Redenção escrita por mjonir


Capítulo 35
Inconscientemente guiada




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Thomas piscou freneticamente para voltar a realidade e de sua boca saiu uma respiração descompassada. Sua visão um pouco turva e o sentimento de desespero em saber onde estava. Seus olhos reviravam a sala escura onde estava. Um vidro fumê o separava de algo ou alguém. Em momento algum Thomas abriu a boca para falar sobre a HYDRA, no entanto seu sequestrador conseguiu arrancar-lhe algumas confissões sobre seu passado com Diana, mas nada relevante. O agente já havia perdido a noção de tempo, mas acreditava que estava preso a pelo menos um ou dois dias e ainda tinha esperanças de ser resgatado por outros agentes. Seu pai, o diretor principal da HYDRA, não iria deixá-lo ali nas mãos de agentes da SHIELD.

De repente a luz da salinha acendeu-se. Thomas estremeceu ao lembrar o tipo de tortura que estava submetido e temeu mais ainda ao lembrar o rosto de seu torturador. Ele não lhe dirigia muitas palavras, e não se irritava facilmente. O olhar dele que fazia Thomas crer que deveria se arrepender de tudo o que fez com Diana e implorar de joelhos para que seu torturador fosse misericordioso, porém Thomas tinha muito orgulho dentro de si. Seu sobrenome deveria ser orgulho.

Loki apareceu na pequena portinhola e andou devagar para perto de Thomas como se estivesse despreocupado, porém sua mente estava um caos. Havia descoberto o que a HYDRA fez com a cabeça de Diana. Todas as lembranças iam embora a partir de um soro e uma sessão de choques que ela tomava de vez em quando, mas não se lembrava. Ela apenas tinha consciência do que devia fazer para ajudar a HYDRA a chegar em um novo planeta.

Ao se deparar com seu prisioneiro Loki reprimiu a vontade de esmagar seu crânio na parede, ele ainda lhe era muito útil, contudo quando não valesse mais nada ele mesmo se certificaria de terminar com tudo aquilo. Nada, no momento, lhe faria mais feliz do que ver Thomas morto. Segurando sua lança, Loki se aproximou de seu prisioneiro e encostou a ponta dela em seu peito.

O deus da trapaça, em seu profundo, estava se divertindo com aquilo. A vingança com toda certeza era muito doce. Já fazia três dias em que estavam naquela situação e apesar do doce e inebriante sentimento, Loki queria resolver tudo aquilo, pegar Diana e zarpar para Asgard. Ele não se importava que os dois fossem ficar presos naquela maldita cela embaixo da terra novamente. Eles conseguiriam achar o caminho de volta um para o outro apenas recomeçando.

Dentro da mente de Thomas havia uma bagunça. Parecia que tentavam arrancar seuCÉREBRO  sem anestesia alguma. Seu eu imaginário caminhava no total escuro com sua respiração descompassada, começava sempre assim. Seu torturador gostava de inventar histórias e tanto, porém histórias horripilantes que eram piores do que cortes, choques elétricos e surra. Thomas preferia todas essas opções juntas do que ter alguém em sua mente criando morte, sangue e fogo... Muito fogo.

Loki gostava de fazer Thomas imaginar que estava amarrado a uma pira e queimando vivo e toda vez que ele achava que enfim a morte viera buscá-lo... Ele acordava queimando novamente. Depois disso Loki o levava para dentro de sua instituição e fazia Thomas provar de seus maiores medos e um deles era a morte pelas mãos de seu pai. O deus da trapaça achou engraçado um agente como ele ter medo da morte e em específico pelas mãos de alguém.

Ao vasculhar mais ainda a memória de Thomas enquanto ele sofria com seus piores medos, Loki observou uma fisionomia... Uma garota bem bonita, ele pensou, ela tinha cabelos loiros e encaracolados e olhos castanhos esverdeados. Ela corria pela praia rindo enquanto Thomas tentava alcançá-la. Os flashes foram passando e os dois apareceram juntos... Uma promessa.

— Não! - Thomas gritou.

Loki sorriu abertamente. Ele havia derrubado uma das mais firmes paredes da mente de seu prisioneiro. Thomas tinha alguém com quem se preocupar, não somente ele. Havia uma promessa. O deus da trapaça refletiu sobre aquilo.

— O verme não se preocupa somente com seu umbigo... - Loki soltou para Thomas puxando a lança e trazendo o homem para a realidade. - Que bonitinho. Prometeu a ela coisas que nunca irá cumprir? Ela continua lá te esperando? - Loki riu alto.

Thomas se contorceu preso pelas algemas imaginárias que o deus da trapaça havia feito. Como fora tão estúpido ao deixar que escapasse informações sobre ela? Ninguém sabia sobre Hayley, ele havia se certificado disso, mas agora sua vida estava nas mãos de alguém vingativo. Mais uma vez Thomas se arrependeu em silêncio por ter colocado as mãos em Diana.

O deus da trapaça observou o desespero de seu prisioneiro e lá no fundo se lembrou de si mesmo e o que sentiu em Asgard ao pensar que Diana estava morta.

— O amor é estranho. - Loki sussurrou para Thomas.

O homem de olhos verdes abriu um sorriso travesso e empurrou aquele sentimento para o mais profundo de seu ser e se lembrou de que aquele sofrimento era o que impulsionava a redenção, o ceder a tudo como ele mesmo havia feito ao fugir de Asgard com Thor para resgatar Diana. Loki observou os olhos de Thomas e seu sorriso aumentou.

— Você nem imagina o que eu tenho em mente... - Thomas fechou os olhos e respirou fundo

— O que você quer?

— Você sabe muito bem o que eu quero. Me conte!

Thomas abriu os olhos e trouxe a sua mente as lembranças sobre o dia em que recebeu a missão de trazer Diana para a HYDRA. Se lembrou de ver fotos da pequena cripta no meio do Texas. Os dois cientistas que se intitulavam pais da pequena criaturinha que era Diana... Lembrou-se de apontar a arma para a cabeça dos dois e lembrou-se do eco que foi os dois tiros certeiros.

Diana observava sua sala e ainda se perguntava como aquilo havia acontecido. Como Jane poderia ter traído a confiança dela e de toda a HYDRA e ainda lhe trazer um maluco com uma lança que ela não fazia ideia de onde conhecia. Com toda aquela agitação sua mente revirava cada vez mais que havia se esquecido de tomar o soro diário. As dores de cabeça eram constantes e a moça não sabia mais o que fazer.

Uma fisgada fez com que ela abaixasse a cabeça e a apoiasse em cima da mesa. Uma... Visão? Tomou sua mente.

— Diana... - Jane sussurro. - Eu preciso que se lembre disso, por favor, não esqueça disso. 

Diana se sentiu dentro do sonho como se fosse uma espectadora. Ela observou seu corpo deitado no chão como se estivesse desmaiada. Sua cabeça se levantou do chão e olhou para Jane. As duas estavam juntas dentro da sala de laboratório.

— Thomas está chegando para... Eles estão usando sua mente como fizeram com o soldado, mas até agora não está dando muito certo. Você tem apagões constantes e lembranças de Loki e de Asgard. Eu quero que... Que se em algum momento você se lembre disso, quero que volte até seu apartamento. Sua mente sabe onde é, só deixá-la guiar você. Lá você vai encontrar respostas para tudo...

— Jane?! - A voz de Thomas bradou.

A Diana dentro da visão continuava deitada no chão sem forças. A espectadora sentia a dor e o cansaço mental que de si mesma dentro da visão. Aquela era ela há um tempo atrás, mas a dor continuava presente e cada vez maior.

— Quantas vezes eu disse para não falar com ela durante os apagões? São coisas que não somem tão rápido assim e para isso precisamos de mais doses de...

— Eu sei o que você faz, Thomas! E eu sinto pela minha amiga. Eu o odeio por isso...

— Cale-se! - Thomas levantou a mão e esbofeteou Jane que caiu no chão ao lado da figura de Diana desacordada.

Ela quis impedir aquilo, mas não conseguia se mexer, apenas observava a situação. Thomas se agachou e aplicou um líquido no braço da Diana caída com uma grossa agulha. Dor... A mente de Diana começou a doer como se estivesse sendo queimada... A figura desacordada agora gritava de dor. Rastros de fogo em todo o lugar.

A moça deu um pulo da cadeira em que estava. Lágrimas saltavam de seus olhos... O que diabos era aquilo? A voz de Jane ainda sussurrava para ir até o apartamento e deixar que o inconsciente fosse o verdadeiro guia. Levantou-se rapidamente e arrancou o jaleco branco. Passou pelos corredores escuros rapidamente e pegou uma chave em seu pequeno quarto. Ao sair do grande prédio que era a HYDRA, encontrou sua moto estacionada

Diana se sentia um pouco zonza após aquilo tudo e um tanto enjoada. Ela precisava de respostas. Não era coincidência um homem como aquele arriscar tudo para tentar levá-la. E Jane? A amiga nunca havia dado resquícios de lhe desejar o mal. Por que sempre sentia como se faltasse uma parte de si? Por que quando encostou seus lábios nos de Bucky sentiu como se algo dentro de si quisesse lhe esbofetar por isso?

— Deixar minha mente... Deixar ela me guiar...- A moça sussurrava para si mesmo.

Subiu na moto e deu a partida. Acelerou como uma louca e se afastou do prédio. Lágrimas escorriam de seus olhos. Respirou fundo e ao observar que já estava longe o suficiente da HYDRA e diminuiu a velocidade. Olhou ao redor e percebeu que não conhecia aquele caminho. Encostou a moto na guia, as ruas estavam desertas, era tarde da noite. Ela observou seus braços e sentia como se houvessem cicatrizes por toda sua extensão. Sentiu como se seu corpo estivesse massacrado e sua alma estilhaçada.

''Quero que volte até seu apartamento. Sua mente sabe onde é, só deixá-la guiar você. Lá você vai encontrar respostas para tudo...''

Jane sussurrava em sua mente. Diana agarrou seus joelhos e repousou seu queixo em cima deles, fechou os olhos e respirou fundo... Imagens passavam por sua mente, os lábios do homem de olhos verdes não saiam de seus pensamentos. Aquele beijo... Cheio de dor e saudade ainda não lhe pareciam reais.

— Onde é... O maldito apartamento? - A moça sussurrou.

Ela repetia para si sem parar. O vento gélido da rua nem a incomodava mais e já não tinha mais medo. Sabia que se alguém tentasse lhe impedir seria morto num piscar de olhos. Um resquício de lembrança lhe tomou e fez com que abrisse os olhos em cor carmim. O barulho da moto dando a partida e os cabelos ao vento enquanto acelerava desenfreadamente.

A moça abriu gentilmente a janela do apartamento e pulou para dentro ágil como um gato. Ela não se lembrava de nada, mas sentia que tudo aquilo lhe era familiar. O apartamento, o prédio e as ruas lhe era familiar. Sabia até que o local que estava entrando era a pequena sala que se dividia com a cozinha. Chegou a uma parede e apertou o interruptor. O local estava arrumado e limpo como se alguém morasse ali. Ao se aproximar da geladeira havia um post-it com as letras OCD. Diana rapidamente reconheceu o código que usava para compartilhar informações sobre o projeto com Jane e só as duas sabiam dele. Do lado havia outro post-it escrito ''OCD - Limpar o armário e as gavetas da pequena cômoda.''

— Ahn?! - Diana não conseguiu refrear a língua ao dizer aquilo. - Jane sua desgraçada... Eu tinha que vir até seu apartamento pra limpar o armário?

''Lá você vai encontrar respostas para tudo...''

A Jane de sua imaginação parecia repreendê-la para que prestasse atenção nas coisas. Haviam outros post-its, mas nada mais com OCD. Ela acendeu as luzes do corredor para chegar até o quarto. Observou um quadro familiar. Eram apenas muitas cores uma em cima da outra formando um mosaico bizarro e abstrato. Porém o que lhe chamou atenção fora uma pequena elevação que não lhe era familiar.

— Você... Não é assim. - Diana sussurrou para si mesma.

Passou a mão em cima do quadro e sentiu que havia uma elevação protuberante. Puxou o quadro da parede e o virou. Atrás dele havia uma chave gorda grudada juntamente com um post-it. Ela retirou a chave e abriu os post-it que estava amassado junto com a chave:

''Limpe a gaveta da cômoda!''

— Maldita sabe-tudo. - Diana soltou uma pequena risada e deu um suspiro.

Ao chegar no quarto a moça logo avistou a cômoda e a última gaveta. Colocou a chave e a girou... Não havia nada. Diana começou a praguejar e observar todos os cantos do quarto procurando mais alguma pista. Puxou a gaveta e a virou de ponta-cabeça. No canto da gaveta havia um pequeno furo com algo amarelo. Diana pensou em deixar aquilo pra lá e não mergulhar na loucura de Jane, porém quando virou novamente a gaveta para colocá-la no lugar a bolinha amarela caiu. Mais um post-it.

''Deixe de ser preguiçosa e limpe o armário.''

Diana revirou os olhos e guardou a gaveta novamente e juntou o terceiro post-it para se livrar dele depois. Se aproximou do armário com dois grandes espelhos na porta. Ela observou sua fisionomia no espelho. Olhos cansados, olheiras... Pele sem brilho, cabelos enrolados nas pontas e um pouco acima da cintura, havia emagrecido um pouco e seus braços continham algumas cicatrizes que não fazia ideia de onde havia ganhado. Os coturnos pretos amarrados no pé, calça justa de couro e uma blusa de manga comprida também preta. Ela suspirou e não se sentiu ela mesma dentro de seu corpo. Balançou a cabeça e se lembrou do que devia fazer.

Abriu a porta do armário com o puxador e lá haviam roupas e um cheiro familiar de perfume... Era seu perfume favorito. Diana observou as roupas e tudo ali lhe parecia seu. Empurrou os cabides para o lado e observou o armário... Não havia nada ali.

Ela passou os dedos pelo fundo do armário e o sentiu oco assim como a parte de baixo. Se abaixou e tentou tirar a parte de dentro, ela saiu facilmente como se alguém já tivesse mexido ali... Jane, pensou Diana. Ao retirar a madeira Diana observou uma parte de seu piso de madeira.

— Mas... Que diabos. - Sussurrou.

Socou devagar a parte do piso de madeira e ele fez um barulho semelhante a do armário oco. Puxou o piso e ele se abriu revelando um buraco um tanto fundo e lá dentro haviam... Pastas.

Diana puxou tudo o que havia ali dentro e colocou ao seu lado. Um caderninho verde lhe chamou atenção e ela o puxou para seu colo... Ao abri-lo observou desenhos de um céu com duas luas, haviam estrelas. Após isso haviam lanternas flutuando no céu. Na outra página parecia uma pista de boliche, pois havia uma espécie de ponte e no final uma cúpula oval... Diana começou a respirar de forma descompassada, sua cabeça começou a doer.

Continuou a passar as páginas, havia um palácio esplendoroso, vestidos e um salão cheio de gente com vestidos esvoaçantes. Esses desenhos lhe pareciam as visões que tinham quando deixava de tomar o soro diário, porém achava que seria apenas imaginação.

Passou mais uma página. Suas mãos começaram a tremer e seus lábios se abriram em um pequeno ''o'' ao observar o desenho. Eram um par de olhos... Olhos penetrantes e irreconhecíveis. Sem pensar duas vezes ela pôs a mãos sobre os lábios e lembrou-se do homem de cabelos pretos como asas de corvos e os olhos... Aqueles olhos esverdeados. Em desespero passou as páginas e haviam mais desenhos daqueles olhos, porém de expressões diferentes até que chegou uma que o sorriso chegava ao olhos.

Diana soltou um arquejo e continuou passando as páginas com os desenhos de olhos e chegou em uma diferente. Era um homem de costas, com as mãos entrelaçadas na curvatura da cintura, na parte de trás. Seus cabelos batiam no fim do pescoço e ele usava uma roupa com a aparência medieval.

— Não... Não pode ser! - Ela sussurrava em desespero e passava as páginas.

Mais desenhos do homem. Ele estava sentado em uma espécie de biblioteca com os olhos direcionados a um livro e com as mãos presas, ela não conseguia ver seu rosto. No outro desenho aquele homem se encontrava com um elmo cobrindo seus cabelos pretos, uma taça em suas mãos e ele a levantava como se pedisse um brinde. A maioria dos desenhos se remetiam a ele e a paisagens. Ao chegar ao meio do caderno Diana observou um desenho. Era o mesmo homem segurando uma mulher nos braços em um abraço consolador. Ela não via o rosto da mulher, mas podia sentir o sentimento dos dois naquele desenho.

As mãos de Diana tremiam ao passar as páginas. Ela chegou a um desenho que lhe chamou atenção. A moça estava deitada na cama e o homem em uma poltrona ainda de cabeça abaixada. Por que diabos ela não conseguia ver seu rosto? Aqueles desenhos pareciam uma história em quadrinhos. Elas contavam uma história que Diana parecia saber. A moça deitada na cama levantava-se exasperada e o homem sentado aparecia na cama ao seu lado. A moça assustada, presumiu Diana, aparecia com uma enorme espada e apontava para o homem. Ele havia tomado a arma nas mãos e colocado para o lado.

Porém o fim daquela história fez com que Diana largasse o caderninho verde no chão e se levantasse em desespero. O homem da história havia puxado a moça para seus braços, a abraçado enquanto ela escondia o rosto em seu peito e depois ele se deitou e a puxou para ele. Os olhos da moça estavam fechados, porém Diana reconheceu seu próprio rosto no desenho, mas o que a deixou perturbada foi que finalmente havia visto o rosto do homem... E era o rosto dele. Os olhos estavam abertos e a observando através do desenho... Aqueles olhos esverdeados. As sobrancelhas unidas em preocupação a fitando como se enxergasse sua alma. Era ele. O homem que havia arriscado tudo, entrado na HYDRA para resgatá-la dela mesma.


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