Redenção escrita por mjonir


Capítulo 26
O despertar




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''Você se sente um jovem deus?
Você sabe que nós dois somos só jovens deuses
Estaremos voando pelas ruas
Com as pessoas abaixo
E elas estão correndo, correndo e correndo...'' - Halsey, YOUNG GOD.

Sussurros... 

Vozes abafadas e medonhas sussurram em meus ouvidos. Meu nome em seus timbres roucos fazem com que todo meu corpo se enrijeça de medo. Eu sei que estou de pé, andando como um zumbi pelo planeta extremamente gelado. Meus membros dormentes. Arrasto meu pés devagar. 

Se quer saber, nem sei como saí de onde estava. Me lembro que recobrei a consciência enquanto vozes sussurravam meu nome de uma forma tão atrativa, que tenho quase certeza que meu corpo obedeceu sem que me desse conta de que já seguia o som. Meus pés não respondiam aos meus comandos e não levaram meu corpo para os braços aconchegantes de Loki, mesmo que estivéssemos estirados no chão coberto de neve.

A nevasca não dá uma trégua, o planeta coberto por gelo me amedronta. O vento uivando fortemente e não há nenhuma caverna para que eu possa me abrigar. Montanhas de gelo com estacas afiadíssimas criam o cenário dando um ar abandonado e extremamente sinistro.

— Diana... - A voz continua a me chamar.

Meus pés se apressam para seguir a voz que me chama. Senti que de alguma forma estou sendo observada, porém é difícil ter a total certeza já que a nevasca chicoteia meu rosto sem um pingo de misericórdia. Enquanto sigo arrastando os pés o chão se torna ingrime, a exaustão toma meu corpo e tenho medo de desmaiar aqui no meio do nada.

Onde estaria Loki, Frigga e Freyja?

Meus joelhos cedem e eu me ajoelho no chão gelado, alguns pedaços de minha armadura se soltam fazendo com que os flocos de neve entrem e machuquem a minha pele de tanto frio. Minhas mãos agarram o chão e trabalham arduamente para me levar à frente enquanto uma canção com meu nome começa.

Um sorriso se abre em meu rosto, uma voz maravilhosa entoa meu nome como uma das mais belas canções. Me levanto ainda vacilante, mas sigo freneticamente o som. A subida termina me deixando exausta, porém meu corpo e mente pareciam não se importar que meus membros pegam fogo de tanto esforço.

Ao chegar ao topo da pequena subida me deparo com um lago, que em algumas partes a água ainda continua em estado líquido. A água é de um azul quase negro, porém tem pontos luminosos e acima dela alguns feixes de aurora boreal começam a se formar. A canção continua, e a voz começa a se tornar conhecida.

— Mãe? - Eu sussurro. 

Chego cada vez mais perto do lago e piso nas partes congeladas sem me importar que a qualquer momento o gelo poderia ceder. A conhecida canção de ninar que embalava meu sono quase todas as noites preenche o planeta e meus ouvidos. Procuro desesperadamente de onde vem o som, e lá está ela, sentada sobre as águas olhando para mim com uns ligeiros olhos amarelados. 

— Mamãe... - Gritei. De meus olhos saltaram lágrimas que representavam minha nostalgia.

Seus cabelos achocolatados iguais aos meus grudados no pescoço, pareciam molhados, e seus olhos presos aos meus me hipnotizavam.

— Venha, meu amor. - Ela disse para mim. Seu sorriso maternal trazia o familiar sentimento de lar.

O gelo escorregadio desequilibrava meu corpo. Uma parte bem pequena sabia que em algum momento o gelo cederia e eu acabaria morrendo, porém 99% do meu corpo clamava pelos braços aconchegantes de minha mãe. Seu sorriso fez com que eu sorrisse também e me lembrasse de como o Texas era o melhor lugar em que eu poderia estar. Sempre fui muito caseira, amava minha família e era completamente apegada a minha mãe até que ela e meu pai foram arrancados de mim e meu inferno pessoal começou.

— Eu sinto tanto a sua falta. - Lágrimas descem por meus olhos e soluços altos saem de meus lábios.

— Sei que sente querida, - ela cantarolou para mim - eu e seu pai também sentimos a sua falta.

O barulho de gelo se partindo devagar atrás de mim ativou outra pequena parte em meu cérebro que tentava arduamente me acordar do transe, porém estar ali com minha mãe entoando minha canção de ninar demolia todo espaço de sanidade e clareza da minha mente.


Os braços de minha mãe se abriram para que eu me atirasse neles. Seus olhos estranhamente amarelos me fitavam friamente, apesar de todo amor e ternura em sua voz. Meus pés tocavam a água gélida do lago e a nevasca parecia piorar cada vez mais.

— Saia já do frio... Venha para o aconchego dos meus braços... - Mamãe cantava a música. - Você vai dormir em paz. Apenas feche os olhos e descanse, pois aqui você irá morrer...

Morrer? Essa parte não tinha na canção. O sorriso de mamãe continuava doce, mas seus olhos obtiveram um brilho de excitação e desejo assim como sua voz quando disse a palavra ''morrer''. A sanidade começava a tomar meus sentidos. Minha mãe nunca teve olhos amarelos e muito menos entoou uma canção onde eu deveria ficar em paz enquanto sabia que iria morrer.

Merda, eu estou muito ferrada.

Enquanto luto contra meus membros, que insistiam teimosamente andar ainda mais para perto das águas negras, a forma de minha mãe sentada sobre a água foi se dissipando e no lugar uma criatura azul cheia de escamas e com os exatos olhos amarelos me fitou com um desejo cruel. Apenas os temíveis olhos a mostra.

Percebi que o som de minha canção de ninar saía de dentro da água como uma espécie de feitiço feito pela criatura. Meus pés ainda seguem pela parte congelada. Atrás de mim rachaduras tomam o lago, eu morrerei.

A parte congelada que me mantinha na superfície rachou. Caí dentro da água gélida que parece muito mais um lamaçal. É quase impossível enxergar por dentro me deixando um tanto desesperada e sem fôlego. A água me puxando cada vez mais pra baixo enquanto me debato freneticamente para tentar respirar. Estou sufocando.

A criatura de olhos amarelos mergulhou no lamaçal e nadou rapidamente até mim. Tentei bater os braços em desespero para afugentá-la. Milagrosamente consegui nadar um pouco mais para baixo. A água me sugando como uma areia movediça. Os olhos amarelos ainda me perseguiam enquanto eu luto para me manter em sã consciência. 

A falta do ar estava ficando quase insuportável, tinha a impressão de que a qualquer momento minha cabeça explodiria em mil pedaços e meus miolos seriam carregados pelo lodo do lago. Apertei os olhos para enxergar ao meu redor, e felizmente os olhos amarelos já não estavam mais por perto. Impulsionei meu corpo para chegar à superfície, mas um baque em minha cabeça me fez perder a consciência por poucos segundos. Me encontrei presa no fundo do lamaçal totalmente escuro com apenas um rubi vermelho.

A pedra preciosa me lembrava sangue, e sangue carmesim. Seria ela minha única saída? Travei uma luta silenciosa com meu corpo tentando ao máximo me manter acordada, pois minha visão já me traía. Examinei a pedra mais de perto e soltei um arquejo engolindo a água do lago. 

Em meio ao desespero toquei o rubi que grudou em minha mão. Sua ponta finíssima rasgou minha pele. Eu queria gritar, mas se abrir a boca morrerei afogada com todo esse lodo. O rubi entrou pela minha carne e andou por dentro de meu antebraço. Meus olhos se arregalaram de medo. O sangue congelou em minhas veias, minha cabeça doendo freneticamente. Eu queria gritar em desespero e pedir que aquilo parasse, mas a dor só aumentava.

O rubi subiu por meu pescoço e se alojou um pouco abaixo de minha traqueia quase como um colar incrustado em minha pele. O que diabos é isso? Os mesmos sussurros e barulhos irritantes que ouvi em Helheim apareceram me deixando com a mente enevoada. As palavras de Hel na língua estranha fez um eco em minha cabeça. O medo daquelas palavras vinham diretamente de meu coração como se eu soubesse seu significado.

A criatura escamosa e azul apareceu. Suas garras arrancando a parte do tórax de minha armadura. O sorriso maquiavélico nos lábios e a maldade vívida em seu modo de se aproximar fizeram com que eu me sentisse mais forte do que com medo. Claro que eu queria gritar por ajuda, mas cada vez mais o medo sucumbe dentro de mim uma força maciça toma minhas veias com sangue gélido.

Ela agarrou meu braço. Abri um sorriso involuntário em meu rosto fazendo a minha parte consciente tremer de medo do que estava me tornando naquele momento. A criatura me olhou bestificada e me arrastou para a superfície. Seus braços foram de encontro ao rubi em meu pescoço, ela tentava arrancá-lo dali, mas de alguma forma eu sei que ele me pertence. 

Seus braços tentaram me estrangular, porém meus lábios se abriram e um urro... O urro mais alto, gutural e feroz saiu de minha garganta. Tudo se tornou negro, o planeta ficou em silêncio e meus olhos se fecharam enquanto meu grito ecoava por meus ouvidos.

Exatamente uma hora e meia depois...

— Acorde, Diana! - Loki sussurrou para mim, sua voz demonstrando desespero. Uma de suas mãos repousou em meu rosto. - Por favor, acorde!

A vontade de gritar passara, mas o sangue ainda parece gelo em minhas veias, não sinto mais frio como sentira mais cedo e sei que de alguma forma mais uma vez enganei a morte.

Meus olhos se abriram e Loki soltou um arquejo. Tentei focalizar seu rosto, eu devo estar assustadora, pois a forma que ele me olhou fez com que eu realmente me preocupasse com o que está acontecendo.

— O que houve? - Minha voz um tanto rouca preencheu o silêncio do planeta. - Onde estamos?

— Em Jotunheim... - Loki disse - Diana seus...

Toquei sua mão e percebi que cicatrizes subiam por meus braços e a pele se tornando um tanto azulada. Loki soltou desesperadamente suas mãos das minhas e escancarou a boca num misto de surpresa. Seus braços também obtendo cicatrizes como se fossem runas e a pele se tornando azulada como ele havia me mostrado na cela de Asgard. Soltei um grito assustado e levei minhas mãos para mais perto e observei a cor subindo pelas palmas e as runas crescendo. 

— O que está acontecendo? O que... - Gritei novamente enquanto mais runas pintam meu braço.

O azul continuando a modificar minha pele cor de oliva me deixando desesperada. Me levantei rapidamente. Loki fez o mesmo.

— Seus olhos... - Ele sussurrou para mim - Estão vermelhos.

Olhando para ele e percebi que o homem que eu amo estava em sua forma verdadeira, em sua forma Jotun. 

— Eu sou... Eu sou... - Puxei meus cabelos freneticamente.

— Linda? - Ele sussurrou mais para si mesmo do que para mim me lembrando que eu dissera o mesmo sobre ele na cela de Asgard.

Cravei meus olhos nos de Loki.

— O quê? - Sussurrei de volta.

Loki se aproximou de mim, enlaçando seu braço em minha cintura me jogou no chão trazendo junto seu corpo. Suas mãos passeando por meus braços até chegar em meu pescoço onde o rubi já não estava mais. Seus olhos se tornando carmim puro e cheios de luxúria e desejo. 

— O que está fazendo? - Sussurrei para ele.

Seus olhos de encontro aos meus. Senti sua respiração em meu rosto, ele não parecia mais ele. É como se estivesse sendo controlado pelo desejo. Suas mãos apertando meu corpo contra o seu.

— Cale-se. - Ele disse.

E antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa seus lábios arrebataram os meus de forma esmagadora e feroz, apesar de já ter sentido seu desejo em outros momentos, aquela era a primeira vez que ele me beijava daquela forma, mais intensa que o normal e cheia de ódio e fogo... Fogo por todo o lado.

Poderia ser o momento perfeito, o momento de calmaria, mas eu só consigo me sentir queimando como se aquilo fosse uma despedida, como se aquele não fosse o incêndio bom e que nossa floresta estivesse sendo devastada.

E enquanto Loki me beija intensamente no meio de Jotunheim em nossa pequena bolha de confusão, um trovão juntamente com um relâmpago corta o céu me fazendo pular de susto. Loki que se apoiava em meus braços acabou caindo por cima de mim me impedindo de ver o que apareceria ali. Mas é claro que eu já imaginava quem estaria chegando.

''Eu estou indo direto para o castelo

Eles querem me fazer sua rainha

E há um homem velho sentado no trono...''

— Halsey, CASTLE.


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