Não sei se foi por ter passado três noites horríveis em sofás, mas eu havia dormido muito bem aquela noite, era como se meu corpo tivesse realmente descansado de uma longa maratona. Acordei antes das sete horas e fiquei muito feliz em constatar que estava sozinha na cama, os travesseiros estavam no mesmo lugar da noite passada. Levantei e caminhei em direção a janela e assim que abri as cortinas pude admirar a vista do que aparentemente era um jardim nos fundos com uma piscina, que parecia não ter borda no limite do terreno proporcionando uma bela vista do bosque e dos prédios do centro ao longe. O loiro sem dúvida tinha escolhido uma excelente localização para morar.

Fiz minha higiene e troquei de roupa, após terminar de me maquiar arrumei minha bolsa e guardei os cartões que ele tinha me dado no dia anterior dentro da carteira, talvez aproveitasse meu tempo livre gastando o dinheiro dele. Quem sabe se desse prejuízo ele acabaria logo com esse casamento. Sai do quarto e observei melhor o caminho que tinha feito no dia anterior e tenho que admitir que a decoração era de bom gosto. Era possível notar espalhado pela casa todo tipo de eletrônico de última geração.

Segui o caminho que a empregada fez na noite anterior e pude ver a sala de jantar, e estranhei por não ver o café servido. Fui em direção a um pequeno murmúrio que foi aumentando e encontrei três dos empregados que tinham se apresentado na noite anterior conversando no balcão da cozinha. Assim que me viram dois deles ficaram em silencio e se colocaram mais eretos.

— Bom dia senhora Mellark. – a mais velha, se aproximou com um leve sorriso, era muito estranho ser chamada pelo sobrenome dele.

— Bom dia. – ia perguntar do café quando notei que a mesa redonda da cozinha estava posta com uma variedade considerável de pães, bolos e sucos.

— Peeta costuma tomar café aqui na cozinha, ele nunca utiliza a sala de jantar pela manhã. – explicou vendo meu olhar. – Se a senhora preferir podemos preparar tudo na outra sala em instantes. - tomar café na cozinha com os empregados me olhando não era algo que pretendia, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa o loiro entrou pela porta de vidro que pelos meus cálculos dava para o jardim dos fundos.

— Não há necessidade Mags. – ele sorriu e se aproximou de mim beijando meu rosto – Katniss não se importa em tomar café aqui não é querida? – odiava quando ele me chamava de querida, ainda sim sorri.

— Não tem problema nenhum. Parece... Agradável. – sabia exatamente o que ele estava fazendo e não iria cair nesse joguinho, não iria começar uma discussão logo nas primeiras horas da manhã, além do mais após um rápido café iria sumir do mapa pelo máximo de tempo possível e aproveitar a solidão longe daquele homem irritante, então me sentei para a primeira refeição do dia e o observei rapidamente, aparentemente ele tinha feito algum tipo de exercício já que usava um short e uma camiseta para esse tipo de ocasião. – Já tomou café querido? – perguntei vendo ele aceitar um copo com o que parecia uma vitamina e tomar um gole sem se dar o trabalho de sentar a mesa.

— Se der tempo como algo antes de sair, achei que dormiria até mais tarde então excedi no tempo de exercícios.

— Se der não, você vai comer meu jovem. Nunca vi tentar tanto se esquivar do café da manhã como você faz. – o vi levantar a mão em rendição.

— Sim senhora Dona Mags, aliás você vai ficar aqui hoje?

— Vou ficar até sexta-feira.

— Delly deve estar irritadíssima. – ele parecia se divertir com a informação.

— Ela pediu para avisar que vai querer a mesma gentileza da sua parte no ano que vem quando se casar.

— Claro que ela vai, na verdade sei que ela vai querer mais do que uma semana, mas o que me surpreende é ela não pedir para que fique na casa dela durante a próxima semana.

— Se não fosse a Annie talvez ela pedisse.

— Verdade, mas falando em gentileza Katniss comentou que adoraria aprender a cozinhar não é amor?

— Eu? Aprender a cozinhar. – só podia ser uma brincadeira ele não poderia estar falando serio.

— Não precisa ficar sem graça, tenho certeza de que Mags não se importaria de ajudá-la com isso, aliás, ela faz a melhor torta de maçã que já comi na minha vida.

— Ah sim, deixa sua mãe e Annie escutarem isso.

— Enquanto não estiver falando do bolo de carne estou seguro. – ela riu e fiz o meu melhor para não revirar os olhos com toda aquela interação entre eles.

— Irei adorar ensiná-la algumas coisas, fico feliz em ajudar.

— Obrigada. Vontade não de aprender não me falta. – menti. – Mas talento na cozinha não tenho nenhum.

— Sei que você consegue aprender. É melhor eu ir tomar um banho. – ele tomou o resto da vitamina – Obrigado Marian.

Assim que ele saiu o silêncio acabou tomando conta do ambiente, e fiquei tentando entender aquela conversa entre os dois por um tempo eles pareciam próximos para uma empregada e um patrão. Sem contar essa história de que queria aprender a cozinhar que não tinha o menor cabimento, em toda minha vida nunca tinha colocado uma panela no fogo.

— Gostaria de mais alguma coisa?

— Não, estou bem. Você trabalha a muito tempo com Peeta?

— Eu comecei a mais de nove anos, quando ele estava na faculdade era diarista de alguns apartamentos de universitários da Gates, foi quando Effie entrou em contato e me pediu para cuidar do pequeno apartamento que ele morava com a  Delly. Ela estava preocupada os dois já que eles eram jovens e estavam deixando suas asas. – ela sorriu de leve com a lembrança. - E quando eles se mudaram acabei indo junto como mensalista foi nessa época que conheci, Annie que tinha ido morar com eles por conta da empresa e tudo mais. Isso até os dois se formarem e se mudarem do Distrito 3 e cada um ter sua própria casa, os três queriam que trabalha-se com eles, mas eu não poderia escolher então me divido entre as três casas.

— Então você voltou a ser diarista? – ela me olhou por um instante antes de negar com a cabeça.

— Não exatamente, eu cuido deles e para que tudo esteja em ordem. Os três tem um acordo por assim dizer. Estou aqui duas vezes por semana sem falta, claro que existe exceções como vocês iriam chegar ontem fiquei aqui para me certificar que tudo estivesse em ordem e vou passar a semana, tudo é um acordo entre eles. Contudo, na minha ausência Marian cuida muito bem das coisas. – basicamente ela estava ali porque os três irmãos não sabiam abrir mão de nada.

— Interessante. – terminei o café tranquilamente e assim que terminei aproveitei para perguntar algo que tinha vindo na minha mente naquela manhã. – Você saberia me informar onde estão as chaves do meu carro? Não encontrei nas minhas coisas.

— Nenhum carro veio junto com suas coisas.

— Como não, minha irmã iria providenciar para que o trouxessem junto com minhas coisas.

— Não sei o que pode ter acontecido, mas sei que Peeta providenciou um carro para seu uso. – claro que ele tinha providenciado.

— Certo, e onde está a chave?

— Está comigo senhora. – o rapaz que foi apresentado na noite anterior do qual não lembrava o nome naquele momento falou e quis revirar os olhos. – Estou a sua disposição para ir a qualquer lugar.

— Não será preciso. Eu mesmo vou dirigindo. Odiaria tirá-lo do serviço com Peeta.

— Na verdade vou estar trabalhando exclusivamente com a senhora. – aquilo era ridículo até mesmo para meu suposto marido e olha que a apenas alguns minutos ele tinha levantado o assunto do meu suposto interesse em aprender a cozinhar.

Sabia que não adiantaria falar com um empregado, então me levantei e caminhei em direção ao quarto para falar diretamente com o responsável por aquilo. Por mais que tivesse acordado disposta a não me entrar no joguinho dele e discutir logo nas primeiras horas do dia aquilo era demais para aguentar calada. Assim que abri a porta pude ver o loiro abotoando o botão da manga da camisa tranquilamente.

— Que história é essa de motorista?

— Vejo que Darius se disponibilizou a levá-la seja lá onde você deseja ir. - comentou levantando a gola e pegando a gravata em seguida.

— Quero meu carro, Mellark!

— Você tem um carro e um motorista, está no lucro não sei o motivo de tanto drama. – a calma dele enquanto dava o nó na gravata em frente ao espelho estava me deixando ainda mais irritada, ele não tinha se dado ao trabalho de olhar na minha direção.

— Eu quero o meu carro, sem motorista sei muito bem dirigir e não preciso disso. Diga a esse rapaz que ele vai trabalhar pra você.

— Ele já trabalha pra mim, e é ótimo, aliás. Tenho certeza que você nem vai notá-lo por perto acredite ele foi escolhido a dedo para cuidar do seu transporte. – foi então que tudo fez sentido.

— Você esta pagando ele para me vigiar.

— Não, estou cuidando do bem estar da minha esposa. – ele se virou na minha direção o nó da gravata feito com perfeição. – Agora se você acha que tenho motivos pra vigiá-la isso já não é comigo. Entretanto, sei que Darius ira atender minhas chamadas e informar onde ele realmente está sempre que desejar saber.

— O que acha que vou fazer? Você já tem a droga do contrato que me prende a várias cláusulas, por que precisa vigiar meus passos? E essa história de que quero aprender a cozinhar? Você tem empregados para providenciar suas refeições não vou perder meu tempo dentro de uma cozinha.

— Entenda que não tenho que dar explicações, mas sim você vai utilizar parte do seu tempo vago dentro da cozinha tentando parecer uma boa esposa, acredite Katniss isso não vai matá-la na verdade talvez faça de você uma pessoa um pouquinho. – fez um sinal mínimo com o polegar e o indicador. – Melhor, embora acredite que isso seja muito difícil. Sobre o motorista ele vai estar a sua disposição e levá-la onde quiser ir, mas você não vai sair sem ele e só para avisar não perca seu tempo tentando. Me preocupo com segurança ainda mais no mundo de hoje e Brutus faz um trabalho excelente na segurança dessa casa. Mas considere tudo isso como um beneficio de ser como sua mãe diz mesmo? - ele fingiu pensar por um momento – Ah, sim esposa de um grande empresário.

— Por que você esta fazendo tudo isso afinal? Está esperando um pedido de desculpa pela brincadeirinha que fiz a 10 anos?

— Estou fazendo porque quero e porque posso fazer, não é assim que funciona? Os mais fortes determinando o que querem quando querem? – de alguma forma o modo como ele falou me lembrou da noite da festa.

— Você não passa de um garoto mimado. – ele deu um passo na minha direção e prendi a respiração por um momento, estávamos mais próximos do que gostaria, contudo o loiro apenas esticou o braço e pegou o terno na cama atrás de mim se afastando em seguida com um sorriso sínico nos lábios.

— Não me importo nem um pouco com o que você acha. – colocou o terno e se olhou no espelho uma ultima vez. – Agora tenho que ir, nos vemos na hora do jantar.

Como se a conversa estivesse encerada ele saiu do quarto, respirei fundo tentando manter a calma, fiquei um tempo no quarto tentando assimilar toda aquela situação, aquela casa e todos aqueles empregados, o motorista me acompanhando, o lembrete sobre o segurança tudo era para que me sentisse vigiada. Peeta Mellark havia providenciado uma verdadeira prisão de luxo.

Assim que sai do quarto pude ver pela janela do corredor o carro dele saindo da propriedade. Se Peeta Mellark achava que seria o tipo de esposa que acata tudo a seu bel-prazer estava muito enganado. Ele queria uma esposa de um empresário de renome ele iria ter a pior delas, havia visto muito do comportamento da minha mãe para saber como fazer esse papel, peguei meu celular e busquei rapidamente o número que queria na agenda.

— Alô, mãe.- ela respondeu animada do outro lado. – Chegamos ontem à noite, Peeta precisava estar na empresa hoje. Estou ligando para convidá-la para fazer compras, o que acha? – como esperado ela se animou rapidamente. – Te encontro no shopping. – era hora de testar o limite dos cartões de crédito.