ela achou melhor pegar um taxi porque usava salto alto pela primeira vez em muito tempo e sabia que a probabilidade de levar um tombo nos transportes públicos era altíssima.

Ela conferiu a mensagem com o endereço que Edgar mandara mais uma vez.

— Hm, St. Albans Grove, por favor.

O homem concordou com a cabeça e seguiu em silêncio por mais uns minutos. Lily voltou a olhar janela afora e soltou um muxoxo quando os primeiros pingos começaram a bater incisivos no vidro. Ah, Londres.

— É ali do outro lado. Você quer sair aqui ou dou a volta e paro em frente?

— Não, tudo bem, saio aqui mesmo.

Ela pagou o homem e mal fechara a porta antes que o carro arrancasse de volta à rua. Ela balançou a cabeça e ajeitou o vestido, sentindo que deveria ter colocado algo mais comprido, ou menos formal, ou mais confortável. Ela não sabia bem porquê, mas estava começando a ficar com uma sensação estranha no estômago e creditou o vestido e sapato de salto à isso. Fazia tempo que não se arrumava assim, mas Marlene concordou que essa era uma ocasião que pedia um pouco mais de tempo na frente do espelho.

Lily respirou fundo e atravessou a rua, parando na frente da porta escura. Quando os pingos começaram a ficar mais grossos, ela bateu.

Edgar abriu a porta em menos de um minuto.

— Lily! Vem, entra. Eu fiquei preocupado quando vi que começou a chover, mas ainda bem que você chegou antes de piorar.

— Obrigada – ela sorriu, passando pela entrada timidamente. Ele fechou a porta atrás de si e estendeu o braço para que ela lhe entregasse o casaco. Lily cruzou os braços um pouco sem graça, mas Edgar abriu um sorriso.

— Você está...hm, muito bonita – ele coçou a parte de trás da cabeça e ela agradeceu. Depois de um breve momento em silêncio, apontou para o final de um corredor – Olha, eu tentei fazer frango, mas não sei se saiu muito bom.

Ela sorriu e o acompanhou em direção à uma cozinha grande. Os eletrodomésticos eram todos de inox e as bancadas eram pretas e impecavelmente limpas. Lily mordeu a língua para não soltar uma exclamação de surpresa. Ela sabia que o avô de Emmeline (e de Edgar também) era um homem muito rico, então só isso justificava o fato de um cara de 23 anos ter uma casa que parecia ter saído de uma revista de decoração. Ou ser veterinário em Londres era uma aposta milionária?

— Você mora sozinho? – Perguntou, sentando-se em um banquinho na ilha. Ele colocou um prato de pequenas torradinhas com tomate picado na bancada e debruçou-se para pegar uma delas.

— Agora sim – Edgar respondeu, mordendo a torrada. – Eu morava com mais dois amigos. Mas um voltou para Liverpool e outro está morando na América.

— Sozinho nessa casa enorme? Você não tem medo? – ela brincou, pegando uma das torradas e mordendo. Eram deliciosas e ficava óbvio que o rapaz sabia o que estava fazendo na cozinha. – Isso é bom demais. Não sabia que você cozinhava.

— São bruschettas. São fáceis demais de fazer, acho que não mereço tanto crédito – Ele sorriu, mostrando os dentes perfeitamente alinhados. Lily se perguntou se era possível que ele tivesse algum defeito. – E respondendo a sua pergunta, sim, eu tenho medo de morar aqui sozinho. Por isso adotei um cachorro.

Ela riu e colocou as mãos no balcão.

— Meu Deus, você tem um cachorro? Posso conhecê-lo? – Perguntou com animação. Edgar levantou a sobrancelha em sua direção com um sorriso receoso no rosto, mas ela juntou as mãos e continuou: – Eu imploro!

— Ah, ok, se você quer tanto assim...

Ele andou até uma porta de vidro e deslizou-a para abrir. Lily levantou-se da cadeira e olhou com expectativa para o jardim escuro, as gotas de chuva retumbando no gramado. Edgar assobiou e gritou um “Atila!”. E então, um buldogue baixinho e nada assustador veio gingando para dentro da casa.

— Oh, meu Deus – Lily riu quando o cachorro se sacudiu, espirrando água pela cozinha inteira. – Essa é a coisa mais fofa que eu já vi.

O cachorro estava com uma coleira azul clara, e a olhava com curiosidade. Ele veio até seus pés e a cheirou, o rabo balançando alegremente para todos os lados. Ela não resistiu e abaixou em sua direção, e assim que esticou a mão para fazer carinho, Atila se jogou no chão com as patas inertes para cima e a língua pendida da boca.

— Você é tão lindinho – ela sorriu, fazendo carinho na barriga dele. Então levantou  os olhos na direção de Edgar, que fechava a porta e sorria para si mesmo – E nada assustador. Como você planeja afastar invasores com essa carinha linda?

— Bom, eu queria um pastor alemão – ele respondeu, cruzando os braços e apoiando-se na bancada. – Mas no dia que eu fui adotá-lo, Atila tinha acabado de chegar de um dono que o maltratava. E ele pareceu tão feliz quando eu me aproximei...Não resisti.

Lily piscou em sua direção, certa de que aquele cara tinha saído de um filme. Edgar desviou o olhar e puxou Atila pela coleira para que ele se levantasse.  

— Tá bom, seu bobão, pode ficar aqui dentro. Eu queria te deixar lá fora para impressionar a garota, mas já vi que você faz mais sucesso aqui dentro mesmo.

O cachorro se levantou por fim num ritmo desengonçado, e Lily o acompanhou, apoiando as costas no armário de mogno.

— Não acredito que você queria me impressionar mantendo o cachorro escondido— ela sorriu, arrumando o cabelo que caíra em seu rosto. – Fala sério, você não sabe nada sobre garotas?

Edgar riu e jogou o próprio cabelo para trás.

— Bem, obviamente não.

Lily revirou os olhos com um sorriso na mesma hora que o fogão soltou um apito.

— Ah, nosso jantar está pronto, mademoiselle— Ele se virou e jogou um pano de prato por cima do ombro. Quando abriu a boca do forno, um aroma delicioso chegou ao nariz de Lily, fazendo seu estômago dar um ronco. Ela ficou grata do estômago ter tido a primeira reação decifrável desde que chegara, porque sabia com todas as letras que aquilo era fome e não nervosismo.

— Vou lavar as mãos, ok?

— O banheiro é a segunda porta à esquerda. Vou levar isso aqui para a sala de jantar direto.

Ela concordou e virou em direção ao corredor, sentindo já uma dor nos calcanhares por causa do sapato de salto. Ela estava se sentindo muito mais velha do que sua idade real. Aquele era seu primeiro encontro sério e não sabia o que esperar. Até então, estava muito satisfeita em jogar sinuca em um pub com uma cerveja na mão. E cá estava, arrumando os cabelos em um espelho de um banheiro impecável e indo jantar com um cara aparentemente sem defeitos.

Se propusesse um encontro desses para James, tinha certeza que ele ia acabar levando na brincadeira e aparecendo ele com um par de sapatos de saltos. Era a cara dele.

Lily suspirou, fechando os olhos com força. Ela tinha feito uma promessa a si mesma antes de sair que não pensaria em James nessa noite. Queria saber se tinha algo a mais para ela em Londres antes de tomar decisões a longo prazo. Então afastou a imagem que se formara dele em sua mente e fechou a torneira com vigor, preparada para voltar à sala de jantar.

 

Edgar Bones era um cara divertido, isso era verdade. Ela não lembrava de qual foi a primeira impressão que tivera quando o conhecera há uns anos, mas essa “nova” primeira impressão estava funcionando. Ele contava histórias engraçadas e ria de suas piadas, cozinhava bem e era devastadoramente bonito. E o mais importante, nunca deixava a taça dela ficar vazia.

Uma hora depois, tinham acabado o jantar e a primeira garrafa de vinho, então ele pediu que Lily o esperasse na sala de estar enquanto buscava uma nova na cozinha. Ela concordou com um sorriso e cambaleou até o sofá azul marinho. Estava começando a ficar tonta, mas nada que a fizesse perder o controle de si. O cachorro dele a acompanhou para a sala.

— Posso colocar uma música? – Edgar perguntou da cozinha, a voz sobreposta com o barulho das portas dos armários.

— Com certeza – ela sorriu, gesticulando para tentar fazer o buldogue se aproximar. Mas ele só a encarou com a língua de fora, e se largou no chão, deitando-se no tapete em frente à uma lareira desligada.

Uma música do Coldplay começou a tocar em um alto falante que deveria ser interligado com o resto da casa, porque parecia estar tocando praticamente em seu ouvido. Ela ficou impressionada com a qualidade do áudio, mas soltou um muxoxo ao ouvir a música. Nunca gostara muito de Coldplay.

Edgar, no entanto, parecia muito satisfeito quando entrou na sala alguns segundos depois, então ela resolveu não falar nada sobre a escolha da banda. Ele se aproximou com um prato e uma garrafa nova de vinho. Um cheiro deliciosamente doce chegou ao seu nariz.

— Não acredito que você fez mesmo uma torta de mirtilo – ela riu, cobrindo a boca com a mão. Ele sorriu e sentou-se ao seu lado, colocando o prato com uma tortinha na mesa de centro.

— Bom, eu tinha que cumprir a minha promessa – respondeu, segurando a taça dela para encher novamente. – E também é a única sobremesa que eu sei fazer.

Lily sorriu e se debruçou para alcançar a torta. Ele a encarou com expectativa, apoiando as costas no sofá e deixando a garrafa na mesinha. Assim que Lily colocou o garfo na boca, soltou um gemido de satisfação. Era uma das melhores que já tinha provado.

— Vou aceitar por esse barulho altamente erótico que você gostou da torta – Edgar disse, esticando o braço no encosto do sofá com uma risada rouca.

— Hm – ela concordou com a cabeça, engolindo – É provavelmente a melhor coisa que eu já provei na vida.

Edgar riu e aproximou o corpo, bebendo um gole de vinho. Lily o imitou, bebendo de sua própria taça. A meia luz da sala e a música estavam lhe dando uma moleza e ela começou a ficar sonolenta.

— Você ainda tem muito o que provar antes de decidir qual é a melhor coisa da vida – Ele esticou a mão e brincou com uma mecha do cabelo dela, e de repente Lily sabia exatamente o que aconteceria a seguir.

Ela o viu se aproximando e seria a primeira a admitir que não fizera nada para impedir que seus lábios se encontrasse. De fato, estava até curiosa para saber como seria. Edgar levou a mão livre à cintura dela e a apertou de leve, puxando-a para si.

— Eu queria deixar claro o quão brega foi essa sua frase – ela murmurou, com a boca ainda parcialmente colada na dele, o que provocou uma risadinha sussurrada.

Era um beijo calmo e leve. Não tinha pressão demais, e nem de menos. Tudo na medida. Lily nunca diria que não fora agradável, mas...parecia que faltava algo. Ela levou a mão que repousava no peito dele até sua nuca, e então experimentou entrelaçar os dedos no cabelo loiro. Ela não sabia o que estava esperando que ele fizesse depois disso, mas ele continuou beijando-a da mesma maneira.

Ele beijava bem, nisso ela concordava. Era atencioso e carinhoso. Mas Lily se pegou divagando no meio de tudo. Parecia faltar alguma coisa. Ela não sabia exatamente o que, porque ele era definitivamente a personificação da perfeição. O cabelo dele era macio, tinha um cheiro muito bom e era agradavelmente bonito.

Então porque ficava esperando sempre algo a mais?

De qualquer maneira, eles acabaram se beijando por quase toda a duração do CD do Coldplay. Eles se separaram naturalmente, quando as taças que seguravam começaram a incomodar. Os dois se encararam e ele ajeitou os cabelos dela que caíram em seu rosto. Ela sorriu timidamente.

— Então... – Edgar continuou, aproximando o rosto de volta. – Quer subir?

Lily piscou em sua direção, ainda com o sorriso tímido no rosto. Ela sabia muito bem o que ele estava propondo e já tinha pensado nessa possibilidade antes mesmo de ter saído de casa. Há alguns minutos, talvez tivesse aceitado. Mas agora, o efeito do vinho estava passando e ela já não tinha mais muita certeza se queria estar ali.

— Obrigada pela noite – ela o encarou – Mas acho que já vou indo.

— Já? Você nem terminou a torta – Edgar fez cara de frustração, apontando para a sobremesa meio comida. Ela piscou em sua direção preguiçosamente. – Bom, mas me prometa que iremos repetir. Estou aprendendo uma torta de maçã, agora.

Lily riu.

— Sim, torta de maçã parece uma ótima ideia – disse, afastando-se e levantando-se lentamente. Ele a acompanhou com o olhar.

— Quando? Amanhã? Sexta feira? Próximo final de semana?

Ela o olhou, sorrindo sem mostrar os dentes.

— Eu te aviso. Eu estou...um pouco ocupada esses dias.

Edgar levantou-se também. Ele a encarou por alguns segundos antes de continuar a falar.

— Isso é por causa daquele cara da festa, não é?

Lily desviou o olhar.

— Não. Sou eu...estou mesmo com muita coisa na cabeça – ela sabia que se falasse mais alguma coisa ia acabar dizendo algo que não queria admitir nem para si. Então andou em direção ao hall de entrada, sem se preocupar se ele a seguia (o que ele acabou fazendo).

Ela tirou o casaco do gancho e colocou a bolsa sobre os ombros. Seus pés estavam começando a doer e ela mal podia esperar para chegar em casa e tirar os sapatos.

— Obrigada pela noite, me diverti muito.

— Eu também – ele sorriu – Me deixa chamar um taxi para você, pelo menos.

Ela não tinha o que responder, então concordou. Edgar ligou para algum número e em poucos minutos, um taxi preto parara na porta da casa dele. Eles se despediram com um beijo na bochecha e ela entrou no carro. Assim que começou a andar, Lily arrancou os sapatos com um gemido de alívio.

De noite, sem trânsito, ela chegou em casa rapidamente. Pouco tempo depois, o carro estacionava na frente do seu predinho de tijolos. Pagou o motorista, agradeceu e saiu, o casaco em um braço e os sapatos na outra mão. Ela abriu a porta de vidro e subiu as escadas, parando para olhar o celular quando estava quase na frente de seu apartamento.

Com exceção de duas mensagens de Marlene, não tinha mais nada. Estava esperando tanto por qualquer notícia, mesmo que fosse apenas um “oi”. Mas não havia nada. Ela chegou a abrir uma mensagem nova para enviar e tinha até escrito a letra J, mas achou melhor deixar para depois, então guardou o celular de volta na bolsa e entrou em casa, uma sensação de aperto no peito que, ela sabia, nada tinha a ver com o vinho.

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Dois dias depois, ela tinha se esquecido completamente da mensagem que queria enviar.

— Não acredito no que os meus olhos vêem – Mary Macdonald anunciou, levantando-se da mesa do bar assim que as duas meninas se aproximaram das outras. – Lily Evans saiu da toca.

Lily riu e a empurrou de leve antes de abraça-la.

— Marlene veio também, ué, peguem no pé dela.

— É, mas nós vimos Lene semana passada. É você que tem nos trocado – Emmeline se levantou para dar espaço às duas.

Marlene sentou-se no meio das amigas e soltou gargalhada, olhando-a com aquela expressão de “eu te avisei”. Lily revirou os olhos e puxou uma das cadeiras vazias.

— Bom, estou aqui agora, não estou? – Apoiou o rosto na mão e sorriu. – Agora me contem as novidades.

— Todas passamos de semestre. Menos Dorcas, ela reprovou em estudos políticos. Eu adotei um cachorro novo. É um labrador preto e o nome dele é Batman – Emme jogou alguns amendoinzinhos na boca – Mas isso não é interessante. Queremos saber de você.

Lily jogou o cabelo para trás e pegou um pouco de amendoim também.

— Eu o que? – falou, a boca cheia.

Mary soltou um gemido de impaciência.

— Arg Lily, você sabe muito bem. O que está acontecendo entre você e James...

— ...E por quê meu primo me ligou há uns dias me dizendo que tinha um encontro com você?

Marlene soltou uma risada e cruzou os braços. Tinha interrogado a amiga assim que ela chegara em casa, e ela tinha realmente havia lhe contado tudo, mas se recusara a responder qualquer coisa mais profunda (principalmente quando Lene a questionou sobre o que significava isso). Lily limpou a garganta, tentando ganhar tempo e Emmeline se debruçou na mesa em expectativa.

— James está viajando essa semana – ela falou, desviando o olhar para o bar lotado. Um grupo ao seu lado gritou um “Surpresa!” animado quando uma menina baixinha chegou. Pareciam estar em uma festa de aniversário. – E...bom, acabei cruzando com Edgar há uns dias atrás. Ele me chamou para sair e eu não tinha nada melhor para fazer, ué. Então fui.

Mary e Emmeline se entreolharam com um sorriso no rosto.

— Lily Evans, que mel é esse?— Emme riu, bebendo de um copo com um líquido cor de rosa. As meninas riram e a ruiva suspirou aliviada. Ela não tinha percebido até então, mas estava um pouco ansiosa para saber o que Emmeline acharia dela ter saído com seu primo. Aparentemente não via problema algum. – Não acredito que você esteja não só saindo com o cara mais charmoso do Reino Unido...

— ... Que é James, caso você não saiba – Mary piscou com um olho só.

— ... Como também inventou de começar a sair com o meu primo.

— E Emme não pode dizer isso, mas ele é o cara mais gostoso do Reino Unido – Continuou a outra, piscando novamente. Emme coçou o nariz fingindo não ter ouvido.

— Bom, não vou comentar sobre isso. Mas preciso admitir que estou muito feliz por vocês terem se encontrado, eu não estava aguentando mais ele me enchendo o saco pra passar o seu número. Eu não sabia muito bem se podia, por causa do Potter e tudo mais...

Lily tossiu um pouco e bebeu do copo que estava à sua frente, mesmo sem saber quem era a dona. Ela tinha repassado mentalmente várias vezes a história que contaria para não precisar falar que ela e Edgar tinham realmente se beijado. Mas agora, pensava que talvez não fosse tão ruim assim. Então resolveu contar sobre o encontro. Em detalhes.

Mary cuspiu a bebida quando ela comentou sobre o beijo.

— Você tá doida? – Ela riu, limpando os cantos da boca – Isso quer dizer que está desistindo de James? Porque eu quero fazer uma aplicação formal aqui para tomar o seu lugar. Mudei de ideia, ele é o cara mais gostoso do Reino Unido.

Marlene pigarreou teatralmente.

— Ahn, dá licença? Vocês esqueceram da existência do David Beckham? – Ela interferiu, a mão apoiada no peito como se estivesse ofendida.

— E aquele baixista do McFly. Dougie alguma coisa – Lily concordou, com uma cara falsamente séria.

— Hum, eles saíram de moda, já. E os irmãos Hemsworth, talvez?

— Ah, não vale. Eles são australianos – Mary riu, rasgando o rótulo da cerveja que segurava. Lene concordou com um gemido e fingiu limpar uma lágrima.

Elas mudaram de assunto rapidamente porque isso lembrou Emme sobre o jogo de hugby da Inglaterra contra a Australia. Ela e Marlene eram fãs de carteirinha do esporte, e já tinham acompanhado o time até o México uma vez, por causa de um campeonato que estava sendo disputado.

— Mas Lily, e James? O que ele achou disso? – Mary virou-se para ela, falando um pouco mais baixo. Lily olhou para o copo que segurava e deu os ombros. – Você não falou para ele, não é?

— Ainda não. Não quero deixá-lo chateado.

Mary escrutinou seu rosto com os olhos apertados em uma fenda. Lily continuou evitando-a, mexendo o copo de uma mão para a outra.

— Que engraçado – a amiga falou, soltando uma risadinha baixa – Nunca tinha te visto assim com ninguém. Você está gostando mesmo dele, não é?

Ela a olhou e suspirou. Depois concordou com a cabeça e afastou o cabelo do rosto. Para não precisar admitir em voz alta, bebeu mais um pouco da bebida misteriosa. Se ela não estava enganada, era sangria.

— Ei, era meu – Dorcas Meadowes riu, aproximando-se da mesa com uma tigela de fritas.

— Aleluia! Estamos te esperando há meia hora – Emmeline interrompeu-se no que estava falando e virou para olhar a amiga que chegara.

— Desculpem, o bar estava cheio. – falou, com um sorriso estranho no rosto. – E também...bom, estava conversando com alguém.

Ela deu um passo a frente e deu espaço para o rapaz que estava atrás dela aproximar-se da mesa também. Lily levantou-se com um pulo.

— Remus!

Ele estava usando a mesma camisa xadrez que usara na última vez que se encontraram, e seu cabelo precisava de um corte. Mas assim que a reconheceu, abriu um sorriso brilhante que modificou seu rosto inteiro.

— Lily! O que está fazendo aqui? – Ele foi até ela e lhe deu um abraço.

— Eu vim encontrar as meninas – respondeu, apertando-o de volta. – Essas são minhas amigas da faculdade. Mary, Emme e bom, vejo que conheceu Dorcas. E Lene você já conhece.

Marlene levantou-se também e veio cumprimentá-lo.

— E aí, Lupin? – falou. Assim que o soltou, seu rosto ficou sério – Calma...se você está aqui...Quer dizer que Black também está?

— Não, não – ele riu, balançando a cabeça divertido – Padfoot saiu com uma garota...Na verdade não o vejo desde ontem. Ele não deu notícias ainda.

— Hunf, é a cara dele – Lene deu os ombros e voltou a se sentar. – Deixar os amigos preocupados, assim...muita falta de consideração.

— Bom, não estamos tão preocupados ass... – Remus riu, trocando um olhar com Lily que sorriu de volta. Mas antes que pudesse terminar a frase, foi interrompido por um outro rapaz que se apertava contra a festa da mesa ao lado para se aproximar.

— Ah, Moony, aí está você. Eu tive que sair correndo porque o namorado dela chegou e não...Lily! O que está fazendo aqui?

— Peter, como vai? – Ela sorriu, beijando-lhe a bochecha.

— Estávamos falando de você hoje mesmo – O menino respondeu, abraçando-a de lado.

Lily voltou a se sentar e fez um gesto para que eles puxassem uma cadeira e sentassem ao seu lado. Eles o fizeram e Dorcas jogou um amendoim na amiga, bufando com impaciência.

— Foi mal, Dorkie, eu já te devolvo Remus – sorriu para a menina que revirou os olhos. Lily se virou de volta para Peter – Falando o que de mim? Espero que só coisas boas.

— Com certeza – ele riu – Estávamos discutindo se seria estranho chamá-la para jogar vídeo game com a gente mesmo sem o Prongs em casa. Ou se você acharia esquisito, sei lá.

Lily sorriu e sentiu o rosto ficar vermelho. Era a primeira vez que algum deles demonstrava gostar realmente da sua companhia, e não só por James a arrastar de um lado para o outro.

— Você sabe, nos acostumamos com você lá em casa. E agora sem você e sem Prongs, parece um pouco vazia – Remus deu os ombros, bebendo um gole da long neck que segurava.

— Eu iria adorar – ela respondeu, colocando uma mão no ombro de Peter – E olha, eu não me esqueci que estava ganhando de você em Counter Strike, ok?

Peter riu, empurrando-a de leve.

— Estava nada. Eu estava na frente!

— Bom, roubando né...Assim fica fácil.

Remus olhou para o amigo.

— Cara, você oficialmente não tem mais ninguém para enganar. Vai ter que começar a jogar limpo.

Ela gargalhou, jogando a cabeça para trás. Remus coçou o nariz com um sorriso satisfeito na mesma hora que Marlene se levantou da mesa. Ela estava usando um vestido simples e quase nenhuma maquiagem, mas isso não impediu que Peter engasgasse com o que quer que estivesse na boca.

— Vou buscar alguma coisa para beber. Você quer também?

Lily apontou para a garrafa que Remus segurava.

— Pode me trazer uma dessas?

Ela concordou com a cabeça e virou-se em direção ao bar, fazendo Peter tossir mais uma vez.

— Foi mal, são esses...han, malditos amendoins – ele falou, virando o restante do seu copo garganta adentro.

Lily piscou com um olhos só.

— Claro que sim. – Respondeu, arrancando uma risada do outro garoto. Ela sentiu um olhar penetrante vindo da sua frente e virou-se vagarosamente para encontrar Dorcas a encarando com uma sobrancelha levantada. – Ah, Remus – disse, tentando esconder um sorriso – Lembra-se daquela minha amiga que foi comigo na leitura do Seamus Heaney? Então, era Dorcas.

— Mesmo? É um dos meus poetas preferidos – ele disse, virando o corpo completamente na direção da garota.

— Bom, não é um dos meus preferidos...Na verdade foi Lily quem me arrastou – Dorcas cruzou os braços e empinou o nariz arrebitado.

— Ah sim, nós já conversamos muito sobre ele em casa – Remus sorriu para a ruiva. – James quase me matou depois, sabia? Disse que eu tinha ocupado todo o tempo que vocês tinham livre discutindo poesia.

— Mesmo? – ela riu, porque imaginava direitinho o James que conhecia falando isso.

— É, bom, nós realmente ficamos horas discutindo um único poema – Ele sorriu, fazendo aparecer uma covinha na bochecha esquerda. Lily olhou para a amiga à sua frente, mas ela parecia estar absorta demais em analisar o sorriso do garoto. – Enfim. Seamus Heaney. Por que você não gosta dele?

Dorcas balançou a cabeça.

— Ah, não sei. Ele só fala de paisagem e natureza. Fico entediada.

— Mas isso que é lindo! – Lily levantou os braços, quase acertando Marlene que voltava com sua bebida. – Opa, obrigada. Lene, diga para ela que os poemas de Heaney são bonitos.

— Ah, sim, são estupendos – Lene disse com uma cara de tédio.

— Ha, viu – Dorcas apoiou-se na mesa. – Não estou dizendo que ele é ruim. Só que prefiro outros poetas...

— Tipo... – Remus fez um gesto para que ela continuasse.

— Hum, tipo Maureen Boyle – Ela respondeu, um sorriso lateral crescendo em seu rosto.

— Ah, droga. Eu ia tirar sarro, mas eu também gosto dela. – Ele coçou a parte de trás da cabeça – Ela é Irlandesa, sabia?

— Sabia. Eu sou meio Irlandesa também.

— Jura? Eu também. Minha mãe é de Cork.

— Minha família é de Limerick. Um pouco longe.

Lily arregalou os olhos e, cobrindo a boca com os dedos, virou-se para Peter.

— Meu Deus, eles são iguaizinhos – sussurrou, não que fosse preciso, já que os dois tinham engatado numa conversa e estavam completamente alheios ao resto da mesa. – Como eu não pensei em apresentá-los antes?

O menino concordou e a encarou com os olhos semicerrados.

— Quer parar de arranjar pares pros meus amigos? Eu sou o único que sobrou. – falou, cruzando os braços com um semblante falsamente zangado.

Ela riu e o empurrou de leve.

— Me desculpe. Mas saiba que eu não tive nada a ver com isso aqui – falou, fazendo um gesto com o dedo entre os dois. – E bem, com Sirius não deu muito certo o meu plano. Queria juntá-lo com Lene, mas eles são opostos e teimosos demais para aceitar isso.

Peter concordou com uma risada e olhou para o outro lado da mesa. Lily acompanhou seu olhar inconscientemente e viu Mary o encarando de volta, para depois desviar o olhar.

— Olha, até que isso seria uma boa ideia – ela falou, mais para si do que para ele. – Pode ser meu próximo projeto...

— Do que é que você está fal... – Ele virou-se com uma das sobrancelhas arqueada, mas foi interrompido por uma vibração de seu celular. Ele o tirou do bolso, olhou para a tela e abriu um sorriso antes de responder. Lily levou a cerveja aos lábios. – Porra cara, que bom que você está vivo.

A pessoa do outro lado da linha falou algo rapidamente.

— Ha, engraçado você mencioná-la. Eu e Moony estamos com ela aqui do lado.

Lily parou o gole pela metade e virou o rosto rapidamente. Apontou para o próprio peito e Peter concordou com um joinha. Ele respondeu mais algumas coisas e segundos depois, desligou a ligação.

— Ok – falou, pegando a garrafa da mão de Lily – Você não vai precisar mais disso. James voltou. Vai lá vê-lo.

Ela piscou em sua direção, tentando processar a informação.

— Ahn, que?

— James. Você sabe, James Potter. Voltou mais cedo. Ele está em casa e disse que ia te ligar, mas eu o avisei que estava com você.

— Eu sei quem é James – ela revirou os olhos, como se essa fossa a parte mais importante.

— Bom, então vá, ué – Peter gesticulou para a saída – Você não queria vê-lo?

— Sim, mas... – Lily olhou à sua volta. Dorcas e Remus não desviavam o olhar um do outro e Marlene, Mary e Emme discutiam algo com animação.

— Não vão nem perceber que você saiu – ele falou, dando os ombros. Depois levantou as sobrancelhas rapidamente – É melhor vocês aproveitarem agora que a casa está vazia.

Ela riu e deu um tapa estalado em seu ombro.

— Seu sujo – sorriu, mas levantou-se, pegando a jaqueta do encosto da cadeira – Avise Lene, por favor?

O menino concordou com a cabeça e ela lhe agradeceu com outro beijo na bochecha. Como ele previra, ninguém realmente notou que Lily saíra da mesa.

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Ela o ouviu cantar algo com um tom de voz desafinado antes mesmo de abrir a porta do apartamento. Usou a chave reserva que Sirius escondia no vaso, e a colocou de volta porque sabia que algum dos outros três ia precisar.

Ela nunca pensou que sete dias passariam tão demorados como aqueles últimos, mas entrando na casa dos meninos, não conteve um sorriso ao notar que a maioria das coisas continuavam iguais. A poltrona grande ainda estava virada na mesma posição para a televisão, as canecas desiguais guardadas de qualquer jeito no armário de vidro, os livros espalhados pela bancada da cozinha. A única diferença era uma mochila de campista e tênis sujos de barro que cheiravam muito, muito mal.

Ela colocou a bolsa em cima da mesinha, produzindo um baque seco que fora mais alto do que esperava. James parou de cantar e ela viu sua sombra saindo do quarto.

— Wormtail, você... – Falou, antes de chegar na sala, e ela sentiu um arrepio nas costas porque só agora percebera o quanto sentira saudades de sua voz. – Lily!

Ela sorriu à sua primeira aparição, e boa parte disso é porque ele estava muito diferente. Para começar, vestia só uma calça jeans e o fecho estava com o botão todo torto. Parecia estar mais magro e talvez o mais importante, ele estava com uma barba mal feita que ela nunca imaginou que fosse vê-lo usar.

— James – ela andou em sua direção, feliz por vê-lo fazer o mesmo. Eles se abraçaram e ele segurou seu rosto, puxando-a para um beijo leve. Lily riu porque o bigode recém-criado fez cócegas em seus lábios.

James riu de volta e afastou o próprio rosto, ainda segurando-a entre as mãos.

— Como foi a viagem? –  Ela sorriu, abraçando-o pela cintura e apoiando o queixo em seu peito. Ele estava com cheiro de sabonete e loção pós-barba. Sua pele estava quente e o cabelo molhado, o que confirmava que tinha acabado de sair do banho.

— Foi legal. Fiquei quatro dias tentando pescar um peixe imaginário e comi só barrinha de cereal porque eu e meu pai na verdade somos péssimos em pescaria. – Ele sorriu sem mostrar os dentes e Lily riu.

— Quer fazer algo para comer?

— Eu adoraria, mas não temos nada além de miojo, queijo e azeitonas. – Ele deu os ombros e ela soltou o abraço.

— Bom, você descreveu uma refeição ótima. Onde vocês guardam as panelas? – perguntou, tirando a jaqueta e abrindo os armários de madeira puída.

Lily não sabia cozinhar muito bem, mas uma coisa ela e a irmã se tornaram mestras ao longo da vida: inventar receitas de miojo. James sentou-se na bancada e abriu uma garrafinha de água enquanto ela andava de um lado para o outro, colocando os ingredientes disponíveis no miojo. Ele aproveitou para contar a viagem, e ela sorria de imaginá-lo fazendo tudo – acampando no sereno porque não tinha montado a barraca direito, tentando convencer o pai a abrir as latas de feijão que tinham levado, tirado mil cochilos no cascalho enquanto o pai procurava o tal peixe que tanto queria pescar. Ele fazia cada detalhe parecer super interessante, e Lily quase queimou a comida porque queria saber sobre o pássaro que roubou todo pão que eles tinham levado.

— Mas enfim, sobrevivemos. Ele provavelmente vai querer fazer isso de novo no final do ano – sorriu, apoiando o rosto na mão. Ela percebeu o quanto ele parecia cansado. – E o que você fez aqui em Londres nessa semana?

Agora era hora, ela pensou. Se não contasse agora, não ia querer contar nunca mais. James a encarou com expectativa enquanto enrolava o macarrão no garfo. Um pouco caiu no prato que dividiam, mas ele não pareceu notar. Ela pigarreou.

— Nada demais. Eu e Lene nos ilhamos em casa. E... – começou, mas derrubou a faca no chão e abaixou-se para pegar – eu sai com o primo de Emmeline.

Ela demorou um pouco mais do que deveria para se levantar, e admitia que estava com medo de sua reação. Mas quando voltou a ficar em pé, mordendo os lábios, ele ainda lutava contra o garfo.

— Sair...sair? Tipo, jantar, beijos e tudo mais? – perguntou, levanto o garfo à boca. Ela concordou com a cabeça e ele deu os ombros. – Quem é esse cara mesmo?

— Aquele, daquela festa. Você se lembra? Um alto e loiro – falou, levantando o braço para representar, mas logo abaixando-o novamente. – Ficou conversando com Lene quase a noite toda.

— Ah sim – James fechou os olhos e engoliu o que estava mastigando – Ele tem cara de quem beija mal. Ele beija mal?

Lily levou alguns segundos para entender do que ele estava falando. Ele tinha aceitado tão na boa assim? Era impressão? Ele estava querendo passar alguma mensagem que ela não conseguia captar? Ela apoiou o cotovelo no balcão e o encarou.

— Não sei se quero falar isso para você.

Ele a encarou por alguns segundos seriamente, mas depois abriu um sorriso.

— Isso é um sim, não é? O coitado beija mal.

Lily cobriu a boca com as mãos para esconder o sorriso. Mal podia acreditar no que estava ouvindo.

— Você vai vê-lo novamente? – perguntou, a voz um pouco mais séria, mas ela podia ver em seus olhos que ele esperava para fazer outra piada.

— Não – respondeu, enfaticamente.

— Meu Deus – ele a olhou com a cabeça ligeiramente torta – Mas era tão ruim assim?

Ela gargalhou com vontade, sentindo um alívio profundo e repentino tomar conta seu corpo. Nos últimos dois dias esteve com medo da reação de James. Não que ela tinha medo dele ficar bravo, mas sabia que não ia se sentir bem sabendo que o tinha magoado.

— Ele era perfeito demais. Cabelo perfeito. Dentes perfeitos. Casa perfeita. – Ela deu os ombros, tirando o prato agora vazio da bancada e levando-o à pia.

James levantou-se do banquinho e foi até ela.

— Está dizendo que só está comigo porque minha casa é uma bagunça e meu dente canino é um pouco torto?

Lily sorriu, sentindo-o colocar as mãos em sua cintura. Ela se virou antes de responder.

— Sim. O seu dente canino torto é exatamente o motivo de eu estar com você agora.

Ele sorriu e abaixou a cabeça para beijá-la novamente. Lily estremeceu, porque era disso que estava falando. Ela sentiu a mão dele percorrer suas costas com vivacidade, apertando-a contra ele o máximo que podia. James sabia exatamente o que estava fazendo.

— Senti sua falta – ele falou baixo, soltando-se dos braços dela. Lily sorriu e lhe deu um último beijo rápido nos lábios.

Eles lavaram a louça e foram jogar cartas no quarto dele. Lily queria matar as saudades de diversas maneiras, e tinha certeza de que ele queria também (julgando pelos olhares que ele lhe lançava por cima do baralho), mas James parecia cansado demais, até mesmo para tirar as calças.

O jogo acabou terminando naturalmente, quando eles estavam bocejando demais para continuar, então ele deitou a cabeça no travesseiro e contou mais um pouco sobre sua viagem. Ela deitou ao seu lado, sentindo-se mais leve e feliz do que estava há algumas horas. Lily percebeu que ele dormira no meio da história que contava, então esticou os braços e tirou seus óculos, achando graça que essa era a primeira vez que fazia isso sem uma conotação sexual.

Ele abriu os olhos com dificuldade, mas voltou a dormir em segundos, virando o corpo para o outro lado.

Lily bocejou preguiçosamente, recapitulando a semana que estiveram separados. Pareceu uma eternidade. Antes de finalmente ceder ao sono, ela deu nome ao que realmente estava sentindo desde o encontro com Edgar. Ele tinha apenas um defeito, mas que pesava muito mais do que todas as suas qualidades. Ele, infelizmente, não era James Potter.


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Notas finais do capítulo

Vi que um povo ficou assustado com uma possível gravidez assim tão cedo, mas calma. rs. Não é nada disso, hehe.

Enfim, eu realmente peço desculpas pela demora, mas espero voltar nos trinques a partir de agora. A história está ficando cada vez mais emocionante (pelo menos, para mim rs), e eu estou adorando escrevê-la! Como são 1:30 da manhã no momento, prometo voltar e responder todos os comentários assim que possível, porque eu li t-o-d-o-s e amei cada um!

Ah! Como eu já disse, queria agradecer de verdade a recomendação da Clenery Aingremont, principalmente por ter mencionado a música do Ed Sheeran, porque eu fui ouvi-la para ver se saía algo, e bem...saiu! haha ♥

Té mais, gente! ♥