Tangled Hearts escrita por bmirror


Capítulo 5
Capítulo 5 - Sobre dois meninos


Notas iniciais do capítulo

Oieee! Perdão a (super) demora, mas agora estou oficialmente de férias, (obrigada Senhor!!!!) então posso me dedicar melhor ao que realmente importa na vida: escrever, rs.



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Capítulo 5 – Sobre dois meninos

Quando Sirius Black tinha 12 anos, seu maior desejo era que a mãe desaparecesse. Parecia um desejo cruel para alguns, mas não para quem o conhecia bem e sabia de sua história. O menino não conseguia parar de sonhar um universo em que a matriarca da família simplesmente não existisse. Ninguém o culpava: ela batia nele até os 10 anos, humilhava-o publicamente e não passava um dia sem culpá-lo pela morte do pai.

Na verdade, a única coisa boa que ela fizera para o filho fora matriculá-lo em um colégio interno no interior do país.

St. Luke era uma escola antiga, situada em um castelo datado do século XIII. Por fora, parecia um lugar péssimo para criar meninos de 11 a 17 anos, com a arquitetura fria e um clima consistido quase 90% de chuva e neblina, mas para Sirius era o verdadeiro paraíso. Foi lá que conheceu os seus melhores amigos, onde teve aula com o melhor professor de geografia do mundo (ele ajudou Sirius a traçar um mapa mundi de lugares que ele gostaria de conhecer) e principalmente: onde ficava longe da mãe.

Ele, James, Remus e Peter criaram um laço imediato assim que trocaram a primeira palavra entre si (e fora na hora de escolher a cama no dormitório). Eles gostavam de fugir dos terrenos da escola para tentar invadir o colégio feminino ao lado (e conseguiram umas cinco vezes, antes da diretora do Abbey Blanc arrancá-los pela orelha do prédio e baní-los indefinidamente de lá), praticavam inúmeros esportes mesmo sem saber jogar metade e eram os principais contrabandistas de revistas masculinas do lugar.

Por causa disso, as despedidas de fim de semestre eram sempre deprimentes. Eram prometidas mil visitas (que quase nunca se concretizavam porque moravam em cidades diferentes) e telefonemas. Vez ou outra conseguiam pegar o trem e se encontrarem em Londres (o que era bom, já que Sirius morava lá e a mãe nunca lhe daria dinheiro para ver os amigos). Mas a visita não durava muito mais que um dia. No entanto, quando ficaram mais velhos e o menino não podia mais aguentar os abusos psicológicos da mãe, a distância não importava mais. Ele decidira que era hora de começar a passar as férias na casa do melhor amigo.

James morava em uma cidadezinha ali perto da escola, o que explicava porque seus pais sempre compareciam aos jogos do campeonato interno de futebol e porque eram os primeiros a aparecer quando o diretor pedia uma reunião de comportamento. Ele nunca os contara que era rico (na verdade, nem tinha aparência de rico – estava sempre com a roupa amassada e o cabelo bagunçado), mas a primeira vez que Sirius colocou os pés em sua casa, não conteve uma exclamação de surpresa. Era um casarão de tijolos, rodeado por jardins bem cuidados e uma entrada longa de cascalho que quase se transformava em uma estrada.

Apesar do conforto que ele sabia que receberia, o melhor de tudo veio depois. Quando passou pela primeira vez pelas portas duplas de madeira, fora recebido carinhosamente por dois braços abertos. Mesmo com apenas 16 anos, Euphemia Potter era bem mais baixa que ele, mas parecia ser um tanto quanto mais forte. Ela o abraçava com tanto afeto que por um minuto ele se deixou levar pela ilusão de que era sua mãe também.

Até aquele momento, ele a vira somente nos jogos e conversavam relativamente pouco, quando trocava algumas cartas educadas durante as datas festivas ou quando a Sra. Potter passara a responder como sua responsável nas autorizações da escola (sua mãe se recusara a sequer olhar os papéis). Mas aquele abraço que recebeu dizia claramente: “sinto muito por tudo que passou até agora”. E parecia que tudo ia ficar bem.

Sirius não se lembrava de querer chorar nenhum momento da sua vida. Ele precisou criar uma casca grossa desde pequeno. Mas se algum dia chegou perto de derramar lágrimas, foi aquele.

O Sr. Potter também o recebeu como o pai que nunca teve, e aproveitou do seu interesse (e habilidade) em lidar com números para ensiná-lo tudo que James nunca quis saber. Ele era dono de uma fábrica que produzia cosméticos e sempre fora muito apaixonado pelo mundo de negócios. Sirius, por milagre, sempre gostou de matemática, então essa ligação se tornou uma atividade compartilhada. Eles discutiam ideias e projetos e o pai lhe comprava livros e mais livros de administração.

Na verdade, fora ele quem o influenciara para entrar na faculdade de Negócios e Economia, e os Potters até o levaram para um jantar de comemoração quando ele recebeu a carta de aprovação.

Sirius se deu conta da enorme diferença que fazia quando alguém o olhava e dizia estar orgulhoso de seus feitos. Ele gostava até da bronca que levava da Sra. Potter quando não tirava notas boas.

James sempre quisera ter um irmão, mas os pais o tiveram quando já eram mais velhos, então ele perdera a esperança antes mesmo de entender biologia por completo. Sirius aceitou de muito bom grado ocupar essa posição em sua vida, e eles logo descobriram que não seria tão fácil assim separá-los.

Quer dizer. Isso até James conhecer um certo alguém de cabelos acobreados.

— Não estou com ciúmes – ele revirou os olhos para Remus. O amigo o confrontara, alegando que Sirius estava com a cara emburrada a manhã toda por causa disso. – Eu não tenho oito anos de idade, Moony.

— E daí. É normal. - Remus deu os ombros e olhou para o lado. James estava deitado no sofá, falando ao telefone com Lily há quase uma hora - Quer dizer, acho que foi a primeira vez que ele não quis ir com a gente no The Cock. Mas não sei, ele parece saber o que está fazendo.

Sirius mordeu a pizza fria e fingiu não prestar atenção, mas Remus não desistiu.

— Ela é legal, né?

Ele concordou com a cabeça. Por mais que (e não iria admitir) estivesse incomodado que seu melhor amigo não quisesse mais fazer tantos programas com eles nesses últimos dois meses, ele era o primeiro a concordar que Lily Evans era na verdade, uma pessoa legal.

Principalmente porque na última vez que se viram, ela emprestara seu trabalho de ciências políticas para que ele copiasse. Por uma incrível coincidência, eles acabaram descobrindo que tinham o mesmo professor em uma conversa casual quando ele acordou um dia desses e ela estava (novamente) tomando café da manhã em sua casa.

Sirius já vira James gostar de alguém antes. Quando eles tinham 14 anos, ele se apaixonou por uma menina da Abbey Blanc que vira no vilarejo ao lado da escola. Era insuportável. Ele só falava dela, escrevia cartas melosas (e obrigava os amigos a ouvirem) e queria passar vinte e quatro horas ao lado dela. Isso só parou quando a menina mudou para a França, e depois de um curto período de fossa, James levantou a cabeça e continuou a vida como se nada tivesse acontecido.

Depois, claro, veio Samantha. Sirius nunca gostara realmente dela. Como o amigo ficou tanto tempo com ela, ele não sabia. A primeira vez que foi ao apartamento deles, ela não conseguiu esconder uma cara de profundo desgosto (na verdade, nem tentou). E ele a ouvira dizendo que James deveria amadurecer e sair daquele apartamento compartilhado o quanto antes.

O que tinha de errado com aquele apartamento? Eles adoravam morar lá! A televisão que custou mais do que o trabalho de verão de todos combinados, o fogão velho que só acendia quando tinha vontade, a vista da sala que dava diretamente para aquele lustre da rua...Era um verdadeiro refúgio.

Sirius balançou a cabeça para sair do devaneio quando James se levantou do sofá e veio até eles.

— Cara...quem ainda faz ligações hoje em dia? – ele encarou amigo enquanto enfiava o restante da pizza na boca

James passou a mão no cabelo e sorriu como se fosse uma criança que fora pega roubando biscoitos.

— O celular dela é muito, muito velho.

Sirius revirou os olhos e Remus balançou a cabeça, rindo. Eles não tinham escutado a conversa inteira (e James não fizera muita questão de não ser notado), mas tinham certeza que não era uma conversa muito urgente que exigia um telefonema. Mas os dois preferiram ignorar porque não estavam na posição de julgar ninguém.

— Moony, o que vai fazer quinta-feira? – James falou, apoiando-se no balcão e pescando uma maçã na fruteira – Quer sair comigo, Lily e Marlene?

Sirius ergueu as sobrancelhas. Não por James ter convidado apenas Remus (na verdade ele não era muito fã de quando o amigo o arrastava para um encontro duplo), mas porque ele falara o nome de Marlene.

Ele não a conhecera no dia do seu show porque quando saiu do palco, as meninas já tinham ido embora. Mas as descrições que Peter fizera mais tarde o fez praguejar a noite inteira por não ter acabado a apresentação antes e descido para conhecê-la pessoalmente. Ela causara uma impressão e tanto em Wormtail.

— Hm, eu vou sair com uma menina da minha classe. Desculpe. – Remus deu os ombros, sem parecer muito preocupado.

— Ah. Bom. Padfoot?

Sirius o encarou sério, ponderando. Ele realmente odiava sair em encontros duplos com James. Nunca dava certo. Pelo menos para ele. Ele abriu a boca para falar “não”, mas...queria conhecer a amiga de Lily de quem Peter tanto falava antes de dormir.

— Porque não chama Wormtail?

James deu os ombros.

— Ele está na casa dos pais essa semana. Só volta no domingo.

— Tá, mas eu escolho o que vamos fazer. – ele balançou a cabeça, limpando a boca com as costas da mão.

— Já tínhamos combinado. Vamos em um boliche.

Sirius revirou os olhos. Ele odiava esses programas bregas de casal.

— Prongs, sabe o que dizem de uma relação quando não se tem mais a interferência de álcool? Vira um nam...

— Não vira. Eu já falei mil vezes. Nossa relação é puramente física. E não é só o álcool que leva ao sexo. Existem outras maneiras, se querem saber...

Remus soltou uma risada enquanto bebia.

— Ah sim. Nós ouvimos na outra noite. Aparentemente, discutir o último episódio de Game of Thrones é uma delas. Sério James, você não tem ideia do quão finas são essas paredes.

— Ela queria ouvir uma das minhas teorias, ué. - James sorriu envergonhado, mas depois fez uma cara de despreocupação, levantando os braços. – Sirius, quinta-feira. Às sete horas. Rock’a Bowlling. E por favor, por favor, vê se põe uma camiseta limpa dessa vez.

— Tudo bem. Mas por favor, por favor vê se vai para a casa dela dessa vez.

—___________________________________________________________

 

Pelo resto da semana, a Inglaterra foi tomada (como sempre) por uma enorme nuvem cinzenta que fez a quinta-feira amanhecer no meio de uma tempestade que vinha durando a noite anterior toda.

Black encarou a janela da sala com a testa grudada no vidro. Ele amava quando chovia assim. Tinha algo na força da natureza que o fascinava como nada mais o fazia.

Os meninos tinham acabado de se despedir para irem à aula, mas Sirius não estava com vontade de ir para a faculdade hoje. Ele recebera mais um email ontem à noite de um escritório de contabilidade que o rejeitara. Isso o desanimara para até sair da cama, mas no final, a chuva o convenceu a levantar para um café da manhã.

Ele balançou a cabeça, afastando o cabelo do rosto. Estava ficando frustrado e precisava conversar com alguém. Infelizmente, James não sucumbira aos seus apelos para que matasse aula (“Eu preciso passar nessa matéria, Padfoot”) e ele tinha sido deixado para remoer os próprios sentimentos. Seus companheiros de banda nunca entenderiam. Nem mesmo Frank, que costumava ser o mais sensível dos quatro.

Sirius se afastou da janela e foi para o quarto trocar-se. Talvez andar pelas ruas molhadas o fizesse espairecer.

Ele tomou o primeiro ônibus que passou e apertou-se entre uma senhora que carregava um cachorrinho na bolsa e uma moça loira que lhe lançava olhares nada discretos. Precisava admitir que isso alegrou um pouco o seu dia. Ele estava preparado para começar uma conversa, mas ela saltou na parada seguinte, olhando por trás dos ombros quando o ônibus se afastou. Sirius balançou a cabeça. Não tinha sido dessa vez.

Ainda sem rumo, ele decidiu sair na próxima parada. A chuva tinha diminuído um pouco, então nem foi preciso abrir o guarda-chuva. Ele pisou em uma poça d’água recém formada e soltou um palavrão quando percebeu que era mais funda do que esperava, o que acabou molhando sua calça até a canela.

Ele balançou o pé e olhou para cima. Coincidentemente (ou não), estava em frente à estação de trem. Ele hesitou antes de entrar, perguntando-se se tinha caminhado até lá inconscientemente ou se foi o acaso mesmo. Por fim, resolveu só checar os horários.

Devia ser algum sinal, porque o próximo trem que sairia da estação estava direcionado exatamente à Newton Haven. Ele fez as contas do horário para ver se teria tempo de uma rápida viagem, mas decidiu que independentemente se tivesse ou não, queria visitar a cidade. Então comprou uma passagem e embarcou na mesma hora.

Não era um percurso muito longo, pouco mais de uma hora. Mas também, o país era minúsculo. Podiam atravessá-lo em três horas. Sirius sorriu com o pensamento enquanto observava a paisagem mudar de cinza para o verde do interior. Ele ficou surpreso também por deixar as nuvens carregadas na cidade, e um sol tímido até começara a aparecer.

A cidade (que parecia mais uma vila) era realmente pequena. Foi incialmente construída perto do castelo de Saint Lucchas (onde hoje era a escola St. Luke), para que os aldeões pudessem ficar próximos dos monarcas. O tempo passou, mas ela não crescera muito, apenas umas casinhas apertadas aqui ou ali, e acabou tornando-se majoritariamente uma cidade de pastoreio, o que deixava James maluco de tédio. A única rede de comércio que existira era a Tesco, um mercadinho de pouco menos que 40 metros quadrados – onde os meninos compraram seu primeiro cigarro nas últimas férias de verão da escola.

Só ele e mais um senhor desembarcaram na estação. Ele caminhou pela estrada parcamente asfaltada por quinze minutos antes de finalmente conseguir enxergar o conhecido casarão de tijolos. Aproximou-se com um sorriso involuntário escapando dos lábios, tomado por uma súbita nostalgia. Para sua alegria, ele avistou exatamente quem queria ver ajoelhado na terra, assobiando para si mesmo.

Ô, meu querido— Sirius brincou, apoiando-se no portão baixinho. O homem que plantava algo num canteiro levantou a cabeça. Essa era a frase que ele e James usavam para imitar seu pai.

— Ô, meu querido! – Sr. Potter respondeu genuinamente, largando a pá e uma muda de hortênsias para levantar-se animado. – Que surpresa, Sirius! Não o esperava aqui.

Sirius passou pelo portão e o abraçou com tapas animados nas costas.

— Eu também não esperava vir aqui. Não quis ir para a aula hoje.

O homem parou de sorrir e fez uma cara forçadamente séria. Depois deu um tapa bem leve em sua cabeça. Sirius riu.

— Pare de matar aula, menino. Como vai se formar assim?

Eles passaram pelas conhecidas portas de madeira e Sirius tirou os sapatos na entrada (uma mania que James tinha e que ele acidentalmente adquiriu).

— Euphe deve estar na cozinha. Estávamos pensando no que fazer para o almoço, então você chegou em uma hora excelente – ele sorriu, uma cópia exata do sorriso do melhor amigo. – Euphemia! Venha cá!

Poucos segundos depois, Sirius viu a mulher arrastando os chinelos de pano pelo chão de madeira. Ela levou apenas um momento para vê-lo e aumentou o passo, abrindo os braços. Euphemia Potter era aquele tipo de gente que podia passar dois anos sem ver a luz do sol e estaria sorrindo como se estivesse no meio do verão mesmo assim. Mesmo depois de alguns anos, Sirius ainda se surpreendia ao constatar o quanto James era parecido com ela. Os olhos, o nariz. Por mais que ela brigasse com o filho e soltasse um “igualzinho ao pai” toda hora, sua semelhança física era absurda e inegável.

— Sirius, querido! Estávamos pensando em você hoje mesmo!

— Ah é? Sou um assunto recorrente na casa dos Potter?

— Claro que é – ela falou, soltando seus braços e o puxando a caminho da cozinha – Fleamont e eu ficamos preocupados com vocês morando lá longe. Vocês têm se alimentado? E estão estudando? James não me liga há uma semana, acredita? O que ele tem feito e por quê não veio com você?

— Euphe – o Sr. Potter falou, passando pelos dois quando passaram pela porta do aposento. - Deixa o menino tomar um copo d’água.

Sirius sorriu enquanto sentava-se na cadeira de madeira que acabara virando seu lugar fixo à mesa.

— Ah, James tem um excelente motivo para não ligar. Está saindo com uma menina nova.

— Não acredito - a Sra. Potter colocou uma cestinha de pães à sua frente – E como ela é? Nada parecida com aquela horrorosa da Samantha, espero...

— Não, bem diferente – respondeu, abocanhando um pedaço de queijo – Ela é legal. Não a conheço muito bem, mas conversei com ela outro dia e parece ser gente boa. É muito bonita também – completou, piscando com um olho só. – Enfim. Eles estão saindo juntos há uns dois meses, mais ou menos...Pelo menos James não sai mais conosco por esse tempo.

Inconscientemente (ou não), ele amassara o pão que segurava com um pouco mais de força do que pretendia.

— Ah - Fleamont olhou para a esposa - ele está com ciúmes.

Eu não estou com ciúmes— Sirius revirou os olhos.

Os outros dois sorriram, mas acharam melhor mudar de assunto.

— E como está a faculdade?

Sirius se mexeu desconfortavelmente na cadeira. Na verdade preferia falar por horas de seu ciúmes de Prongs...ou melhor, falta de ciúmes, do que conversar sobre a Universidade. Euphemia percebeu, e apertou seu ombro quando colocou a xícara de café na sua frente.

— Sirius... o que você esteve aprontando?

Ele sacudiu a cabeça para afastar o cabelo.

— Não aprontei nada... é só que – bebeu um gole da bebida – sei lá. Acho que não estou conseguindo organizar minhas prioridades.

Os dois o olharam atentos.

— Eu estou pensando em parar de tocar com a banda. Não consigo estágio em lugar nenhum. Minhas notas não são lá grande coisa, então me pergunto que futuro devo esperar nessa profissão. Será que deveria desistir de tudo logo?

Fleamont pigarreou antes de responder.

— Que besteira, garoto. Eu já te disse mil vezes que você vai sair dessa universidade e vir direto trabalhar comigo. Não precisa ficar procurando estágio nenhum.

— E pode continuar aproveitando sua música. Não devemos desistir do que realmente somos bons – Euphemia completou, sentando-se ao lado do marido. – Aproveite essa idade para fazer essas coisas, porque quando tiver a nossa...ha, vai só querer saber de chás da tarde e jardinagem.

Sirius soltou um riso e relaxou os ombros. Não tinha percebido o quanto estava tenso até então.

— Sr. Potter, não quero força-lo a me aceitar em sua companhia só porque...bem, porque é como um pai para mim. Quero que o senhor se orgulhe de me ter lá, e acho que para isso preciso aprender uma coisinha ou outra.

— Pare com isso. Sabe que o fato de você ser, parafraseando você mesmo, como um filho para mim, não tem absolutamente nada a ver com eu querer passar minha companhia adiante aos seus cuidados.

Sirius engasgou com o sanduíche. Até então, tinham discutido tudo: gerência, sociedade...menos a hipótese de que ele seria o herdeiro da Potter’s Pot Cosmetics. Ele sempre soubera que se interessara mais por isso do que o amigo, mas nunca passou pela sua mente que Fleamont falasse sério quando dizia que ele era o filho que veio para salvar seus negócios.

O Sr. Potter percebeu a confusão em seu olhar e continuou:

— Sirius. Achei que fosse óbvio – ele sorriu carinhosamente – Eu conheço James. Ele nunca seria feliz se ficasse preso à minha empresa. E jamais deixaria que nós soubéssemos. E você...bom, você sempre pareceu gostar disso. Números e tudo mais. Negócios.

— Eu gosto – ele apressou-se a responder.

— Então. Está preocupado com o que? Pode continuar com a banda tranquilamente. Você vai sair de lá e vir diretamente para cá. E se não gostar de trabalhar comigo... bom, aí terei que algemá-lo até que comece a gostar. Desculpe, essa é a regra. Fim de papo.

Sirius sorriu envergonhado e olhou para as próprias mãos, subitamente incapaz de encará-los. Os Potters eram os únicos que sabiam deixá-lo encabulado. E, pensou com uma sensação súbita de leveza, os únicos que conseguiam tirar suas preocupações.

— Agora – disse a Sra. Potter, batendo em suas costas de leve – Foi bom mesmo que você veio nos visitar. Preciso de alguém alto para pegar uma batedeira no armário para mim. Flea quase quebrou a coluna tentando...

 

 

Quando Sirius finalmente voltou para casa (algumas horas depois do que realmente planejara porque ainda tinha ajudado o Sr. Potter a terminar de plantar as hortênsias e acabado tirando um cochilo no sofá da sala depois do almoço), o sol estava se pondo e as luzes da cidade começavam a tremeluzir através da janela do trem. Ele apoiou a testa no vidro e percebeu o quão melhor se sentia.

Ele resolveu voltar para casa caminhando da estação e, apesar do caminho ser muito longo, sentiu-se animado pela noite que o aguardava. Talvez sugerisse aos meninos uma ida ao pub da rua ao lado. Talvez ligasse para aquela menina que conheceu numa festa no outro dia.

Esse sentimento durou até ele abrir a porta do apartamento.

— Onde raios você estava? – James praticamente cuspiu quando Sirius colocou a sacola de biscoitos que a Sra. Potter mandara de presente em cima da mesa. – Eu estou esperando você há uma hora!

— Jesus Cristo – franziu as sobrancelhas – tá me esperando por que?

James abriu a boca para responder mas olhou para os biscoitos e acabou recuando. Sua expressão amoleceu ligeiramente.

— Você foi visitar a minha mãe?

Sirius deus os ombros e ficou agradecido quando James não perguntou mais. Não estava com vontade de recontar tudo que conversaram, e o amigo sabia que era melhor não insistir.

— Ela te mandou isso – apontou para a sacola para encerrar o assunto – Enfim. Tava me esperando para quê?

— Lily e Marlene. Acabei de falar com elas. Já estão indo para lá. – Ele abriu a sacola e sorriu satisfeito ao ver os biscoitos caseiros da mãe. Ainda não tinha encontrado coisa melhor desse mundo.

Sirius piscou algumas vezes em sua direção.

— Lá aonde?

James soltou um suspiro pesado enquanto enfiava um dos biscoitos quase inteiro na boca, como se estivesse ficando sem paciência. Ele estava usando uma jaqueta de couro e Sirius podia sentir seu perfume a distância. De repente, se lembrou que tinha combinado de sair com eles. Ele deu um tapa em sua própria testa.

— Ah, foi mal cara. Eu vou me trocar agora. – falou. O amigo concordou com a cabeça empurrando-o corredor abaixo. – Devo passar tanto perfume como você? Ou só a Lily que é inapta a sentir cheiros? Porque olha, eu...

— Cala a boca, Padfoot – James revirou os olhos, cuspindo migalha para todos os lados.

No final, ele não demorou mais que dez minutos para se arrumar. Mas passou muito perfume do mesmo jeito, o que James fez questão de apontar quando os dois desciam as escadas do prédio e pegavam o ônibus vermelho.

Sirius não fazia a menor ideia de onde estavam indo porque não ia à um boliche desde os 15 anos. Na verdade, a última vez fora exatamente com James e mais duas meninas da Abbey Blanc. Será que ele tinha perdido a criatividade para marcar encontros e estava começando a repetir os programas?

Ele estava se virando para dizer isso, mas o amigo o interrompeu para que descessem no ponto certo.

Por incrível que pareça, o Rock’a Bowling era um lugar muito badalado. Era um boliche dos anos 60 que havia sido totalmente reformado (internamente, já que a fachada continuava sendo a lendária placa de neon) e o dono incluíra um bar e uma pista de dança ao fundo. James e Peter adoravam vir aqui, mas Sirius não gostava muito porque os meninos eram muito competitivos e ele...bom, não era tão bom assim. Mas esse lugar não era tão ruim, o público que frequentava era legal e a cerveja era barata.

— Ali, perto da porta. – James indicou com a cabeça duas garotas que riam alto de algo, completamente alheias à chegada deles.

Lily, ele já conhecia. A primeira vez que James a descrevera (porque Sirius estava com muita ressaca para prestar atenção em detalhes na manhã que eles se conheceram), disse que ela tinha um sorriso bonito e um cabelo brilhante. A principio, ele não pensou muito na maneira que ele tinha a caracterizado, mas cada vez que se encontravam – e ele precisava admitir que estava ficando cada vez mais frequente – ele ficava mais e mais surpreso por James não ter dito nada dos olhos dela. Seria cafona dizer que pareciam duas pedras translúcidas se não fosse a mais pura verdade. Eram quase hipnotizantes, até para ele que não tinha interesse nenhum nela. Não pareciam maiores toda vez? E Sirius até chegava a se sentir desconfortável. Parecia que encarava um poço sem fundo. Ele tinha um medo irracional de olhos grandes e claros, e os de Lily não chegavam a lhe meter medo, mas estavam bem perto disso.

Agora, a menina ao lado devia ser Marlene. Ela não era muito alta, mas as pernas eram bem longas. Usava um shorts curto que deixava aparecer um pedaço de uma tatuagem na perna direita, o que parecia ser uma rosa pintada em aquarela. Os cabelos eram escuros e estavam todos jogados para um lado só, o que destacava o corado natural de seu rosto e lhe concedia uma beleza quase surreal. Ela era realmente muito, muito bonita e Sirius se sentiu um pouco intimidado pela primeira vez na sua vida. Marlene ainda estava sorrindo do que elas tinham dito anteriormente, mas quando eles se aproximaram o suficiente, o sorriso morreu em seu rosto.

— Ué, cadê o Remus? – perguntou.

Sirius fechou ligeiramente a cara. Ele não estava esperando que a primeira coisa que a menina dissesse fosse perguntar de Remus. Até porque, as meninas não costumavam ficar mais animadas com a presença de Moony do que com a dele. E era impressão dele ou ela levantara o lábio superior ligeiramente em um sinal inconsciente de decepção?

Ele se pegou desejando que Prongs contasse do encontro dele só para ver a cara que Marlene faria, mas o amigo só deu os ombros e disse que Remus tinha outros planos.

— Sirius, essa é Marlene. Lene, Sirius Black – Lily os apresentou, sorrindo como se tivesse contado uma piada a si mesma.

Eles se cumprimentaram com um aceno de cabeça e o olhar dele caiu sem querer para a tatuagem em sua perna. Não é porque ele queria olhá-la, mas é que coincidentemente aquele desenho parecia muito com o que ele tinha nas costas.

— Tatuagem legal.

— Obrigada. A sua também é interessante – ela apontou para a tatuagem que ele tinha na mão. Sirius olhou inconscientemente para o próprio desenho, como se tivesse esquecido qual era. Qual era o problema dele? Essa não era a primeira garota bonita que ele conhecia, então porque estava tão avoado perto dela?

Ele quis falar alguma coisa mas não conseguiu lembrar o quê. Em todo caso, James o salvou, sugerindo que eles entrassem logo antes que acabassem as pistas livres.

— Vocês são competitivos? – Marlene perguntou, quando estavam sentados no banco ao redor da pista, trocando os sapatos.

Sirius deu os ombros, mas James e Lily soltaram um enfático “Sim” ao mesmo tempo. A garota prendeu os cabelos em um rabo de cavalo enquanto o amigo amarrava os cadarços com mais força do que deveria.

— Bom, eu não vou jogar com Padfoot, ele é ruim...

— Valeu, cara.

— ...Então acho melhor jogar com Lily para evitar uma briga caso alguém – ele apontou para a ruiva ao seu lado e gesticulou um “ela” sem som – perca.

Ela lhe deu um tapa no ombro ao mesmo tempo que Sirius revirou os olhos. Apesar de ser uma desculpa esfarrapada, ninguém reclamou da formação dos times.

— E então – Lily colocou uma mecha do cabelo que caíra do penteado atrás da orelha e o encarou com um sorriso – Vocês já decidiram um nome para a banda?

Sirius piscou algumas vezes antes de responder. James riu, ainda massageando o ombro, olhando para a pista vizinha.

— Eu...na verdade paramos de tentar há tempos – ele sorriu. – Ninguém tinha ideia melhor do que “cães voadores”, então preferimos deixar sem nome mesmo.

Marlene riu ao seu lado e cruzou as pernas. Sirius chamou a garçonete, fixando seu olhar para um ponto que não fosse a rosa em aquarela.

— Essa é a estratégia de Sirius desde que tínhamos 12 anos. Se não tem ideia, apenas ignore – James ajeitou os óculos no rosto enquanto o outro pedia quatro canecas de cerveja para a moça sorridente – Na verdade acho que nenhum dos trabalhos dele tinham título. Você precisa ver isso aí em uma sessão de terapia, Padfoot.

Elas riram e ele se levantou para colocar os nomes no monitor da pista.

— Vocês estudaram juntos? – Marlene perguntou, virando o corpo em sua direção. Será que ela estava flertando ou era naturalmente sedutora assim?

— Sim. Fomos para um colégio interno no interior. St. Luke, em Bedford.

A menina concordou com a cabeça, indiferente, mas Lily, à sua frente, levantou a cabeça rápido e o encarou.

— Calma. Vocês estudaram em um colégio interno? – seu rosto se iluminou como se essa fosse a coisa mais engraçada que ouvira e ela olhou para James, de costas para os outros três – James. Eu não imagino você estudando em um colégio interno.

Ao ouvir seu nome, ele se virou e a encarou com a sobrancelha arqueada (Sirius odiava quando ele fazia isso, e portanto, James o fazia o tempo todo). Seus lábios se curvaram num sorriso teimoso.

— E por que não? Você acha que a gente não tem cara de usar uniforme, treino de esgrima e aulas de línguas estrangeiras?

— Definitivamente não – ela sorriu, levantando-se e cruzando os braços. – Línguas estrangeiras, é? Deixe-me adivinhar. Alemão.

Non – James sorriu, convencido – nous parlons le francais. J’ai le etudiè par cinq ans.

Lily revirou os olhos com um suspiro pesado e se aproximou, colocando as duas mãos em seu rosto.

— Você vai ter que parar de fazer isso agora mesmo. É tipo a história do óculos – ela disse com o semblante sério, mas James pareceu entender uma piada ali, porque começou a rir até ela aproximar o rosto do dele.

Sirius desviou os olhos e acabou encarando Marlene ao seu lado. Ela revirou os olhos teatralmente e fingiu vomitar. Ele riu e abriu a boca para falar algo, mas James pigarreou, desvencilhando-se dos braços de Lily.

— Nós vamos...hm, pedir umas batatas fritas – disse, apontando para o bar que ficava cada vez mais apinhado de gente. Sirius balançou a cabeça, mas fez um gesto descontraído com a mão. Os dois saíram da baia de bancos em forma de U e caminharam bem próximos um do outro numa direção quase oposta ao que apontaram.

Ao seu lado, Lene acompanhava com o olhar a amiga desaparecendo na multidão. Quando por fim os perderam de vista, ela fez uma careta de descrença e apoiou o braço no encosto do sofá.

— Eles devem achar que somos idiotas – sorriu.

— Bom – ele deu os ombros – desde que tragam mesmo batatas fritas...não estou me importando muito.

Ela riu, ajeitando-se no assento. Sirius tirou a jaqueta de couro que usava e jogou-a de qualquer jeito ao seu lado. Ele fingiu não notar que ela o olhava de soslaio. Inconscientemente, acabou cruzando os braços.

— Qual é a dele?

Sirius piscou em sua direção, surpreendido pela pergunta.

— Como assim?

— James. Qual é a dele? Eu sei que é seu amigo, e o pouco que o conheço me faz acreditar que sim, mas ele é realmente um cara legal?

Ele levantou o queixo e a encarou por trás do cabelo que caía displicente em seu rosto.

— Sim, ele é muito legal. Não acho que exista alguém mais legal que ele.

— Ha. Você se inclui nessa parcela? – Marlene o encarou com os olhos semicerrados, os cílios longos e escuros praticamente encostando em suas sobrancelhas.

— Com certeza. O último adjetivo que usaria para me definir é “legal” – e para comprovar a teoria de que estavam, de fato, flertando, ele piscou em sua direção. Sirius ficou mais do que feliz ao ver que ela parecera agradavelmente surpresa e que os cantos dos lábios se levantaram involuntariamente. – Taciturno, talvez. Ah, e preguiçoso. Mas não “legal”.

— Eu diria um “ídolo das adolescentes” também. Pelo que eu me lembro daquela noite, sabe como é.

Ele sorriu, arrastando os dedos pelo próprio cabelo.

— Ah sim. E pelo que eu ouvi, você com certeza não pode incluir “beberrona” na sua lista.

Ela riu e, parecendo tomar consciência do rumo que a conversa levava, afastou-se um pouco no banco.

— Só para deixar claro. Isso não é um encontro. Só estou aqui porque minha amiga achou que seria divertido jogar boliche.

Ele fechou a boca, sorrindo sem mostrar os dentes.

— Concordo plenamente. E eu só estou aqui porque Remus não pôde vir. Ele ia sair com outra menina – completou, sem saber direito porquê queria tanto dividir essa informação.

Lene abriu a boca para dizer algo, mas foi cortada pela garçonete que se aproximava com a bandeja de bebidas. Ela era baixinha e usava um decote chamativo (que ficava exatamente na linha de visão de Sirius, quando estava sentado). Era impressão ou desde que viera pegar o pedido havia um botão a mais aberto na blusa?

— Aqui, querido – disse, piscando descaradamente para o rapaz que agora levantava as sobrancelhas em surpresa. Era ao mesmo tempo inesperado e previsível essa troca de flertes com as garçonetes.

Os meninos diziam que era impossível sair com Sirius porque absolutamente todas acabavam arranjando um jeito de dar seus telefones à ele. Tinha virado até um jogo de adivinhação entre o grupo. Quem tinha a maneira mais criativa de dar o número?

— Obrigado, querida— ele respondeu, sorrindo galanteadoramente e pegando uma das canecas que ela oferecia. A resposta da moça foi uma outra piscadela e Sirius começou a achar que ia receber o telefone dela assim, na cara dura mesmo, até o final da noite.

— Vamos jogar logo – Marlene levantou-se ao seu lado, com a voz um pouco mais dura do que estava antes. – Podemos ir começando sem eles, não acha?

Mas antes que ele pudesse responder, James voltava com uma porção de batatas em mão e a camisa virada ao avesso. Lily tinha – em vão – tentado pentear o cabelo que saíra do rabo de cavalo, e também se aproximava, com um sorriso maroto no rosto.

Na-na-ni-na-não. Não vão começar sem nós. Par ou impar para decidir? – disse, balançando a mão no rosto da amiga quando estava perto o bastante. Marlene revirou os olhos e concordou com a cabeça, balançando o próprio punho de volta. Lily escolhera par e ganhara. – Beleza, preparem-se para perder lindamente para o time dos sonhos aqui.

 

 

E ela tinha razão. Uma hora depois, o placar apontava uma diferença de quase 30 pontos entre os dois times. Sirius realmente não era muito competitivo, mas estava começando a ficar irritante ver os outros dois comemorar quando ele ou Marlene erravam a jogada.

— Por que você não coloca mais força na hora que for jogar a bola? – ele perguntou, ao lado de Lene enquanto ela se preparava para derrubar os últimos dois pinos.

Ela virou a cabeça lentamente, um olhar frio e os lábios franzidos.

— É sério isso? Você está realmente tentando me ensinar como jogar? – ela respirou fundo, balançando a cabeça – Você é o que mais acertou a canaleta!

Ele olhou para os bancos. Lily estava contando alguma história para James (que segurava a barriga de tanto rir) enquanto engoliam o que sobrara das batatas.

— Eu pensei que tinha dito que você não era tão competitiva.

— E eu pensei que tinha dito que você não era tão ruim – falou, antes de lançar a bola. Ela errara os pinos.

— Eu que sou ruim, né? – Ele provocou, voltando para o lugar porque a garçonete (Meg, como tinha se apresentado) tinha trazido mais uma cerveja para ele. Dessa vez, ela perdera alguns minutos conversando com os dois rapazes, enquanto enrolava uma mecha do cabelo escuro no dedo, até que alguém da pista ao lado a chamara impacientemente. Antes de sair, deixou um papelzinho em cima da mesa que, eles descobriram sem nenhuma surpresa, continha seu número de telefone.

— Bom, pelo menos eu acertei aquelas coisas brancas lá no fim da pista. É o propósito, sabia, Black? Acertar os pinos? – Lene resmungou, cruzando os braços e voltando para o seu lugar.

Sirius revirou os olhos e deu um gole na caneca em sua mão. Era a vez de Lily. Ela se levantou com confiança do banco e pegou uma bola verde limão. Ela era boa. Derrubou todos os pinos de uma vez só.

— Se você não perdesse tanto tempo com essa atitude mesquinha, não estaríamos perdendo – ele falou baixo, mas ela ouvira e se virara para ele com a cara fechada.

— Se você não perdesse tempo flertando com as garçonetes, não estaríamos perdendo – ela respondeu com os dentes trincados.

— Ah – Sirius deu um sorriso arrogante com um canto da boca – entendi o que está acontecendo aqui...

Marlene abriu a boca e franziu as sobrancelhas.

— Meu Deus. Não tô acreditando nisso.– ela jogou o cabelo para trás do ombro, com uma cara de desgosto. – Vê se abaixa a bola, garoto.

— Hm, tá tudo bem aí? – Lily perguntou, dando uma das bolas para James enquanto fazia o possível para segurar a risada.

Tudo ótimo — os dois responderam simultaneamente, com a cara emburrada.

— Hm, parece mesmo. Tudo ótimo, quero dizer – ela continuou, com a sobrancelha irritantemente levantada (da mesma maneira que James fazia). – Vocês querem...hum, jogar outra partida?

Marlene fingiu se espreguiçar enquanto levantava.

— Ah...não. Estou cansada. Acho que vou para casa. Vocês podem continuar, se quiserem.

— Tudo bem, nós também temos que ir. Amanhã começam minhas finais. – James deu os ombros, virando o restante da cerveja num gole só.

Lily sentou-se para trocar os sapatos.

— Numa sexta-feira?

— Para você ver como o sistema acadêmico funciona nesse país – ele sorriu e ela riu de volta – Mas é só por uma semana. Sábado que vem já estarei livre desse semestre e oficialmente pronto para o verão.

— Uhul. Vamos sair para comemorar – Lily deu um sorriso e levantou a cabeça para encarar Sirius. – Você também já vai estar de férias? Podíamos ir todos para a praia, não é?

Ele sorriu de volta, feliz por ela querer incluí-lo em seus planos. Ele prometera a si mesmo que ia parar de compará-la à Samantha, mas isso já era uma prova da enorme diferença: Samantha odiava que James levasse qualquer um dos amigos para uma saída, e Lily parecia fazer questão de conhecê-los melhor. Se James planejava ter algo ou não, não importava mais. Era inegável que eles todos poderiam construir uma amizade dali. Lily parecia ser inteiramente genuína. Agora, Marlene...

— Tem o festival de verão em Bournemouth. Acho que vamos tocar lá na terceira noite. Não sei, August ficou de confirmar. Mas poderíamos ir mesmo assim – Sirius deu os ombros, colocando a jaqueta de novo.

— Vamos, sim! Lene adora lá e...

— Não gosto, não – ela respondeu, olhando para o lado e balançando o pé impacientemente.

— Gosta sim, você vai todo ano – Lily revirou os olhos com um sorriso. Marlene franziu os lábios e não respondeu mais. – Enfim. Vamos combinar.

Os quatro se levantaram e caminharam até a porta. Uma vez lá fora, as duas meninas se despediram e apontaram para o caminho oposto ao deles. Sirius fingiu não olhar quando James puxou Lily uma última vez ao seu encontro, mas como também não queria falar mais com Marlene, virou as costas e caminhou até o ponto de ônibus sozinho.

O amigo o alcançou poucos minutos depois, quando o ônibus que precisavam tomar vinha virando a esquina.

— Marlene é gente boa, não é? – James perguntou, meio aéreo. Ele olhava para o ponto onde as meninas estiveram há pouco, mesmo enquanto subiam no veículo.

— Não achei – Sirius respondeu, com a certeza de que ele não estava nem prestando atenção na sua resposta – Muito arrogante.

— É...bem legal mesmo, também acho.

Sirius balançou a cabeça, olhando para as luzes que ganhavam movimento. Uma coisa ele podia tirar com esse encontro: James Potter estava completamente perdido.

 


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Notas finais do capítulo

Vamos lá:

→ newton haven na verdade é uma cidade fictícia, mas é que ela faz parte de um dos meus filmes preferidos: Heróis de Ressaca. E na verdade eu gosto do som que o nome produz, rs

→ sim, eu imagino que Sirius tenha várias tatuagens rs inclusive uma que eu tenho certeza que ele teria é essa aqui: http://s1.favim.com/orig/150425/alternative-cosmic-love-grunge-hand-Favim.com-2679581.jpg
Ah! e eu estava pensando em uma tatuagem parecida com essa quando pensei na da mão: http://65.media.tumblr.com/2cdcfc9b4e7ed6617680647f5859961c/tumblr_njyjnn7Cpq1tk6a7yo1_500.jpg
(vocês não acham que ele é o tipo de pessoa que faria uma tatuagem em homenagem aos amigos?)

→ Minha internet está um absoluto cocô, então assim que melhorar eu responderei os comentários um por um! Mas saibam que eu estou imensamente grata por tudo e muito, muito inspirada pela resposta de vocês ♥

→ E por último (porque já tá ficando longa essa nota), o próximo capítulo não deve demorar muito, rs. Ah, só um aviso: as coisas vão começar a esquentar um pouquinho...

A gente se vê no próximo! Beijão ♥



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