Redenção escrita por mjonir


Capítulo 19
Vanaheim




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Loki andava a minha frente empunhando sua espada e afastando os galhos esquisitos daquele planeta. Depois de me perder em seus lábios ele finalmente decidiu falar que estávamos em outro lugar, e que agora iríamos para um local seguro.

Enquanto andávamos mata adentro eu observava toda a paisagem desejando ardentemente que meu caderninho estivesse em minhas mãos. Adoraria desenhar todas aquelas árvores enormes cheias de folhas caídas, longas, extremamente verdes e até marrons. Pude observar também o céu tão límpido, era impossível ver tanta pureza assim em Midgard.

— Vamos, Diana! - Loki disse tocando em meu braço e me puxando gentilmente.

Uma corrente elétrica passou pelo local e eu soltei um suspiro. Será que sempre seria assim quando ele me tocasse? Será que ele sentia o mesmo? Assenti fitando seus olhos esverdeados, sorri e continuei andando, todavia Loki me puxou mais para perto de tal forma que fiquei em sua frente.

— Aqui é tão bonito, onde estamos? - Perguntei ainda hipnotizada.

Ele soltou uma risadinha e tocou um de meus ombros e se aproximou falando em meu ouvido:

— Vanaheim. - Loki sussurrou me causando mais arrepios e correntes elétricas, dessa vez não fiquei perturbada apenas consegui sorrir.

— É um nome bonito. - Ri.

Continuamos andando e ao longe avistei uma pequena casa, seu aspecto rústico combinava com o cenário como se quisesse se camuflar ali, e então percebi que aquele era nosso lugar seguro.

Ao chegarmos lá, Loki empurrou a porta delicadamente e ela se abriu rangendo um pouco. Ele fez um aceno com a cabeça e escancarou a porta como se dissesse: Você primeiro. Entrei e observei tudo, era escuro e ainda mais rústico por dentro, as cores me lembravam as paredes do palácio de Asgard.

 Uma cama com um dossel grande e charmoso estava encostada na parede oposta a da porta e minhas costas pediram clemência, uma pequena mesa com cadeiras de mogno ficavam na outra extremidade da cama afastada. Havia uma porta dourada que me chamou atenção e eu fui diretamente nela girando a maçaneta e encontrando lá dentro um pequeno banheiro com uma banheira. Suspirei, eu precisava de um banho.

Loki se aproximou da mesa e deixou lá sua espada, tirou os coturnos do pé e se sentou na cadeira. Ele estalou os dedos e um livro apareceu em cima da mesa me surpreendendo, distraidamente ele começou a lê-lo e se esqueceu completamente de mim. 

— Eu... Não tenho roupas. - Resmunguei. - Você deveria ter me avisado que iria fazer isso...

— Se eu tivesse avisado, você viria? - Ele perguntou me observando e levantando as sobrancelhas. Revirei os olhos. - Ótimo. Vá se lavar que eu cuido do resto!

Quê? Como assim ele cuida do resto? Vou sair nua do banheiro e ele vai me vestir com o que? O lençol da cama? Só pode né. Bufei e marchei para o banheiro.

— Há toalhas dentro do gabinete de mogno do banheiro. - Seu sotaque impecável me fez estremecer e assenti fechando a porta para finalmente me lavar.

Ao sair de lá enrolada na toalha não encontrei mais Loki sentado à mesa lendo seu livro, mas algo em cima da grande cama me chamou atenção. Um vestido azul turquesa cheio de pedrarias me fez balançar a cabeça e rir sozinha ao me lembrar do que ele disse ''Eu cuido do resto''. Ótimo, agora eu seria aquele tipo de mulher que é sustentada e ainda mais por um alienígena. 

Um tinir de espadas lá fora atraiu minha atenção e o sangue se esvaiu de meu rosto. Será que fomos descobertos? Peguei as pequenas sapatilhas prateadas que estavam perto do vestido e coloquei rapidamente, corri para a porta e a abri esperando ver uma luta, mas só o que encontrei foi Loki sentado em uma pedra batendo duas espadas.

Cheguei mais perto e tentei me aproveitar de seu estado alheio, eu realmente queria assustá-lo.

— Eu ouvi você saindo, não adianta andar na pontinha dos pés. - Disse sério.

Revirei os olhos.

— Chato! - Soltei e ele riu baixinho.

— Você que é barulhenta demais.

Me aproximei dele ficando em sua frente. Meus olhos correram por seus braços desnudos e quando estava quase perdendo a consciência de tudo, um brilho dourado me chamou a atenção, era minha espada. 

— O que está fazendo com minha espada? - Disse ainda observando minha querida companheira.

Loki fitou meus olhos e me entregou Sann, eu a segurei suspirando, era ótimo ter minha espada em mãos novamente.

— Vai precisar disso. - Ele respondeu, puxou algo que estava na outra extremidade da pedra e também me entregou. Era um escudo dourado e brilhante com o elmo dos asgardianos gravado em sua frente. - Você é uma guerreira de Asgard.

Ao ouvir aquilo não pude deixar de sorrir, levantei meus olhos para Loki e sabia que por trás daquela feição meio séria, ele também sorria.

— O que vamos fazer? - Questionei completamente intrigada.

— Você irá conhecer a maioria dos reinos, Diana. - Ele desconversou o que me deixou irritada.

— Não vou matar ninguém, Loki. - Rebati com firmeza. 

— Pare de achar que vamos fazer isso. - Ele grunhiu. - Por mais que eu quisesse, não é esse o objetivo. 

— Então estou armada para nada? - Esbravejei.

— Eu não disse isso. - Respondeu irritado e se levantou indo diretamente para o centro da campina. - Nós vamos achar Freyja, e você precisa treinar se não quiser ser morta por aí.

Como é que é? Eu sou uma boa guerreira, Sif havia me treinado. Peguei o escudo e o empunhei assim como a espada e corri de encontro a Loki, nós iríamos lutar de igual para igual agora.

Horas depois...

Eu sabia que estava sonhando, mas não conseguia me concentrar para acordar e sair daquele pesadelo. Pude ouvir as mesmas palavras de sempre que me atordoaram por anos. Saber que a pessoa que você mais confiou na vida havia mentido e te traído causava uma turbulência em sua mente, o caos.

As cenas eram sempre iguais desse pesadelo, eu andava perturbada pelas ruas de New York tentando entender o porquê de tudo aquilo até encontrar a entrada do conhecido apartamento. Eu subia chorando enquanto o porteiro tentava me acalmar e perguntar o que havia acontecido. Não deveria ter deixado que ele me visse em desespero.

Familiarizada com o sonho eu tentava abrir a porta do apartamento, mas minhas mãos trêmulas fizeram com que a chave caísse. Com a visão embaçada pelas lágrimas conseguia abrir a porta com um chute, ao perceber que estava lá dentro as coisas passavam muito rápidas no pesadelo até finalmente me encontrar na sala com três malas ali perto, já estava mais calma e havia pedido para que o porteiro me ajudasse a levar tudo lá pra baixo.

Eu tinha dinheiro guardado e poderia me acomodar em outro apartamento, eu só queria me desvencilhar de tudo aquilo. Me desvencilhar dele. 

— Diana! - Ouvi sua voz o que fez meu sangue congelar nas veias.

Ele apareceu na porta ofegante como se tivesse corrido muito, seus olhos se instalaram nas três malas no chão da sala e a surpresa o tomou.

— Jonas me disse que você havia chegado aqui um tanto perturbada e chorando muito e agora... 

— Já chega! Eu vou embora. - O interrompi.

— O quê? Por que, Diana? - Sua voz aumentou uma oitava me fazendo esfregar a mão no cabelo e ajeitar os óculos escuros, eu não deixaria ele ver o quanto estava quebrada.

— Não quero mais ficar aqui. - Respondi seca.

— Mas... Espera aí! Vamos conversar sobre isso. O que aconteceu? - Ele se aproximou segurando firmemente meu braço.

— Tire. As. Mãos. De. Mim - Disse pausadamente e de forma ameaçadora.

Jonas apareceu na porta do apartamento e fez um sinal ainda confuso como se perguntasse se poderia entrar.

— Entre, Jonas! Pode levar as malas para o táxi, por favor? - Voltei meus olhos para o porteiro.

— Claro que sim, Senhorita Diana.

Jonas passou por nós dois e pegou as malas com uma incrível facilidade e saiu chamando o elevador.

— Por que não me diz o que aconteceu, droga?! - Esbravejou meu ex namorado.

— Aconteceu que essa sou eu terminando tudo o que temos. Nunca mais quero vê-lo entendeu? - Respondi baixo deixando o tom ameaçador na voz.

— Talvez se você me dissesse o porquê de tudo isso eu te deixaria em paz.

— Só cala a boca e me deixa ir embora! - Esbravejei.

Puxei minha mão que ele segurava e me afastei dele, fui surpreendida com um puxão bruto em meu braço me fazendo virar de frente, seus lábios nojentos foram de encontro aos meus desesperados. Mordi sua língua com toda minha força fazendo com que ele soltasse um urro de dor e puxasse a cabeça pra trás, cuspi sangue em seu rosto e apliquei um golpe de auto defesa fazendo com que ele soltasse meu braço. 

— Adeus! - Disse me virando.

— Não! Diana! Eu te amo. - Ele gritou fazendo a fúria se acender em mim.

— Me ama? - Gritei para ele. - Você é um mentiroso, salafrário e falso. Maldito! - Comecei a chorar novamente.

— O que eu fiz? Eu nunca menti para você, meu amor. - Ele respondeu desesperado.

— Você nunca mentiu pra mim? - Esbravejei e soltei um riso macabro. - Está mentindo desde o começo, eu te odeio. Você não tem o direito de me chamar assim, nunca deveria ter tido esse direito.

— Mas...

Me virei rapidamente e saí correndo daquele apartamento antes que ele pudesse me seguir. Encontrei Jonas parado perto do táxi com a porta aberta me esperando.

— Obrigada, Jonas. - Ele assentiu para mim ainda confuso. 

— É só uma pequena briga, senhora. Espero vê-la por aqui de novo. - Jonas respondeu sincero. 

— E eu espero nunca mais ter que voltar aqui, adeus Jonas. - Entrei no táxi e dei o endereço para o motorista.

Fechei a porta do carro e me pus a chorar desesperadamente.
 

☆ 

— Traidor! - Eu gritava e chorava desesperadamente me encolhendo na cama. 

— Shhhhhh! - Disse uma voz ao meu lado.

Pude ouvir o som de passos que chegavam cada vez mais perto de mim, abri meus olhos ainda chorando e desesperada. Alguém tocou em meu ombro e eu saquei rapidamente a minha espada que estava ao meu lado no outro travesseiro e empunhei colocando-a sobre o pescoço de alguém a minha frente.

Com a visão embaçada eu não consegui distinguir quem estava ali, só sabia que estava prestes a matá-lo.

— Diana... Sou eu. - A voz arrastada disse me fazendo suspirar.


Tentei acalmar minha respiração, apertei os olhos para me livrar das lágrimas e aí consegui ver claramente, eu estava prestes a cortar o pescoço de Loki. Uma de suas mãos ainda repousada em meu ombro e a outra segurava uma de minhas coxas fortemente.

Soltei Sann rapidamente e ela caiu como um baque no chão perto de Loki, respirei fundo e passei as mãos por meu rosto ainda chorando.

— Shhhh... Só foi um pesadelo. - Loki soltou meu ombro e acariciou meus cabelos.

Me encostei na cama e agarrei o travesseiro ainda chorando desesperadamente como no sonho. A cama se mexeu ao meu lado e mãos quentes e grandes afagaram meus braços.

— Fique calma. - Sua voz baixa em meu ouvido me deu arrepios e minha respiração ficou mais devagar aos poucos.

Ainda grudada no travesseiro meu choro de desespero foi se dissipando apenas para lágrimas, sem lamúrias e xingamentos. As mãos de Loki ainda acariciavam meu cabelo devagar me trazendo para a realidade, eu estava ali com ele em Vanaheim, não em New York com aquele maldito traidor.

 

Sequei minhas lágrimas no travesseiro e me virei para Loki encontrando seus olhos intrigados, ele me observava intensamente tentando entender o motivo de tal perturbação.

— Sempre tem pesadelos? - Ele perguntou.

Assenti sem conseguir pronunciar uma palavra, geralmente tinha surtos assim depois de pesadelos e era preciso me acalmar primeiro para conseguir me mexer normalmente e falar.

— Não se preocupe, já acabou. Volte a dormir! - Loki respondeu fitando a noite pela janela aberta da pequena casa.

Me mexi devagar e me aproximei mais dele deitando minha cabeça em seu peitoral. Suas mãos pararam de fazer o trabalho, aposto que ele estava surpreso com toda aquela aproximação. Suspirei e passei devagar um de meus braços por seu abdômen e aproximei meu nariz de sua camisa sentindo seu cheiro inebriante, ele estava conseguindo me acalmar e fez com que meu surto se esvaísse rapidamente.

Aos poucos uma paz nova tomou conta de mim, a respiração regular de Loki junto com a minha e as batidas de seu coração eram como uma canção de ninar para mim. Meus olhos ardiam e eu lutava contra o sono. Havíamos treinado muito a tarde e estava desgastada pelo esforço físico.

Quando estava quase pegando no sono um retumbar de trovão me fez pular da cama assim como Loki.

— O que está acontecendo? - Disse observando a janela enquanto relâmpagos medonhos clareavam o céu escuro de Vanaheim.

Loki se levantou pegando seu coturno e colocando rapidamente, colocou sua espada na bainha, fiz o mesmo e peguei Sann. Minha espada só não tinha onde colocá-la também, se levasse ela na mão correndo poderia me machucar. O asgardiano viu meu desespero e de repente uma bainha dourada como a sua apareceu em minha cintura, rapidamente descansei minha espada lá e peguei meu escudo sobre a mesa, cacei as sapatilhas prateadas e as enfiei no pé rapidamente.

— Vamos! - Loki disse abrindo a porta da frente enquanto outro retumbar de trovão me fez pular de susto. - Vamos, Diana! - Ele rugiu.

Acordei de um transe e corri para fora junto com Loki, ele segurou um de meus braços e me guiou para a floresta a dentro, galhos chicoteavam meus pés e braços, com certeza ficaria cheio de cortes. O asgardiano me puxava firmemente e me guiava cada vez mais rápido.

— O que está acontecendo? - Gritei para ele torcendo para que me ouvisse enquanto outro barulho ensurdecedor de trovão me fazia pular de susto.

A chuva densa começou a cair e lampejos de relâmpagos clareavam o céu me fazendo tremer de frio.

— Thor... Nos encontrou. 

Ele respondeu ofegante me fazendo tremer mais ainda, todavia dessa vez de pavor.


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