O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 48
Capítulo 48


Notas iniciais do capítulo

Feliz 2018, meus amores!



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Por Henutmire

 

—Com licença, princesa. — Leila pede ao abrir a porta de meus aposentos.

 

—Entre, minha querida. — Falo, ansiosa para saber o que ela pode ter a me contar. — E então, como foi na vila? Moisés já retornou de sua viagem?

 

—Ainda não, senhora. — Ela responde. — Mas, alguns hebreus já começaram a se preparar para partir.

 

—O dia da praga deve estar próximo. — Concluo com certa tristeza, pois a certeza de que os filhos de Israel deixarão o Egito após esta praga sempre deixa claro que Hur também irá embora, irá para longe de mim.

 

—Quando me viu, a primeira coisa que Hur fez foi perguntar sobre a senhora e o bebê. — Leila fala e suas palavras me fazem sorrir. — Ele ficou radiante quando eu disse o quanto sua barriga está crescida, até mais do que o esperado devido ao tempo de gravidez.

 

—Pouco mais de cinco luas. — Acaricio meu ventre delicadamente e então me acomodo melhor nas almofadas nas quais estou recostada. — Nosso menino está crescendo depressa.

 

—Será uma criança grande pelo que vejo. — Ela acrescenta.

 

—Leila, ele se mexeu! — Exclamo eufórica por sentir meu filho se mexer dentro de mim. — Me dê sua mão, rápido.

 

—Estou sentindo. — Minha dama diz assim que coloco sua mão sobre meu ventre e ela sente o bebê se mexer. — Olá, príncipe.

 

—Ele certamente iria gostar de conhecer você.

 

—Por que fala nesse tom? — Leila me olha, intrigada.

 

—Você irá partir antes de meu filho nascer. — Respondo. — E, sinceramente, não sei o que será de mim sem sua ajuda.

 

—A princesa já tem experiência como mãe, criou duas filhas ao mesmo tempo e por isso é digna de admiração. — Ela olha firmemente em meus olhos. — Além disso, Deus sempre nos surpreende. Quem sabe eu não venha a conhecer seu filho caçula?

 

—Sua fé é mesmo inabalável, Leila. — Falo com um leve riso.

 

—Com licença, minha mãe. — Hadany pede ao entrar, juntamente com sua irmã. Noto que seus semblantes demonstram preocupação e certa insatisfação.

 

—Por que estão com essas caras? — Pergunto. — O que houve?

 

—Nós fomos falar com Uri, mais uma vez. — Tany responde. — Fizemos de tudo para tentar convencê-lo a deixar o palácio, mas ele não nos deu ouvidos.

 

—Eu disse que não adiantaria insistir, alteza. — Minha dama diz. — Eu também falei com ele, tentei abrir seus olhos, mas meu marido parece cego e surdo.

 

—Não podemos desistir. — Hadany afirma, mas sua firmeza parece ser abalada quando lágrimas tomam seus olhos. — Eu não quero perder meu irmão.

 

—Nenhum de nós quer perder Uri, minha filha. — Me levanto devagar e abraço Hadany. — Mas, não cabe a nós decidir por ele.

 

—Então, temos que aceitar o fato de que nosso irmão mais velho irá morrer? — Tany indaga. — Não podemos simplesmente aceitar e nos conformar. A senhora não pensa no papai, no quanto ele vai sofrer pela morte de Uri?

 

—É no pai de vocês que eu mais penso desde que esta praga foi anunciada e assim passou a ameaçar a vida de Uri. — Falo. — Eu sou capaz de qualquer coisa para não ver Hur chorar a morte de um filho. Sendo assim, já é hora de tomar uma atitude.

 

—O que a senhora irá fazer? — Leila pergunta.

 

—Todos já falaram com Uri, não é mesmo? — Indago. — Agora é a minha vez de ter uma conversa com meu enteado.

 

(...)

 

—Com licença. — Falo ao chegar na oficina.

 

—Entre, princesa. — Uri logo deixa o que está fazendo para me dar sua total atenção. — Posso ajudá-la em alguma coisa?

 

—Eu preciso ter uma conversa séria com você. — Minha seriedade parece assustá-lo. — Na ausência de seu pai, sinto que é minha esta responsabilidade.

 

—Perdão, mas a quê vossa alteza se refere? — Ele me olha, confuso.

 

—Serei bem direta porque a situação não pede rodeios. — Falo, olhando-o firmemente. — Você sabe que a praga anunciada por Moisés virá, sabe que ela ameaça sua vida e sabe o que tem que fazer para evitar o pior. Por que se comporta como se fosse alheio a tudo isso?

 

—Senhora, eu...

 

—Sou apenas a sua madrasta, mas imaginar a sua morte já me deixa profundamente triste. — Eu o interrompo. — Agora, imagine então como estão seu pai, seu filho, sua esposa e suas irmãs. Nós só queremos o seu bem, Uri.

 

—Eu compreendo o que estão fazendo, mas simplesmente não posso fazer o que tanto me pedem. — Uri fala com seu olhar baixo. — Eu fui criado no palácio, sou um súdito leal ao faraó e sempre serei.

 

—E onde está sua lealdade consigo mesmo? — Levanto seu rosto ao tocar em seu queixo e trago seu olhar para mim. — Você vai morrer se continuar com essa atitude.

 

—Vossa alteza é objetiva em suas palavras.

 

—Não vejo outra maneira de fazer com que entenda a grande estupidez que está cometendo. — Suspiro afim de parecer mais branda. — Uri, você precisa fazer o que é certo ou toda a sua família irá sofrer por um erro seu.

 

—Eu agradeço que se preocupe comigo, mas não posso. — Ele diz, para minha frustração. — Talvez o soberano ainda reconsidere e mude de ideia.

 

—Você deve ser o único tolo que ainda acredita nesta possibilidade. — Falo sem pensar e um tanto quanto nervosa. — Eu estou tentando salvar a sua vida porque amo seu pai e porque tenho um grande carinho por você. Mas, se não quer ser ajudado, não há mais nada que eu possa fazer.

 

—Se acalme, alteza.

 

—Como pode me pedir isso, Uri? Você está vendo a morte a sua frente e age como se estivesse tudo bem! — Altero minha voz. — Você está sendo grandemente egoísta!

 

—Por favor, senhora, se acalme. — Meu enteado pede, em vão.

 

—Depois que estiver morto, nada fará diferença para você! Mas, fará para os que vão ficar, pois não serão seus olhos a chorar sua morte. — Exclamo, cada vez mais nervosa. — Você diz que foi criado no palácio, que se sente como um egípcio e não como um hebreu. Mas, isso não é mais que uma desculpa esfarrapada diante do fato de que até egípcios de nascimento deixarão o palácio para proteger seus primogênitos.

 

—A princesa não deve ficar tão deve ficar tão nervosa! — Uri fala com firmeza ao segurar em meus braços e me fazer olhar em seus olhos, na tentativa de que isso me acalme. — Sabe que isso faz mal para a senhora e para a criança.

 

—Seu irmão, que sequer terá a oportunidade de te conhecer. — Eu o encaro. — Eu desisto, Uri! Nada do que eu disser com brandura ou com braveza fará com que compreenda o tamanho de seu erro.

 

—Eu...

 

—Não diga mais nada! — Interrompo meu enteado. — Ao menos eu sei que não carregarei em minha consciência o peso de não ter feito tudo o que podia para salvar a vida do primogênito de meu marido. — Suspiro, exausta. — Ainda há tempo, embora não muito. Espero que você pense melhor e tome a decisão certa.

 

Diante do silêncio totalmente compreensível de Uri, dou-lhe as costas e me preparo para deixar a oficina. Mas, ao dar os primeiros passos logo me detenho ao sentir uma forte dor em meu ventre. Me apóio em uma mesa, o que chama a atenção de meu enteado para mim.

 

—Está tudo bem, alteza? — Ele pergunta ao se aproximar cautelosamente.

 

—Não... — Falo assustada ao ver a saia de meu vestido azul manchada de sangue. Logo me dou conta do que está acontecendo e me desespero. — Não! Não!

 

—O que houve, senhora Henutmire? — Uri pergunta, preocupado, e então me viro para ele. Seus olhos se tornam enormes de espanto. — O bebê...

 

—Isso não pode estar acontecendo outra vez! — Falo com voz embargada. — Não pode!

 

Mais do que depressa, Uri me toma em seus braços e com passos rápidos deixa a oficina. Eu sequer consigo demonstrar reação alguma a isto, pois o tom de vermelho vivo em minhas vestes me deixa perplexa e amedrontada como jamais estive. Eu não posso estar perdendo meu filho. Não posso!

 

—Deus, o Senhor me deu este filho mesmo que todas as circunstâncias e leis da natureza humana sejam contrárias. — Mesmo em silêncio, clamo ao Deus de Israel. — Por favor, conserve sua vida e não permita que nada de mal lhe aconteça.

 

(...)

 

—Beba, minha senhora. — Paser faz com que eu beba um líquido de sabor terrivelmente amargo.

 

—Para que serve esta fórmula? — Pergunto após tomá-la e levo uma de minhas mãos até a boca ao sentir meu estômago revirar-se por causa dela.

 

—Para segurar a criança em seu ventre. — Ele responde e de imediato eu o olho, assustada. — Não que a senhora corra o risco de perder seu filho, é apenas por precaução devido ao que aconteceu.

 

—Tem certeza que não há possibilidade de eu sofrer outro aborto? — Pergunto, mas temo a resposta.

 

—O sangramento que teve, ainda que incomum, não prejudicou em nada a gestação da criança. — Paser fala e eu suspiro aliviada. — Mas, pelo estado como a encontrei, posso assegurar que o que aconteceu foi devido a alguma situação de nervosismo pela qual a princesa passou.

 

—Tive uma discussão com Uri. — Revelo e o olhar de Leila para mim se torna mais fechado. — Aconteceu muito rápido, nem me dei conta do quanto estava exaltada naquele momento.

 

—Eu compreendo, mas deve evitar situações extremas como esta ou em uma próxima vez não haverá nada que eu possa fazer para salvar a vida de seu bebê. — A seriedade do sumo sacerdote chega a ser assustadora. — Vossa alteza deve repousar o restante do dia e se alimentar para repor as forças.

 

—Farei como diz. — Concordo. — Muito obrigada, Paser.

 

—Não há o que agradecer, minha senhora. — Ele sorri e em seguida olha para meu ventre. — Fiquem bem.

 

O sumo sacerdote faz uma reverência simples e logo em seguida se retira. Leila tem o cuidado de ajeitar minhas almofadas para que eu fique mais confortável, mas seu silêncio demonstra certo receio em me dirigir a palavra e eu sei o porquê.

 

—Não se sinta mal pelo que houve, minha querida. — Peço. — Não foi sua culpa.

 

—Mas, foi culpa de Uri e ele é meu marido. — Ela diz. — Não sabe a vergonha que estou sentindo por saber que ele quase provocou a perda de seu filho.

 

—A culpa não é apenas dele, Leila. — Falo. — Eu me excedi diante de sua teimosia sem fim, quando deveria ter me controlado.

 

—A teimosia de Uri tira qualquer pessoa do sério, senhora. — Ela me olha. — E se a princesa ficou tão nervosa com ele a ponto de quase sofrer um aborto é porque Uri é de um orgulho tão grande que não se deixou convencer por nada do que disse.

 

—Infelizmente, não há mais nada o que possamos fazer. — Afirmo, triste. — A propósito, onde ele está?

 

—Esperava por notícias da princesa do lado de fora. — Leila responde. — Ele se sente culpado pelo que houve e, mesmo preocupado, não quis entrar para vê-la e saber como estão a senhora e o bebê.

 

—Deus foi grandemente benigno comigo, Leila. — Sorrio ao deslizar suavemente minha mão sobre meu ventre. — Eu pensei que fosse perder meu filho, mas o Senhor não permitiu que isso acontecesse.

 

—Isso apenas reafirma que o Senhor tem propósito nas vidas da princesa e dessa criança. — Minha dama sorri com doçura e logo suas mãos conduzem o macio cobertor sobre meu corpo. — Durma um pouco, lhe fará bem.

 

Por Hadany

 

—Uri! — Esbravejo ao entrar em seu quarto sem a menor cerimônia. — Você ficou louco?

 

—Acalme-se, minha irmã. — Tany tenta me conter, mas é inútil.

 

—Minha mãe tenta te ajudar e você retribui quase provocando a morte de meu irmão? — Indago, furiosa.

 

—Eu não tive culpa, Hadany. — Uri se defende. — Eu não sabia que se a princesa ficasse tão nervosa poderia...

 

—Todos no palácio sabem que o nervosismo de minha mãe é um perigo para sua gravidez! — Interrompo.

 

—Eu pedi mais de uma vez para a senhora Henutmire se acalmar, mas ela não me escutou. — Ele diz. — Inclusive, eu tive que segurá-la para que controlasse seus ânimos.

 

—Depois de já tê-la deixado exaltada com sua teimosia. — Acrescento. — Se minha mãe tivesse perdido o bebê, como você iria sentir? Como iria olhar para ela?

 

—Eu já me sinto culpado pelo que houve. — Meu irmão baixa seu olhar.

 

—Isso não muda os fatos!

 

—Chega, Hadany! — Tany exclama. — O que aconteceu foi uma fatalidade que, graças a Deus, não terminou em uma tragédia maior. — Minha irmã olha em meus olhos. — Nossa mãe e nosso irmãozinho estão bem, é isso que importa.

 

—Eu sinto muito se minha atitude deixou a princesa Henutmire nervosa e com isso quase lhe provocou um aborto. — Uri fala e então me olha com receio. — Mas, em nenhum momento tive a intenção de causar mal algum, a ela ou ao bebê. Peço perdão por isso.

 

—Me desculpe se me exaltei mais do que deveria, Uri. — Suspiro antes de continuar. — Quando Paser nos contou o que aconteceu, eu fiquei incrédula e totalmente fora de mim. — Me aproximo de meu irmão. — Minha mãe já teve muitos sofrimentos em sua vida, passou por momentos horríveis e está prestes a passar novamente com a partida de nosso pai. Ela não merece, e nem se suportaria, a perda da criança que espera.

 

—Eu compreendo você, até mais do que imagina. — Ele diz e abre seus braços para mim, que logo me coloco entre eles. — Me perdoe pelo que fiz, minha irmãzinha. Eu conheço sua mãe há anos, sei a pessoa maravilhosa que ela é. Garanto a você que nunca faria nada que a fizesse sofrer de forma intencional.

 

—Vamos esquecer o que houve, está bem? — Falo ao abraçá-lo mais forte. Não sei porque, mas sinto a necessidade de fazer isso.

 

—Você irá para a vila? — Tany pergunta para Uri.

 

—Já não posso dizer que não, mas também não posso dizer que sim. — Ele responde e então desfaço o abraço para olhá-lo. — Apesar de tudo, as palavras da senhora Henutmire mexeram comigo. Porém, ainda não tenho certeza de nada.

 

—Não deixe para ter certeza quando for tarde demais. — Falo, sincera.

 

(...)

 

—Vossa alteza discutiu com Uri? — Leila pergunta.

 

—Acho que foi muito pior que uma discussão. — Falo, envergonhada. — Eu teria batido em meu próprio irmão se Tany não estivesse lá para me conter.

 

—Tem razão em sua atitude, princesa.

 

—Não tenho, Leila. Uri é meu irmão, jamais deveria ter falado com ele como falei, ainda mais em um momento como este. — Exausta, afundo meu rosto em minhas mãos. — Acho que eu preciso de um descanso das intensidades que a vida anda me proporcionando.

 

—Do que está falando? — Minha cunhada me olha, intrigada.

 

—A preocupação com a gravidez de minha mãe, com a vida de Uri. — Eu a olho. — A briga com Chibale.

 

—Briga? — Leila se surpreende. — Como isso aconteceu?

 

—Tivemos um sério desentendimento quando ele tentou me convencer a fugir do palácio e ir embora com ele quando os hebreus partirem. — Respondo. — Desta vez não haverá reconciliação, Leila.

 

—Mas, a princesa o ama. — Ela argumenta.

 

—Existe alguém que eu amo mais. — Falo com um sorriso ao acariciar levemente o rosto adormecido de minha mãe.

 

—Vossa alteza abriria mão de um amor para ficar ao lado de sua mãe?

 

—É um amor adolescente, inconstante e até passageiro. Chibale irá para longe e com o tempo lembrarei dele apenas como um bom amigo que passou por minha vida. — Digo e então passo a deslizar minha mão suavemente sobre o ventre de minha mãe. — Ela e ele precisarão de mim quando meu pai partir.


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