Redenção escrita por mjonir


Capítulo 14
O dia em que a midgardiana ficou doente




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Ponto de vista: Loki

Estava deitado na simples cama da minha cela, jogando um copo para o alto, tentando de alguma forma manter minha mente desocupada, porém ela só viajava pelos cabelos castanhos e volumosos da midgardiana. Maldito momento em que aquela coisa chegou em Asgard e ficou na cela agora vazia a minha frente.

Suspirei tentando manter minha cabeça nos planos e estratégias para sair de Asgard como eu e Diana combinamos. Confesso que fiquei surpreso por ela ter aceitado aquela proposta e por decidir confiar em mim.

Sinceramente eu não faço ideia do que eu sinto por ela, é uma mistura de gratidão, ódio e simpatia. Eu nunca tinha conhecido alguém tão abusada como Diana e isso acaba me intrigando de todas as formas.

O tédio está me consumindo dentro dessa cela e ultimamente meu humor não é dos melhores. O maldito baile está se aproximando e a midgardiana está metida nisso ajudando a Lady Sif, queria saber o motivo de Odin permitir todo esse teatro do Thor com a humana aqui. Além disso, ela parece ter muito crédito com o Rei, afinal eu tenho saído da cela, passeado com ela por aí mesmo morrendo de tédio, vendo seus treinos que não são tão ruins assim, todavia o que mais me interessa em sair dessa cela é ir para a biblioteca.

Posso dizer que esse tempo em que passei lá com a midgardiana tentando de alguma forma ensinar ela a ler runas, contando histórias sobre Asgard e os nove reinos da Yggdrasil foi o que não me deixou completamente maluco, afinal se passasse mais tempo preso, tenho certeza de que minha sanidade iria parar em Helheim.

Vocês estão vendo? Meus pensamentos sempre voltam pra maldita dos olhos castanhos e do sorriso contagiante, ela sempre dá um jeito de fazer piada com as coisas, ou de fugir. É meio difícil deixá-la sem palavras e senti um prazer enorme quando ela fugiu da biblioteca no dia em que toquei em seus hematomas de luta.

A personalidade de Diana fica completamente visível enquanto ela luta com Sif e principalmente quando atira com o arco e flecha, uma ruguinha esquisita fica em sua testa mostrando o quanto ela está concentrada, isso me diverte. Diana é uma bagunça por dentro, porém organizada por fora, é algo raro e completamente ridículo eu admitir isso, mas eu a admiro, nem que seja um pouquinho.

O soldado que geralmente me leva para a biblioteca passou perto de minha cela e eu me levantei pensando que estava na hora de sair daquela lata de sardinha. Ele passou direto indo conferir a cela dos outros prisioneiros e eu bufei, quando o mesmo deu meia volta e passou perto novamente eu perguntei:

— Já está na hora de me tirar daqui, não acha? – Carreguei minha voz com sarcasmo.

Ele dirigiu seus olhos pra mim, apertou os lábios fazendo com que suas bochechas rechonchudas se mexessem, ele pôs uma de suas mãos sobre a barba grande e escura de seu queixo e respondeu:

— Não, eu não recebi ordens de levá-lo a biblioteca hoje.

Como é? Então quer dizer que Diana vai ficar com esse joguinho de fugir de mim só porque repousei minhas mãos nela, se for assim, tudo bem, ela sabe o quanto eu posso incomodá-la, ou ignorar, afinal sou eu que estou preso.

— Sabe me dizer o porquê? – Esbravejei.

O soldado estava quase saindo do calabouço quando ouviu minha pergunta e se virou, ele coçou a cabeça e se aproximou novamente do campo de força.

— Parece que a midgardiana pegou uma chuva daquelas ontem e está tão febril que anda tendo alucinações.

Meus olhos quase saltaram das órbitas, aquela maldita sempre tem mania de treinar durante as tempestades geladas de Asgard e logo agora que estamos na temporada de chuvas que ficam a cada vez mais fortes e extremamente frias. Para um asgardiano isso não afeta em nada, não é como se fossem adoecer por causa de uma simples chuva, mas como Diana é uma midgardiana frágil e já havia ficado muito tempo exposta outras vezes era de se imaginar que isso aconteceria.

— Ela estava sozinha no treino?

As sobrancelhas do soldado se ergueram, eu sabia o que ele estava pensando: Loki, o ser mais desprezível de toda Asgard se preocupando com uma midgardiana?

É óbvio que eu não estou preocupado... Ahn... É exatamente isso, não estou preocupado com ela, apenas não quero que essa maldita morra porque fizemos um acordo, nós iremos sair de Asgard, eu a mandarei de volta para o lugar desprezível que veio e tentarei de todas as formas fugir daquela sentença de Odin.

— Não, parece que o soldado Aaron estava com ela, afinal ele está meio desesperado tentando ajudar de alguma forma as curandeiras.

Franzi o cenho tentando entender, o soldado loiro estava com ela na chuva e não a forçou sair de lá? Qual é o problema dele? Não sabe que uma midgardiana é frágil?

— O que quer dizer com ‘’ajudar as curandeiras’’? Ele não tem conhecimento de magia, é um soldado.

O barbudo a minha frente assentiu e cruzou os braços.

— Sim, porém parece que nem as curandeiras de Asgard conseguem entender o que ela tem, as alucinações estão ficando piores e sua temperatura cada vez mais alta.

Meus olhos desfocaram e minha cabeça começou a pensar em todas as doenças possíveis que eu poderia conhecer, nunca havia conhecido alguma parecida além de envenenamento, amaldiçoei Diana por ter me contado apenas coisas políticas, físicas e químicas de seu reino, se nem as curandeiras de Asgard conseguiam ajudá-la o que Odin ou Thor fariam se ela morresse aqui? E o nosso acordo, como ficaria?

Não, não, não e não midgardiana, péssima hora para morrer.

O soldado estava quase saindo novamente quando eu esbravejei:

— Me leve até ela!

Ele deu meia volta e se mostrou tão surpreso quanto eu, aquilo saiu mesmo de meus lábios?

— Não tenho ordens para levá-lo...

— Cale-se! Eu posso ajudá-la!

Ele franziu o cenho e eu também, mas o que diabos eu estava fazendo?

Finalmente decidiram me soltar daquela cela e me levar, graças a Thor, afinal o soldado comunicou Odin que não queria permitir de forma alguma que eu ajudasse Diana, porém o futuro Rei de Asgard intercedeu por mim e cá estou eu.

Thor decidiu ficar aqui para me ajudar e o encosto do soldado Aaron não queria arredar o pé de forma alguma, talvez queria mostrar que se importava com a migardiana, todavia se isso fosse verdade ele a teria tirado da maldita chuva.

Pedi que eles colocassem o máximo de cobertores nela para que pudesse ficar aquecida e começasse a transpirar, assim a febre poderia ir embora. Usei um dos chás que aprendi com Frigga para tentar amenizar as alucinações que ela estava tendo.

Diana se mexia freneticamente na cama, seu rosto suado e corado, os lábios rachados e os olhos fechados me preocupavam, eu tinha que fazer alguma coisa para que ela não morresse ali naquele quarto. Estava sendo um desafio e tanto manter a paciência com aquele maldito soldado que não parava de falar e tentar acalmá-la a todo instante.

— Você pode se calar? Ela não vai se acalmar com seus pedidos, são alucinações e Diana está desacordada. - Rugi para ele.

O mesmo me olhou e pude ver em seus olhos o desespero mudo que talvez nos meus também estivessem, porém de forma mais reservada. Eu sabia como esconder muitas coisas, principalmente sentimentos.

— Loki! – Diana sussurrou.

Meus olhos deixaram os de Aaron rapidamente ao ouvir meu nome em seus lábios, uma leve descarga elétrica se apossou de meu corpo, ela estava alucinando comigo.

Cheguei mais perto da cama e passei a mão por seu cabelo suado e bagunçado, peguei o chá e pedi ajuda dos dois sentinelas para segurá-la. A luta para que ela bebesse e não acabasse morrendo engasgada me fez transpirar, porém quando o líquido na caneca de ouro maciço acabou, pude me sentir um pouco mais tranquilo, ela iria melhorar.

Devagar suas alucinações foram parando, apesar de sempre repetir a mesma palavra: Loki.

— Frigga! – Ela se agitou novamente me fazendo franzir o cenho por ter sussurrado o nome de minha falecida mãe.

Eu levantei da poltrona vermelha que continha em seu quarto, estávamos só nós dois lá, Thor tinha que resolver seus assuntos e ele levou Aaron junto para que pudesse descansar e lamentar-se longe de mim  antes que eu arrancasse sua língua.

— Shhhhhh, descanse, midgardiana abusada.

Olhei para seu rosto que voltava a ficar sereno, seus cabelos emaranhados e grudados na testa por causa do suor. Minhas mãos criaram vida própria e foram parar em sua testa morena, passei a mão por toda a extensão de sua testa e acariciei seus cabelos tentando de alguma forma arrumar o redemoinho que havia ali.

Quando decidi que ela estava dormindo novamente e da forma mais serena de todas, voltei a me sentar na poltrona vermelha e cruzei os braços podendo finalmente cochilar. Era bom saber que nenhum guarda entraria por aquelas portas e me levaria para a cela pelo menos hoje e talvez por mais alguns dias se a midgardiana permanecesse doente.

Mais uma vez ela havia me libertado mesmo sem saber disso.

O dia chegou mais rápido do que eu pudera imaginar, os lampejos do sol me acordaram assim como as perguntas irritantes de Aaron sobre o estado de Diana. Thor me lançava uns olhares como se estivesse pedindo desculpas por todo aquele interrogatório, mas eu tentei de todas as formas manter a paciência.

— Tem certeza de que ela está melhorando? Seus lábios continuam rachados...

— Já chega soldado! – Grunhi.

— Ela está bem? – Sussurrou Thor.

— Por que ela estava na chuva, soldado Aaron? –Perguntei tentando lembra-lo de quem era a culpa.

— Ela estava treinando, meu senhor.

— Está febril, seus lábios rachados e o rosto corado, você deveria ter tirado ela de lá. –Grunhi

— Sim, senhor. – Aaron suspirou.

— Não é hora de culpar ninguém, meu irmão. – Thor disse me fazendo suspirar, ele não é meu irmão.

Diana se remexeu na cama atraindo minha atenção, será que estaria tendo outra alucinação? Ela respirou fundo e soltou um ‘’Ai’’ e abriu os olhos, soltei um suspiro baixo de alívio, eu havia conseguido trazer ela de volta.

Aaron quase pulou em cima dela me fazendo revirar os olhos e soltar um silvo de indignação, as mãos grandes de Thor vieram parar em meus ombros, eu queria conversar com a midgardiana, examiná-la para saber se estava realmente bem. Parece que mais uma vez minha mãe havia me salvado.

— O que houve comigo, Aaron? – Ela disse com a voz rouca

— Você adoeceu, é isso que houve. Está desacordada por dois dias. – Respondi azedo.

— O quê?

Ela disse se levantando da cama, rapidamente eu pus minha mão sobre seus ombros e a empurrei assim como Thor e Aaron.

— Deite-se! – Dissemos juntos enfatizando a palavra.

— Você precisa descansar, Diana. – Disse Thor.

— Nada de treinos até melhorar e sem brincadeiras na chuva, mocinha. – Aaron a repreendeu como se fosse o pai dela, revirei os olhos de novo.

— Faltou às nossas aulas e quase morreu por causa de uma... Uma... Eu não sei como chamam essa maldita doença em Midgard. –Grunhi.

Ela soltou uma risadinha me deixando mais bravo ainda.

— Gripe? Ou talvez hipotermia, deve ter sido isso. – Soltou como sempre de forma irônica.

— Sua midgardiana abusada, quase vai para Helheim e ainda sorri dessa maneira. – Esbravejei.

Ela franziu o cenho, seus olhos se perderam em pensamentos, eu gostaria de saber o que se passava naquela cabeça maluca.

— O que... O que está fazendo fora da cela? – Ela levantou as sobrancelhas.

— Você perdeu muita coisa nesses dois dias, midgardiana. –Sorri debochado.

Ela fez uma careta pra mim e soltou uma palavra que havia visto nos dicionários asgardianos, o que me surpreendeu.

— Jerk! – Disse fazendo uma careta irônica

Tentei de todas as formas lhe mostrar uma expressão de raiva, porém a surpresa e o pequeno orgulho por ela estar aprendendo algo tomou conta de minhas feições.

— Midgardiana abusada. – Vociferei escondendo o riso.

— Você não sabe o quanto. –Ela suspirou se arrumando na cama.

Thor percebeu o clima esquisito entre nós e decidiu levar Aaron para fora do quarto, finalmente aquele ser fez algo que presta.

Quando eles finalmente saíram soltei uma risadinha que a contagiou.

— És uma aluna horrível que falta às aulas...

— Mas ainda sim aprendo, e bem rápido, não é mesmo, Jerk? – Ela rebateu me fazendo sorrir.

— Não posso negar. –Admiti e seu sorriso luminoso apareceu.

Eu não faço ideia do que está acontecendo dentro desse quarto, mas parece que desde o dia em que a conheci até aqui eu tenho sorrido mais vezes do que o normal, ou me irritado mais ainda e tendo pensamentos homicidas, é frustrante tentar entender essa midgardiana abusada, mas eu odeio ficar sem respostas para minhas perguntas e a que mais tem me incomodado é:

O que Diana está fazendo comigo?


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