O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Todos prontos? Vamos de capítulo 5 e suas fortes emoções...



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Por Henutmire

 

Nobres de todo o Egito foram convidados para a festa em homenagem ao nascimento do príncipe Amenhotep. Aos três meses de vida, meu sobrinho é forte, esperto e observador. Por vezes peguei-o no colo e seus olhos ficaram fixos em mim, como se reparasse em cada detalhe meu. Ao ouvir minha voz, ele sorria, já reconhecendo que sou sua tia. Amenhotep é o orgulho de Ramsés e Nefertari, que fazem questão de exibir a todos o belo herdeiro do trono.

 

Acabei por desapontar meu irmão, que esperava comemorar também o nascimento de meu filho. Mas, ao que parece, ainda não chegou o meu momento de dar a luz, embora o tamanho de meu ventre dê a entender que esta criança já deveria ter nascido. Isto me preocupa. Já vi mulheres grávidas, mas nenhuma delas tinha o ventre grande como o meu. Que os deuses permitam que isto seja apenas um sinal de que meu filho é forte e sadio.

 

—Acha que ainda falta muito para o meu filho nascer, Leila? — Pergunto.

 

—Creio que não, princesa. Quando a senhora menos esperar, estará com seu filho nos braços. — Leila responde. — A propósito, já escolheu o nome que dará a ele?

 

—Sim, já escolhi um nome para menino e um nome para menina. — Respondo. — Mas você e todos só saberão quando ele nascer.

 

—Quanto mistério! Se quer me deixar curiosa, está conseguindo. — Leila fala rindo ao colocar o colar em meu pescoço.

 

—Leila, por favor, pegue as pulseiras que Ramsés me deu de presente em meu aniversário. — Peço. — Estão naquela gaveta.

 

Aponto para o móvel onde estão guardadas as pulseiras e Leila vai até ele. Ao abrir a gaveta, noto que rapidamente ela encontra as jóias das quais falei, mas a expressão de seu rosto muda, tornando-se levemente assustada. Ou seria surpresa?

 

—O que houve, Leila? Estão danificadas? — Pergunto sobre as pulseiras.

 

—Não, senhora. — Leila se vira para mim, com algo maior que uma pulseira nas mãos. — Veja o que encontrei guardado nesta gaveta.

 

Minha dama de companhia tira com cuidado o fino tecido branco que envolve o objeto. Ao revelá-lo, não acredito no que vejo na minha frente.

 

—Minha coroa. — Falo com surpresa.

 

Não é possível! É minha coroa de princesa do Egito, a coroa que meu pai colocou sobre minha cabeça quando eu era ainda uma menina... Sequer sabia onde estava guardada. Se eu mesma a guardei naquele móvel, não me lembro. Faz tanto tempo que eu a usei pela última vez.

 

—Me dê, por favor. — Peço e Leila traz a coroa até mim.

 

—Me lembro de tê-la visto usando-a apenas uma vez. — Leila fala.

 

—Usei esta coroa duas vezes em minha vida, Leila. — Falo, olhando para a coroa em minhas mãos. — A primeira, em meu casamento com Disebek. A segunda, em meu casamento com Hur. — Envolvo a coroa novamente no tecido. — Coloque-a onde estava, por favor.

 

—Não pretende usá-la? — Leila fala quando lhe entrego a coroa.

 

—O título de princesa do Egito já me pesa o suficiente para que eu ostente esta coroa sobre minha cabeça, Leila. — Respondo. — É melhor que continue guardada, como lembrança de algo que me foi dado por meu pai. Afinal, hoje não sou mais a filha e sim a irmã do soberano do Egito.

 

Leila se afastou com a coroa em suas mãos, afim de guardá-la no lugar onde estava. Não sei se interpreto como um sinal bom ou ruim esta coroa ter aparecido agora. Ela carrega consigo boas e más lembranças.

 

Flash back on

 

—Henutmire, se acalme. — Minha mãe fala. — Até parece que é a primeira vez que vai se casar.

 

—Para mim é, mãe. — Falo. — A senhora sabe que meu casamento com Disebek foi uma mentira.

 

—Mas, seu casamento com Hur não é uma mentira, é? — Ela pergunta e eu afirmo que não. — Então, sente-se e procure se acalmar, por amor a Ísis!

 

—Estão demorando muito a vir me buscar. — Falo ao me sentar. — Será que Ramsés mudou de ideia? Ele voltou atrás e não vai mais permitir meu casamento.

 

—Henutmire, não diga tanta tolice! — Minha mãe fala. — Ramsés não faria isso, a palavra de um rei jamais volta atrás. — Ela se senta ao meu lado e segura minhas mãos. — Filha, você enfrentou o preconceito dos nobres do Egito e a reprovação de seu irmão para poder ter Hur ao seu lado. Acha que os deuses permitiriam que todo o seu esforço fosse em vão?

 

—Acredito que não.

 

—Então se acalme, tudo vai dar certo. — Minha mãe acaricia meu rosto.

 

—Jamais poderei te agradecer o suficiente por ter me ajudado a convencer Ramsés e todos de que Hur realmente me ama e que é muito mais que suas origens hebreias. — Falo sorrindo. — Graças a senhora, hoje começarei a escrever uma nova história.

 

—Fiz o que achei ser certo para a sua felicidade, minha filha. Se viver este amor é o que te faz feliz, eu não podia me opor ou negar o meu apoio. — Ela segura minhas mãos novamente. — Espero que o amor de Hur cure as feridas de seu coração e te faça esquecer de todas as coisas ruins do passado. Tudo o que eu desejo é te ver sorrindo como antes.

 

—Obrigada por tudo, mamãe. — Falo emocionada.

 

—Me agradeça sendo feliz, Henutmire. — Minha mãe sorri para mim e me abraça.

 

Ouvimos as portas de meus aposentos se abrirem e Leila entrar por elas.

 

—Com licença, princesa, rainha Tuya... — Leila faz uma reverência. — O soberano mandou que eu viesse buscá-la. Os servos aguardam junto a liteira para levá-la a sala do trono.

 

Esperei tanto por esse momento, mas agora que chegou me vejo nervosa como uma adolescente. Hur me espera na sala do trono, para fazer de mim sua esposa e unir nossas vidas para sempre. Me levanto e respiro fundo, na intenção de ao menos tentar acalmar meu coração, que bate depressa.

 

—Estou pronta, vamos. — Falo para Leila e minha mãe.

 

—Não está esquecendo nada? — Minha mãe pergunta.

 

—Não. — Respondo ao conferir se estou usando todos os adornos. — Está faltando alguma coisa, Leila?

 

—Sim, senhora. — Leila responde, com um risinho tímido.

 

—O que? — Pergunto. Não acredito que depois de ficar uma eternidade me arrumando e esperando ser chamada a sala do trono, ainda vou me atrasar por ter esquecido algo.

 

—Isto. — Minha mãe fala e no mesmo instante eu me viro. Ela está com minha coroa nas mãos.

 

—Pensei que não fosse usá-la. — Falo.

 

—Hoje é o seu casamento e você deve usá-la, para mostrar a todos quem você é e o sangue que corre em suas veias. — Minha mãe fala ao colocar a coroa em minha cabeça. — Você é a princesa do Egito, é filha de Seti.

 

Flash back off

 

—Pronto, senhora. — Leila fala ao terminar de colocar as pulseiras em mim. — Deseja mais alguma coisa?

 

—Não, obrigada. — Respondo. Estava tão distraída com minhas lembranças que me esqueci que minha dama de companhia me preparava para uma festa.

 

—Vou levar Bezalel para o harém e volto para irmos a sala do trono. — Leila fala.

 

—Não precisa voltar, Leila. — Falo e ela me olha sem entender. — Leve seu filho para o harém e me espere na porta da sala do trono.

 

—Como quiser, senhora.

 

Observo Leila dirigir seus passos até as portas de meus aposentos. Ao abrí-las, se vê de frente com Hur, que ao que parece se preparava para entrar. Os dois sorriem um para o outro e Leila sai para fazer o que havia me dito. Eu me levanto da cadeira onde estava, com certa dificuldade pelo tamanho e peso de meu ventre, e me sento em minha cama. Sinto que Hur observa com admiração cada movimento meu, seus olhos não se desviam de mim.

 

—Você me deixa sem graça me olhando assim. — Falo.

 

—Eu não me canso de admirar a beleza de minha esposa. — Hur me elogia, me deixando ainda mais sem graça.

 

—Qual foi a primeira coisa que reparou em mim quando me conheceu? — Pergunto.

 

—Seus olhos. Jamais vi olhos tão lindos em toda a minha vida. — Ele responde e se senta ao meu lado. Em seguida, coloca uma de suas mãos sobre meu ventre. — Espero que nosso filho tenha olhos como os seus.

 

—Quando eu era criança, meu pai me disse que os deuses haviam tirado um pedaço do céu para dar cor aos meus olhos. — Falo e coloco minha mão sobre a de Hur. — Talvez seja por isso que gosto tanto da cor azul.

 

—Certamente. — Hur sorri e acaricia meu ventre. — Ele está quieto.

 

—Deve estar dormindo, coisa que não faz com muita frequência. — Falo e faço meu marido rir. — É melhor irmos, não posso me atrasar para a festa de meu sobrinho.

 

Com a ajuda de Hur, fico de pé. Hoje parece que meu filho está mais pesado do que nunca. Por sorte, sou uma mulher forte. Caso contrário, não conseguiria andar pelo palácio até que esta criança nascesse. Ao dar o primeiro passo para sair de meus aposentos, sinto uma dor incômoda em meu ventre, que de tão intensa me faz sentar novamente.

 

—Você está bem, Henutmire? — Hur pergunta preocupado.

 

—Senti uma dor... — Respondo. — Mas, já está passando.

 

—Quer que eu chame Paser? — Hur sugere.

 

—Não é necessário, já me sinto bem. — Falo. Estou surpresa por uma dor tão forte ter desaparecido rapidamente.

 

—Tem certeza, meu amor?

 

—Tenho, não foi nada demais. — Falo e me levanto com firmeza, afim de demonstrar para Hur que realmente me sinto bem. — Vamos para a sala do trono, antes que Ramsés mande me chamar.

 

Por Ramsés

 

—Não acha que é muita agitação para ele, Ramsés? — Nefertari pergunta. — Amenhotep é o herdeiro do trono, merece uma celebração como esta, mas ainda é apenas uma bebê.

 

—Não se preocupe, meu amor. Assim que Jahi chegar poderá levar nosso filho para seus aposentos. — Respondo. — Compreendo que o futuro rei do Egito precise de descanso e de silêncio. Não é mesmo, meu filho?

 

Me sinto um bobo ao ver Amenhotep sorrir para mim. A maior alegria de minha vida é ter ao meu lado a mulher que eu amo e agora meu filho, o herdeiro do meu trono. Por entre a música que toca, ouço as portas da sala do trono se abrirem e por elas Henutmire entra, acompanhada por seu marido e sua dama de companhia. Me sinto feliz por ver minha irmã feliz... Por vê-la gerar um filho, porque sei que esse sempre foi um de seus maiores desejos. Me orgulho da mulher forte e decidida que ela é. Tudo o que aconteceu, o choque de saber a verdade sobre Disebek e Yunet, era para tê-la derrubado para sempre. Mas, não! Embora machucada, ela soube se manter de pé e enfrentar tudo como a princesa que é. Reconheço que fiz bem em permitir o casamento de Henutmire e Hur. Mesmo sendo hebreu, ainda que nobre e criado no palácio, ele deu a minha irmã o que ela almejava: amor verdadeiro e uma família.

 

Ao se aproximarem dos degraus do trono, Henutmire, Hur e Leila curvam suas cabeças em sinal de reverência. Desço do trono e vou até eles, mais precisamente até Henutmire.

 

—Como está, meu irmão?

 

—Muito bem, Henutmire. — Respondo e coloco uma de minhas mãos sobre o ventre de minha irmã. — E vocês, como estão?

 

—Estamos bem. — Ela sorri.

 

—Será que ainda terei que esperar muito para conhecer o meu sobrinho? — Pergunto de forma divertida.

 

—Acredito que só os deuses tenham essa resposta, meu irmão. — Henutmire responde com um sorriso.

 

—O que mais posso fazer além de esperar, não é? — Falo rindo.

 

Com carinho, me aproximo do rosto de minha irmã e lhe dou um beijo na testa. Não entendo o porquê, mas sinto uma necessidade enorme de proteger Henutmire, como se algo de ruim estivesse para acontecer. Ela toma seu lugar na festa. Hur e Leila a seguem como duas sombras. Talvez também estejam com a mesma sensação que eu. Mas, o que de mal poderia acontecer a minha irmã? Tento não dar importância a tal pensamento, mas é melhor que eu permaneça atento. Volto para o trono e sorrio ou ver Amenhotep nos braços de Nefertari.

 

—Anuncio a presença de Jahi, príncipe do reino da Núbia, e de Radina, sua irmã. — Paser fala ao entrar na sala do trono.

 

As portas novamente se abrem e logo vejo Jahi, acompanhado por sua irmã. A Núbia é um reino que é forte aliado do Egito. Por vezes, Jahi e eu lutamos e vencemos guerras juntos.

 

—É um imenso prazer estar novamente na presença do grande hórus vivo. — Jahi fala, após fazer uma reverência.

 

—Também fico feliz em revê-lo, meu amigo. — Sorrio.

 

—Esta é Radina. — Jahi nos apresenta sua irmã, que faz uma reverência.

 

—É uma grande honra conhecer o soberano do Egito, e a grande esposa real. — Radina fala. — Sua beleza é ainda maior do que a fama que a precede.

 

—Gentileza sua, minha querida. — Nefertari agradece.

 

—Então, este é o herdeiro do trono. — Jahi fala, olhando para o bebê nos braços de Nefertari.

 

—Este é Amenhotep, meu filho. — Falo orgulhoso.

 

—Que seja abençoado pelos deuses. — Radina fala.

 

—Assim será. — Nefertari sorri.

 

—Princesa Henutmire? — Jahi indaga ao desviar seu olhar para o lado e ver minha irmã.

 

Por Henutmire

 

—Sim. — Respondo.

 

—Fico feliz em revê-la, alteza. — Jahi faz uma reverência. — Estive presente em seu casamento, mas ainda não a havia visto... grávida.

 

—Fui grandemente agraciada pelos deuses, príncipe. — Sorrio. — Agora, espero apenas pelo momento em que terei meu filho em meus braços.

 

—Radina, esta é a princesa Henutmire, irmã do faraó Ramsés. — Jahi me apresenta a sua irmã. — Ela é mãe do príncipe Moisés, já lhe falei sobre ele.

 

—É um prazer conhecê-la, princesa. — Radina sorri para mim.

 

—O prazer é meu, Radina. — Correspondo ao sorriso da jovem. — Espero que aproveitem a festa.

 

(...)

 

Nefertari se retirou para seus aposentos com Amenhotep. Suponho que assim que meu sobrinho dormir, ela voltará para a festa. Não faz muito tempo que estou na sala do trono, mas me sinto plenamente cansada. Felizmente, a companhia de Radina me distrai. A irmã de Jahi conseguiu conquistar minha simpatia de imediato.

 

—Acha que é um menino ou uma menina? — Radina pergunta sobre meu bebê.

 

—Honestamente, não faço ideia. — Respondo sorrindo. — Embora, às vezes eu pense que é uma menina. — Falo ao lembrar de meu sonho, das duas meninas de olhos iguais aos meus.

 

—Há de ser uma linda criança, senhora. — Radina fala. — Herdará a beleza da princesa.

 

—Agradeço o elogio, Radina. — Sorrio.

 

Meu sorriso logo se desfez ao sentir novamente uma dor, agora muito mais forte do que a que senti em meus aposentos. Ou melhor, é mais forte que qualquer dor que eu já tenha sentido. Nem quando perdi meus bebês, por causa do veneno que Yunet me deu, senti tamanha dor. Ouço meu próprio grito ecoar pela sala do trono e chamar a atenção de todos para mim.

 

—Henutmire! — Ramsés desce correndo do trono e me ampara em seus braços.

 

—O que foi, senhora? — Leila pergunta, me olhando com os olhos arregalados.

 

—Estou sentindo muita dor, Leila. — Falo e no mesmo instante sinto uma água escorrer por minhas pernas.

 

Paser e Simut rapidamente se aproximam de mim, mas eu surpreendo a eles e a mim mesma com mais um grito, demonstrando a intensidade da dor que sinto. Noto que segurei com força o braço de meu irmão ao ver nele a marca de meus dedos.

 

—O que está acontecendo? — Falo por entre os dentes, tentando suportar a dor que sinto.

—É o seu filho, princesa. — Paser responde a minha pergunta. — Ele vai nascer.

 

—Agora? — Pergunto surpresa, mas com um sorriso no rosto. Finalmente o meu filho vai nascer. — Onde está Hur? — Pergunto ao ver que meu marido não está na sala do trono.

 

—Ele foi até a oficina com Uri. — Leila responde.

 

—Soberano, é melhor levar a princesa para seus aposentos. — Paser sugere. — Vou agora mesmo chamar a parteira.

 

—Não demore, Paser. — Ramsés fala e em seguida me carrega em seus braços. — Vamos, Leila.

 

(...)

 

—Onde está Paser com a parteira? — Ramsés fala para si mesmo, impaciente com a demora do sumo sacerdorte.

 

—Henutmire! — Hur entra afoito em meus aposentos. — Quando Simut me avisou, eu vim correndo. Como você está?

 

—Dói muito, Hur. — Respondo e seguro a mão dele. — Não sei como estou conseguindo suportar.

 

—Vai dar tudo certo, meu amor. — Ele fala. — Eu estou aqui com você.

 

—Não me deixe sozinha, Hur. — Peço. Sinto a dor aumentar novamente e abafo meu grito em uma das almofadas de minha cama.

 

—Aqui está a parteira, senhor. — Paser fala ao entrar nos aposentos, acompanhado por uma senhora.

 

—Por que demorou tanto, Paser? — Ramsés pergunta, impaciente.

 

—Peço perdão, soberano. — Paser fala.

—Tudo bem, o importante é que trouxe a parteira. — Ramsés fala.

 

A parteira trazida por Paser, a mesma que fez o parto de Nefertari, se aproxima de minha cama e me observa atentamente. Em seguida, coloca suas mãos em meu ventre. Não entendo o porquê disto, mas também não questiono.

 

—Eu estou com medo. — Falo para a parteira. — Estou sentindo muita dor.

 

—Não se preocupe, princesa, isso é normal. — A parteira fala. — Preciso que todos saiam, somente a moça fica. — Ela fala se referindo a Leila.

 

—Ela é minha esposa, não vou deixá-la sozinha. — Hur argumenta.

 

—Se quer ajudar sua esposa é melhor fazer o que digo. — A parteira fala.

 

—É melhor esperarmos lá fora, Hur. — Ramsés fala. — Se ficarmos, só iremos atrapalhar.

 

—Seja forte, meu amor. — Hur olha em meus olhos. — Eu estarei lá fora, esperando por você e por nosso filho.

 

Hur beija minha mão e em seguida sai de meus aposentos, acompanhado por Ramsés e Paser. Sinto ainda mais medo por não ter meu marido ao meu lado. Um milhão de coisas se passam por minha cabeça... E se eu não for forte o bastante? Por Ísis! Eu não posso ser fraca agora! É a vida do meu filho, que está lutando para nascer. Eu preciso ser forte! Sinto a mão de Leila segurar a minha, me transmitindo confiança, enquanto a parteira se coloca em sua posição. Sinto as dores cada vez mais fortes e me é impossível não gritar.

 

—Respire fundo, senhora. — Leila pede, sem soltar minha mão.

 

—O que eu tenho que fazer, Leila? — Pergunto. — Eu nunca dei a luz a um filho antes.

 

—A senhora precisa empurrar a criança para fora, quando sentir que dor é forte, está bem? — A parteira fala. Eu não tenho ideia de como fazer o que ela mandou.

 

—Está bem. — Apenas concordo.

 

A dor que sinto logo me faz entender do que a parteira falava. É neste momento que preciso ser forte e permitir que meu filho venha ao mundo. Em questão de segundos, sinto novamente a forte dor e uno todas as minhas forças para fazer o que a parteira disse. No entanto, nada acontece.

 

(...)

 

—Eu não tenho mais forças, Leila. — Falo ofegante. — As dores só aumentam, mas meu filho ainda não nasceu. — Sinto uma lágrima escapar de meus olhos. — Eu não vou conseguir.

 

—Não desista, princesa. — Leila fala, segurando firme em minha mão. — A senhora foi capaz de gerar esta criança em seu ventre, será também capaz de trazê-la ao mundo.

 

—Seja forte por seu filho, senhora. — A parteira fala.

 

Eu não posso condenar meu filho a morte por causa da minha fraqueza. Mesmo que seja a última coisa que eu faça, trarei esta criança ao mundo. Não me importo de dar a minha vida pela vida de meu filho. É meu dever como mãe! Olho para Leila e seguro firme em sua mão. Ela sorri para mim, como se entendesse a decisão que acabo de tomar. Respiro fundo e, ao sentir novamente uma forte dor, reuno as forças que me restam. Ouço meu grito estridente ecoar novamente por meus aposentos, mas em seguida ouço o choro de um bebê... Não consigo conter as lágrimas. Eu consegui! Meu filho nasceu! Eu consegui... Caio sem forças em minhas almofadas. Sinto minha vista ficar escura e logo não vejo ou ouço mais nada.

 

Por Leila

 

—São dois bebês? — Exclamo ao ver uma segunda criança nascer logo em seguida da primeira.

 

—Duas meninas. — A parteira fala. — Me ajude aqui.

 

—Por que a senhora não parece surpresa? — Pergunto quando a parteira me entrega um dos bebês.

 

—O sumo sacerdote me disse que suspeitava que a princesa esperava não uma, mas duas crianças. — A parteira responde. — Sendo assim, já vim preparada.

 

Retorno para perto da princesa, com uma de suas filhas em meus braços. Compreendo que ela esteja muito cansada, pois fez muito esforço e permanece de olhos fechados.

 

—Veja, princesa, a senhora é mãe de duas lindas meninas. — Falo, mas não tenho resposta. A princesa permanece imóvel. — Senhora? — Chamo, mas ela continua em silêncio. — Senhora Henutmire, fale comigo. Senhora? — Me desespero ao perceber que a princesa está desmaiada. — Ela está desacordada!

 

—Vá chamar o sumo sacerdote, rápido. — A parteira pede. — Não deixe que ninguém, além dele, entre nos aposentos da princesa.

 

Entrego o bebê a parteira, que com facilidade segura as duas meninas nos braços, e saio apressadamente para chamar o sumo sacerdote. Na porta, encontro Hur e o rei, aparentemente preocupados.

 

—Nós ouvimos o choro... — O rei fala.

 

—Como está meu filho, Leila? — Hur interrompe o soberano. — E Henutmire? Podemos entrar para vê-los?

 

—Ainda não. — Falo. — Onde está o sumo sacerdote?

 

—Ele foi ao santuário pedir aos deuses que protejam Henutmire e a criança. — O rei responde. — O que está acontecendo, Leila?

 

—Perdão, soberano. Mas, agora eu não tenho tempo para explicar nada. — Falo e saio apressada em direção ao santuário.

 

Por Hur

 

Já faz muito tempo que o sumo sacerdote está nos aposentos de Henutmire. Leila não saiu de lá para me dar notícias de minha esposa e de meu filho. Preocupado não é a palavra certa para me definir agora, estou muito mais do que preocupado. Meu filho nasceu, mas não me deixaram entrar para vê-lo. Leila saiu correndo para chamar Paser... Só pode ter acontecido algo de ruim com meu filho, ou com minha esposa.

 

—Se acalme, Hur. — O rei fala. — Se continuar andando de um lado para o outro vai abrir um buraco no chão.

 

—Está acontecendo alguma coisa, senhor. — Falo. — Leila não traria o sumo sacerdote se não fosse algo grave.

 

—Eu também estou preocupado, é minha irmã e meu sobrinho que estão naquele quarto. — O rei detém meus passos ao colocar suas mãos sobre meus ombros, me olhando de frente. — Tente se acalmar! Seja o que for que tiver acontecido, Paser saberá o que fazer.

 

—Assim espero, soberano. — Falo.

 

Por Henutmire

 

Lentamente, abro meus olhos e vejo que estou em meus aposentos. Não me lembro de nada, apenas do choro de um bebê... Tento me levantar, mas meu corpo parece pesado demais para mim.

 

—Como se sente, senhora? — Paser pergunta.

—O que aconteceu? — Respondo com outra pergunta.

 

—A senhora desmaiou, devido ao grande esforço que fez. — Paser responde. — Mas, está se recuperando.

 

—Eu fiquei muito tempo desacordada?

 

—Um tempo considerável, princesa. — Paser fala. — A senhora nos deu um grande susto.

 

—E meu filho? — Pergunto. — Onde está meu filho?

 

—A senhora ainda está muito fraca, precisa repousar. — Paser adverte.

—Eu preciso ver o meu filho, Paser. — Falo.

 

—Está bem, minha senhora.

 

Paser me ajuda a me sentar na cama, acomodada por muitas almofadas. Realmente estou fraca, mas sinto novas forças brotarem ao saber que carregarei em meus braços um filho, um filho gerado por mim. Estranho ao ver Leila e uma outra jovem de costas para mim. Certamente, Leila está com meu filho em seus braços.

 

—Leila. — Paser a chama.

 

Ao ouvir a voz de Paser, Leila e a outra jovem se viram para mim, cada uma com um bebê em seus braços. Meu olhar carrega tamanho espanto que faz com que Paser, Leila e a jovem riam. Não! Não é possível que... Não pode ser! Eu esperava duas crianças?

 

—A senhora é mãe de duas belas meninas, princesa. — Paser fala sorrindo.

 

—Como isso é possível? — Pergunto, ainda espantada.

 

—Não é algo que acontece sempre, mas acontece. — Paser responde.

 

—Me dêem elas. — Falo. Leila e a jovem trazem minhas filhas até mim e eu seguro uma em cada braço. — Como são lindas.

 

—Consegue segurar as duas? — Leila pergunta.

 

—Claro que consigo, Leila. — Respondo, emocionada, ao olhar para minhas filhas. São duas meninas fortes e sadias. — Sejam bem vindas, minhas filhas.

 

—Se lembra do sonho que teve, minha senhora? — Paser pergunta e eu respondo que sim. — Aqui estão as duas meninas que viu em seu sonho.

 

—Então, você já sabia?

 

—Sim, mas tive receio de contar a senhora. — Paser responde. — Confesso que temia que algo acontecesse, por isso me calei. Mas, permaneci orando aos deuses para que dessem sua proteção a princesa e a suas filhas.

 

—E os deuses te escutaram, Paser. — Falo com um sorriso, em meio a lágrimas de felicidade que tomam meus olhos.

 

(...)

 

—Elas se parecem com você. — Hur fala, segurando uma de nossas filhas em seus braços. — São tão pequenas, tão delicadas.

 

—Parece inacreditável que eu, que já não tinha esperanças de gerar um filho em meu ventre, tenha trazido ao mundo duas lindas meninas, de uma só vez. — Falo rindo ao olhar para a criança em meus braços.

 

—Obrigado por essa grande alegria, meu amor. — Hur fala e eu noto que ele está emcionado. — Sem dúvida, sou o homem mais feliz de todo o Egito.

 

—Eu que devo agradecer. — Sorrio para ele. — Além do seu amor, você me deu dois belos presentes.

 

—Nossas filhas interromperam a festa em homenagem ao filho do soberano. — Hur fala divertido.

 

—Tenho certeza que Ramsés irá perdoá-las por isso. — Falo.

 

—Como irão se chamar? — Meu marido pergunta.

 

—Ela irá se chamar Tany. — Respondo, me referindo a menina em meu colo.

 

—É um belo nome. — Hur fala. — O que significa?

 

—Filha das estrelas.

 

—E ela? — Hur pergunta, acariciando a pequena mãozinha da menina em seus braços.

 

—Se chamará Hadany, que significa nobre guerreira.


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Notas finais do capítulo

Sobreviveram? hehehehe Henutmire sendo mais forte do que imaginava.
Quero esclarecer que o nome Hadany e seu significado são puramente criações minhas. Já o nome Tany realmente existe (quem assistiu a minissérie José do Egito sabe disso), mas eu mudei seu significado para uma criação também minha. Nos vemos no próximo capítulo.



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