Redenção escrita por mjonir


Capítulo 24
De cara com a morte




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Acordei em desespero com mais um de meus pesadelos. Agarrei os lençóis da cama com toda a força. O travesseiro caiu para o lado num piso de madeira. Olhei em volta tentando concentrar minha respiração e me acalmar. Onde estou? E por que havia acordado em um quarto estranho? 

Puxei os lençóis brancos que me envolviam. Observei meu corpo nu. Algumas manchas roxas me assustaram. O movimento brusco fez meu ombro doer. Um gemido de dor involuntário saiu de minha boca. Minha cabeça pesava como se estivesse dormindo por dias. Observei meu ombro, e fiquei surpresa ao ver a queimadura quase curada. Por quantos dias tinha ficado inconsciente?

Suspirei. Passei a mão em meu rosto puxando os cachos grossos nas pontas de meu cabelo. O suor colava os fios em meu pescoço, o que incomodava um pouco. Precisava sair daquele quarto escuro, quente e pequeno. O sono ainda tentava me levar de volta, então com um pouco de dificuldade me sentei na cama, apoiando as costas no travesseiro fofo. 

Os pesadelos que me acordaram não são como os outros que me atormentavam desde da morte de meus pais. Esses são piores, muito piores. Envolviam especificamente um dragão enorme, onde sua cauda derrubava as árvores cheias de gelo de Niflheim, enquanto ele cuspia bolas incandescentes de fogo. Eu corria para proteger minha vida dentro de um estúpido vestido de cetim. O gelo e o fogo tentavam me matar incessantemente. 

E aí, quando finalmente encontrava um abrigo no meio de tantas árvores caídas e destruídas. Quando achava que o pesadelo deixaria de me torturar, Loki aparecia com sua armadura dourada e o elmo cobrindo o rosto, mas não os olhos cheios de ódio. Sua espada empunhada para mim, que sempre me encontrava totalmente desarmada. E assim ele desferias golpes, enquanto eu tentava me esquivar, sem sucesso algum, por dentro da floresta.

Só acordava quando, infelizmente, Loki me alcançava já esgotada e lavada em meu próprio sangue. Seus olhos sem misericórdia me fitavam como se nem me conhecessem. O dragão a suas costas em seu tamanho imensurável me fitando da mesma maneira. Loki dizia algumas palavras em sua língua nórdica, e cravava sua espada em meu abdômen. Claro que eu queria reagir, mas não conseguia me mexer no pesadelo, apenas deixava ele fazer o trabalho como um cordeiro mudo prestes a ser abatido.

A ardência do ferimento ilusório me trazia a tona com um grito de desespero, e dor. Porém nas outras vezes que havia acordado me encontrava num vazio escuro, vozes e mais vozes faziam uma oração estranha. A dor me carregava de volta para o sono, e respectivamente ao pesadelo que não conseguia me livrar até agora. 

Observei o quarto novamente. Minha respiração sendo o único som presente. Levantei da cama soltando um silvo de dor em minha panturrilha. A porta de mogno encostada deixava uma pequena fresta de luz do que havia lá fora. Me aproximei tentando ouvir a canção baixa do lado de fora. Adoraria ter uma roupa para poder sair e finalmente saber onde estou.

O barulho de passos me fez pular de susto, a canção baixinha cessou. Me apressei para chegar a cama e me enrolei no lençol para que pudesse cobrir meu corpo nu. Escondi o rosto entre o lençol e o travesseiro, porém ainda tinha visão de quem entrava pela porta de mogno. 

Loki colocou a cabeça para dentro do quarto me observando. Um vinco em sua testa. Um toque de preocupação em seus olhos enquanto me observava enrolada no lençol da cama. Apesar de lá no fundo, saber que ele não me faria mal, o medo ainda continua aprisionado em meu coração. O medo de que ele possa me trair, me enganar, e me machucar é mais forte neste momento do que meu sentimento por ele.

Ao perceber que ''ainda dormia'', Loki saiu do quarto me deixando sozinha novamente. Soltei a respiração, que na verdade nem sabia que estava segurando. Fechei os olhos tentando dormir e tirar o peso de minhas costas. Minha garganta com uma ardência esquisita. A incessante vontade de chorar.

A porta de meu quarto foi aberta me fazendo abrir os olhos assustada. Freyja entrava com uma pequena bandeja de prata. O cheiro delicioso a seguiu fazendo meu estômago protestar como um animal faminto.

— Bom dia. - Freyja sussurrou para mim sorrindo. Sua voz me lembrava pequenos sinos de vento. 

Virei-me para ela e puxei o lençol até o pescoço, não é nada confortável estar nua com uma pessoa no mesmo quarto que você, e ainda mais com alguém que não conhece.

— Bom dia, - respondi de volta - onde nós estamos? 

Freyja descansou a bandeja na cômoda ao lado da cama perto de minha cabeça. Ela se sentou na ponta da cama, os cabelos longos e loiros caíam pelas costas em uma cascata, e chegavam até o começo da cintura. Ela se parecia com Frigga, mas com expressões mais delicadas e angelicais. A mãe de Loki tinha uma beleza forte e a bravura emanava dela. 

— Em um lugar seguro. Você precisou de cuidados delicados então viemos para cá, porém chega de pensar no que já passou, precisamos seguir em frente e salvar Frigga. - Ela suspirou.

Minhas mãos foram direto para meu pescoço encontrando o Brisings de Freyja. Puxei um pouco o lençol para mostrar a jóia para a deusa do amor. 

— Frigga me disse que eu deveria lhe devolver seu colar e assim...

— Ganharia minha confiança - Freyja me interrompeu sorrindo, - mas mesmo que não me entregasse o colar eu confiaria em você.

Sua revelação me surpreendeu. Por que diabos uma deusa confiaria em uma simples humana? E ainda mais sem uma prova?

— Mas por quê? 

— A forma como lutou para me libertar em Niflheim confirmou isso. Agora coma!

A deusa fez um aceno com a cabeça indicando a bandeja. Suspirei e me arrumei na cama para começar a tomar o chá verde que estava na pequena xícara de louça.

Após minha conversa rápida com Freyja me vesti e saí do quarto escuro e claustrofóbico. Descobri que estávamos em uma casa isolada com uma bela campina cheia de flores coloridas, e um lago límpido por perto. A brisa fresca batia na grama deixando o ambiente com o cheiro doce das flores.

O sol brilhava. O céu límpido e azul. Suspirei ao sentir a quentura do sol em minha pele. Não havia mais visto Loki na casa e sinceramente não sei dizer se isso é bom ou não. O lago cristalino tão convidativo me fez ter uma ideia um tanto insana.

Graças a Odin, Freyja havia me dado uma espécie estranha de lingerie e por isso arranquei o vestido cor de abóbora e pulei no lago calmo para refrescar minha pele. O sol quente e o tempo abafado deixou minha nuca coberta de uma camada fina de suor fazendo com que meu cabelo grudasse.

A água fresca do lago bateu contra minha pele dolorida. Freyja havia me dito que minha cura não estava completa ainda, e que para minha surpresa estava desacordada por três dias. Até questionei como minha cura tinha sido tão rápida, afinal, tive queimaduras e cortes extensos. Porém Freyja não soube me responder. Disse apenas que fez alguns de seus remédios para ajudar com infecções e chás que pudessem auxiliar minha pele a cicatrizar, mas a rapidez de minha cura continuava uma incógnita.

Mergulhei na água tentando lavar as sensações ruins dos pesadelos que me assombravam tanto acordada quanto desperta. Abri meus olhos e observei as profundezas do lago. Peixes de água doce e plantas aquáticas decoravam o fundo como uma bela pintura.

O ar me faltou e então emergi rapidamente. Meu cabelo grudado nas costas, o ombro ainda dolorido como se ainda queimasse. Peguei água do lago e joguei em meus braços e lavei o rosto. Quando ia me preparar para dar outro mergulho tive a sensação de que estava sendo vigiada. Observei a pequena campina ao meu redor. Árvores não tão altas rodeavam o lugar como se fosse uma cerca que segundo Freyja não dava para lugar algum.

Um par de olhos verdes me observava por trás das árvores. Olhei discretamente para onde ele estava e fingi que não sabia que tinha um espectador. A forma como me observava era tão intensa que um arrepio subiu por minhas costas. O desejo de tocá-lo emanava dentro de mim, mas sempre o acontecido em Niflheim me estapeava o rosto.

Voltei para a margem do pequeno lago e me sentei ainda com os pés na água aproveitando dos raios solares em minha pele. A sensação de estar sendo vigiada continuava e lá no fundo sabia que minha deusa interior estava gostando cada vez mais disso, apesar de toda o receio de ter Loki por perto.

Penteei meus cabelos com as mãos e me deitei na relva quente respirando fundo e deixando minha mente vaguear para um lugar em paz, porém meus pensamentos me traíram e me levaram para o ponto de paz que encontrei em meio a tanto caos.

— Diana! - Freyja gritou me assustando. 

Levantei-me rapidamente e encontrei a deusa parada na porta da pequena casa. A loira trajava uma armadura dourada parecida com a de Loki, uma aljava com flechas depositada em suas costas. A mulher me observou e então percebi que ainda estava de lingerie. Corei violentamente e peguei o vestido na margem do lago tentando me vestir o mais rápido possível.

— Nós precisamos ir! - ela disse entrando na casa - Venha também, Loki. 

Voltei meus olhos para as árvores e o encontrei lá parado me observando, o que me deixou muito mais corada. Apressei meus passos para seguir Freyja deixando o asgardiano para trás ainda me observando. 

Já dentro da casa...
 

— Venha querida, não temos muito tempo. - Freyja pegou meu pulso gentilmente me conduzindo até o quarto pequeno.

Uma roupa confortável estava na cama a minha espera, parecia ser feita na medida certa. A calça e a blusa grande me deixavam parecida com Freyja. Minha bainha e Sann estavam em cima da pequena cômoda, peguei minha espada em mãos e a deusa assentiu para mim como se disesse: Esteja pronta para lutar a qualquer momento.

Peguei a bainha e a ajeitei em minha cintura descansando Sann ali mesmo. Já sabia para onde iríamos, meu coração gritava para mim, arduamente que A Casa das Névoas me esperava novamente, e dessa vez ao vivo e a cores.
 

Freyja disse as mesmas palavras chamando Heimdall. As luzes coloridas me deixaram tonta enquanto a deusa segurava meu pulso gentilmente. Respirei fundo tentando juntar forças para o que viria a seguir.

Já em Helheim... 

O vento forte e gelado balançou meus cabelos. Freyja soltou o aperto em meu pulso. Os relâmpagos iluminavam o céu negro de Helheim deixando tudo muito mais sombrio do que em minha viagem astral. O chão com pedras negras faziam o caminho para a ponte de Modgud. 

Meus braços se arrepiaram ao ouvir trovões retumbando ao longe e mais relâmpagos cruzaram o céu. Olhei para Loki, seu rosto sério não se virou para mim, como ansiava meu coração. Segurei a bainha de Sann já pronta para tirá-la de lá, porém Freyja tocou em meu ombro me impedindo de tirar a espada da bainha. 

A névoa gelada envolveu meu corpo. Uma armadura dourada protegia meu tórax e braços, haviam estrelas entalhadas. Pequena e cabia perfeitamente em mim. Meus pés descalços foram revestidos por um coturno de couro e em minha mão um escudo também dourado com o símbolo asgardiano. Olhei para Freyja surpresa, ela compartilhava de minha reação. 

Loki olhava para a ponte ainda sério, porém parecia travar uma batalha interna. Sustentei meu olhar em seu rosto desejando que ele pelo menos me olhasse. Ainda que as coisas estivessem complicadas entre nós me senti protegida; sua preocupação para comigo me fez enterrar aos poucos o medo que incessantemente sentia após Niflheim.

Uma silhueta apareceu no começo da ponte. Modgud. Dessa vez a moça não estava com sua manta verde escondendo o rosto branco como papel. A ponte de madeira a frente trepidava com o rugido do rio feroz abaixo. Os olhos de Modgud tão dourados como minha armadura, e ainda assim sua íris negra parecia observar minha alma.

Os majestosos portões atrás da moça esquelética me fizeram  tremer de medo, atrás dele se encontrava o reino dos mortos, a casa de Hel, e estávamos aqui para reivindicar a alma de Frigga, seria insano pensar que poderíamos sair daqui vivos? 

— O que querem habitantes do mundo dos vivos? - Bradou ela com sua voz um tanto robótica. 

Freyja se colocou a nossa frente e Modgud arregalou os olhos ao ver a deusa, como se duvidasse que ela estava ali parada no começo da ponte. 

— Viemos aqui para conversar com Hel. - Freyja bradou para ela e se dirigiu para os portões.

Loki começou a andar na minha frente sem se quer olhar para trás. Freyja queria mesmo entrar em Helheim conosco e estava disposta a enfrentar Modgud e passar pelos grandes portões.

— Por que minha senhora gastaria seu tempo com... - Modgud rosnou.

— Eu não lhe devo respostas, guardiã. Diga a sua senhora que viemos para um acordo.

Modgud estreitou seus olhos dourados. Me coloquei ao lado de Loki mantendo a expressão séria. Tentei de todas as formas não depositar meu olhar no da guardiã, mas infelizmente os esforços foram em vão.

— Vejo que trouxe companhia. - A guardiã disse me observando de cima a baixo.

Szanuj bóstwo! Żądam , aby mówić do swojej pani. - Rosnou Freyja atraindo a atenção de Modgud.

A guardiã, mesmo relutante fez uma mesura para a deusa e abriu os grandes portões de Helheim. O cheiro de morte estava em todo o lugar. Observei o local escuro enquanto seguíamos a mulher. As pedras cravadas no chão ficavam cada vez mais escuras e com pequenos pontos escarlate - como se fosse sangue respingado - em toda a parte. 

Haviam colinas íngremes em algumas partes. Ossos espalhados pelo chão e uma névoa lenta e extremamente gelada se apossava do lugar me fazendo temer a morte. Com toda a certeza eu odiaria passar o resto da eternidade aqui. 

Uma pequena criança - um fantasma - passou correndo por uma das colinas rindo baixinho. Algumas outras silhuetas andavam devagar pelas colinas do meu lado direito, elas nos observavam curiosamente, seus olhos cansados, sem vida e com olheiras profundas me amedrontavam. 

— Esperem aqui. - Modgud disse. Freyja e Loki pararam.

Modgud subiu a colina mais íngreme rapidamente e desapareceu por alguns minutos. Quando ela voltou os relâmpagos e trovões pararam. O Helheim ficou em silêncio, pois a Rainha dos mortos descia a colina atrás da guardiã do Rio Gioll.

O vestido esvoaçante e preto contrastava com a pele extremamente branca de Hel. Os cabelos grandes e negros como o céu de Helheim cobriam a parte esquerda de seu rosto. Os lábios carnudos e rosados se encontravam em linha reta, como se ela estivesse extremamente irritada. A beleza da Rainha dos mortos irradiava. A única fonte de vida na Casa das Névoas.

Ela se aproximou de nós. Loki enrijeceu no lugar me deixando confusa. O olhar de Hel encontrou o meu. Gemas extremamente azuis me observaram intensamente, soltei um arquejo, pois ao olhar em sua íris negra, gritos de agonia e ranger de dentes tomaram meus ouvidos me deixando zonza.

A extremidade esquerda coberta pelo cabelo mostrava o osso do maxilar. A beleza da morte em um lado, e o horror da morte no outro. A parte um tanto coberta pelo cabelo negro escondia a realidade do que Hel é: Uma caveira medonha, a morte em pessoa.

Modgud se colocou ao lado de sua senhora nos observando de forma ameaçadora. Hel desviou seu olhar do meu. Dirigiu um sorrisinho sarcástico para Loki e por fim depositou sua atenção em Freyja.

— A que devo a honra dessa visita, Freyja? - O sorrisinho sarcástico ainda em seus lábios. A voz doce e melodiosa.

— Você sabe muito bem porque estamos aqui, Hel, - Freyja respondeu impaciente - termine logo com esse teatrinho.

Uma tiara de ossos decorava o topo da cabeça de Hel se destacando entre os cabelos negros e sedosos da Rainha dos mortos. Ela soltou uma risada pelo nariz e apoiou as mãos na cintura. Suas sobrancelhas se levantaram enquanto ela olhava para Freyja.

— É claro que eu sei, Freyja, mas realmente esperei que você viesse para implorar e não manter a pose de quem acha que está no controle. - Hel respondeu em um tom muito sério.

Freyja enrijeceu no lugar. Implorar? Ela é uma deusa, por que faria isso? 

— Eu tenho algo que você quer. Você tem algo que eu quero... Vim propor um acordo. - Freyja levantou a voz para manter a postura segura.

Hel voltou seus olhos para mim e depois para Loki.

— Se é apenas um acordo por que trouxe cães de guarda? - Ela perguntou num tom divertido, mas apenas ela se divertia ali. 

Freyja soltou um suspiro e relaxou um pouco os ombros. Sua mão se firmou no arco dourado. 

— Não sabia como seríamos recebidos. - Revelou a deusa.

Hel colocou uma de suas mãos esbranquiçadas, com unhas enormes, na boca e soltou mais um de seus sorrisos sinistros.

— Assim você me ofende, querida Freyja, - Ela piscou para a deusa - sou famosa por receber meus convidados de forma cortês.

— Sei muito bem... - Começou Freyja.

Hel levantou uma de suas mãos para que ela ficasse em silêncio. Seus olhos encontraram os meus de novo, e dessa vez com muito interesse.

— Você tem algo de meu interesse e desejo tratar de negócios já. - A Rainha dos mortos disse para Freyja sem tirar seus olhos dos meus.

— Eu lhe dou o Brisings em troca de Frigga. - A deusa soltou rapidamente tentando conter o desespero.

Loki e eu nos assustamos com a resposta de Freyja, imaginávamos que ela teria uma outra coisa de valor inestimável para dar em troca de Frigga. O que diabos tem esse colar? 

Hel deixou meu olhar e observou Freyja com um sorriso, ela parecia estar em um jogo de xadrez onde ela era a rainha que andava para todos os lados do tabuleiro dizimando nossas peças.

— Presumo que devo tratar de negócios com a garota, já que o colar está na posse dela. - Hel olhou para mim. Soltei um arquejo.

Minhas mãos agarraram o colar com força.

— Diana não tem nada a ver com esse trato, Hel, eu sou a dona do colar. - Freyja se colocou a minha frente.

— Diana... - Hel disse meu nome de forma melodiosa, o sorriso sinistro ainda nos lábios destacando toda sua beleza psicodélica.

Todo meu corpo se arrepiou de medo ou ouvir meu nome na voz da morte.

— Eu teria o prazer de conhecê-la, querida Freyja. Me siga, Diana. - Hel se virou de costas para mim e começou a subir a colina.

Meus pés pareciam estar grudados no chão, o que ela poderia querer comigo? Modgud se mexeu e veio para perto de mim. Loki se colocou a minha frente. A guardiã rosnou para o asgardiano, mas ele não se mexeu.

— Ela vem comigo, gigante de gelo. - Modgud cuspiu para ele.

Loki não se mexeu nem um milésimo, porém Freyja tocou seu braço e assentiu. Ele, mesmo relutante saiu da minha frente. A guardiã tocou meu braço com seus dedos extremamente gelados e me puxou para a frente. Pisquei os olhos freneticamente tentando me concentrar no caminho.

Enquanto seguia a guardiã pude observar que enquanto suabia a colina, o céu negro possuía manchas escarlates, assim como o chão de Helheim. Mais ossos pintavam o chão negro.

Olhei para trás encontrando as gemas esverdeadas de Loki. Meu coração deu um salto ao perceber que ele olhava para mim com uma mistura de fúria e preocupação. O queixo travado. Os lábios em uma linha reta de irritação. Seus olhos clamavam pelos os meus, não conseguia me desvencilhar, como se fôssemos prótons e elétrons sem nêutrons para nos separar.

— Vamos! - Modgud me puxou fazendo com que meu olhar com Loki se quebrasse. A guardiã era nosso nêutron nesse momento. 

Subimos a íngrime colina. No horizonte as manchas escarlate ficavam cada vez mais fortes, assim como a névoa. Os ossos tomavam o chão de Helheim, me fazendo tremer. Hel andava a frente devagar, o que mais se parecia com uma dança.

— Diana... - Hel parou e se virou para mim. Meus braços se arrepiaram de medo - Acho que você sabe muito bem o que eu quero. 

 Seus olhos extremamente azuis brilharam de excitação. Um sorriso sarcástico pintou seu rosto. Minhas pernas tremeram de medo porque lá no fundo... Bem, lá no fundo eu já sabia o que a Rainha dos mortos queria de mim.


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