Redenção escrita por mjonir


Capítulo 30
Vendo vermelho




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A consciência me tomou rapidamente. Acordei num pulo observando o local escuro e gelado em que estou. Ao meu lado um vidro límpido me separava de Jane, que se encontra desacordada. Arrastei-me até o vidro e me segurei para tentar sentar. A dor de cabeça me causando náuseas e meus olhos não se acostumam a pouca luz que há na cela.

Um barulho de passos fez com que eu me encolhesse no canto. A tontura e náusea me deixam um tanto desnorteada, porém sei o que aconteceu. Thomas havia chegado em meu apartamento. Empurrou a porta e adentrou com uma arma em mãos. Atirou primeiro em Jane, meu instinto me fez ataca-lo, porém não tenho o controle de minha força. Em horas inoportunas ela aparece, no entanto nas horas que eu mais preciso, ela me deixa na mão.

 Os passos ficaram cada vez mais altos. Thomas apareceu na porta de minha cela. Seus cabelos um pouco maiores do que eu me lembrava. Seu uniforme negro me dava calafrios. Ao observar que eu estava desperta, ele sorriu.

— Está acordada... Que bom! Temos muito que conversar. - O ruivo veio com uma faca nas mãos brincando com ela.

Suspirei e passando a mão no rosto tentando tirar o mal estar que estava sentindo. É óbvio que eu e Jane fomos dopadas e trazidas a uma das celas da HYDRA.

— Ficou surpresa que eu tenha te encontrado tão facilmente? – ele começou – Eu sei que achou que te deixaria em paz como pediu no contrato.

Eu realmente fui um tanto ingênua ao pensar que um grupo como a HYDRA me deixaria em paz por tanto tempo, assim como pensei que Thomas também me esqueceria.

— Eu sempre estive te observando, Diana. - Ele disse sorrindo docemente para mim. Quem não o conhece, cai em seu maldito charme - E também queria dizer que senti sua falta, meu anjo. Não deveria ter me deixado daquela maneira, quebrou meu coração. - Ele riu.

Seu tom me deixou com arrepios. É insano a forma como ele me chama de ''meu anjo''. O que eu mais queria e ainda quero, em toda minha vida, é distância dele e de tudo que lhe é relacionado. Seria um bom momento para se estar em Asgard, longe de Thomas, longe da HYDRA.

— Você é insano, Thomas. A todo tempo fingiu ser quem não era. Moramos juntos. Eu te amei. Confiei minha vida toda em suas mãos e você mentiu. É um assassino. - Gritei para ele. Aquela cela e a conversa começou a me sufocar. 

Meus maiores medos se tornaram realidade. Sempre quis fugir de Thomas, desde o momento em que descobri sua adoração pelo grupo.

— Parece mesmo que ainda está disposta em quebrar meu coração. - Retrucou ainda sorrindo. - Não se lembra de como éramos felizes juntos antes de você ter um ataque de insanidade? - Ele se aproximou do vidro e o acariciou como se estivesse tocando meu rosto.

Me encolhi mais ainda perto da parede. Eu realmente gostaria de atravessá-la e me esconder daquele homem. Nós nunca fomos felizes. Tudo era uma mentira criada por ele para me enganar e por quê? 

— Tudo aquilo foi uma mentira e você sabe! Desde os momentos em que eu procurava sobre a SHIELD. As propostas de emprego de seu pai. Tudo isso foi uma farsa para me trazer até a HYDRA e fazer com que eu me tornasse uma adoradora insana de um grupo inicialmente nazista. - Cuspi para ele.

— E você seria uma seguidora perfeita. - Thomas suspirou. - Nós sempre quisemos você aqui, Diana...

— E para quê? Eu... - Lembrei-me de meus ataques e do que sou agora depois de minha visita em Asgard.

Meus olhos se arregalaram. O sangue pulsou em minhas veias. É claro! Eles me queria o tempo todo porque... 

— Sabe, eu tenho te vigiado há muito tempo e realmente gostaria de saber onde você esteve, porque simplesmente sumiu do mapa e eu não pude te encontrar. Juro que fiquei desesperado. - Thomas colocou a mão sobre o queixo e fez uma expressão pensativa.

Engoli em seco.

Trinquei os dentes. Não iria dizer uma palavra sequer sobre Asgard e peço com todo meu coração ao universo que a HYDRA não saiba nada sobre os asgardianos, pois poderia haver uma guerra. Uma bagunça enorme na Terra se tentarem atacar Odin. Os nove reinos são coisas que os seres humanos não podem entender e essas informações não podem cair em mãos erradas.

— Eu sei que não quer falar de suas aventuras, porém vou te contar uma coisa. Eu não vou te chamar de maluca por me dizer que estava em outro lugar. - Respirei fundo. Thomas abriu seu sorriso por me ver vacilando. - Não sabe o quanto fico feliz em te conhecer tão bem, pois consigo ler em seus olhos o quanto está com medo e o quanto esconde coisas que eu já tenho conhecimento.

— Thomas... Nós fizemos um contrato. Você e a HYDRA me deixaria viver se em momento algum eu abrisse a boca sobre o mínimo que vi aqui dentro. Eu só quero voltar pra casa e viver o mais longe possível de você e normalmente...

— Normalmente? Seu conceito de normal é um tanto estranho, Diana. - Thomas disse com puro sarcasmo na voz. - E não vamos entrar no assunto do contrato agora. Tenho uma história muito interessante pra te contar. Está disposta a ouvir? - Suas mãos ainda brincavam com a faca pequenina.

''Quando eu fiz exatamente 18 anos, meu pai, o principal diretor da HYDRA, juntamente com os sub-diretores me chamaram para uma importante reunião. Eles me contaram sobre o Operação 881. Uma das mais importantes missões de nossa organização e poucos sabem dela, pois são informações um tanto sigilosas.

Na reunião uma história foi contada. 17 anos atrás uma cápsula chegou a Terra em uma parte afastada do Texas. Um casal encontrou essa cápsula e deu um jeito de escondê-la muito bem, porém seus esforços não foram suficientes para nossos agentes. A diretoria da HYDRA insistia em saber o que havia naquela cápsula e até mesmo encontrou o casal. Agentes disfarçados fizeram uma varredura no local em que ela caiu anos depois e perceberam que haviam escritos no chão apagados pelo tempo. A organização insistiu por respostas através da SHIELD, afinal há ainda infiltrados da HYDRA naquela patética organização de Nicky Fury. Porém o casal aparentava não saber muito sobre o assunto. Depois de algum tempo em que as visitas pararam, eles se mudaram para o centro do Texas e aquilo fez com que todos os agentes que sabiam sobre a Operação, ficassem atentos, pois apesar de demonstrar uma inocência absurda, a diretoria alegou que eles pareciam ser profissionais naquilo e que com certeza estavam escondendo alguma coisa. 

E sim, estavam. Ao observar mais a fundo, foi descoberto que o casal eram um grupo de cientistas. Duas mentes brilhantes que procuravam locais isolados para terminar suas pesquisas e obter respostas. A cápsula foi levada pela SHIELD no começo e suas informações chegaram até a HYDRA. Parecia uma pequena nave que transportava algo extremamente pequeno e valioso. As escritas estranhamente difíceis e parecidas com as marcas do local onde havia sido encontrada. Ao analisar mais a cápsula, percebemos que ela transportou algo com vida, pois a tecnologia fazia de tudo para preservar vida, e então foi confirmado que o casal estava realmente escondendo algo.

Era necessário então, que um agente de alto nível e novo fosse designado para a missão de se infiltrar na família, pois era de conhecimento da diretoria que o casal possuía uma filha jovem. Então, descobri o porquê de ter sido chamado para a reunião. Eles queriam que eu me infiltrasse na família e descobrisse o máximo de informações que pudesse. Claro que aquilo me animou e muito, pois se obtivesse êxito cresceria muito dentro da organização e alcançaria muito mais respeito e responsabilidade. Ou seja, poderia pegar outras missões de extrema importância.

Ao chegar no Texas recebi a informação da garota. A filha dos dois pesquisadores. A garota que não se encaixava nem um pouco no perfil de jovens. Eu sempre soube que tinha algo diferente, pois era um tanto perceptível para mim que havia um quê a mais. E então me aproximei ganhando totalmente a confiança, usando todos os meus conhecimentos de agente. Claro que foi muito fácil e a família não desconfiou em momento algum. ''
 

Engoli em seco. Meus olhos se encheram de lágrimas ao ouvir aquela narração. Aquela história. A minha história. Meus pais haviam me achado dentro de uma cápsula. Um monstro de outro lugar. Mesmo depois de muito tempo Thomas continuava a me estraçalhar, pois havia sido usada. Apenas uma missão. O tempo todo.

— E então, como nada é confidencial demais para que a HYDRA descubra. Obtive as pesquisas dos dois cientistas malucos. E elas se resumiam a apenas um nome: Operação Estrela Cadente. Nele havia mais informações sobre a cápsula. Um tanto cruas, porém haviam coisas extremamente preciosas: Fotos. Fotos de como encontraram a pequenina nave e dentro dela um ser vivo. Um bebê. Daquele dia em diante eu descobri que minha missão era a garota e não os cientistas, porém eu sabia que em algum momento eu iria ter que tirá-los de meu caminho. Os dois velhos sabiam sobre meu conhecimento da Operação Estrela Cadente, um nome bem brega em minha opinião. Seus pais cogitaram fugir e se esconder, porém quando o plano, que eles achavam infalível, seria executado eu tive que intervir.

— NÃO!

 As lembranças do sangue de meus pais na cozinha. Os ecos do tiro que eu nunca havia escutado. Thomas havia matado meus pais para que a HYDRA pudesse me ter como um rato de laboratório.

— Todos achavam que eu estava envolvido emocionalmente e que acabaria deixando minha missão de lado para proteger você, mas não. Eu sempre quis o que me ofereceram. O respeito e responsabilidade que tenho na HYDRA hoje é devido meu êxito na Operação Estrela Cadente. Não me arrependo em nenhum momento. Matar os dois e convencer você de que estar ao meu lado era a opção mais segura de todas foi a coisa mais fácil que um dia eu já fiz.

Minhas mãos tremeram. A respiração ficou descontrolada. A fúria dominou minha alma de tal forma que a força maciça tomou conta de meus membros. A sensação de estar tonta ou desorientada não me aprisionava mais. Apenas o ódio e a dor da perda de meus pais me guiava agora. O assassino estava na minha frente, ao meu lado o tempo todo e eu nunca soube. Levantei-me num pulo e corri para a frente. Maldita cela que me separava dele. Eu o mataria se não fosse por ela.

— Eu juro que arranjarei um jeito de matá-lo da forma mais dolorosa e lenta possível. Eu quero te ouvir gritar de dor. Sentirei prazer quando escutar sua voz me pedindo clemência... - Rugi para ele.

Thomas se levantou. Pude observar a surpresa e uma centelha de medo em seus olhos que logo se transformou em sarcasmo.

— Eu não tenho medo de nada, Diana. 

— Eu lhe ensinarei a ter medo... E o único medo que terá a partir de agora é de fechar os olhos e saber que em algum momento eu o farei sofrer da forma mais lenta e agonizante de todas. - O azul começou a pintar minha pele. 

— Não prometa algo que não poderá cumprir jamais. - Ele riu. - Agora você precisa descansar, meu anjo. - Ele encostou a mão no vidro novamente como se quisesse me acariciar. Cuspi ali mesmo desejando arduamente que atravessasse o grosso vidro. 

Thomas se afastou dali me deixando sozinha. Um barulho na outra cela fez com que eu retomasse um pouco da sanidade.

— Diana? - Jane suspirou tentando se levantar.

— Jane! - Voltei-me para ela. Agachei perto do vidro e coloquei a mão nele. - Uma das coisas que mais quero nesse momento é nos tirar daqui.

Horas depois...

A todo momento tento observar uma falha no sistema daquela maldita cela, porém nada me era favorável. 

— Maldito ataque de Elsa que não aparece em momento algum. - resmunguei atraindo a atenção de Jane - Só servia para criar uma pista de patinação na minha sala. 

A mulher soltou uma risada baixa, porém nada animada, nós duas nos sentíamos como pássaros engaioladas ali dentro. Precisávamos dar um jeito de escapar e contatar alguém que pudesse nos  proteger. Talvez a SHIELD.

— A pista de patinação até que era legal... - Jane disse me arrancando uma risadinha baixa.

O corredor estava escuro e em absurdo silêncio. Toda aquela calmaria me deixando em um estado de desespero. A impotência é mesmo uma merda.

— A impotência é uma droga. Adoraria ter o mjonir de Thor e dar umas boas marteladas nesse maldito vidro e sair daqui. - Disse atraindo novamente a atenção de Foster.

— Você não é impotente, Diana. - Ela disse se levantando - Eu sou! Não tenho uma super força e nem sei voar. Seria muito legal ter um ataque como o seu e congelar tudo isso daqui, mas a única arma que tenho é meu cérebro...

Congelar... Congelar tudo aqui. 

— É isso, Jane. Eu preciso... Deixar minha força fluir. - Lembrei-me do episódio em Niflheim em que eu e Loki havíamos derrubado uma árvore em cima do Nidhogg. 

— Mas... - Jane disse.

— Eu sei, eu sei... Não faço ideia de como fazer isso, porém toda vez que tenho um ataque eu o reprimo, não deixo que ele flua, pois eu realmente tenho... Tenho medo.

Jane se levantou e passou a mão por seus cabelos. Seus olhos clamando. Os olhos castanhos dela em desespero por estar ali presa em uma organização nazista e assassina que a qualquer momento poderia usar minhas informações e trazer o caos.

— Diana... Acho que não é uma boa hora para se ter medo.

Assenti para ela. Fechei meus olhos. Eu precisava de uma boa motivação. Thomas... Lembrei-me do eco do tiro que nunca ouvi. Lembrei-me do sangue de meus pais na cozinha e de meu desespero. Lembrei-me quem é o verdadeiro assassino.

Abri os olhos e vi vermelho...

Meus braços se tornaram azulados, as runas cresceram e meu corpo esfriou rapidamente. Eu precisava deixar fluir, não devia reprimir minha raiva e minha vontade insana de destruir aquele lugar pedra por pedra.

O vidro começou a congelar. Jane se afastou um pouco e me olhou com uma centelha de medo e admiração. Deixei com que meus sentidos me guiassem.

Eu quero fazer isso, há um objetivo. Não preciso me refrear. Eu quero destruir. Meu sangue clama pelo caos.

Respirei fundo e apliquei um chute com toda a força maciça que sentia em meus membros. A parede de vidro se quebrou em pedacinhos. Jane correu para dentro de minha cela.

— Hora de fazer um belo desastre. - Disse sorrindo

Tudo aconteceu de forma tão rápida, mas ainda sim parecia devagar demais para mim. Conseguimos sair da cela. Os alarmes começaram a soar. Arrastei Jane tentando de alguma forma encontrar uma saída. O caos lá embaixo já perceptível fez com que meus pés acelerassem. Eu realmente não queria que fôssemos pegas novamente.

Chegamos em determinado local. Um saguão que havia uma porta. Era mais uma que eu precisava quebrar. E fiquei feliz por estar ficando boa nisso. Quando o assunto era caos e destruição, meus dons, ou aquele maldito ataque de Smurf/Elsa tomavam conta de mim e me guiavam com fúria e desejo. Corri até a porta com Jane em meu encalço. Tudo parecia acontecer em câmera lenta.

Até que um eco surdo me fez parar. Jane caiu desmaiada no chão. A porta da frente havia sido arrancada com um chute meu. Virei-me em desespero e encontrei um par de olhos claros. Os cabelos castanhos e esvoaçantes. Uma máscara cobria seu nariz e a boca. Ele me olhava com ódio. A arma apontada para mim. Um braço robótico com uma estrela vermelha.

O encarei com a mesma intensidade. A mesma fúria e a vontade de sobreviver. Ele havia atingido minha amiga. Corri para ele desejando ardentemente estraçalha-lo. Seu braço mecânico me atingiu com um soco, porém não foi o suficiente para me fazer parar. Nada seria. Entramos em uma luta corpo a corpo. Cada movimento completamente estudado e preciso. Eu o derrubei no chão e estiquei meu braço para lhe socar o rosto. Uma estaca de gelo se formou em minha mão para atingi-lo no peito. Sua mão mecânica segurou a minha. Nossos olhos flamejando de ódio. Ele parecia estar em êxtase por ter que lutar com alguém por um tempo. Era perceptível a forma precisa como seus golpes eram aplicados.

Seria possível que alguém vivesse em suas mãos por mais de minutos? 

Seus olhos encontraram os meus. Dor, aflição, ódio, raiva, confusão pintavam o quadro que eram as janelas de sua alma. Eu realmente queria entender o porquê de tanta dor, e assim me distraí. Me esqueci que queria fugir, esqueci-me de Jane. O que estava fazendo? 

Uma picada em minha perna me pegou de surpresa. Eu não via mais nada em vermelho sangue, meus olhos rolaram nas órbitas. Tudo perdeu o sentido, a noção. A escuridão me arrastava. Ele levantou a mão e colocou uma máscara em meu rosto fazendo com que eu inalasse a fumaça. A força maciça em meus membros se esvaíram e eu caí envergonhada nos braços do soldado.

O soldado da HYDRA. 


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