O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Já que todos sobreviveram ao nascimento das gêmeas (hehehehe), vamos de capítulo seis. Boa leitura...



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Por Hur

 

Minha vontade é ficar o resto de minha vida assim, apenas olhando para Henutmire e nossas filhas... Jamais imaginei que pudesse sentir tamanha felicidade, impossível de se descrever. Quando Uri nasceu, senti que meu filho era a continuidade de mim. Mas, ao olhar para minhas filhas e compreender o milagre que é a sua existência, sei que não são apenas continuidade de mim. São provas vivas do meu amor por Henutmire. Quando não estivermos mais aqui, elas mostrarão que o nosso amor foi maior e mais forte que tudo e todos, fazendo assim com que ele jamais deixe de existir.

 

Henutmire fez questão de ela mesma dar de mamar a nossas filhas, afirmando que isso seria algo que a deixaria ainda mais próxima das duas meninas. No ínicio, teve um pouco de medo, pela falta de prática, mas se saiu bem. Talvez seja um dom que as mulheres possuem: saberem cuidar do primeiro filho como se já houvessem cuidado de outros dez.

 

—Estranho Ramsés ainda não ter vindo me ver. — Henutmire fala.

 

—Quando saiu de seus aposentos, o sumo sacerdote disse ao soberano que precisava lhe falar sobre um assunto importante e os dois foram para a sala do trono. — Falo. — Tem certeza que está bem?

 

—Melhor impossível. — Ela sorri, olhando para nossas filhas dormindo ao seu lado, cercadas por almofadas que fazem um macio e aconchegante ninho para elas.

 

—O que houve? — Pergunto ao ver que Henutmire fica triste de repente.

 

—Eu sinto que meu coração vai transbordar de felicidade, mas ainda assim não consigo deixar de me entristecer ao pensar em Moisés. — Henutmire dá um pequeno sorriso. — Fico imaginando meu filho segurando as irmãs nos braços, sorrindo para elas, compartilhando comigo a alegria deste momento.

 

—Não fique assim, meu amor. — Falo, acariciando seu rosto com carinho. — Tenho certeza que Moisés irá conhecer suas irmãs, algum dia.

 

—Será, Hur?

 

—Não perca a esperança. Moisés há de voltar para você, para todos nós. — Sorrio e olho para minhas filhas. — Os deuses nos deram duas lindas meninas, para que possa dar a elas todo o amor de mãe que está guardado dentro de você.

 

Noto que minhas palavras tocam Henutmire. Ela nada diz, apenas me olha e sorri. Sei o quanto minha esposa sente a falta de seu filho. Se for necessário, ela esperará por Moisés até o fim de sua vida, mas tem de fazer isso de pé, de cabeça erguida e sem medo de encarar a realidade. Ela precisa ser forte, como a princesa que é.

 

Ouço as portas dos aposentos se abrirem e logo Leila, Uri e Bezalel entram por elas. Meu neto se adianta e é o primeiro a chegar até a cama, olhando com curiosidade para os bebês em cima dela.

 

—Qual deles é o bebê da princesa, vovô? — Bezalel pergunta.

 

—Os dois. — Respondo e o menino me olha espantado, fazendo todos rirem.

 

—Estas são suas tias, Bezalel. — Henutmire fala.

 

—Duas meninas? — Bezalel pergunta e Henutmire afirma com a cabeça. — Por isso a sua barriga estava tão grande. — O menino novamente nos faz rir.

 

—Certamente. — Henutmire olha para Uri, que se mantinha um pouco a distância. Até Leila já havia se aproximado, mas meu filho não. — Não quer conhecer suas irmãs, Uri?

 

—Claro que sim, senhora. — Uri finalmente se aproxima da cama e olha com atenção as duas meninas. — Como são lindas.

 

—Se parecem com a princesa, não é mesmo? — Leila fala.

 

—Muito. — Uri concorda.

 

—Ainda bem. — Falo rindo.

 

—Hur... — Henutmire me repreende rindo.

 

—Agora o príncipe Moisés tem três irmãs. — Bezalel fala, sentando-se em meu colo.

 

—Três? — Pergunto sem entender.

 

—Sim, vovô. — Meu neto responde e usa seus dedos para contar. — As duas filhas da princesa Henutmire e...

 

—Miriã. — Henutmire fala ao mesmo tempo que Bezalel. — Miriã também é irmã de Moisés.

 

Tento disfarçar o meu desconforto ao ouvir o nome Miriã sair da boca de Henutmire. Vivo assombrado com a remota possibilidade de que um dia minha esposa descubra o que houve entre mim e a irmã hebreia de seu filho. Me sinto péssimo pelo que fiz a Miriã, tanto que jamais tive coragem de voltar a vila dos hebreus e procurá-la, para lhe pedir perdão.

 

—Eu a vi. — Henutmire fala. Não consigo esconder meu espanto. Henutmire e Miriã se encontraram? Como isso é possível? — Já faz algum tempo, foi depois do aniversário de Ramsés.

 

—Onde, senhora? — Leila pergunta.

 

—No Nilo, o mesmo lugar onde eu a vi pela primeira vez, ainda menina. — Henutmire responde. — Ela se tornou uma bela mulher. — Minha esposa olha para mim. — Você a conhece, Hur?

 

—Sim. Digo, eu a vi algumas vezes, quando fui a vila. — Sinto o olhar de Leila sobre mim. Minha nora sabe muito bem que estou mentindo. — É uma boa moça.

 

—Ela é casada? — Henutmire pergunta. Sua súbita curiosidade sobre Miriã está me apavorando.

 

Por Henutmire

 

Noto que minha pergunta faz Hur, Leila e Uri entreolharem-se. Por mais que eu tente, não consigo decifrar o que seus olhares estão querendo dizer. Talvez eu tenha sindo um pouco impertinente ao perguntar tal coisa, mas é que sei tão pouco sobre a família hebreia de Moisés que às vezes me deixo tomar pela curiosidade.

 

—Não. — Leila responde minha pergunta. — Ou pelo menos não era da última vez que fui a vila.

 

—É melhor deixarmos a princesa descansar. — Uri sugere. — Vamos, meu filho?

 

—Quero fazer uma coisa antes. — Bezalel desce do colo do avô, dá a volta ao redor da cama e vem até mim. — Eu posso lhe dar um abraço, princesa?

 

—Claro que pode. — Falo e logo sinto o abraço carinhoso e inocente do menino, assim como era o abraço de Moisés quando tinha a sua idade. Em seguida, Bezalel me dá um beijo no rosto e volta para perto de seu pai.

 

—Eu vou com Uri, preciso resolver uma coisa na oficina. — Hur fala para mim. — Mas, prometo não demorar.

 

—Não se preocupe, meu sogro. — Leila fala. — Eu cuido delas.

 

Hur se despede de mim com um beijo na testa. Uri curva sua cabeça em sinal de reverência, antes de sair de meus aposentos com seu pai e com seu filho. Me acomodo em minhas almofadas, meus olhos pesam, demonstrando o quanto estou cansada. Não foram poucas as forças que gastei para trazer duas vidas ao mundo. Mas, eu faria tudo outra vez, só pela alegria de olhar minhas filhas, dormindo tranquilas e seguras ao meu lado.

 

—Durma um pouco, senhora. — Leila fala. — Irá lhe fazer bem.

 

—Se isso é um sonho, eu não quero acordar nunca, Leila. — Falo com um sorriso, ao passar suavamente a ponta de meus dedos sobre os pequenos e finos cabelos de minhas filhas.

 

—Não é um sonho, senhora. É real e é uma das coisas mais bonitas da vida. — Leila fala ao me cobrir. — Agora durma, precisa descansar.

 

—E você? — Questiono sobre minha dama também precisar de descanso. Ela está ao meu lado desde que comecei a me sentir mal na sala do trono, se ausentou apenas para avisar a Uri sobre o nascimento das irmãs.

 

—Eu estarei aqui quando a senhora acordar. — Leila fala com um sorriso. Correspondo também com um sorriso e logo fecho meus olhos, entregando-me ao sono.

 

Por Paser

 

Temi que a morte estivesse rondando a princesa Henutmire e planejasse levá-la consigo durante o parto, mas eu estive errado. Temi que a princesa não fosse forte o bastante para dar a luz a dois bebês, mas também estive errado. Apesar do desmaio ela está bem, está viva, assim como suas filhas, que são duas meninas fortes e saudáveis.

 

—Mestre, ainda bem que o senhor chegou. Eu não me aguento mais de curiosidade. — Simut fala ao me ver entrar em minha sala. — Como está a princesa? Ela teve mesmo dois bebês, como o senhor pensava?

 

—Sim, Simut, duas meninas. — Respondo com um sorriso. — Ela está um pouco fraca, mas logo irá se recuperar.

 

—Graças aos deuses! — Simut sorri, mas logo me olha, sério. — O senhor estava até agora nos aposentos da princesa?

 

—Não, eu estava na sala do trono com o soberano. — Falo. — Se lembra de Anat, minha sobrinha?

 

—Muito pouco, mestre. — Ele responde. — Não é a filha daquela sua irmã que mora em Aváris?

 

—Ela mesma, Simut. — Falo. — Acabo de receber a notícia de que minha irmã faleceu.

 

—Eu sinto muito, mestre.

 

—Pedi permissão ao soberano para ir a Aváris, para o sepultamento de minha irmã. — Falo. — Quando voltar, trarei Anat comigo.

 

—Ela vai morar no palácio? — Simut pergunta.

 

—Sim, Simut. Pedi ao soberano e ele consentiu. — Respondo. — Sou a única família que restou a minha sobrinha, devo cuidar dela.

 

Por Henutmire

 

Não sei por quanto tempo adormeci, mas quando despertei a noite já começava a cair. Agora, estou sozinha com minhas filhas em meus aposentos. Ainda não tenho forças suficientes para me levantar desta cama, mas fico satisfeita por estar aqui, sentada ao lado delas e zelando pelo seu sono. Nem todas as palavras do mundo podem descrever o que estas duas pequenas vidas significam para mim.

 

—Me disseram que minha irmã me deu duas lindas sobrinhas. — Ramsés fala ao entrar nos aposentos. — Vim conhecê-las.

 

—Está atrasado. — Falo brincando.

 

—Eu vim antes, mas sua dama me disse que você estava dormindo e não quis te acordar. — Ramsés se senta a beira da cama e olha para as duas meninas, maravilhado. — Como elas se parecem com você, Henutmire.

 

—Tenho ouvido muito isso. — Falo rindo.

 

—Que cresçam fortes e soberanas... — Ramsés fala quase num sussurro, tocando levemente a mãozinha de cada uma. — Assim como sua mãe.

 

—Eu não sou soberana, Ramsés, — Corrijo meu irmão. — você é.

 

—Sou o soberano do Egito, mas é você quem tem a soberania de uma rainha dentro de si. — Ramsés fala, me olhando. Não é a primeira vez que meu irmão dá a entender que sou mais merecedora do lugar que ele ocupa do que ele próprio. — Quais nomes deu a elas? — Ele volta seu olhar para as sobrinhas.

 

—Hadany e Tany. — Respondo, mostrando quem é quem.

 

—Escolheu belos nomes, minha irmã. — Ramsés sorri. — Tany... — Ele repete. — É o nome de uma rainha.

 

Escolhi o nome Tany por seu significado, e porque todas noites, quando estive grávida, eu olhava as estrelas, que mesmo tão distantes brilhavam para mim com todo seu encanto. Sequer me lembrei que este era o nome de uma rainha egípcia, de uma antiga dinastia. Conhecida por sua beleza e sabedoria, Tany governou o Egito ao lado de seu marido há mais de quatrocentos anos atrás.

 

—Agora é o nome de uma princesa. — Falo com um sorriso.

 

—Você nos deu um grande susto, Henutmire. Tive tanto medo de te perder. — Ramsés volta a me olhar. — Eu prometi a nossa mãe que cuidaria de você. Se lembra?

 

—Jamais poderia esquecer.

 

Flash back on

 

—Soberano! — Paser entra afoito na sala do trono.

 

—O que houve, Paser? — Ramsés pergunta, preocupado pela forma como o sumo sacerdote aparece em sua presença.

 

—É a rainha Tuya, senhor. — Paser responde.

 

Sinto como se meu coração parasse de bater. Há dias, minha mãe está doente e não apresenta melhora alguma, nem com as fórmulas e cuidados de Paser ou de qualquer outro sacerdote.

 

—Ela piorou? — Pergunto.

 

—Muito, princesa. Infelizmente, não há mais nada que possamos fazer.

 

O choque de receber tal notícia me faz perder as forças nas pernas e eu me desequilibro, todavia Ramsés me segura, impedindo que meu corpo vá de encontro ao chão. Ao olhar para meu irmão, vejo o quanto as palavras de Paser o abalaram. Seu olhar triste se encontra com o meu, que já não brilha com a esperança de que nossa mãe sobreviva.

 

—Nós vamos perdê-la, Ramsés. — Falo, tomada pelo choro.

 

—Você precisa ser forte, minha irmã. — Ramsés me abraça. Sinto uma lágrima cair meu braço, mas não é minha, é de meu irmão.

 

—Ela quer vê-los. — Paser fala.

 

(...)

 

—Eu não podia partir sem me despedir de meus filhos. — Minha mãe fala. Sua voz é baixa e calma como um sussuro.

 

—A senhora não pode nos deixar, mãe. — Falo chorando, ajoelhada a beira de sua cama e segurando sua mão junto a mim.

 

—Eu já cumpri o meu tempo, minha filha. Precisa me deixar ir. — Ela olha para mim. — Me prometa que será sempre forte, sábia e que será feliz. Me prometa...

 

—Eu prometo. — Falo com voz embargada.

 

—Ramsés... — Minha mãe agora olha para meu irmão. — Me prometa que cuidará de sua irmã, que irá protegê-la e que não deixará que nada de mal aconteça a ela.

 

—Eu prometo, minha mãe. — Ramsés fala com voz entrecortada, devido ao choro.

 

—Vocês tem um ao outro e devem permanecer unidos como irmãos que são. Assim, serão fortes para suportar minha ausência. — Ela nos olha e sorri. — Eu posso ir em paz, sabendo que cumpri meu papel como mãe e que deixo meus filhos felizes.

 

—Mãe... — Choro como uma criança que foi arracanda dos braços da mulher que lhe deu a vida.

 

—Não se preocupe, Henutmire. — Minha mãe olha para mim. — Encontrarei seu pai no mundo dos mortos e direi a ele que você o perdoou.

 

Diante de tais palavras, nada mais faço a não ser chorar mais e mais. Eu enfrentei meu pai por amor a Moisés, enfrentei meu irmão e os nobres do Egito por amor a Hur, mas não consigo enfrentar a dor que sinto agora. Estou vendo minha mãe ir embora e eu nada posso fazer para impedir.

 

—Eu os amo muito, meus filhos. — Minha mãe fala e nos dá um último sorriso. Seus olhos se fecham e não ouvimos mais o leve som de sua respiração.

 

—MÃE! — Meu grito ecoa por todo o palácio. Abraço o corpo já sem vida de minha mãe e choro desesperadamente.

 

Flash back off

 

—Você não descumpriu sua promessa, meu irmão. — Falo ao ver uma lágrima rolar pelo rosto de Ramsés.

 

—Não, não descumpri. — Ele concorda. — Mas, agora tenho que cuidar de você e mais duas.

 

—É melhor se preparar. — Falo rindo. — Nossa mãe ficaria muito feliz em conhecer seus netos.

 

—E igualmente surpresa, como estão todos no palácio, por você ter tido duas filhas. — Ramsés ri, mas logo fica sério novamente. — Henutmire... — Ela para de falar e me olha, como se procurasse coragem para continuar. — Você realmente perdoou o nosso pai?

 

—Sim, Ramsés, mas já era tarde demais. — Respondo e baixo meu olhar. — Eu deixei a mágoa falar mais alto e não dei a ele o perdão quando me pediu.

 

—Às vezes, eu penso como seria se ele não tivesse morrido... — Ramsés fala. Vejo o quanto meu irmão sente a falta de nosso pai.

 

—Tudo seria diferente, Ramsés. Você não seria o rei do Egito e não teria se casado com Nefertari. — Falo. — Eu continuaria sendo a princesa, mas não teria me casado com Hur e minhas filhas não existiriam.

 

—Tudo o que acontece tem uma razão, não é mesmo? — Ramsés fala, olhando novamente para minhas filhas.

 

—Sim, meu irmão. — Falo. — Os deuses sabem o que fazem, não devemos questionar sua vontade.

 

(...)

 

—Pode tirar, Leila. — Falo me referindo a bandeja que estava em meu colo. — Sabe onde está Hur?

 

—Suponho que na oficina com Uri. — Leila responde, tirando a bandeja.

 

—Até agora? — Pergunto. É estranho que meu marido esteja dando tanta atenção ao trabalho que não tenha percebido a quanto tempo está naquela oficina. — Ele disse que não iria demorar.

 

—Deve estar resolvendo algo importante, senhora.

 

—Mais importante que sua esposa e suas filhas, que acabaram de nascer? — Falo, demonstrando o quanto estou indignada.

 

Não posso acreditar que Hur esteja dando mais atenção a suas jóias do que a mim, que quase morri para dar a ele duas filhas. Leila fica em silêncio, apenas a me olhar. Sinto que ela sabe o motivo da ausência de meu marido, mas não quer me contar. Ouço um som diferente, baixo e calmo, mas ao mesmo tempo delicado e frágil. Olho para minhas filhas e vejo que o som vem de uma delas, um pequeno gemido que demonstra que está acordando. Aproximo meu rosto e logo um par de olhos azuis se abrem para mim.

 

—Olá, meu amor. — Falo ao pegar minha filha no colo. Me emociono ao ver seus olhinhos inocentes me contemplando.

 

—Esta é...? — Leila pergunta.

 

—Hadany. — Respondo, sem desviar meu olhar da menina em meus braços. — Acha que elas são parecidas uma com a outra, Leila? Digo, físicamente...

 

—Dizem que todos os bebês têm a mesma cara, senhora. — Leila ri. — Mas, por serem gêmeas, talvez haja semelhança entre elas.

 

Nada digo a minha dama, pois meus pensamentos viajam a imaginar o futuro. Imagino minhas filhas já crescidas, duas crianças iguais em aparência. Certamente, alguns no palácio não conseguiriam distinguir uma da outra. Sorrio ao pensar que há certa graça nesta hipótese. Ramsés, Leila, Uri, talvez até mesmo Hur confunda nossas filhas... Mas, eu não. Desde agora, que ainda são pequenos bebês, sei muito bem quem é Hadany e quem é Tany. Só não entendo como sei disso. Talvez seja um dom materno.

 

Meus pensamentos são interrompidos pelo som das portas de meus aposentos se abrindo. Hur entra por elas, trazendo consigo uma caixa de porte médio, com detalhes em ouro e flores pintadas de azul esculpidas na madeira. Não nego que tal objeto me impressiona por sua beleza, mas procuro não dar atenção a meu marido. Estou chateada com sua atitude de me deixar sozinha por tanto tempo. Volto meu olhar para Hadany, que aos poucos fecha seus olhinhos, indicando que novamente cairá no sono.

 

—Bezalel está esperando por você, Leila. — Hur fala.

 

—Prometi que o colocaria para dormir esta noite. — Leila fala. — Ainda vai precisar de mim, princesa?

 

—Não, Leila, pode ir ficar com seu filho. — Sorrio para ela. — Obrigada por ter ficado comigo durante todo o dia.

 

—Imagina, senhora. — Ela sorri, tímida. — É um prazer cuidar da princesa e agora de suas filhas.

 

—Agradeça a Gahiji pelo jantar, estava delicioso. — Peço quando minha dama toma em suas mãos a bandeja.

 

—Ele ficará contente em saber. — Leila ri. — Com licença.

 

Minha dama faz uma simples reverência e dirige seus passos para fora de meus aposentos, me deixando sozinha com Hur. Ao olhar para o lado, me deparo com meu marido paralisado, olhando para mim com nossa filha nos braços. Ao perceber que notei seu "transe", ele se aproxima e se senta na cama, ao lado de Tany, que segue imersa em seu doce e tranquilo sono.

 

—Vocês estão bem? — Ele pergunta.

 

—Sim. — Respondo com frieza. — Leila cuidou de mim e de minhas filhas, não saiu daqui um instante sequer, exceto para buscar meu jantar.

 

—Fico feliz por isso. — Hur sorri. — Além de dama, Leila é uma boa amiga para você.

 

—A melhor que eu poderia ter. — Concordo, mas em poucas e ríspidas palavras.

 

—O que há com você? — Ele pergunta.

 

—Estou cansada. — Respondo, colocando Hadany ao lado de sua irmã.

 

—Você nunca soube mentir, Henutmire. — Hur fala, ao levar sua mão para tocar meu rosto, mas eu me afasto. — Está chateada comigo?

 

—O que você acha? Eu acabei de dar a luz a duas meninas e quase fui para o mundo dos mortos por isso. — Falo. — Talvez eu esperasse que meu marido desse mais importância a mim do que ao trabalho.

 

—Então é isso? — Ele fala rindo.

—Não entendo qual é a graça, Hur. — Falo com seriedade na voz.

 

—Nada é mais importante para mim que você e nossas filhas. — Hur fala. — Mas, eu precisava terminar uma coisa.

 

—Que coisa?

 

—Isto. — Ele me entrega a caixa que trazia nas mãos.

 

—É para mim? — Pergunto, olhando o objeto em minhas mãos. Por seu peso, posso presumir que há algo dentro dele.

 

—Sim, um presente. — Meu marido sorri. — Abra.

 

Ao fazer o que Hur me pede, me deparo com uma surpresa: um colar feito de safiras, tão belo e delicado quanto uma flor. A cor azul das pedras faz contraste com o azul de meus olhos.

 

—É linda, Hur. — Falo, encantada. — É a jóia mais linda que já vi, digna de uma deusa.

 

—Gostou mesmo?

 

—Claro que sim, meu amor. — Sorrio.

 

—Me deu um pouco de trabalho, mas me sinto recompensado só por ver o seu sorriso. — Hur fala. — Eu vinha trabalhando nesta jóia há algum tempo, para que estivesse pronta quando o nosso filho nascesse. — Ele olha para nossas filhas. — Mas, essas duas nos pegaram de surpresa e eu tive que terminá-la hoje ainda, por sorte não faltava muito.

 

Olho novamente para o colar em minhas mãos e me dou conta do quanto Hur se esforça para me agradar. Sempre procura fazer algo para me ver sorrir e tornar especial cada momento que passamos juntos. Não sei por onde eu andava que nossos caminhos demoraram tanto a se cruzar. Mas, em um momento, os deuses decidiram que minha vida se uniria a dele e que em nossos corações habitaria o maior amor que pode existir.

 

—Não sei o que seria de mim sem você. — Falo e ele sorri.

 

—Eu é que não sei o que seria de mim sem você. — Hur acaricia meu rosto.

 

Cada vez que Hur me toca ou que se aproxima de mim, sinto meu coração bater mais depressa e algo inexplicável tomar conta de minha alma, fazendo com que meu agir seja comparado ao de uma adolescente. Foi assim quando percebi que o que ele sentia por mim era mais que uma amizade, quando senti seu beijo pleno de amor pela primeira vez. E assim continua sendo.

 

—Eu te amo. — Falo, olhando em seus olhos.

 

—Eu também te amo. — Hur fala, com um sorriso. Ele se aproxima de meu rosto e logo sinto seus lábios nos meus.


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Notas finais do capítulo

Henutmire ficou bravinha...
Vamos nos preparar para dar as boas vindas a Anat. Ou será que não?



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