O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 58
Um Amor Além de Nós (parte III)


Notas iniciais do capítulo

Mil perdões pela demora em postar a terceira parte do especial. Tive alguns problemas com o capítulo e só agora consegui resolver.
Sem mais enrolação, vamos de parte III. Boa leitura!



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Todos conversam animadamente enquanto se servem de comida e bebida. Em silêncio, eu os observo. Ainda posso ver nos rostos de meus filhos traços das crianças que um dia foram. Se fecho meus olhos, ainda posso sentir meu coração bater alegre cada vez que os envolvi em meus braços, colocando-os em meu colo. Hoje, estão crescidos e constituíram suas próprias famílias dentro da grande família que somos.

 

Tany está sentada ao lado de Alon, seu amor de adolescência e de toda a vida. Nem sempre os dois foram um casal. Durante muito tempo, minha filha contentou-se apenas em ser para ele uma boa amiga, quase uma irmã. Até o dia em que conseguiu seu espaço no coração do rapaz e seu sentimento foi correspondido. Alon deixou de olhar para Tany com olhos de amizade, passou a olhá-la com olhos de amor. Todavia, isso foi apenas uma barreira que caía. Hur nunca desaprovou a amizade dos dois, mas ao saber que estavam apaixonados se opôs terminantemente à relação e passou a tratar Alon de forma severa. Meu marido nunca disse nada a respeito, mas penso que sua resistência devia-se a saber de quem o rapaz era filho. Foram anos até que Alon conseguiu conquistar a confiança de Hur e provar que era digno de nossa filha. E numa tarde ensolarada de deserto, tentando conter o tremor das pernas, Alon pediu a mão de Tany em casamento. Todos esperávamos que Hur fosse negar, como fizera outras duas vezes. Mas, para nossa surpresa, ele permitiu o casamento e ainda desculpou-se com o futuro genro pela atitude que tivera. Dali em diante foram dias de preparativos, até que o grande momento chegou.

 

Flash back on

 

—Está nervosa? — Pergunto ao ver minha filha movimentar seus dedos freneticamente. Estamos apenas Tany e eu no quarto, aguardando que alguém venha nos chamar.

 

—Um pouco. — Responde. — Esperei tanto por este momento e agora tenho medo.

 

—Do que tem medo?

 

—De algo dar errado, de me atrapalhar ao dar as sete voltas ou esquecer alguma palavra que tenho que dizer. — Ela fala, me fazendo rir. — Medo de não ser uma boa esposa, de não fazer Alon feliz.

 

—Preste muita atenção no que vou te dizer, minha filha. — Olho em seus olhos. — A base de um casamento é o amor. Alon te ama, você o ama. Permaneçam assim e não haverá nada que precisem temer.

 

—Tem certeza?

 

—Olhe para mim e seu pai. Enfrentamos tantas coisas, mas o nosso amor venceu cada uma delas. — Respondo. — O amor verdadeiro, aliado da fé, nos mantém fortes e nos torna capazes de derrubar qualquer obstáculo que se apresentar. — Levo minha mão a seu rosto e ela sorri. — O amor é como saber que por mais que ache que não existe lugar para você, há um lugar somente seu no coração de alguém. Um abrigo seguro, para onde sempre poderá correr.

 

—A senhora vê meu pai assim? — Pergunta.

 

—Desde muito antes de saber que ele me amava. — Sorrio.

 

—Está tudo pronto. — Hadany diz ao entrar. — Esperam apenas pela noiva.

 

Tany então se levanta e com a ajuda da irmã dá os últimos ajustes em seu belo vestido bordado e nas flores em seu cabelo. Me emociono ao ver minha filha mais nova pronta unir-se ao homem que ama, para dar um passo tão importante na vida de toda mulher.

 

—Prometeu que não iria chorar, mãe. — Tany fala, certamente ao ver meus olhos marejados.

 

—Não sei se manterei minha promessa. — Falo rindo.

 

—Sempre pensei que você se casaria antes de mim, afinal, é a filha mais velha. — Ela diz a Hadany. — Não sei se gosto de quebrar a tradição.

 

—Tradições não foram feitas para nós duas. — Hadany ri. — É melhor se apressar ou meu cunhado vai ter uma crise de nervos de tanto esperar.

 

—Venha cá. — Trago Tany para dentro de meu abraço, em seguida dou-lhe um beijo na testa com todo amor de mãe que lhe tenho. — Desejo que seja muito feliz, minha filha.

 

—Eu serei. — Ela me sorri, antes que eu cubra seu rosto com o véu branco.

 

(...)

 

—Diante de Deus, eu os consagro marido e mulher. — Moisés fala, encerrando sua parte na cerimônia.

 

Alon se coloca de frente para Tany e com delicadeza retira o véu de sobre seu rosto. Ele apenas sorri ao olhá-la por alguns segundos, como se quisesse decorar seus olhos azuis.

 

—Assim eu te torno a minha esposa. — Ele fala, emocionado.

 

—Assim eu te torno o meu marido. — Tany diz as últimas palavras da cerimônia. Ambos se olham uma última vez, antes de unirem seus lábios em um beijo. O som dos aplausos se faz presente, enquanto eu tento disfarçar as lágrimas de emoção que escapam de meus olhos.

 

Flash back off

 

Tany já era uma mulher feita quando se casou e aquele foi o início de muitos dias de felicidade em sua vida. Não sei se porque me falha a memória, mas não me recordo de nenhum momento em que houve briga entre eles ou que a voz de um foi mais alta que a do outro.

 

Hadany está ao lado de Eliel, seu marido. Durante muito tempo, muito mais do que eu gostaria, minha primogênita fechou seu coração para o amor. Quando partimos do Egito, ela e Chibale haviam brigado seriamente e as brigas só aumentaram durante a caminhada no deserto. Bastava apenas que se encontrassem pelo acampamento para um novo desentendimento surgir. Mesmo ainda amando-o, minha filha era incapaz de perdoá-lo e fazia de tudo para enterrar o que sentia por ele. E assim foi, até que uma comitiva do reino da Núbia veio a nosso encontro para buscar Radina. Chibale acabou encantando-se pela dama de companhia da princesa. Somado ao fato de que o jovem se sentia um pouco deslocado entre os hebreus e desejava voltar ao ofício de cozinheiro real, o filho de Gahiji partiu com a comitiva para a terra natal de Radina. Mesmo que talvez já não o amasse, minha filha não aceitou que Chibale, que se dizia tão apaixonado por ela, foi capaz de esquecê-la tão facilmente. Não era ciúmes, apenas ressentimento. Seu amor da adolescência lhe feriu e depois disto Hadany tornou-se uma fortaleza impenetrável tal sentimento. Não faltaram pretendentes querendo sua atenção, mas ela sequer fazia questão de conhecê-los. Tal atitude se arrastou ao longo dos anos, até o dia em que ela se esbarrou, literalmente, com Eliel. Sua beleza despertou o interesse do jovem, mas a resistência de minha filha ameaçava colocar tudo a perder. Todavia, Eliel não desistiu da mulher que amava. Ele foi insistente e aos poucos conquistava o afeto de Hadany sem que ela própria se desse conta. Ela aceitou sua amizade, mais tarde aceitou também seu amor. Ao contrário de Tany, Hur alegrou-se por ver que nossa filha apaixonada, pois significava que seu coração ainda sabia amar. Quando Eliel pediu a mão de Hadany, meu marido concedeu de imediato. Ainda me recordo do casamento de minha filha mais velha, alguns anos depois que Tany e Alon se casaram.

 

Flash back on

 

—Fique quieta ou não vou conseguir colocar a coroa de flores direito e ela vai cair de sua cabeça no meio da cerimônia. — Tany diz diante da inquietação de sua irmã.

 

—Não me deixe mais nervosa, Tany. — Hadany fala.

 

—Fiz este chá para ajudar a manter a calma, mas acho que você precisa mais do que eu. — Lhe entrego o copo com a bebida. Suas mãos trêmulas de nervosismo quase não conseguem segurá-lo e fico esperando que vá de encontro ao chão, o que não acontece.

 

—Pronto. — Tany finalmente consegue firmar o arranjo de flores sobre a cabeça de Hadany. — Vou ver como estão as coisas lá fora e volto para chamá-la quando for a hora.

 

—Obrigada, minha irmã. — Ela diz ao lhe sorrir. Um sorriso nervoso, mas ainda assim um sorriso.

 

—Não precisa agradecer. — Tany corresponde ao sorriso, antes de sair e me deixar sozinha com Hadany.

 

—É melhor se sentar ou vai acabar desmaiando. — Aconselho.

 

—Não vai amassar o vestido? — Pergunta, me fazendo rir.

 

—Não, não vai. — Afirmo e diante disso ela finalmente se senta na cama. Sento-me ao seu lado e tomo suas mãos nas minhas. — Por que está tão nervosa?

 

—Que tipo de noiva eu seria se não estivesse nervosa? — Fala divertida.

 

—Há mais alguma coisa . — Falo. — Conte para sua mãe.

 

—Estava apenas pensando no que aconteceu quando eu era adolescente. Ter me apaixonado imaturamente, mas ainda assim com toda a intensidade necessária para me machucar com meu primeiro amor. Ter sido obrigada a ser prometida de Amenhotep por conveniência, apenas para garantir ao trono uma linhagem pura, e depois me tornar sua viúva ainda durante o noivado. — Ela me olha. — Coisas assim me fizeram acreditar que eu não fui feita para casar. E agora estou aqui, prestes a dar um passo tão importante e igualmente desconhecido como é o casamento.

 

—Do que tem medo?

 

—De tudo. — Hadany desvia seu olhar para o vago. — De não ser uma boa esposa para Eliel, de fazê-lo infeliz e sobretudo de não merecer seu amor.

 

—Acha que Eliel lutaria tanto por alguém que não vale a pena? Acha que ele insistiria em ter seu amor se não fosse merecedora do dele? — Indago, fazendo minha filha refletir e trazendo seu olhar de volta para mim. — Filha, não tenha medo de ser feliz. Nada do que aconteceu no passado pode arruinar seu presente e seu futuro, a menos que você permita.

 

—Me sinto insegura. — Ela me abraça, como uma criança indefesa que encontra abrigo nos braços de sua mãe.

 

—Insegurança nunca fez parte de sua personalidade e não fará agora. — Acaricio seu rosto. — Desde criança você sempre confiou em si mesma, continue assim.

 

—Tem razão, mãe. — Ela olha em meus olhos e sorri.

 

—Talvez alguns momentos não sejam perfeitos, algumas lembranças podem não ser tão doces. — Falo. — Mas, se há algo que aprendi é que tais coisas carregam lições preciosas e que sem elas nossas vidas seriam incompletas.

 

—Quanta sabedoria cabe dentro da senhora? — Pergunta, rindo.

 

—Apenas falo do que a vida me ensinou. Vivi maus momentos antes de me casar com seu pai e até mesmo depois de nos casarmos. Cada um deles me trouxe um novo aprendizado, me tornou melhor. — Sorrio. — E, acima de tudo, me mostrou que o amor sim é sábio e que deve prevalecer diante de qualquer circunstância.

 

(...)

 

—Eu pertenço a minha amada e ela me pertence. — Eliel pronuncia após compartilhar do vinho com Hadany.

 

—Eu pertenço ao meu amado e ele me pertence. — Minha filha diz.

 

—Bendito é o Senhor dos Exércitos, que olha para estes noivos sob a huppah e abençoa esta união deste dia em diante. — Moisés fala com um sorriso. — Eu os consagro marido e mulher.

 

—Assim eu te torno minha esposa. — Eliel sorri após levantar o véu que cobria o rosto de sua amada e olhar firmemente em seus olhos azuis.

 

—Assim eu te torno meu marido. — Hadany fala emocionada. Ela parece nervosa quando o rosto de seu marido se aproxima do seu, mas o nervosismo se dissipa quando o encontro dos lábios acontece regado pelo som dos aplausos de todos os presentes.

 

—Está feliz? — Hur pergunta, certamente ao notar o tamanho de meu sorriso.

 

—Mais do que possa imaginar. — Respondo e em seguida meu marido beija minha bochecha.

 

Flash back off

 

Apesar de já ser uma mulher crescida, minha filha apenas era como uma garotinha com medo de ser feliz. Eliel mostrou a Hadany que ela não precisava daquele medo amando-a de todas as formas que o amor pode ser demonstrado daquele dia em diante. E assim é até hoje. Eles são um dos casais mais harmoniosos que já conheci.

 

—Por que o seu pai não veio, Mirena? — Uri pergunta.

 

—Ele está comandando o treinamento dos arqueiros, não podia vir. — A menina responde e em seguida coloca um pedaço de pão generosamente grande em sua boca.

 

—Vai acabar se engasgando. — Àgata fala rindo.

 

—Não vou, não. — Mirena nega.

 

—Não fale de boca cheia, Mirena. — Ágata repreende com doçura. — É falta de educação.

 

Acabo rindo da conversa entre as três crianças e lembro-me de quando vi cada uma pela primeira vez. Por ter se casado primeiro, Tany foi quem me deu a primeira neta, Ágata. Todavia, minha filha enfrentou diversos maus mometos até ter sua menina em seus braços. Por algum motivo desconhecido, Tany passou anos sem conseguir levar uma gravidez a termo. Minha filha era vítima de abortos espontâneos todas as vezes em que seu ventre tentava gerar uma criança. A tristeza tomou seu coração, somado a seu medo secreto de que Alon pudesse querer uma segunda esposa já que ela não lhe dava filhos, mesmo tendo certeza de que ele jamais faria tal coisa. Cheguei a considerar que o que acontecia com Tany era por algum vestígio dos venenos que Yunet me dava, ja que ela e a irmã foram geradas em um ventre que fora envenenado por anos. Foi quando me culpei pelo sofrimento de minha filha, mesmo sabendo que não era culpada. Tany já não tinha esperanças. Quando engravidou de Ágata achou que aquela criança teria o mesmo destino das outras: morrer antes mesmo de ser lhe dada a vida. Porém, ela foi surpreendida quando seu ventre começou a crescer com o passar dos meses. Só então se alegrou por ter um pequeno ser crescendo dentro dela, mesmo que no fundo ainda temesse o pior. Foi cercada de cuidados e limitações, permaneceu a maior parte da gravidez de repouso. Ao cabo de nove luas, Tany deu a luz a sua primeira filha.

 

Flash back on

 

—É uma linda menininha. — Leila fala em meio ao choro estridente da recém nascida em seus braços. Logo ela envolve a criança em um manto macio, trazendo-a para os braços de sua mãe.

 

—Bem-vinda, minha filha. — Tany sorri em meio a lágrimas de emoção. — Você é o milagre mais precioso que Deus poderia me conceder.

 

—Ela tem olhos azuis. — Hadany observa. — São iguais aos seus, mãe.

 

—São iguais aos de Tany. — Ressalto ao tocar com carinho a mãozinha de minha neta. — Ela deve se parecer com seus pais, não comigo.

 

—Vou chamar Alon para conhecer a filha. — Hadany diz, retirando-se em seguida.

 

A pequenina, que antes chorava, parece aconchegar-se no calor dos braços de sua mãe e aos poucos fecha seus olhinhos azuis, tão inocentes. O sorriso de Tany é capaz de contagiar a qualquer um e me faz recordar da primeira vez em que carreguei em meus braços ela e sua irmã. Sou capaz de compreender exatamente o que minha filha sente agora.

 

—Meu maior presente, final da minha longa espera. — Tany diz com doçura, deslizando seu dedo delicadamente pelo rostinho da filha.

 

Hadany então retorna ao quarto, trazendo Alon consigo. Ele parece maravilhado com a imagem da esposa tendo em seus braços um fruto do amor dos dois. Meu genro se aproxima devagar, até estar perto o suficiente para tocar a pequena menina e olhar nos olhos de Tany, que se emociona fazendo seus olhos terem o brilho provocado por lágrimas.

 

—Ela é linda como a mãe. — Alon diz, fazendo Tany sorrir. — Obrigado por este presente, meu amor.

 

—Sou eu quem devo agradecer. — Ela fala e logo une seus lábios aos do marido em um beijo suave.

 

—Quando será a sua vez, Hadany? — Leila pergunta, divertida.

—É um pouco cedo para pensar nisso, não acha? Ainda sou praticamente recém-casada, vamos com calma. — Hadany ri e passa a olhar para a sobrinha. — Prefiro que ela seja a única neta de meus pais por um tempo.

 

—Talvez a única por um tempo, mas certamente a primeira de muitos outros. — Sorrio.

 

—Como ela vai se chamar? — Alon pergunta.

 

—Hadany, pegue para mim por favor. — Tany pede a irmã, que de imediato vai até uma caixa, tirando algo de dentro dela.

 

—Aqui está. — Hadany coloca algo na mão de sua irmã sem que ninguém veja o que é.

 

—Filha, este é o primeiro presente que lhe dou e espero seja tão importante para você quanto é para mim. — Tany então revela em sua mão o colar que Uri lhe deu quando era criança. Ela coloca o pingente de pedra azul escuro, o azul do céu da noite, entre as pequenas mãozinhas da filha. — Você vai se chamar Ágata.

 

Flash back off

 

Ágata nasceu uma criança saudável, cresceu uma menina forte e esperta, tal como ainda é hoje com seus doze anos. O colar que Tany lhe deu nunca sai de seu pescoço e ela se orgulha de ter algo tão belo que foi feito pelo tio que não conheceu. Por sua vez, Hadany não demorou tanto tempo a trazer ao mundo Uri, meu segundo neto. Os poucos anos entre o casamento e a descoberta da gravidez serviram para prepará-la para ser mãe. A chegada do novo membro da família foi um pouco conturbada. Hadany entrou em trabalho de parto antes do tempo, a criança não estava na posição correta para o nascimento. Enfrentamos momentos de angústia, enquanto minha filha sentia suas forças se esvairem e a dor rasgá-la de dentro para fora. Cheguei a pensar que perderia minha filha e meu neto. Todavia, eu sabia que Deus não havia me dado filhos para vê-los partir antes de mim. Com determinação e força sobrenaturais, Hadany deu a luz a um belo e forte menino, herdeiro de seus olhos azuis.

 

Flash back on

 

—Eu esperava que ele tivesse os olhos do pai, ou do avô. — Hadany fala. Curiosamente, Hur e Eliel possuem olhos da mesma tonalidade.

 

—Me conformo com o fato dos olhos azuis prevalecerem nesta família. — Hur fala, nos fazendo rir.

 

—Titia. — Ágata chama, querendo ir até Hadany. Tany então coloca a filha perto de sua irmã e a menininha de dois anos olha com curiosidade para o bebê. — Carinho?

 

—Pode sim. — Hadany permite e Ágata acaricia levemente o rostinho do menino.

 

—Acho que ela gostou do primo. — Tany comenta.

 

—Qual será o seu nome? — Pergunto.

 

—Hadany e eu pensamos em muitos nomes, mas chegamos em acordo quanto a um. — Eliel e a esposa se entreolham, sorrindo.

 

—Meu filho se chamará Uri. — Hadany nos surpreende ao dar a seu primogênito o mesmo nome de seu irmão mais velho. Espontâneamente, todos os olhares se voltam para Hur. Meu marido permanece perplexo, como se não acreditasse no que acaba de ouvir.

 

—Está tudo bem, meu amor? — Chamo por ele ao vê-lo empalidecer. Por um momento, chego a pensar que Hur vai desmaiar.

 

—Sim, está. — Ele responde. A cor de seu rosto volta ao normal e um belo sorriso toma seus lábios, enquanto se esforça para conter a emoção. — É uma linda homenagem, minha filha.

 

—Acha que ele ficaria feliz? — Ela pergunta.

 

—Ele está feliz, tenho certeza. — Hur responde e então toca delicadamente o rostinho do neto. — Bem-vindo a família, Uri.

 

Flash back off

 

Hoje, com seus dez anos, Uri é um menino inteligente e carinhoso. Tal como sua mãe, tem imenso interesse em espadas e é um dos mais talentosos entre os demais garotos nos treinamentos infantis. Algum tempo depois, vi Mayra se casar e mais tarde tornar-se também mãe da linda Mirena, hoje com seis anos. Às vezes me pego pensando que Ramsés não viu sua primeira filha se tornar uma mulher e teve uma neta que jamais conheceu. Ele viu Amyla crescer, acompanhou cada fase de sua vida, mas também não conhecerá o filho que ela espera. Tal como nosso pai, Ramsés não conheceu os netos, a continuação de sua descendência.

 

—Se sente bem, meu amor? — Héber indaga ao notar a esposa um tanto inquieta.

 

—Sim, não se preocupe. — Sara responde com um sorriso, levando uma de suas mãos a seu ventre. — É apenas nosso filho tentando se acomodar.

 

Às vezes não consigo acreditar que quando parti do Egito ainda carregava Héber dentro de mim e que hoje ele já se prepara para ser pai. Ou acreditar que gerei em meu ventre duas vidas ao mesmo tempo e que fui forte o bastante para trazê-las ao mundo. Acreditar que enfrentei o rei mais temido do Egito por amor ao bebê hebreu que encontrei no Nilo. Tudo o que vivi até hoje daria uma bela história, daquelas que guardam novas surpresas a cada página a ser lida.

 

—Já pensaram no nome? — Tany pergunta.

 

—Escolhemos um nome para menino e um nome para menina. — Héber responde. — Mas, só irão saber quando ele ou ela nascer.

 

—Conheço alguém que fez algo parecido. — Hadany ri e me olha. — Uma vez, Leila nos contou que a senhora guardou segredo dos nomes que havia escolhido até o dia em que minha irmã e eu nascemos.

 

—Eu tinha certeza do nome para menino, mas ainda estava dividida entre dois nomes para menina. Sempre gostei de ambos e não sabia qual escolher. — Sorrio ao me lembrar. — Quando vocês nasceram, percebi que não teria que abrir mão de nenhum dos dois nomes. Eu poderia ter a nobre guerreira e a filha das estrelas.

 

(...)

 

—Vamos, papai. — Ágata tenta tirar Alon do lugar. — O senhor prometeu.

 

—Não adianta olhar para mim. — Tany ri quando o marido lhe olha como que pedindo ajuda. — Você prometeu que entraria na água com ela, agora tem que cumprir.

 

—Está bem, eu vou. — Alon finalmente cede.

 

—Eu também posso, mamãe? — Uri pergunta.

 

—Só se seu pai também for. — Hadany diz, já rindo.

 

—Com esposas como estas não precisamos de inimigos, Alon. — Eliel ri.

 

—Por que não vão todos? — Sugiro. — O clima está ótimo para um banho no rio.

 

—Tem razão, minha mãe. — Héber concorda e ri. — Alguém aqui tem medo de água fria?

 

—Hadany tem. — Mayra fala, rindo. — Ou tinha.

 

—Será possível que você nunca esquece isso? — Hadany diz, rindo também.

 

Ágata, Uri e Mirena são os primeiros a se levantar e ficar em trajes apropriados para entrar na água. Em seguida, os outros fazem o mesmo. Hadany e Eliel seguram as mãos de Uri, Tany e Alon seguram as mãos de Ágata, Mayra segura a mão da pequena Mirena. Logo, todos correm em direção ao rio, entrando em suas águas límpidas e claras.

 

—A senhora não vem, minha sogra? — Sara pergunta.

 

—Prefiro apenas olhar vocês. — Falo ao lhe sorrir.

 

—Tem certeza, mãe? — Héber indaga.

 

—Sim, meu filho. — Respondo. — Vão se divertir.

 

—Mãe... — Ele se aproxima de mim e segura uma de minhas mãos entre as suas, olhando em meus olhos. — Eu te amo, muito. Não sei porque, mas tive vontade de lhe dizer isso.

 

—Eu também te amo muito, meu menino. — Dedico-lhe meu mais sincero sorriso. Meu filho deposita um beijo carinhoso em minha testa, antes de ir com sua esposa juntar-se aos outros.


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Notas finais do capítulo

Em breve, a quarta e última parte do especial. Aguardem...



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