Tangled Hearts escrita por bmirror


Capítulo 4
Capítulo 4 - Sobre um par de óculos


Notas iniciais do capítulo

Tenho que parar de escrever situações com bebida, tsc tsc...prometo que a coisa vai ficar mais sóbria daqui para frente.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/692404/chapter/4

 

Capítulo 4 – Sobre um par de óculos
 

— Sério, eu juro que vou te recompensar – Lene gemeu assim que Lily colocou o copo de água na mesinha de cabeceira. – Eu fui tão idiota. Se você quiser, pode levar a minha televisão e colocar no seu quarto.

Lily riu, empurrando os pés da amiga para sentar-se em sua cama.

— Lene, relaxa. Eu já falei que não foi nada demais.

— Foi sim – ela choramingou, colocando o travesseiro no rosto para bloquear a luz que a porta aberta proporcionava – Vocês estavam se dando bem, eu vi. Aí eu fui lá e estraguei tudo.

Lily tateou o cobertor até achar a perna de Marlene e a apertou suavemente.

— Lene. Sério. Talvez tenha sido até bom eu voltar com você. Eu estava quase indo para a casa dele de novo. Já imaginou? Eu ir para cama com ele toda vez que o encontro?

Marlene tirou o travesseiro da cara lentamente e a encarou com um sorriso aberto.

— Oras, e porque não?

Ela riu e jogou uma almofada que estava no chão na cara da amiga. Lene gemeu de dor e soltou um "eu nunca mais vou beber na minha vida".

— Mas falando sério – ela continuou, deitando a cabeça no travesseiro novamente – Eu não a culparia. Você tem ideia do quanto combinam? Morri de inveja. Eu sei que você não está querendo nada com ele, mas escuta – continuou quando Lily abriu a boca para interromper – Eu nunca tinha te imaginado com alguém específico. Tipo, não sabia com quem você combinaria. Mas esse James, cara...acho que ele é a prova que Deus existe e é mulher.

Lily escondeu o rosto nas mãos e riu baixo.

— Marlene, porra – falou, dando um tapa leve na perna da amiga - Por que você disse isso? Eu estava pensando ainda se ia convidá-lo mesmo para o aniversario de Emmeline. Agora eu tenho que convidar, né.

Marlene riu enrolando-se no cobertor até ficar apenas com os olhos para fora.

— Você não tem que fazer nada. Mas que vocês combinam, é verdade.

Lily balançou a cabeça e a olhou com os olhos cerrados. Geralmente, quando ela insistia para sair com um cara era porque...

— Lene, você por acaso está interessada em um dos amigos dele? Eu vi que você se deu bem com Remus.

Marlene a encarou com cara de tédio. Sua maquiagem estava tão borrada que havia marcas de rímel em seu queixo.

— Por favor né. Remus é um amor, mas não tem nada a ver comigo. Ele é bonzinho demais. Você sabe que eu gosto de uns canalhas – ela sorriu inocentemente - E como é que você poderia ter visto? Estava praticamente comendo a cara de Jam...

— Arg, fique quieta! Você fala como se lembrasse de qualquer coisa que aconteceu ontem a noite – ela se levantou, rindo. Marlene tentou chutá-la, mas ela se desviou – vê se levanta para comer alguma coisa. Já são quase duas horas da tarde.

Ela ouviu a amiga resmungar algo que não eram exatamente palavras, e saiu do quarto dela sorrindo.

O que ela tinha dito a Marlene era verdade: o convite que fizera à James aconteceu por causa do calor do momento. Ela ia adorar vê-lo de novo, com certeza, mas começava a achar que estava se distraindo demais. Eles se davam tão bem que ela sabia que se saísse com ele mais algumas vezes não ia conseguir mais ficar afastada tão fácil.

Ela balançou a cabeça indo até a geladeira da minúscula cozinha. Quando ela imaginou que o maior problema da sua vida seria gostar de alguém que conheceu num pub?

E mais, por que deveria se preocupar em criar uma relação casual com James? Quer dizer, sua colega de classe, Dorcas Meadows, tinha lhe contado sobre seus amigos coloridos. Era fácil: quando ficava estressada ou um pouco mais carente, ligava para um deles. E pronto, resolvido o problema. Ela poderia ter esse tipo de relacionamento com James, não poderia?

Sim. Decidiu que sim. E foi por isso que pegou o celular e mandou o endereço da casa da amiga sem culpa.

Lily achou melhor colocar o celular no silencioso porque senão não conseguiria trabalhar. Ela sentou na escrivaninha do seu quarto e abriu o computador. Precisava escrever um trabalho da faculdade sobre os Formalistas Russos da literatura. Ela teve essa aula na última semana, mas do que se lembrava?

Mal tinha aberto o documento quando uma luzinha acendeu na tela verde. Ela não podia, não deveria olhar, mas a curiosidade a levou a abrir a mensagem.

"Perfeito. E qual é o código de vestimenta? Casual? Traje à rigor? Pelado?"

Lily riu involuntariamente. Ela mandou a resposta enquanto revirava os olhos divertida:

"Pelado está ótimo. Pelado é sempre bom. Vá pelado"

Ela riu mais um pouco enquanto se dava conta que James era o tipo de pessoa que simplesmente aceitava piadas flertivas. Ele era tão aberto à isso que ela não sentia um pingo de constrangimento por fazê-las.

Isso era um bom sinal, não era?

Apesar do saco que era escrever mensagem naquele celular, eles acabaram conversando por quase meia hora. Lily só se deu conta quando Marlene (finalmente) saira da cama enrolada completamente no cobertor, e passou pelo seu quarto para ir ao banheiro. Ela balançou a cabeça para deixar de se distrair e resolveu guardar o celular dentro de uma caixa na estante. Assim, resistiria à vontade de conversar com James. Ou poderia pelo menos fingir que sim.

Ela ouviu o barulho do chuveiro sendo ligado. Será que deveria também tomar um banho antes de sentar para fazer o trabalho?

Não, ela estava arranjando desculpas. Ela abriu o livro que estava usando como base e o documento no computador com gestos determinados.

Quando pensou em fazer literatura, achou que iam ficar deitados na grama, discutindo contos de Walt Whitman e poemas de Edgar Alan Poe. Mas não. Precisava ler ao menos três livros por mês, e sentia que também deveria saber de toda a história da humanidade. Apesar de tudo, ela não seria feliz se tivesse escolhido nenhum outro curso.

Seus pais queriam que ela tivesse estudado Direito, para seguir a carreira do pai. Ou Medicina, como sua mãe. Na verdade, até conseguiram convencer Petúnia a entrar para o mundo das biológicas e ela se formara em Enfermagem há dois anos.

Infelizmente, também foi bem na época em que mais nevou na Inglaterra. Estradas e ruas estavam cobertas por gelo e neve quase 24h por dia. Avisos tinham sido fixados para que ninguém pegasse o carro se pudessem evitar.

No entanto, Charles e Christine Evans não podiam evitar. Nos últimos anos, Charles estava concorrendo para compor o parlamento, então quase não ficava mais em casa. Ele ia de um lado para o outro atrás de reuniões, campanhas e palestras. Christine quase sempre o acompanhava. Naquele final de semana, os dois deveriam voltar depois de um longo congresso sobre leis de trabalho que acontecia em Liverpool, mas não prestaram muita atenção no aviso de estrada.

Apesar de ter apenas 17 anos, Lily lidou muito melhor com a notícia do que a irmã. Talvez porque quase não via mais os pais nos últimos tempos, e porque Petúnia sempre fora muito apegada à mãe. Ela era um pouco mais distante. Mesmo assim, naquela noite as duas se abraçaram (pela primeira vez em muito tempo) e choraram por horas.

Uma coisa era não ver a mãe porque ela estava dando uma palestra na Universidade de Medicina de Cambridge. Outra era nunca mais poder vê-la porque um caminhão tinha perdido o controle no mesmo minuto em que os pais passavam do seu lado.

Petunia sempre fora calada e depois dos 12 anos (e 9 anos de Lily), afastou-se gradativamente de todos. Ela às vezes tirava um tempo para a irmã, mas isso nunca durava mais do que algumas horas por semana. Depois que os pais morreram, esses momentos foram ainda mais raros. Lily podia contar nos dedos da mão quantas vezes se encontraram nos últimos meses.

— Lily, eu pensei no que você pode fazer – Marlene a tirou de seus devaneios quando entrou em seu quarto enrolada na toalha e com o cabelo molhado penteado para trás. Ela parecia muito melhor agora, apesar de ter um pouco de maquiagem ainda borrada embaixo do olho. A menina se aproximou, sentando-se na cama recém-arrumada da amiga. – Você pode me dar dois socos. E pode apagar minhas gravações da novela na televisão, se quiser.

Lily virou-se na cadeira de rodinhas e deu uma risada.

— Marlene, quer parar com isso? Eu já disse que não tem problema. Nós vamos nos encontrar hoje de novo, de qualquer jeito.

— Mas eu ainda me sinto mal – ela torceu o cabelo e Lily acompanhou a água que caia em seu chão com um olhar sério. – Relaxa, vou limpar isso. Mas falando sério, o que posso fazer por você?

Ela fingiu pensar. Lily e Marlene tinham um sistema de compensação de mancadas que sempre funcionou: um dia de escravidão para pagar as besteiras que uma tinha feito para a outra.

— Dia de slave. – Ela sorriu. – Vai ter que ser minha escrava hoje.

Marlene soltou um muxoxo mas depois concordou com a cabeça. Ela levantou as duas mãos com joinhas e saiu do quarto sem reclamar.

— Ah, escrava! – Lily a chamou. Lene colocou só a cabeça para dentro do quarto. – Estou com fome. Quero torradas e ovo mexido. E um copo de suco de laranja. E também quero uma flor na bandeja. E quando você vier trazer tudo, pode me fazer uma massagem nos ombros.

Lily sorriu satisfeita quando ela confirmou com a cabeça. Talvez devesse fingir que tinha ficado magoada para esse dia se estender até o final do domingo.

—-------------------------------------------------------------------------

.

Já estava quase anoitecendo quando Marlene anunciara que estava oficialmente livre da ressaca. Elas comemoraram pedindo comida chinesa e colocando o cd novo de Justin Bieber para tocar enquanto se arrumavam.

— Tá parecendo a Hanna Montana – Lene disse, mastigando um pedaço de frango e apontando para a amiga com os hashis.

Lily revirou os olhos e riu, arrumando a jaqueta jeans que estava experimentando.

— E isso é bom ou ruim?

— Você quer parecer a Hanna Montana? – Lene levantou as sobrancelhas. A ruiva concordou com a cabeça e tirou a roupa que vestia. Depois, pegou um vestido florido no fundo do armário.

— E então? – perguntou, alisando a saia rodada com os dedos.

— Bonito. Mas tá parecendo a Taylor Swift indo para a igreja.

Lily jogou a cabeça para trás para rir.

— Então não, né? – ela tirou o vestido com um gesto só e o jogou no chão. Estava usando o sutiã da sorte e se pudesse, sairia de casa só usando ele. – Não sei de onde você tira essas referencias de pop obscuro.

Marlene deus os ombros, mais preocupada em caçar outro pedaço de frango na caixinha que segurava do que qualquer outra coisa.

— Flores? Muito pura. Couro? Provocante demais. Listras? Sem graça – Lily bufou, jogando-se na cama, ao lado da amiga – Fica difícil assim.

Lene a encarou com uma sobrancelha levantada.

— Desde quando você se preocupa com o que os outros pensam da sua imagem? – perguntou, engolindo o que mastigava – Lily, pelo amor de Deus, que se fodam todos! Use o que você tem vontade.

Lily virou o rosto no colchão e encarou a amiga com um sorriso fraco.

— Mas e se ele... – Ela começou mas calou-se com o olhar que Marlene deu.

— Você está brincando, né? Eu espero que esteja. Porque, primeiro – ela falou, levantando um dedo – James não tem cara de que mete o bedelho onde não é chamado. Segundo, – levantou o outro dedo – se por um mísero segundo ele reclamar das suas roupas, empurre-o num lago congelado e cuspa em cima – Lily riu e ela levantou o outro dedo – E por fim...quem disse que listras são sem graça? Eu gosto de listras!

Ela se levantou e colocou a caixinha em cima da escrivaninha.

— Só como protesto, vou colocar todas as peças de roupa listradas que eu tenho no meu guarda-roupa.

Lily riu enquanto apoiava-se nos cotovelos. Talvez estivesse pensando demais mesmo. Talvez ele nem ligasse se ela fosse de pijamas. Ela levantou, arrumou a bagunça e analisou o armário.

Uma hora e pouco mais tarde, Marlene apoiou o corpo no batente da porta de seu quarto.

— Vamos? – perguntou. Lily a olhou pelo reflexo do espelho que usava para passar o batom e riu com gosto. Ela usava uma blusa listrada amarela e branca, uma calça listrada preta e branca e por cima, uma camisa jeans com listrados em azul marinho. Marlene deu uma voltinha com os braços levantados. – Estou prontíssima.

Ela concordou com a cabeça e apagou o a luz do quarto ao sair. Pegou uma camisa de flanela qualquer e amarrou na cintura. Era aquela época do ano que não estava frio quando saía de casa, mas a madrugada sempre deixava tudo meio gélido. Lily ainda não decidira se gostava dessa época (porque ela gostava do frio) ou se a odiava (porque ela não gostava de sentir frio).

Emmeline não morava muito longe dali, então resolveram ir andando. Ao contrário das duas, que moravam em uma rua bem movimentada, a casa dela ficava numa área mais afastada, inteiramente residencial. As casas eram grudadas uma na outra e eram facilmente confundidas entre si. Hoje, a diferença é que a fachada da casa de Emme estava inteiramente decorada com balões dourados.

— Lily! Lene! Vocês vieram! – ela exclamou assim que bateram na porta. Tinha um cabelo enrolado que ia até o ombro, num tom loiro quase platinado. Hoje ela estava usando um chapéu coco preto, o que acentuava o contraste. – Marlene, adorei a roupa. High trend. Muito estilo.

Lene olhou para a amiga e deu uma piscadela discreta. Só ela mesmo podia usar o que quisesse e ainda ouvir elogios.

— Parabéns, Emme – Lily a abraçou antes de passar pela porta – espero que não se importe, mas...chamei James.

Emmeline fez uma careta de aprovação.

— Aquele menino de quem você falou na semana passada? – perguntou, guiando-as para dentro da casa. Lily tinha contado para o resto das amigas enquanto almoçavam depois da aula. Todas tinham ficado incrivelmente animadas com a descrição. – É óbvio que eu não me importo. Aliás, faço questão de conhece-lo assim que ele pisar nessa casa.

Lily revirou os olhos e empurrou o ombro da amiga.

— Calma, né, não é pra tanto. Assim você vai assustar o moço. Ele vai achar que eu falo dele o dia todo.

— Eu falaria – Lene disse, fazendo uma cara de aprovação – Ah, Emme, quando você o vir... ele tem bem mais que 1,80. Um maxilar invejável. E os ombros...ah, os ombros.

Emmeline abriu a boca de empolgação. Lily sentiu o rosto esquentar.

— Ok. É a minha deixa para procurar álcool – falou, virando-se e indo em direção ao bar que a aniversariante tinha improvisado num balcão.

Apesar de terem chegado relativamente cedo, a casa já estava bem cheia. Emmeline Vance era uma dessas pessoas que mantinham milhares de amizades ao longo dos anos, e por isso suas festas sempre lotavam. Isso seria um pesadelo para os seus vizinhos, se eles também não fossem amigos dela e sempre comparecessem às reuniões.

Lily olhou para a bancada cheia de opções de garrafas e mordeu os lábios.

— Sprite e tequila. Fica doce e amargo. Juro que é bom – alguém disse às suas costas com uma voz grossa.

Ela virou-se rápido, mas ao invés de ver James, como esperava, deu de cara com um rapaz alto e loiro. Ele parecia familiar mas não conseguia se lembrar de jeito nenhum de onde o conhecia.

— Lily, certo? – sorriu. Ele era bonito. Muito bonito, na verdade. Parecia ter saído de uma propaganda de perfume. Estava usando uma camisa branca com as mangas dobradas até o cotovelo e o cabelo penteado indisciplinadamente para trás. Ela queria se dar um soco por não se lembrar dele.

— Eu...sim. – Ela sorriu fraco, franzindo o cenho.

— Não se lembra de mim? – O menino aumentou o sorriso. Ele colocou a mão em seu ombro amigavelmente – Edgar Bones. Sou primo de Emmeline. Nos conhecemos há uns dois anos, na festa de natal dela.

Lily arregalou os olhos. Porque sim, ela lembrava que conhecera o primo de Emmeline, Edgar. Mas aquele cara não tinha nada a ver com esse parado na sua frente. Aquele Edgar era meio magrela e branquelo demais. Esse tinha um bronzeado quase dourado e dava para ver os músculos apertados por trás da camisa. Lily tentou não parecer que estava analisando-o , mas falhou. Ele foi educado de não comentar e deu uma risadinha discreta.

— Eu mudei um pouco. Me formei na universidade. Entrei para um time de regata.

— Percebi – ela soltou involuntariamente e só notou quando ele riu em sua direção. Lily balançou a cabeça e virou-se para a mesa novamente. – Sprite e tequila, você disse?

— Isso – ele foi ao seu lado, pegando um copo de plástico. – Você não vai se arrepender. E se por acaso isso acontecer, pode sempre contar com a boa e velha cerveja.

Ela sorriu.

— É verdade. Ela nunca decepciona, não é?

Edgar devolveu o sorriso enquanto misturava as bebidas dentro do copo. Ele o entregou à ela, que piscou duas vezes antes de provar. Tinha um gosto marcante, mas não era de todo ruim. De qualquer modo, ela foi pega de surpresa com o calor da tequila descendo sua garganta, então acabou engasgando.

— É forte – ela tossiu enquanto o rapaz ria. – Mas eu gostei. Quem inventou?

— Eu acabei de inventar. Desculpa, precisava que alguém se voluntariasse para experimentar e você foi a escolhida.

Lily sorriu e o empurrou com a mão livre.

— Que sacana! Eu poderia ter morrido!

— Morrido não – Ele passou a mão pelo cabelo, arrumando os poucos fios que saíram do lugar – Mas poderia ter odiado. Agora, como recompensa, eu vou deixar você escolher a minha bebida. Pode colocar o que quiser.

Ela sorriu com um canto só da boca, sentindo algo estranho em seu estômago quando ele cruzou os braços e a encarou com intensidade. Foi algo tão passageiro que não soube reconhecer direito o que era.

— Beleza – Lily disse, colocando o próprio copo no balcão e pegando um novo. Ela colocou tudo que encontrou pela frente: coca-cola, gim, licor de menta. Para finalizar, jogou uma rodela de limão dentro da bebida.

Edgar franziu o nariz quando ela lhe estendeu o resultado final.

— Eu não vou beber isso – ele falou com um sorriso divertido no rosto.

— Ah, qual é – ela provocou, aproximando o copo dos lábios dele – se você se arrepender, sempre tem a boa e velha cerveja, não é mesmo?

Ele riu com a imitação e revirou os olhos. Quando ele disse um "tá bom" e descruzou os braços, Lily gritou em comemoração, o que o fez rir mais alto. Edgar fechou os olhos antes de beber e ela o encarou com expectativa. Ele fez uma cara séria depois de dar um gole e colocou o copo de volta na mesa.

— Isso aqui...isso aqui está horrível. Péssimo demais – ele tossiu, os olhos lacrimejando.

Lily caiu na gargalhada e precisou apoiar-se no balcão de pedra.

— Eu vou ter que escovar os dentes por dois anos. Sério, estou traumatizado – continuou, esticando a mão para pegar uma latinha de cerveja. Ele a abriu e virou-a quase imediatamente. Lily riu novamente quando ele soltou um suspiro de contentamento e um "agora sim".

— Bom, você não deveria ter confiado em mim. Eu nunca disse que prestava.

— Agora eu sei, né – Edgar sorriu, balançando a cabeça.

Ela sorriu de volta. O que estava acontecendo? Eles estavam flertando? Não que ela estivesse reclamando. Estava até bem feliz de receber essa atenção, porque olhando rapidamente à sua volta, ela pode constatar que ele era o cara mais bonito da festa. Na verdade, ousava dizer que ele era a pessoa mais bonita dali.

Edgar sorriu como se tivesse lido seu pensamento e Lily mordeu a língua para não chama-lo para conversar lá fora. Ela sabia que se o chamasse, ia acabar fazendo algo que não poderia voltar atrás.

Não que devesse nada a ninguém. Ela ainda era livre para fazer o que quisesse e não precisava dar satisfação para qualquer pessoa. Certo?

Então por que ela sentia uma coisa estranha na boca do estômago? Não seria culpa, seria?

Eles conversaram por mais ou menos meia hora. Agora já ficava óbvio as intenções daquela conversa e até Lily precisava admitir que mais algum tempo e ela não resistiria à proximidade entre os dois.

Edgar abriu a boca para falar algo, mas alguém o interrompeu. Era Emmeline, que vinha gritando pelo caminho da cozinha até onde estavam

— Ed, caramba, estou te chamando há séculos – ela falou, dando um tapa estalado em seu braço quando se aproximou o suficiente. – Eu preciso que você pegue uma coisa para mim no armário.

Ele revirou os olhos teatralmente e Lily escondeu o riso atrás do copo que segurava.

— Pare de reclamar, você falou que ia me ajudar – ela segurou-o pelo pulso e começou a puxá-lo, mas parou para lançar um olhar que Lily não soube interpretar direito. – Marlene está procurando você.

Ela a encarou confusa, mas os dois já se afastavam. Ela deu os ombros e olhou para frente. Deu de cara com Marlene, puxando James pela manga da camisa. Lily sentiu algo apertar na região do peito e creditou isso à bebida estúpida de Edgar. Ela não gostava de alguém há muito tempo, então não podia ter certeza o que estava acontecendo direito. Ela só sabia que acabou sorrindo involuntariamente, e ficou ainda mais feliz por vê-lo fazer o mesmo.

— Aí está você. Estávamos procurando a madame – Lene falou, com um tom de voz que parecia forçado. Ela fez uma anotação mental de perguntar às amigas mais tarde o que elas estavam querendo.

James se aproximou também e gargalhou alto, apontando para a camisa xadrez vermelha que usava e para a de Lily. Eles estavam usando camisas idênticas.

— Que ridículos – ela falou, cumprimentando-o com um beijo na bochecha – acha que as pessoas vão acreditar que não combinamos?

— Eu acho que deveríamos dizer exatamente o contrário – ele sorriu e Lily sentiu o aperto aumentar. Ela colocou o copo da bebida no balcão e decidiu que era melhor não beber mais. – Deveríamos andar pela festa fingindo que estamos trabalhando aqui. Acha que eu deveria me trocar e colocar um vestido preto por baixo também? Para dar uniformidade?

As duas riram e James passou a mão no cabelo com um sorriso divertido.

— E então, como passou o dia? – ele perguntou, mas Lily percebeu que a pergunta era direcionada à Marlene. Ele sorria como se quisesse muito rir mas estava segurando a risada educadamente.

— Muito bem, obrigada – ela levantou o nariz orgulhosa – eu só vomitei três vezes e chorei apenas uma vez no banho.

— Ah que bom, considero isso um dia de vitórias – ele sorriu. Depois virou-se para o balcão e pegou uma latinha de cerveja. Lily suspirou. Porque ele fazia tudo parecer mais atraente do que realmente era?

—-------------------------------------------------------------------------

.

— ...e bom, eu nunca mais a vi novamente – James terminou de contar uma história e Lily gargalhou alto. Era fácil demais rir das coisas que ele falava. Ela sentia que já o conhecia há muito tempo.

Os dois estavam no quintal da casa de Emmeline, e ela cruzou as pernas na espreguiçadeira que sentavam para dar mais espaço à James. Ele aproximou o corpo do seu e ela agradeceu mentalmente porque estava começando a ficar com frio.

Eles ficaram conversando lá dentro por muito tempo, e Lily ficou feliz ao perceber que Lene e James se deram muito bem. Ela nem sabia que essa era uma preocupação real em sua mente. O único problema foi quando o resto das meninas se aproximou porque queriam conhecê-lo. Emmeline foi amigável, como sempre, e Mary MacDonald não falou muito. A pior parte foi Dorcas, que chegou batendo palmas na cara dura. Lily quis morrer, mas James levou na esportiva.

Então depois da vergonha, ela o puxou para fora e decidiu que era melhor eles se exilarem um pouco dos amigos.

— Vocês são péssimos. – ela sorriu, colocando a mão no ombro dele – Como Sirius consegue convencer tantas meninas a dormir com ele? Ele parece ser doido.

— Ele é mesmo – James coçou o queixo, pensativo – No próximo show dele, fique até o final. Você vai ver a loucura que é. Até parece que eles são o Maroon 5 ou algo do tipo. Todo mundo age como se fossem famosos, mas dá vinte minutos e aí ninguém mais lembra quem são eles. É engraçado.

Lily riu e deu um gole na latinha que eles estavam dividindo. Ninguém queria beber muito hoje porque eles entraram em um consenso que estavam (quase) sempre alcoolizados quando se encontravam.

— Eu vou precisar deixar Marlene em casa.

— Ah, não precisa, não – ele sorriu, arrumando os óculos no rosto. – A gente só precisa subornar todos os barmen para que só dêem refrigerante para ela a noite toda. Vai ser fácil.

Lily riu. Ele sorriu de volta e ela agarrou seu rosto repentinamente.

— Cara, descobri o seu problema – falou séria, olhando-o nos olhos profundamente – São esses óculos, James.

— O que tem eles? – ele perguntou, confuso. Ela balançou a cabeça.

— Você vai ter que se livrar deles. Eles te deixam sexy demais. Mais do que você realmente é.

James a encarou por dois segundos antes de jogar a cabeça para trás e gargalhar.

— Porra, Lils – ele falou. Foi a primeira vez que alguém a chamara de algo que não fosse "Lily" ou "Evans" e ela gostou. – Você fica falando essas coisas e depois...

Ela o interrompeu, tirando os óculos do rosto dele. Ele a encarou divertido, mas ela balançou a cabeça negativamente.

— Tsc, tsc. Como eu previra. – ela o encarou sem os óculos – Não adiantou nada. Continua sexy.

James riu de novo com um "cala a boca", mas dessa vez a puxou para mais perto e a beijou. Lily riu com a boca colada na sua e passou a perna direita por cima das dele, para que se acomodasse melhor. A posição dos dois não estava lá confortável, mas pelo menos a espreguiçadeira deu a possibilidade de James inclinar-se sobre ela até que eles estivessem parcialmente deitados.

Lily colocou a mão por dentro da camiseta que ele usava por baixo da camisa e passou a ponta dos dedos pelas suas costas. A pele dele era incrivelmente macia e ela ficou feliz porque estava com vontade de senti-la desde a noite anterior. James estremeceu quando ela puxou seu cabelo com a outra mão, ainda segurando os óculos dele. Ele aprofundou o beijo, mas na hora que foi escorregar as mãos pela coxa dela, bateu na latinha que estava apoiada no braço da espreguiçadeira e ela caiu com um estrondo. Lily tomou um susto e recuou o rosto, rindo logo em seguida.

— Ops – ele olhou para a latinha e pegou os óculos que ela estendia – Viu o que dá me deixar cego?

Ela sorriu. Lily ainda estava com as costas apoiadas no encosto e James estava parcialmente inclinado sobre ela. Algumas pessoas passaram por eles, mas ninguém deu muita bola para o casal da espreguiçadeira.

James ia puxá-la para voltar ao que estavam fazendo, mas Lily segurou sua mão no lugar. Precisava falar algo que estava a incomodando e achava que se não falasse agora, não ia conseguir falar mais tarde.

— James – ela disse, umedecendo os lábios. Ele a encarou sério – Eu acho que preciso deixar bem claro que não quero nada muito sério.

Ele não respondeu imediatamente, o que a fez sentar-se melhor na espreguiçadeira antes de continuar.

— Eu sei que parece vir do nada, mas não quero enganá-lo. – ela franziu as sobrancelhas. Não tinha muita certeza se tentava convencê-lo ou convencer a si mesma. – Nós estamos nos dando incrivelmente bem e você é muito divertido. Mas eu realmente não estou procurando compromisso sério com nada nesse momento.

Ela achou que ele ia se afastar, mas ele acabou abrindo um sorriso.

— Eu também não – disse, segurando seu rosto – Acredite, ninguém quer menos compromisso quanto eu.

Lily respirou aliviada. Ela só percebeu que estava prendendo a respiração até esse momento.

— Que bom – ela sorriu, olhando para os lábios dele.

— Só isso?

Ela concordou com a cabeça, jogando os braços em seu pescoço.

— Ótimo. Agora podemos voltar a nos beijar sem compromisso nenhum?

Ela riu e o puxou para um beijo novamente. Ele apoiou o corpo inteiro nela, mas antes que Lily se entregasse completamente, acabou espiando o cenário atrás deles. Não que ela estivesse procurando alguém específico, mas tinha quase certeza que vira um certo alguém loiro virar as costas e entrar na casa com um jeito meio irritado.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, só queria dizer que essa coisa aí de "dia de slave" eu e minha melhor amiga fazemos sempre, e fortalece a amizade que é uma beleza! juro, tentem com os(as) amigos(as) de vocês, é maravilhoso hahaha. 

Enfim, queria expressar a minha felicidade toda vez que recebo uma notificação de comentário no email...Eu grito, esperneio e dou um soco em quem estiver ao meu lado porque isso me deixa feliz pra cara**o. Aliás, também queria dizer que não esqueci da The Unspeakable Rule e nem da Cross The Line não, tá? É só que ver a resposta que vocês me dão nessa história me deixa tão inspirada que eu fico querendo correr pro computador e escrever a cada segundo do dia.
Obrigada, de verdade!
Beijinhos pra vocês ♥ ♥