Entre uma de suas definições casamento nada mais é do que a união voluntaria entre duas pessoas. Obviamente que existem outras definições sem contar com os diversos tipos de união que levam a esse ritual entre duas pessoas. Basicamente são duas pessoas unidas por um vinculo. Normalmente algum sentimento afetivo, mas nem sempre é assim. Em algumas culturas o casamento ainda é feito entre desconhecidos, ligados apenas por suas crenças e famílias, em algumas o homem pode até mesmo ter mais de uma esposa. Mas isso é em outro continente, outra cultura, Panem como a maioria considera o casamento algo monogâmico.  

Supostamente meu casamento era uma união voluntaria, supostamente em menos de uma hora eu estaria me unindo a um homem que eu amava. A verdade é que me sentia como uma rebelde que não aceita sua própria cultura, mas que é obrigada a se casar com um estranho. Peeta Mellark era realmente um estranho e não fazia ideia de onde ele queria chegar com toda essa historia de casamento.

— Você está tão linda Katniss. – Pude ver o sorriso da minha irmã pelo reflexo dela no grande espelho que colocaram na suíte do hotel onde tinha tido meu dia de noiva.

— Obrigada. – Mesmo se não fosse o tipo de pessoa confiante com minha aparência teria que concordar que estava linda.

Confesso que não tinha o menor interesse em escolher meu vestido de noiva, até que Prim se ofereceu a ir comigo. Desde a conversa na casa dos meus pais sobre o acordo pré-nupcial minha irmã estava mais envolvida nos assuntos referentes ao casamento e no dia seguinte ela ficou indignada por eu ainda não ter um vestido faltando tão pouco para a cerimônia.

Prim era jovem e ainda sim já fazia o estilo romântica incorrigível, minha irmã acreditava no amor e em toda felicidade que ele pode trazer enquanto eu, bem nunca fui de acreditar nesse sentimento, e isso só piorou após o fim desastroso do meu noivado anterior. Mas eu precisava fingir ser a noiva apaixonada, que estava se casando as presas por não conseguir viver sem o companheiro, então saímos em busca do que minha irmã chamava de vestido perfeito.

Normalmente eu teria mandado fazer um modelo exclusivo, mas em vez disso fui a uma loja de noivas bem conceituada na Capital. Não queria valorizar a ocasião com algo feito sob medida para a data, mas não iria passar vergonha usando qualquer coisa. A maioria dos vestidos que vi assim que entramos era no estilo tradicional, lindos confesso, mas eu buscava algo mais e foi então que eu o encontrei. Corte sereia, um decote ligeiramente chamativo em V, todo detalhado em renda. Era perfeito e serviu em mim como uma luva quase como se tivesse sido feito para mim.

— Não acredito que minha filha mais velha vai se casar. – Minha mãe estava totalmente emocional, e não entendia o motivo. – Depois do Gale, achei que esse dia nunca chegaria.

— Mãe! - Prim meneou a cabeça rapidamente e tentei fingir não ter ouvido o ultimo comentário. – Está nervosa? Precisa de algo?

— Estou bem, não se preocupe. - Batidas na porta chamaram nossa atenção e minha irmã logo se disponibilizou em abrir a mesma.

— Você esta uma madrinha adorável. – Reconheci a voz da minha futura sogra e respirei fundo me preparando para o que poderia vir.

— Obrigada Sra. Mellark. – Continuei olhando meu reflexo no espelho e foi por ele que vi a matriarca dos Mellark, em um vestido elegantíssimo entrar no quarto. Virei em sua direção com meu melhor sorriso a cumprimentando em seguida.

— Você esta muito bonita Katniss, um pouco menos tradicional do que imaginei, mas muito bonita. – O vestido era de fato pouco tradicional, já que em algumas partes do tecido era ligeiramente transparente, além de muito colado sem contar com o decote. Sem duvida não era um vestido para ser usado em uma cerimônia religiosa.

— Foi amor a primeira vista. E como não vamos casar no religioso. – Justifiquei e ela sorriu ligeiramente.

— Estava indo até a suíte do Peeta para descermos, e acabei resolvendo passar por aqui. Podemos trocar duas palavrinhas por um instante?

— Claro.

— Mamãe acho que seria melhor irmos procurar o papai. – Minha irmã sugeriu e sorri em agradecimento.

— Mas ainda faltam alguns minutos, ele ficou de vir até aqui.

— Acho melhor irmos verificar se ele não precisa de ajuda, é a primeira filha casando, nunca se sabe não é.

— Está bem. – Minha mãe saiu ligeiramente contrariada e assim que ouvi a porta fechar me virei em direção a minha quase sogra indicando o sofá.

— Não obrigada, vou ser rápida. – Sabia que ela não gostava de mim, e durante os momentos que passamos juntas organizando o casamento senti o quanto ela me observava. Era como se quisesse falar algo o tempo todo. – Não tinha certeza se chegaríamos de fato aqui, nesse momento. Quando Peeta me disse que vocês estavam juntos eu quase não acreditei, e acreditei menos ainda quando em seis semanas vocês estavam noivos. Tudo foi tão rápido que confesso que desejei muito que não chegássemos aqui. Que ele mudasse de ideia.

— Sra. Mellark...

— Eu sei o que você fez dez anos atrás. – Ela continuou como se não tivesse me ouvindo. - Acho que sei o tipo de mulher que você é. Digo acho porque não gosto de acusar ninguém sem provas, mas de alguma forma não consigo engolir essa historia de reencontro e amor reprimido. Cheguei a cogitar que você estivesse grávida, mas meu filho garantiu que não e pelo que vejo você realmente não esta. O que me faz ficar pensando no motivo de tanta presa. – Não tinha ideia de onde ela queria chegar com aquela conversa, então esperei que ela continuasse. - Minha família é tudo entende? Mas meus filhos são a minha vida eu faria qualquer coisa por eles. – A voz dela estava seria e seu olhar estava encarando os meus como quem busca ler alguma coisa, era como uma leoa defendendo seu filhote. – Eu não aprovo essa união, Peeta sabe disso, assim como sabe que mesmo não aprovando eu vou entrar com ele naquele salão e vou recebê-la na minha família, porque você foi a escolha dele e meu marido e eu criamos nossos filhos para que tomassem decisões certas e não vamos interferir nelas ao menos que se faça extremamente necessário.

— Então a senhora não aprova, porém não vai impedir, mas...

— Eu não vou me meter no casamento de vocês, não se preocupe. Mas eu vou estar atenta, acredite nunca desejei tanto estar errada em relação a alguém como estou desejando estar errada sobre você. Porém enquanto isso eu vou estar atenta, porque acredite se você fizer qualquer coisa que possa magoa-lo dessa vez você terá que se preocupar comigo.

— Acho que estamos começando com o pé errado Sra. Mellark, o que aconteceu naquela festa foi uma brincadeira de péssimo gosto. – Sorri ligeiramente, tentando parecer sincera embora não acreditasse naquela conversa que estávamos tendo. Peeta não era uma criança para a mãe dele vir me “alertar”. Sem contar que ele estava praticamente me obrigando a casar com ele, não o contrario.

— Não quero saber o que foi para você os acontecimentos daquele dia. Acredite eu não me importo. Estou aqui para que você tenha certeza do que vai fazer em alguns instantes. Acredite se você não entrar naquele salão não vou lamentar nem um pouco, mas se você for entrar quero que saiba que embora eu trate você com educação eu não me esqueci do que você fez naquela época e que não acredito nem um pouco nesse amor.

— Eu vou entrar naquele salão e me casar com Peeta e acredite se nos separamos um dia será uma decisão dele, não minha.

— Você esta avisada. Nos encontramos no salão. 

Não havia gostado nem um pouco dessa breve visita, odiava ver o quanto ela parecia se importar com ele, mesmo não sendo filho dela de verdade. Estava odiando cada vez mais aquela família. Fui tirada dos meus pensamentos com a entrada do meu pai no quarto e agradeci pela organizadora estar junto com ele. Desde nossa conversa não tínhamos ficado sozinhos, eu havia evitado ele ao máximo então após um elogio e algumas palavras aleatórias sobre amenidades do dia a dia. Fomos avisados que estavam todos prontos e que estava na hora de descer.

Olhei uma última vez meu reflexo no espelho e respirei fundo antes de pegar o buque de rosas vermelhas e sair em direção ao salão. A maioria das mulheres pelo menos uma vez na vida já pensou em como seria esse momento, não importa se foi durante a infância, quando conheceu uma pessoa especial, quando se apaixonou pela primeira vez ou até mesmo durante algum casamento. E comigo não tinha sido diferente, eu havia sonhado com esse momento por muito tempo mais vezes do que iria assumir  e de certa forma não pude evitar pensar que era mais uma coisa que o Mellark estava tirando de mim. Já que nada era de fato como eu tinha sonhado um dia.

— Esta pronta? – Se eu fosse sincera diria ao meu pai que não, mas eu não podia então me limitei a acenar positivamente com a cabeça e colocar um dos meus sorrisos falsos antes que os primeiros acordes da Marcha Nupcial fossem ouvidos e as portas duplas serem abertas. O salão estava muito bem decorado e a maior parte das poucas pessoas que estavam ali pareciam felizes, por fazer parte desse momento. Se elas soubessem.

O noivo estava de costas quando comecei a entrar se virando apenas quando cheguei à metade do tapete vermelho. O sorriso sínico no rosto, usando um terno preto com corte perfeito, colete, gravata slim e um lenço branco na lapela. Peeta Mellark era um excelente ator e sorriu ainda mais quando cumprimentou meu pai e beijou minha mão antes de ficarmos de frente ao juiz. A cerimônia foi curta embora o juiz tenha falado um pouco mais do que em uma cerimonia civil dentro de um cartório, eu quase não prestei atenção.

— Katniss Shrader Everdeen aceita Peeta Abernathy Mellark como seu legitimo marido?

— Aceito. - Minha voz falhou ligeiramente, mas não me importei às pessoas provavelmente associariam a emoção que normalmente toma conta das noivas em geral.

— Peeta Abernathy Mellark aceita Katniss Shrader Everdeen como sua legitima esposa?

— Aceito. – Diferente de min não havia nenhuma hesitação na voz dele. Trocamos as alianças e usamos os votos padrão.

— Pelo poder a mim concedido eu os declaro marido e mulher, pode beijar a noiva.

Esperei por um daqueles selinhos castos, como o que ele me deu no meu escritório, mas ao invés disso ele beijou meus lábios com mais intensidade, e fiquei sem reação por um instante quando senti sua língua pedindo passagem e sem muita escolha entrei nessa pequena dança entre nossos lábios, até ouvir os aplausos dos convidados.

Ele pegou minha mão e saímos do salão em direção a uma pequena sala que ficava em frente onde a organizadora estava nos esperando juntamente com um dos fotógrafos que nos guiou até o jardim do hotel onde tiramos algumas fotos.

— Vou me certificar que todos estão prontos para a entrada de vocês. – A organizadora saiu nos deixando sozinhos e não demorei a me afastar dele.

— Ousado seu vestido.

— Não me diga que tem uma clausula para as roupas que tenho que vestir?

— Não, não tem. Foi só um comentário. Seu vestido não me surpreendeu você é do tipo que gosta de chamar atenção, obviamente não usaria um vestido tradicional não é mesmo? Alguns profissionais provavelmente diriam que é devido a falta de atenção em casa. Isso faz com que você tenha necessidade de chamar atenção de todos os outros. De querer ser o centro do universo em uma tentativa falha de suprir suas frustrações.

— Isso é ridículo.

— Se você acha.

— Até onde eu sei, você é um empresário não um terapeuta. – Como eu odiava aquele homem e não fazia nem meia hora que estávamos casados.

Não demorou para que seguíssemos até o salão onde a recepção aconteceria e todos já nos esperavam, e durante as horas seguintes tentei sorrir para todos como uma noiva feliz me movimentando pelo salão ao lado do loiro, cumprimentando os convidados e seguindo as tradições.

— Onde vai ser a lua de mel? – Flavius que era um dos meus convidados perguntou curioso. – Aposto que na Europa. Nenhum lugar no mundo é mais apropriado para dois jovens apaixonados e recém-casados.

— Terei que ficar devendo a minha belíssima esposa uma lua de mel mais apropriada, as coisas na empresa estão corridas demais então não vamos sair de Panem.

— Oh! Que pena, mas vão viajar não é?

— Vamos sim, Distrito 4.

— Já estive lá é lindo, praias maravilhosas, mas duvido que você vão se interessar por elas... - Mantive o sorriso nas lábios embora minha cabeça estivesse longe tentando descobrir até onde ele iria com aquele teatro todo.

O DJ anunciou a valsa dos noivos e como já era esperado ele fez seu papel com mestria me conduzindo pela pista. Em seguida foi a vez do meu pai, nunca tínhamos dançado juntos e eu sabia que ele não era o melhor dançarino então nos limitamos a suaves movimentos de um lado para o outro enquanto Effie e Peeta pareciam se divertir.

— Foi tudo tão lindo. Você vai ser tão feliz filha. – Minha mãe se aproximou enquanto eu colocava o vestido em cima da cama e segurou minha mão. Depois das fotos, do brinde e de algumas danças a mais era hora de ir então eu tinha ido trocar de roupa. – Você tem tanto sorte, olha essa aliança que linda. Peeta se superou e olha que depois do anel achei que seria difícil. – Confesso que era uma bela joia, mas eu também sabia que não era da beleza que mamãe estava falando.

— Mãe deixa a Katniss ir. – Sorri para minha irmã em agradecimento. – Eu guardo seu vestido depois, seu marido esta te esperando.

Concordei com a cabeça e a abracei forte, não tinha a menor ideia de como seria minha vida dali para frente, e parte de mim não queria descobrir ainda sim eu não tinha outra escolha a não ser ir ao encontro do meu marido.