O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 43
Capítulo 43




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Por Henutmire

 

Singelas lágrimas deslizam por meu rosto e sequer tenho o cuidado de secá-las. Depois que fui obrigada a deixar meu marido ir embora, quis ficar sozinha. No entanto, agora eu posso estar onde quer que seja que jamais estarei sozinha. Eu tenho meu filho comigo, já não sou apenas eu a depender de mim.

 

—Já faz quase quatro luas que você está aqui. — Faço suaves carícias em meu ventre. É como se assim eu pudesse tocar a criança que cresce dentro de mim. — Eu rogo a Deus que me dê força e saúde para cuidar de você e te ver crescer.

 

—Com certeza o fará. — Ramsés me surpreende ao entrar em meu quarto. — Você é uma mulher de força e coragem admiráveis.

 

—Forte, corajosa, determinada, justa, destemida, bondosa... — Repito o que sempre ouço pessoas dizerem a meu respeito. — Eu posso ser tudo isso, mas não sou mais nenhuma jovenzinha.

 

—Os anos que vivemos são recompensas pelos nossos atos. — Ele se senta ao meu lado. — Você é a melhor das pessoas que o mundo poderia ter, fez por merecer ter uma vida longa e feliz e assim será. Você verá essa crianca crescer, verá suas filhas se tornarem belas mulheres, conhecerá seus netos e ainda terá toda a vitalidade necessária para brincar com eles e fazê-los sorrir.

 

—Belas palavras, meu irmão. — Elogio. — Mas, o que eu menos desejava era ter uma vida longa, para viver tudo o que você disse, sem Hur ao meu lado.

 

—Prefiro não tocar nesse assunto, Henutmire. — Ele desvia seu olhar de mim.

 

—E quanto aos hebreus? — Pergunto ao me levantar. — Finalmente os deixará partir?

 

—O que te faz pensar que eu vou permitir que os escravos deixem o Egito? — Ele me olha, sério.

 

—Você foi até a vila, a praga terminou. — Respondo. — Eu pensei que...

—Não fiz promessas a Moisés! — Ele me interrompe. — Os escravos não sairão do Egito!

 

—Você ainda irá chorar amargamente quando perceber o tamanho do seu erro! — Esbravejo, farta da teimosia de meu irmão. Todavia, logo sou acometida por uma tontura que faz com que eu perca meu equilíbrio.

 

—Henutmire! — Ramsés se apressa em me amparar e seu olhar demonstra preocupação para comigo. — Pelos deuses! O que você tem?

 

—Não é nada, foi apenas uma tontura.

 

—É melhor se deitar. — Ele me ajuda a chegar até a cama, onde me deito no mesmo instante.

 

(...)

 

—Vossa alteza está bem, não foi nada grave. — Paser diz, para alívio de Ramsés. — Mas, recomendo que evite se exaltar, o nervosismo pode representar um perigo real para sua gravidez.

 

—A culpa foi minha, Paser. — Ramsés assume, cabisbaixo. — Sinto muito, minha irmã.

 

—O importante é que meu filho e eu estamos bem. — Afirmo em curtas palavras.

 

—Se voltar a se sentir mal, beba algumas gotas desse preparado. — O sumo sacerdote me entrega um frasco de porte médio.

 

—Meu filho corre algum risco, Paser? — Pergunto, preocupada.

 

—Apenas se a princesa não se cuidar como deve. — Ele responde. — Caso contrário, não há nada com o que se preocupar.

 

—Me perdoe, Henutmire. — Ramsés se ajoelha ao lado da cama e segura minha mão. — Não quero que nada aconteça a você e a meu sobrinho, me perdoe.

 

—Já passou, Ramsés. — Eu olho para ele. — Há muitos outros motivos para você se sentir culpado. 

 

Por Hadany

 

Caminho pela arena de treinamento, na qual não há ninguém além de mim. Pego uma espada e desfiro alguns golpes contra o ar. Todavia, meu coração pesa mais que a arma em minhas mãos e eu logo abandono a espada no chão. Sinto uma profunda tristeza por novamente ter sido obrigada a me despedir de meu pai, despedida que desta vez pareceu ser definitiva. Agora, tudo o que eu preciso é confiar em Deus, acreditar que Ele pode resolver essa situação.

 

—O que faz aqui sozinha? — Ouço alguém perguntar e me surpreendo grandemente ao me deparar com Chibale. Ele nota meu espanto e ri. — Eu a assustei tanto assim?

 

—Você não me dirige a palavra desde que Amenhotep feriu Alon, exatamente aqui. — Respondo ao olhar em volta e me lembrar daquele dia. — Estou surpresa em te ver, apenas isso.

 

—Eu tive medo de me aproximar novamente da princesa, medo por achar que assim poderia te perder para sempre. — Ele toma minhas mãos nas suas. — Não posso perder a sua amizade, nem o seu amor, porque vossa alteza é muito importante para mim.

 

—O que espera que eu diga? — Pergunto, sem a intenção de parecer grosseira, pois realmente não sei o que dizer.

 

—Nada, princesa. Não espero e nem preciso que diga nada. — Chibale responde. — Eu quero apenas lhe pedir perdão, mais uma vez, pela minha atitude.

 

—Está perdoado, Chibale. — Falo, surpreendendo até a mim mesma. — Vamos esquecer o que houve, é o melhor que fazemos.

 

—Não sabe como suas palavras me deixam aliviado, alteza. — Ele sorri. — Agora sim eu posso ir tranquilo.

 

—Onde vai?

 

—A soberana pediu para meu pai e eu irmos até a vila dos hebreus buscar mais pães. — Ele responde, me deixando abismada. — Mas, ela não quer que ninguém saiba.

 

—Orgulhosa até o fim. — Falo, desaprovando a atitude de minha tia.

 

—Foi pelo pedido da rainha que vim a sua procura, princesa. — Chibale olha em meus olhos. — Eu queria me despedir como amigo, pois tenho a forte sensação de que esta é a última vez que irei vê-la.

 

—Por que diz isso? — Pergunto, assustada pelo modo como fala.

 

—Não sei como explicar, apenas sinto. — Ele coloca sua mão carinhosamente em meu rosto, mas não interpreto seu gesto como ousadia de sua parte. — Independente do que acontecer, fique bem.

 

Os olhos de Chibale permanecem presos aos meus. Pela ternura de suas palavras, consigo perceber o quanto se preocupa comigo, o quanto me ama. Então, sem pensar em nada, tomo a iniciativa e beijo Chibale. Noto que ele se surpreende com minha atitude, mas logo corresponde a união de nossos lábios.

 

Por Tany

 

—Perdão, alteza. — Alon pede ao esbarrar em mim, pois vinha apressado pelo corredor sem olhar para a frente.

 

—Não se preocupe, estou bem. — Falo, mas logo noto o quanto ele está transtornado. — Está tudo bem, Alon?

 

—Sim, princesa. — Ele responde, mas seus olhos o desmentem. — Quer dizer, não. Não está nada bem!

 

—O que houve? — Pergunto, preocupada.

 

—Eu estava indo ao campo de treinamento e... — Alon se cala, como se o que está por dizer o ferisse profundamente. — Vi sua irmã com Chibale.

 

—Tem certeza? — Indago e ele afirma que sim. — Mas, os dois não se falavam desde que você foi ferido por Amenhotep.

 

—Vossa alteza pode ter a certeza de que eles se entenderam e muito bem. — Ele afirma, me deixando confusa. — A princesa Hadany beijou o filho de Gahiji.

 

—O quê? — Pergunto, rindo. — Desde quando minha irmã é tão ousada?

 

—O amor tem dessas coisas, princesa. — Alon fala, tristonho. — Eu preciso tirar sua irmã de meu coração, para o meu próprio bem.

 

—Nem sempre é uma tarefa fácil fazer com que um amor não correspondido desapareça de dentro de nós.

 

—Sinto muito, alteza. Eu não deveria falar sobre isso sabendo o que sente por mim. — Ele se desculpa ao perceber que minhas palavras falam de mim mesma. — Me perdoe, não tive a intenção de deixá-la triste.

 

—Fique tranquilo, Alon. Eu sei lidar com meus sentimentos, sejam eles quais forem. — Afirmo e sorrio afim de tranquilizá-lo. — Mas, se quer um conselho, tente passar a ver Hadany apenas como uma amiga.

 

—Em meu lugar, vossa alteza faria isso?

 

—Não, eu não faria. — Respondo, dando ênfase a última palavra, e ele me olha. — É o que faço desde que te conheci.

 

Por Henutmire

 

—Ficaram deslumbrantes, senhora. — Leila fala, encantada com meus novos vestidos que trouxe das artesãs. — Veja este, tão belo e delicado como a própria princesa.

 

—Bondade sua, Leila. — Sorrio e pego o vestido ao qual ela se refere. Sua cor é de um tom de azul escuro bastante peculiar. Seu modelo também se difere dos demais. Mangas compridas, porém justas até a altura dos cotovelos, onde um cuidadoso bordado circunda o tecido e marca uma pequena abertura que se alarga e se estende até os pulsos. O corpo do vestido foi feito com uma quantidade maior de tecido, para se adequar ao tamanho de meu ventre quando estiver maior. — Este é diferente de qualquer outro que já tive.

 

—Ficará lindo na senhora. — Ela fala com um sorriso, enquanto dobra os outros vestidos para serem guardados. — Princesa, eu queria pedir sua permissão para me ausentar por algumas horas. Gahiji e Chibale vão a vila e eu gostaria de ir com eles para ver meu filho.

 

—Claro que pode ir, Leila. — Falo. — A propósito, quando é o casamento de Bezalel?

 

—Daqui a três dias. — Ela responde. — Hur me disse que estavam apenas esperando terminar de construir a huppah.

 

—Construir o que? — Pergunto, sem entender do que ela fala.

 

—Em todo casamento hebreu, o homem constrói a huppah. É feita de madeira, coberta por um tecido branco e adornada com flores. — Leila explica. — É debaixo da huppah que a cerimônia é celebrada e os noivos se tornam marido e mulher com a bênção de Deus.

 

—Interessante. — Digo ao entregar o vestido para que Leila o guarde junto aos outros. — É uma pena que eu não possa ir ao casamento de Bezalel.

 

—Gostaria mesmo de ir? — Ela parece se surpreender.

 

—Sempre tive muito carinho por seu filho, Leila. Gostaria sim de estar presente em um momento tão importante em sua vida. — Falo sorrindo. — Além disso, você despertou a minha curiosidade em presenciar um casamento hebreu.

 

—O Senhor com certeza lhe dará esta oportunidade, senhora. — Leila ri.

 

—Por que não fica na vila até o dia do casamento? — Falo, sugestiva.

 

—É uma ótima ideia, mas não considero deixá-la sozinha por tanto tempo. — Ela diz. — Eu voltarei ao palácio com Gahiji e irei novamente a vila no dia do casamento de Bezalel.

 

—Tudo isso é preocupação comigo? — Pergunto, rindo.

 

—Sim, mas também é uma promessa que devo honrar. — Leila me olha. — Eu prometi a senhora que nunca a abandonaria, mas também prometi a Hur que cuidaria bem da mulher que ele ama.

 

(...)

 

—Meu avô disse que a senhora se sentiu mal. — Mayra fala, enquanto sua mão acaricia meu ventre. — Já está melhor?

 

—Sim, não se preocupe. — Falo sorrindo. — Eu só fiquei um pouco abalada depois de me despedir de Hur.

 

—Eu pedi a Deus para trazê-lo de volta para nós, ou nos levar até ele. — Ela diz. — O Senhor irá me atender, não é?

 

—Ele fará o que for melhor para nós, tenha certeza. — Deposito um beijo no rosto de minha sobrinha e me levanto para servir-me de água.

 

—Tia Henutmire. — Mayra chama por mim. Sua voz parece de quem está assustada.

 

—Pode falar. — Me viro para ela.

 

—Olhe! — A menina então aponta para a janela e no mesmo instante entendo porque ela está tão assustada. Vejo o céu escurecer aos poucos, apagando toda a luz do sol. — Não vai chover pedras de fogo outra vez, vai?

 

—Eu acho que não. — Respondo. — Fique aqui.

 

Caminho com cautela até a varanda e meus olhos parecem não acreditar no que vejo. Uma espécie sombra negra cobre todo o Egito, o qual já não consigo ver. Tomada pela coragem, estendo minha mão e me assusto ao perceber que é uma treva tão espessa que é possível tocá-la. Entro rapidamente em meus aposentos e procuro por uma lamparina. Ao encontrar, acendo-a e coloco sobre a mesa ao lado da cama, onde me sento junto a Mayra.

 

—O que é? — Ela pergunta.

 

—Eu não sei, mas é assustador.

 

Então, tudo fica escuro em meus aposentos, já não consigo ver móveis ou qualquer outro objeto. Abraço Mayra ao perceber o quanto ela está assustada com o que vemos acontecer. A luz da lamparina é tudo o que ainda ilumina o quarto, mas esta luz enfraquece pouco a pouco, até que desaparece por completo. Então, ficamos na mais completa escuridão.


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Notas finais do capítulo

Ramsés esqueceu de pagar a conta de energia. kkkkkkk Chegamos a nona praga.



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