Tangled Hearts escrita por bmirror


Capítulo 1
Capítulo 1 - Sobre o fundo de um copo


Notas iniciais do capítulo

Oi!
Eu estava com essa ideia na cabeça há um tempão, acreditam? Chegou ao ponto de não conseguir dormir direito se eu não a escrevesse!
Bom, espero que vocês gostem e que desperte a curiosidade para vocês quererem acompanhá-la!
Já é batido, mas não custa repetir que os comentários fazem qualquer autor se animar e escrever mais rápido, né?
Beijão pra todos ♥



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One moment I was tearing off your blouse
Now you're living in my house
What happened to just messing around?

(Girls - The 1975)

 

Capítulo 1 - Sobre o fundo de um copo

— Só mais uma. E aí vamos embora – Sirius Black anunciara com a voz arrastada enquanto levantava a mão para pedir mais uma jarra de cerveja. James e Peter se entreolharam e riram. Essa era a terceira vez que ele dizia que seria a última da noite.

Remus revirou os olhos, mas riu mesmo assim. A ideia de sair naquela noite tinha sido dele, afinal. Os quatro precisavam respirar um pouco. Peter estava surtando com as provas finais da universidade, Sirius fora rejeitado em mais um estágio e James tinha acabado de sair de um breve, porém abusivo, relacionamento. Quem se importava se eles ficassem bêbados até cair naquele pub?

— Ei, eu tenho outra piada – Peter disse, enchendo a mão com os bolinhos de queijo empanado que haviam pedido há horas.

— Ah não, não vou aguentar outra – James riu, tirando os óculos do rosto e coçando os olhos. – Ainda não superei a última.

— Bah, Wormtail, fique quieto  - Sirius esticou uma das mãos e tentou tampar a boca do amigo. – Onde é que está o garçom quando se precisa dele, afinal?

Peter resmungou com a boca tampada e, visto que Sirius não a tiraria dali, lambeu a palma do amigo. Ele deu um grito e limpou a mão com um gesto exagerado na própria camiseta. Remus revirou os olhos e jogou uma bolinha de queijo fria nos dois. Eles tinham a incrível mania de parecer adolescentes em público. Claro que, com 19 anos, ninguém sabia como se portar corretamente ainda.

James colocou os óculos em cima da mesa rindo, mas precisou tirá-los rápido porque em segundos o cotovelo de Peter tomara seu lugar bruscamente. Os outros dois estavam agora engajados em uma batalha para ver quem conseguia lamber a mão do outro.  Ele revirou os olhos e voltou a colocá-los no rosto. Não gostava muito de usar óculos enquanto ficava bêbado porque acabava sempre quebrando ou perdendo-os. Uma vez, ele rachou a lente esquerda no meio e, como estava sem coragem de pedir mais dinheiro para os pais para consertá-lo, ficou sem usar óculos por um mês. O número de acidentes/objetos quebrados que isso causou foi praticamente imensurável.

— Qual é a diferença entre um escocês e um copo de leite? – Peter continuava, esquivando-se do braço de Sirius que insistia em fazê-lo se calar.

Os três resmungaram alto, assustando o casal da mesa ao lado. Peter riu, seu rosto ficando cada vez mais cor de rosa. Ele falou um “vamos lá, adivinhem” e ignorou os protestos de Remus e Sirius.

— Se eu for obrigado a ouvir mais piadas do Wormtail, preciso de mais álcool no corpo – James riu, levantando o braço direito e procurando o garçom que estava servindo a mesa.

Mas seu olhar não conseguiu correr todo bar em busca do garçom porque sua atenção se prendeu involuntariamente em uma das pessoa sentada casualmente nos banquinhos rasgados de veludo. Ela mexia o canudo de uma bebida alta no balcão sem prestar muita atenção ao que fazia, pois com a outra mão, mandava uma mensagem em um celular ridiculamente antigo. James não se lembrava de ter visto um cabelo tão brilhante em toda sua vida, e ficou com uma vontade súbita e quase incontrolável de tocá-lo.

Seus amigos riram ao seu lado e ele percebeu que tinha se afastado quase que fisicamente da mesa. Ele olhou para frente e viu Remus rindo enquanto balançava a cabeça em desaprovação.  Peter devia ter contado o final da piada. Ele fingiu achar graça, mas voltou a olhar a moça do balcão.

Ela agora prendia o cabelo em  rabo desajeitado e abanava o rosto levemente com a mão. Não estava calor naquela noite – mas ele precisava concordar  que aquele pub estava muito cheio. Até ele estava ficando irritado com isso. O barman se aproximou e perguntou algo, no que ela balançou a cabeça em negativa. Podia jurar que a ouvira dizer “não precisa, obrigada”.

Ela virou o rosto sutilmente e ele achou que tinha visto um par de olhos verdes. Se fosse realmente isso, ela pareceria uma pintura. A comprovação veio quando seus olhares se cruzaram, mas por um momento rápido demais para que James pudesse ter certeza se ela o notara. Ele desviou o olhar com a surpresa, mas ela logo abaixou a cabeça para dar um gole em sua bebida, o que o permitiu voltar a observá-la.

Tudo fascinava a James: a postura que ela tinha ao se sentar, o contraste entre a blusa escura e o cabelo avermelhado, a pele quase reluzente que ficava à mostra quando ela cruzava as pernas...Ele estava tão absorto em observá-la que quase pulou na cadeira de susto quando um homem se aproximou do seu objeto de estudo e sentou-se no banquinho do lado.

Quando ela o cumprimentou como se o conhecesse, James tomou consciência do que estava fazendo. Ele coçou os olhos novamente e voltou a atenção aos amigos.

—...Não que ele soubesse! – Sirius terminava de contar uma história (James não escutara, obviamente, então fingiu rir de novo). Ele olhou para o lado e encarou o amigo – Você não ouviu nada que eu disse!

Ele deu os ombros.

— Não mesmo, me desculpe – riu, bebendo o resto da caneca de Chopp à sua frente. Ele fez uma careta ao perceber que já estava quente demais para ser consumida. James percebeu que precisou manter sua atenção à força na mesa e não na menina do bar. Ele nunca se concentrara tanto em quinze minutos como agora.

— Alguém viu o maldito garçom...? - Ninguém respondeu - Ah, esquece eu vou até o bar eu mesmo – Sirius cambaleou e caiu sentado novamente. – Hm, é melhor ele vir até aqui...MOÇO!

O casal ao lado se levantou bruscamente e saiu da mesa. Remus escondeu o rosto nas mãos, sem saber se ria ou chorava. Ele exclamou um “Meu Deus do céu, Padfoot” abafado, que foi respondido com um “que foi?” inocente.

Mas que o escândalo funcionara era verdade: o garçom apareceu em menos de um minuto com uma jarra nova na mão.

— Essa é a última, prometo – Sirius sorriu, enchendo o próprio canecão.

James aproveitou a distração e resolveu olhar para o bar novamente. A menina agora estava parcialmente de costas para ele, com uma mão no copo em cima do balcão e outra no colo. Ele agora se sentia impróprio ao observá-la, já que ela estava em um encontro e tudo mais. Seu acompanhante se aproximou mais e colocou uma mão em sua coxa desnuda...James quase virou o rosto, sentia-se um intruso nas interações daquele casal. Mas antes que pudesse realmente desviar os olhos,  flagrou a ruiva retirando a mão do cara com um gesto que evidenciava seu desconforto.

Ele levantou as sobrancelhas, surpreso. Isso não era comportamento de quem se conhecia há muito tempo. Será que esse era o primeiro encontro? Sem motivo aparente, algo se acendeu nas entranhas de James, e ele culpou o álcool. Não é como se ele fosse até lá e tentasse disputar a atenção da menina. Se fosse o primeiro ou centésimo encontro, isso não importava. Ela estava lá com outra pessoa.

Ele voltou a olhar os amigos só o suficiente para que eles achassem que estava escutando a conversa, mas logo voltou a encará-la. Pela segunda vez, viu ela afastar a mão do acompanhante de sua perna.  Dessa vez, ele viu claramente ela segurar a mão do homem e empurrá-la em sua direção, o que deu a impressão de que ela estava ficando sem paciência.

— Você está olhando o quê, cara? – Sirius praticamente gritou no seu ouvido. James deu um pulo no lugar e o olhou irritado. O amigo o ignorou e colocou o braço em seus ombros.

— Porra Padfoot, meus ouvidos – reclamou, levando a mão à orelha esquerda. – Aquela menina ali. – respondeu, apontando para a ruiva do bar. Sirius forçou a vista mas concordou quando a enxergou por trás da vista turva de bebedeira - Acho que aquele cara est...Ah! – Ele não conteve uma exclamação e percebeu que Sirius o acompanhou animado.

— O que?! – Remus se virou rápido. – O que aconteceu?

— Você viu isso? – James riu, olhando para o amigo que concordava animado –Vocês viram?

— Não, caramba, o que aconteceu? – Remus perguntou novamente, virando rapidamente a cabeça para os amigos e para a menina que marchava irritada para fora do pub.

— Ela virou uma bebida na cabeça do cara! – James respondeu, alegre demais e sem saber direito o porquê – Ela pegou o copo e simplesmente o virou! Olha ali, é aquele que está tentando se secar com os guardanapos do balcão.

O acompanhante da moça bufava irritado, agora em pé. Ele estava com um calhamaço de guardanapos na mão, esfregando-os de qualquer jeito pela cabeça.

Remus riu e se juntou aos aplausos e gritos dos amigos. O homem do bar os olhou irritado enquanto atravessava o pub à caminho do banheiro. Sirius gritou “babaca!” quando ele passou pela mesa dos quatro.

James procurou a moça, mas não a encontrou em lugar nenhum. Ele forçou a vista que, mesmo com óculos, não era tão boa assim e conseguiu ver um brilho vermelho do outro lado da janela. Pensou em uma desculpa rápido.

— Vou, hm, fumar um cigarro – disse, levantando-se o rápido. Ele furtou o maço de Sirius que estava em cima da mesa e o levou consigo, já que não era realmente de fumar tanto assim e não comprava maço nenhum há duas semanas.

Nenhum dos outros três lhe deu muita atenção. Ele se afastou na mesma hora que Sirius exclamou “vamos pedir a última rodada e aí vamos para casa”

James cruzou a porta, procurando ser o mais discreto possível. Ele não queria ser o babaca que ia atrás da menina para “consolá-la”. Ele também não queria parecer estar a observando, porque achava que ela não precisava lidar com mais isso na noite. Ele a avistou quando pisou na calçada. Quando se aproximou um pouco mais, viu que ela falava irritada ao celular andando em círculos.

— ...Nunca mais, Lene, juro por Deus – ela disse, abotoando o casaco de qualquer jeito com uma mão só. Ela estava virada de costas para ele, então James procurou ser o mais discreto que conseguiu. Ele apoiou-se na parede de pedra e colocou um cigarro na boca – Não, eu já sai. Acho que vou comprar algo para comer e vou pra casa daqui a pouco. Desculpa atrapalhar aí. Te mando mensagem quando chegar, ok? Beijos.

E desligou o telefone com um gesto irritado. Ainda sem notar a presença de James, ela soltou um suspiro audível de frustração. James a escutou dizer baixinho algo como “babaca dos infernos”, o que o fez levantar as sobrancelhas pela segunda vez na noite e não conseguir segurar uma risada. A menina se virou para ele.

Eles se encararam por um mísero segundo. Ele não sabia se pedia desculpas por estar ouvindo a conversa ou se fingia que nada tinha acontecido. Então, quando ela estava quase se virando novamente, James resolveu puxar assunto.

— Você tem fogo? – falou. Ela o olhou confusa. Ele tirou o cigarro apagado da boca e levantou-o com a mão direita.

— Ah. Não tenho, desculpe.

James fez uma varredura mental do que poderia dizer para evitar que ela fosse embora. Agora que tinha chegado até aqui, sabia que seria a maior frustração da sua vida voltar para casa sem conversar com ela. Mas antes que ele pudesse inventar qualquer coisa, ela colocou a mão dentro da bolsa e disse:

— Desculpe, tenho sim – e lhe estendeu um isqueiro azul – Aliás, pode ficar para você. Eu não fumo.

Ele agradeceu e acendeu o cigarro. Então virou o rosto para não soprar a fumaça na cara dela e fez um outro agradecimento mental à todos os deuses do destino por lhe darem um motivo para continuar conversando.

— Interessante – ele falou, fazendo uma careta pensativa. – Alguém que não fuma com um isqueiro na bolsa. Essa é nova para mim.

— Era da minha amiga – ela respondeu, balançando a cabeça num gesto descontraído – Eu usei uma vez ou outra para...

Ela parou de falar e o olhou de soslaio, como se percebesse agora que estava contando detalhes de sua vida para um completo estranho. James sorriu e deu uma tragada. Ele girou o objeto nos dedos e o levantou contra a luz. Era meio translúcido e com alguns pontos brancos. Parecia representar o universo.

— É um isqueiro bonito. Você devia guarda-lo pelo menos para enfeitar seu quarto – brincou, estendendo o isqueiro de volta.

— Ha, não combina muito. Minhas paredes são amarelas – ela sorriu, ajeitando o lenço em volta do pescoço. – É todo seu.

James sorriu e guardou o presente no bolso do jeans surrado.

— Mas eu não me sinto bem levando algo sem poder dar nada em troca.

A menina mordeu o lábio inferior e olhou para os dois lados da rua que, a essa hora da noite já estava deserta.

— Hm. Ok. – ela o encarou de volta – você pode me dar um cigarro. E acendê-lo com o isqueiro que eu acabei de te dar, se possível.

James ficou parado com o próprio cigarro na boca. Depois soltou uma risada rouca enquanto colocava a mão no outro bolso a procura do maço.

— Eu achei que você não fumasse – ele arqueou uma das sobrancelhas num gesto que Sirius odiava e muitas vezes devolvia com um soco no braço. – Não quero ser o responsável por te guiar à esse vício horrendo.

Ela riu enquanto aceitava o cigarro que ele estendia.

— Relaxa. Você não é o responsável – ela apontou com a cabeça para dentro do pub enquanto ele acendia o fogo. – Tem um idiota lá dentro que merece todo esse crédito.

— Ah, eu vi. O idiota da bebida - disse. Se Lily percebeu que isso provava que ele tinha a olhado lá dentro, não demonstrou. Ou não ligou.

— Sim. O idiota da bebida. Além de ser um babaca, ainda me fez desperdiçar um copo de batida de coco.

James riu. Ela soltou a primeira baforada de  fumaça com uma elegância natural que deixou bem claro que essa não era nem de longe a primeira vez que fumara.

— Eu sou James. James Potter– ele esticou a mão e ela não hesitou em aceitá-la.

— Lily Evans.

— Conheço um Evans. Paul Evans – ele voltou a apoiar-se na parede e ficou mais do que feliz quando ela o acompanhou – É seu parente?

— Ah, o velho Paul – ela concordou com a cabeça. James a encarou surpreso com a coincidência, mas ela riu – Estou brincando. Não conheço Paul nenhum.

Ele balançou a cabeça rindo de volta. Seu cigarro estava quase acabando mas ele não queria acender outro. Também não queria parar de falar com a garota. Ela era tão fácil de conversar! Parecia que se conheciam há tempos.

Lily abriu a boca para falar algo, mas antes que qualquer som saísse, a porta ao lado dos dois se abriu violentamente e o homem que a acompanhava há pouco saiu, praguejando com os cabelos molhados. Ele levou dois segundos para notar a presença dela ali, e seus olhos foram da moça para James, parado com o cigarro na mão.

— Vadia – ele murmurou, mas o fez audivelmente. James fechou a cara e começou a arquitetar um plano de vingança na mente, mas não estava nem na metade quando Lily gritou ao seu lado, sem o menor pudor:

— BROXA!

O grito ecoou na rua vazia e pegou de surpresa tanto James quanto o homem que agora, sem saber o que responder, continuara andando e procurava cruzar a esquina rapidamente. Ela levantou o cigarro como se nada tivesse acontecido e deu uma longa tragada.

James estava tão estupefato do seu lado que acabou caindo na gargalhada. Ele não sabia se seria educado, mas Lily logo o acompanhou com uma risada leve.

— Agora que esse lugar voltou a ser habitável – ela disse, balançando a cabeça e afastando o cabelo que se desprendia do rabo de cavalo – Quer entrar e pedir algo para esquentar? Cometi o grande erro de vir de saia.

Ele não desviou os olhos do seu rosto quando respondeu:

— Quero.

Então apagou o cigarro no chão e ficou mais do que satisfeito quando ela o imitou e jogou fora o cigarro que não estava nem na metade.

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— Mas não é tão irritante quanto parece – James gesticulava por cima da segunda jarra de Chopp que pediram. Ele era o primeiro a admitir que não estava mais vendo as coisas tão retas. – Eu tenho meu próprio quarto, Remus também, e Sirius e Peter  dividem o maior de todos. As coisas funcionam assim.

— Como isso pode funcionar? Vocês não enjoam um do outro? – Lily riu. Suas bochechas também já estavam bem vermelhas e ela começava a ficar com calor de novo.

— Juro que não. Quer dizer – ele deu mais um gole em seu copo – É claro que já me segurei mais de uma vez para não estrangulá-los. Mas na maioria do tempo nós nos resolvemos comprando pizza um para o outro.

— Nerds – ela brincou, bebendo do seu próprio copo.

James riu e olhou para o relógio de pulso que usava. Já passavam das quatro e o pub estava quase vazio. Seus amigos haviam passado por eles há quase uma hora, em direção à saída com sorrisos surpresos e um Sirius extremamente bêbado nos braços. Ele tinha fingido não ver os gestos obscenos de Peter.

— E você? Não enjoa da sua colega de apartamento?

— Marlene? Nah, não poderia – ela piscou lentamente. Isso era sinal de que deviam parar de pedir bebida – Ela é quase uma irmã para mim. Eu não conseguiria enjoar dela nem que tentasse.

— Então, viu? Mesma coisa.

— Não é a mesma coisa, James – Ela exclamou, com uma risada arrastada. – Eu só a vejo quatro dias por semana. Nos finais de semana ela volta para a casa da família, no interior. Eu não convivo literalmente todos os momentos da minha vida com ela como vocês.

— Ei, eu tenho minha vida própria, ok? – James riu, colocando a mão no peito e fingindo-se de ofendido – A culpa não é minha se eles não desgrudam de mim. Acho que me vêem como o líder, então quem é que poderia evit...

O garçom os interrompeu no momento que Lily se preparava para soltar uma risada.

— Última rodada, pessoal. Querem mais alguma coisa?

Ela negou com a cabeça, mas James já estava tirando uma nota de dez libras do bolso.

— Duas batidas de coco, por favor.

Lily o encarou com a cabeça parcialmente inclinada e um sorriso divertido no rosto enquanto o barman virava vários ingredientes em dois copos altos.

— Ah, não me olhe assim, isso é retribuição do universo – ele sorriu, aceitando os copos da mão do homem – Você desperdiçou um na cabeça de um besta. Agora um cara um pouco menos besta te recompensa. Vê? Ciclo da recompensa do universo.

Ela deu um gole longo e segurou no braço dele pela primeira vez na noite. Mais tarde, ele juraria de pé junto que tomou um choque no braço nesse exato momento (mesmo que Remus tenha tentado explicar que não dá para passar um choque para outra pessoa através do tecido de flanela que ele usava).

— Ah, você nunca chegaria no nível de bestice dele, acredite – Lily completou, e os dois tomaram consciência de que tinham se aproximado consideravelmente. James colocou o próprio copo em cima do balcão enquanto a via fazer o mesmo. Ele estava sob efeito do álcool ou o pub começara a girar? Ela suspirou e continuou com a voz mais baixa:– Nesse seu esquema do universo, quem é que recompensa você?

Ela já estava próxima a ponto de James sentir o hálito quente bater em seu rosto. Ele soube que não tinha escapatória.

— Ciclo de recompensa – ele murmurou sem muito sentido, antes de beijá-la. Ou ela beijá-lo. Ficou difícil de saber o momento certo que um beijou o outro.

A questão é que os dois começaram a se beijar como se essa fosse a única coisa que deveria ser feita nessa noite e, mesmo obviamente alcoolizado, James ficou feliz em constatar que o cabelo dela era realmente muito macio. Eles estavam em uma conexão tão grande que ele ficou com medo de caírem do banquinho. Então se separaram segundos antes do barman retornar e avisar que a casa estava fechando.

Já na rua, James a ajudou a colocar o lenço de volta no pescoço e, para sua alegria, ela o retribuiu beijando-o mais um pouco. Agora que estavam em pé, puderam se aproximar o máximo que conseguiam. Ou o máximo que as roupas permitiam.

— Eu moro aqui perto – ele disse com a voz rouca. Ela entendeu o que ele quis dizer e concordou com a cabeça.

James achou engraçado que ela entrelaçara seu braço no dele para caminharem pela rua. Ele sabia que isso não significava nada, e ela mesmo afirmou que estava com frio, mas ele achou engraçado mesmo assim.

A caminhada não demorou muito, ele realmente morava bem perto. Era um predinho velho, construído na época da segunda guerra mundial, que não tinha nem elevador. Era a única construção com mais de quatro andares de uma travessa da rua que o pub se localizava, entre uma cafeteria e uma cantina com uma fachada meio caída. Eles sempre gostaram daquela vizinhança porque algo sempre os surpreendiam: hoje era alguém ouvindo um jazz antigo baixinho em um dos prédios em plena madrugada.

Eles voltaram a se beijar quando James colocou a chave na fechadura de metal enferrujado. Ele não saberia explicar como foi capaz de fechar a porta, subir a escada até o primeiro andar, abrir o próprio apartamento e encontrar o quarto certo no torpor que se encontrava.

Ele tomou um mísero rastro de consciência quando percebeu que Lily o ajudava a tirar a camiseta, e resolveu trancar a porta do próprio quarto. Padfoot costumava acordá-lo de manhã quando estava de ressaca.

Ela sorriu e concordou com a cabeça enquanto tirava a própria blusa. James não conteve um sorriso ao ver a peça de renda preta, mas isso durou pouco, porque eles logo voltaram a se agarrar. Ele a guiou através da bagunça do quarto para a cama de casal que, por falta de espaço, ficava totalmente encostada na parede do fundo. Antes de deitarem no colchão, ele se martirizou por não ter trocado os lençóis antes de sair. Ela não pareceu notar.

Se perguntassem a James o que ele sentia ao estar com ela, ali, naquele momento, ele explicaria que era a mesma sensação que beber um copo d’água depois de estar com muita sede. Ele a apertava no limite de sua própria sanidade, e ela retribuía mergulhando em toda pele que pudesse alcançar.

Estariam mentindo se dissessem que foi uma noite longa de amor. Não. Fora rápido, mas, com certa, intenso. Os dois estavam cansados e ainda meio bêbados, mas nenhum deles conseguiu esconder um sorriso quando James tombou, ofegante, ao lado dela na cama.

Ninguém sabia o que falar. Ou talvez não estivessem muito capazes de falar nada no momento. Ele virou o rosto no travesseiro surrado e ficou feliz em constatar que ela também o observava.

Ele sabia que não se lembraria de todos os detalhes pela manhã, então tentou memorizar todos naquele momento mesmo – o tom escuro dos olhos verdes que o encaravam, a gota de suor que escorria por seu pescoço em direção aos seus seios, a pele do braço que o segurava pela cintura que era, assim como seus cabelos, extremamente macia.

James fechou os olhos ao mesmo tempo que ela bocejou. Não dava para acreditar que essa sintonia que sentiam vinha de alguém que haviam conhecido há poucas horas. Lily entrelaçou as pernas na dele e adormeceu quase que instantaneamente, os acordes distantes de jazz embalando-a num sono profundo e sem sonhos.


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