Redenção escrita por mjonir


Capítulo 44
Origens?




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Estávamos dentro de quarto a um tempo. Loki havia me servido hidromel e estava sentado na cama ao meu lado. Nós dois estávamos em silêncio por um tempo, nenhuma só palavra havia sido trocada desde que chegamos ao quarto. Apesar de tudo, o silêncio não era desconfortável. As células de meu corpo ficavam à vontade com ele em qualquer situação, mesmo depois daquela briga.

Olhei para o líquido dentro de minha caneca e suspirei. Eu gostaria de ter o prazer de bebê-lo novamente como antes. Desde que havia chegado aqui recebi informações de que hidromel era a bebida que eu mais gostava em Asgard, porém hoje meu estômago ainda se revirava um pouco. Franzi a testa ao me lembrar do episódio da noite passada e meu mal estar. Qual explicação plausível haveria para o que ocorreu?

Loki suspirou ao meu lado e se mexeu. Eu também me remexi na cama e me virei de frente para ele. Estava um pouco nervosa e receosa com o que ele queria me contar, e meus sentidos não paravam de me avisar que talvez algo ruim aconteceria e na verdade eu não queria passar meu tempo discutindo relação com Loki.

— Eu… - ele começou.

— Por que não deixamos isso pra lá…  por enquanto? - sugeri. - Minhas memórias não voltaram ainda e quando elas voltarem eu saberei o que aconteceu…

— Mas ainda assim, eu gostaria de explicar… - ele exitou antes de falar a franziu o cenho - Tudo que aconteceu aqui foi confuso demais. Mais confuso ainda quando você chegou e que só há uma razão para tudo ter acontecido como aconteceu. - Ele trincou os dentes - Eu quis protegê-la. - Loki disse e levantou seus olhos para mim.

Levantei minhas sobrancelhas e aproximei minha mão da sua. Eu não fazia ideia do que ele falava, mas parecia fazer sentido para mim naquele momento. O que Jane havia me contado estava ficando cada vez mais claro. Nós dois passamos de uma linha tênue do ódio até o amor. Nossa linha havia sido conturbada, mas aquela declaração de Loki me assegurou de que talvez ele tenha feito uma coisa errada para que o propósito inteiro desse certo.

— Eu não me importo com isso agora, Loki. Sinceramente… estou preocupada com o que pode acontecer. - Ele apertou minha mão e afagou com seu polegar. - Não sei se estou doente, se algo ruim pode me ocorrer…

— Não fale isso! - ele me interrompeu e elevou seu tom - Você já passou por coisas piores e está aqui. - Levantou suas mãos e acariciou meus ombros.

Olhei para ele e sorri ainda desesperançosa. Apesar de meus poderes de Gigante de Gelo, eu não poderia ser totalmente imortal, e se alguma doença ou algo pior pudesse me matar? Por isso decidi que não deveria perder tempo com bobagens. Minhas memórias, em algum momento, voltariam e eu saberia o que realmente aconteceu desde que eu vim parar em Asgard.

Uma batida na porta me fez piscar os olhos e voltar de meus devaneios. Loki ainda segurava meus ombros gentilmente como se quisesse me abraçar. Seu semblante preocupado não deixava seu rosto. Murmurei um entre e a porta se abriu silenciosamente. Jane entrou no quarto e nos saudou com seu sorriso caloroso.

— Frigga me pediu para avisar que Freyja está de volta! - Ela sorriu mostrando as covinhas graciosas.

Loki levantou as sobrancelhas em surpresa e se afastou da cama. Ele esticou seu braço para me ajudar a levantar. Parecia que nossa conversa seria adiada por mais um tempinho. Frigga havia me falado de sua irmã que estava desaparecida, e agora estava de volta, afinal. Deveríamos ir cumprimentá-las e pelas narrativas de Jane, a deusa havia confiado a mim um de seus bens preciosos: o colar.

Saímos do quarto ao encalço de Jane e encontramos Frigga, Thor e Sif na grande sala de jantar. Jane correu para os braços de seu amado que a recebeu com um caloroso e singelo abraço. Frigga não largava sua irmã igualmente loira, porém mais alta e de expressões mais selvagens, por assim dizer. No momento em que ela colocou os olhos sobre mim um arrepio subiu por minha espinha.

— Diana, minha pequena criança! - Ela se soltou gentilmente de Frigga e abriu os braços para que eu pudesse me aproximar.

Loki segurava gentilmente em minha mão. Olhei para a deusa loira e exitei por alguns instantes, afinal eu não me lembrava de sua presença a não ser em meu sonho. Seu olhar direcionado a mim transbordava carinho, apesar de um leve ponto de mistério que parecia ser comum das deusas. Me aproximei dela e a loira me envolveu com um abraço apertado e saudoso, parecia que éramos amigas de longa data ou até mesmo do mesmo sangue.

— Eu sugiro que façamos um banquete para comemorarmos a volta de minha irmã. - Frigga disse quase cantarolando de felicidade.

Ela saiu e puxou Jane para seu encalço a fim de preparar a festividade. Me separei de Freyja e sorri para ela. A deusa loira me olhava com atenção quase como se quisesse gravar todos os detalhes de meu rosto. Me aproximei novamente de Loki e enlacei minha mão na sua suspirando de alívio por encontrar algo conhecido. Freyja parecia ser uma pessoa muito boa, mas não reconhecê-la e também não compartilhar do mesmo sentimento que ela demonstrava agora era completamente desconfortável.

Sif se aproximou da deusa e as duas engataram uma conversa animada. Thor se aproximou de Loki e sugeriu que os dois fossem resolver assuntos reais. Não consegui esconder meu sorriso, afinal o moreno estava começando a se sentir parte da família e principalmente das responsabilidades reais. O moreno apertou minha mão gentilmente antes de ir e sorriu disfarçadamente para mim ao sair. Acenei para ele e me afastei para meus aposentos, eu precisava de um banho e algumas horas de sono antes de toda a festança.

Respirei fundo tentando acalmar o pequeno e incômodo enjoo que ainda sentia. A brisa que vinha do pequeno lago em uma parte calma da cidade de Asgard fazia meus cabelos balançarem devagar e o frescor ajudava a me concentrar não no enjoo, mas na leitura. Estava com o livro da história de Asgard nas mãos, lia novamente as histórias de Yves, ele parecia ter se tornado meu herói favorito.

Allya brincava com sua amiguinha na outra margem do lago e eu de momentos em momentos as observava. Minha espada estava em minha bainha, pois depois de um banho e algumas horas de sono a ruivinha insistiu que deveríamos treinar um pouco. Apesar de ainda não estar me sentindo bem aceitei o convite dela e sua animação fez com que o pequeno mal estar passasse.

— Yves… - sussurrei.

A mãe da amiga de Allya também estava ao longe observando as duas. Era uma moça bonita e morena como a filha. Tinha traços fortes e parecia sempre estar furiosa com algo. Um leve farfalhar atrás de mim me fez tirar a atenção do livro e olhar para trás. Haviam algumas árvores por ali. O barulho voltou novamente e eu me levantei. O livro ficou apoiado na grama perto do lago. Semicerrei os olhos e fitei a floresta. Algo negro se mexia pelos galhos. Coloquei minha mão na bainha e entrei cautelosamente nos arbustos.

Não eram árvores tão altas o que facilitava minha visão. Agucei meus ouvidos e parei perto da árvore em que ouvi o primeiro barulho. Me escondi atrás dela e observei ao redor. Um capuz preto passou pelas árvores rapidamente e se aproximou de uma árvore maior. A silhueta parou e olhou para o horizonte onde o lago estava. Ela parecia estar olhando para a cena de Allya brincando com a amiga e a mãe ao longe como um animal protetor.

Me aproximei devagar das árvores perto da silhueta. De perto parecia uma mulher encapuzada. Coloquei-me silenciosamente atrás de um tronco atrás do dela. Fiz o máximo de silêncio e assim que a figura me parecia entretida demais na cena eu avancei como uma cobra e a encostei na parede. Minha espada pousava em sua garganta. Ela soltou um grunhido ao bater as costas no tronco. O capuz caiu e mostrou o rosto de uma mulher morena de cabelos escuros. Alguns cachos tinham mechas brancas demonstrando velhice. Seu rosto possuía algumas rugas, mas ela me parecia em um bom estado.

Os olhos dela se arregalaram ao olhar pra mim e ela soltou um arquejo. Pressionei minha espada em sua garganta. Eu deveria estar com um olhar assassino, pois a mulher engoliu em seco e tentou me empurrar para se afastar. Pressionei mais e ela desistiu, não antes de grunhir como se quisesse me xingar.

— Quem é você e o que está fazendo aqui? - rosnei para ela.

Afastei um pouco a espada para que ela pudesse falar. A mulher franziu os lábios se recusando a falar e virou o rosto para mim. A lateral direita dele possuía uma cicatriz grande que ia do supercílio aos lábios. Por alguns instantes senti pena daquela mulher, havia uma história e tanto atrás daquela cicatriz.

— Fale! - Insisti apertando novamente a espada em sua garganta.

Ela lutou em meus braços, mas sem sucesso, afinal eu era treinada e estava em melhor forma que ela. Seus olhos queimavam ao olhar pra mim. Suas mãos tentaram me empurrar novamente e ela virou a cabeça novamente para olhar para o lago. Ao voltar-se para mim ela sussurrou:

— Yves… Eu ouvi você sussurrando… - ela disse.

Sua voz era um tanto rouca e melodiosa. Franzi o cenho. Então o leve farfalhar atrás de mim era ela. Há quanto tempo ela estaria nos espionando?

— O que você sabe sobre isso? - Grunhi para ela.

Os olhos castanhos dela me fitaram. A mulher franziu o cenho e me mediu de cima a baixo. Seus olhos mostravam um ponto de surpresa e descrença.

— A pergunta seria o que você quer saber sobre ele. - Suas sobrancelhas se levantaram.

Aquilo não fazia sentido nenhum. Por que aquela maldita mulher estava nos espionando como uma covarde atrás de árvores e coberta com um capuz negro. Aquilo só poderia ser cilada, algo muito, muito ruim.

— O que está fazendo aqui? - Mudei rapidamente de assunto. Aquela era a pergunta que não queria calar.

Ela abriu um sorriso estranho e soltou uma risada irônica. Me fitou de cima a baixo novamente como se pudesse ver por trás de minha alma.

— Eu tenho as respostas que você quer sobre Yves… - Arregalei meus olhos ao ouvir aquilo - E se estiver realmente interessada eu posso dá-las a você…

— Não quero respostas sobre Yves, quero saber o que está fazendo aqui nos espionando! - Rugi para ela.

— Me encontre aqui na terceira lua e terá suas respostas. - A mulher disse ainda ignorando minhas perguntas. - Alluhakna. - Ela sussurrou

De repente minha mão queimou. Soltei um urro de dor e minha espada caiu. Surpreendi-me com tal fato. A mulher me empurrou e eu me desequilibrei, bati as costas na outra árvore. Ela se afastou rapidamente de mim e correu. Seu capuz preto balançava com o vento e com sua corrida. Apoiei-me na árvore e peguei Sann no chão. Corri pelo labirinto de árvores e entrei floresta a dentro. Perdi a mulher de minha vista, ela parecia conhecer bem aquele local. Corri novamente e observei ao redor para tentar coletar pelo menos alguma pista de seu paradeiro, porém havia sido em vão.

Andei pelas pequenas trilhas que as árvores faziam e encontrei o som da cidade. Ao longe pude avistar o lago onde Allya e sua amiga estavam. Voltei rapidamente ainda com os ouvidos atentos caso a maluca voltasse. Saí de dentre os arbustos e voltei para onde o livro estava. O peguei e corri para Allya.

— Vamos embora, Allya! O banquete para Freyja começará logo. - Disse olhando para as árvores.

A mãe da pequena Jenny entendeu meu olhar preocupado e seus sentidos se aguçaram. Ela olhou ao redor e puxou a filha para perto. Allya e Jenny se aproximaram ainda sorrindo uma para a outra. As duas tinham espadas em mãos, elas estavam treinando a tarde toda.

— Não podemos ficar só mais um pouquinho, Tia Diana? - Ela fez biquinho.

— Não! Seu pai deve estar nos esperando, e você e eu precisamos de um banho para nos apresentarmos no banquete. - Allya soltou uma risadinha.

Apesar de tentar demonstrar a ela que não estava nervosa, meus músculos continuavam rígidos e meus sentidos atentos para qualquer eventualidade. Ela abraçou a amiga e segurou em minha mão para que pudéssemos ir embora.

— Tchau, Jenny! - Ela disse.

— Tchau, Ally! - A amiga a saudou e se aproximou de sua mãe.

A mãe de Jenny olhou em volta novamente e depois para mim. Seus olhos pareciam dizer que ela também estava atenta e que sabia que havia acontecido algo de estranho. Assenti para ela em despedida e ela fez o mesmo. Segurei firme na mão de Allya e a outra eu segurei o livro mais firme ainda. O que aquela mulher queria dizer? Como ela teria resposta sobre Yves? Um arrepio subiu por minha espinha, eu deveria encontrá-la daqui a três noites se quisesse saber o que diabos estava acontecendo, mas seria seguro? Com uma palavra ela me desarmou e sumiu debaixo de meu nariz.

Allya e eu seguimos para o palácio. As últimas cenas se repetiam em minha mente. Perguntas e mais perguntas congestionando meus pensamentos. Loki deveria saber sobre aquilo? E se aquilo tivesse a ver com minhas pesquisas e a pergunta que não quer calar: Quais são minhas origens?


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