O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 42
Capítulo 42


Notas iniciais do capítulo

É o seguinte, pessoal! Eu não ia mais tocar nesse assunto, então esta é a última vez que vou falar sobre comentários. Não vou repetir o que já disse antes, apenas vou dizer que se vocês (leitores de OMA que têm conta aqui Nyah) não comentam eu não tenho como saber se estão gostando ou não do que está sendo postado. Não quero ser chata, mas concordam que comentários são a única maneira de eu ter contato com vocês e vocês comigo?

Enfim... Eis aqui o capítulo 42. Boa leitura!



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Por Henutmire

 

 Flash back on

 

—Conte uma história para nós, mamãe. — Hadany pede ao se deitar na cama, ao lado de Tany.

 

—Qual história vocês querem ouvir? — Pergunto, me sentando junto a minhas filhas.

 

—De uma princesa. — Tany responde sem pensar duas vezes.

 

—Era uma vez uma bela princesa, que vivia em reino encantador. Seu maior desejo era ser mãe, mas por algum motivo que ela não entendia nunca pudera gerar um filho em seu ventre. Sua tristeza era tão grande que a princesa não via em sua vida nada mais que uma intensa e vazia escuridão, seu coração sempre parecia incompleto. Ninguém podia ajudá-la, ninguém podia entender a dor que ela sentia. Por isso, a princesa sofria em silêncio. — Conto minha própria história e minhas filhas ouvem atentas, sem fazerem ideia de que falo de mim mesma. — Mas, um dia a princesa foi agraciada com uma grande surpresa: ela esperava um filho. Sua felicidade era tamanha que contagiava a todos ao seu redor. Quando o momento chegou, ela trouxe ao mundo uma linda menininha. E ao olhar em seus olhos pela primeira vez, a princesa soube que aquela pequena garotinha era a luz que ela precisava para iluminar sua vida para sempre. Conforme a menina crescia, a princesa se dava conta de que sua filha era tudo em sua vida, era o que de mais importante ela possuía. Conforme a menina crescia, a princesa se tornava a mulher mais destemida de todo o reino. Ela sentia em seu coração que nada seria capaz de lhe dar medo, pois enfrentaria tudo e todos por sua filha. — Ao som de minha voz, minhas filhas adormecem tranquilas e seguras. — E a princesa, que antes se sentia tão só, ganhou uma razão única para viver. Numa noite em especial, enquanto colocava a menina para dormir, a princesa lhe fez uma promessa. Prometeu que a filha teria para sempre todo o seu coração, todo o seu amor e que jamais a deixaria. — Acaricio os rostinhos adormecidos das duas crianças e em seguida dou um beijo em cada uma. — Durmam bem, minhas filhas. Eu estarei aqui cuidando de vocês.

 

—Creio que eu conheça a princesa da história. — Hur me surpreende com sua presença, pois eu não o vi entrar em nosso quarto.

 

—Há quanto tempo está aí? — Pergunto.

 

—Há tempo suficiente para ouvir você contar sua história para nossas filhas. — Ele se senta ao meu lado. — Uma história que começou triste, mas que teve um final feliz.

 

—A princesa alcançou a felicidade que sempre buscou. — Olho em seus olhos. — Ela deve isso a um grande homem, que lhe mostrou o que verdadeiramente significa amar. — Faço uma carícia delicada no rosto de meu marido. — Eu quero estar com você em todos os momentos de minha vida, Hur.

 

—Eu estarei contigo sempre, meu amor. Jamais te deixarei, jamais. — Ele sorri e deposita um beijo suave em meus lábios. — E se algum dia algo nos separar, tenha a certeza de que meu coração será sempre seu. Sempre.

 

—Eu te amo. — Falo com um sorriso.

 

—Te amo mais. — Hur me abraça.

 

—Te amo muito mais. — Falo quase em um sussuro e fecho meus olhos, desfrutando do carinho que os braços de meu marido me proporcionam.

 

Flash back off

 

 

—Está chorando de novo? — Leila se apressa em secar as lágrimas de meu rosto. — Qual o motivo destas lágrimas?

 

—Lembranças. — Respondo. — Acho que estou muito emotiva ultimamente.

 

—É natural que seja assim. — Ela fala. — Mulheres em seu estado são mais sensíveis a emoções.

 

—Você estará por perto? — Pergunto.

 

—Sempre. — Leila responde, enquanto coloca uma pulseira em meu braço esquerdo. — Mas, a quê exatamente se refere?

 

—Quando Hur chegar, gostaria que você estivesse por perto. — Peço. — Tenho medo de não me sentir bem.

 

—Estarei a uma distância segura para o que a princesa precisar. — Ela diz, me fazendo sorrir.

 

—Obrigada, minha querida. — Agradeço. — A propósito, há algo que quero conversar com você há algum tempo.

 

—Fiz algo que não lhe agradou? — Minha dama me olha, já preocupada.

 

—Pelo contrário. Eu não sei o que seria de mim sem a sua fiel amizade. — Falo. — Mas, eu não quero prendê-la a mim. Sei que sente saudades de seu filho e de viver com seu povo. Saiba que se quiser deixar o palácio, tem minha permissão e meu apoio.

 

—A senhora tem razão, sinto muito a falta de Bezalel e de viver como uma hebreia de verdade. — Leila segura uma de minhas mãos. — Mas, eu nunca seria capaz de deixá-la sozinha, ainda mais agora que espera um filho e precisa tanto de mim.

 

—Quando os hebreus partirem do Egito, quero que vá com eles para Canaã. — Afirmo. — Eu não me perdoaria se você ficasse longe de seu filho por minha causa.

 

—Se quando o meu povo partir eu tiver que deixá-la, saberei que Deus cuidará da senhora por mim. — Ela sorri. — Até lá, cumprirei a promessa que fiz de nunca deixar a princesa sozinha.

 

—Você é uma filha a mais que Deus me deu, Leila. — Falo e seu sorriso se torna maior.

 

—Com licença, alteza. — Alon pede ao entrar em meu quarto.

 

—Já está indo? — Pergunto sobre ele ir a vila buscar Hur.

 

—Sim. — Responde.

 

—Minhas filhas estarão esperando no jardim. Quando chegar, leve Hur até lá. — Peço. — Deixarei que elas vejam o pai primeiro, assim eu ganho algum tempo para me preparar.

 

—Farei como a princesa deseja. Com sua licença. — O rapaz faz uma simples reverência e se retira em seguida.

 

—Tem certeza de que quer fazer isso? — Leila questiona.

 

—Tudo o que eu quero é abraçar meu marido novamente, é sentí-lo junto a mim mais uma vez, seja por uma vida ou seja por alguns instantes. — Falo. — Mas, deixá-lo ir depois será uma das coisas mais difíceis que farei.

 

Por Hur

 

—Coloque aqui. — Falo ao mostrar a Bezalel o lugar da jóia onde ele deve colocar a pedra lapidada.

 

—O senhor acha que ela vai gostar? — Ele pergunta, entusiasmado com o presente que dará a sua noiva no dia do casamento.

 

—É claro que vai, está ficando lindo. — Respondo e meu neto sorri.

 

—Eu tive um ótimo mestre. — Bezalel fala e é a minha vez de sorrir. — Não é um colar tão belo quanto as jóias que fazia para a princesa, mas acho que serve para honrar tudo o que o senhor me ensinou.

 

—Acha mesmo que as jóias que fiz para Henutmire eram belas peças? — Pergunto.

 

—Eu me lembro bem de como o senhor se dedicava ainda mais em fazer uma jóia quando era para a princesa. — Ele responde. — A senhora Henutmire usava as jóias mais lindas e invejadas de todo o reino. Uma das mais belas é o colar que o senhor deu a ela quando Hadany e Tany nasceram.

 

—É o colar preferido de Henutmire. — Sorrio, mas logo meu sorriso se desfaz. — Ou ao menos era.

 

—Com certeza ainda é. — Bezalel coloca sua mão esquerda em meu ombro. Logo ouvimos batidas na porta e meu neto se levanta para atender. Ao abrí-la, não consigo ver de quem se trata. — Pois não?

 

—Eu procuro pelo senhor Hur. — Uma voz masculina e familiar responde. — Ele está?

 

—Sim, entre. — Bezalel faz com que a visita entre na casa.

 

—Alon? — Me surpreendo ao reconhecer o rapaz em trajes de alguém da guarda real. — Você é um oficial do rei?

 

—Aconteceram muitas coisas que o senhor não sabe, mas logo saberá. — Ele fala. — Eu vim a mando do soberano, tenho ordens para levá-lo ao palácio.

 

—Ao palácio? — Indago, incrédulo. — Desculpe, mas eu não entendo. Ramsés disse que eu jamais poderia voltar.

 

—No caminho eu lhe explico melhor, mas precisamos ir agora. — Alon fala. — É melhor não arriscar que o rei mude de ideia.

 

(...)

 

Olho para as paredes a minha volta, tudo parece tão estranho para mim. Sei que vivi no palácio por muitos anos, mas agora já não me sinto bem aqui. E pior, ainda não sei porque exatamente estou aqui. Alon me disse que foi um pedido que Henutmire fez a Ramsés, mas não entendo porque ela faria isso. Sei muito bem o que houve entre nós dois antes de eu deixar o palácio, sei muito bem o quanto ela ficou magoada comigo, e talvez ainda esteja.

 

—Estão te esperando. — Alon fala assim que paramos na entrada do jardim.

 

—Quem? — Pergunto.

 

—Veja com seus próprios olhos. — Ele diz e faz um gesto para que eu entre no jardim.

 

Caminho com certo receio pelo local, confesso que com um pouco de medo. No entanto, medo e receio se transformam em uma imensa alegria assim que vejo minhas filhas. Um enorme sorriso se forma em meus lábios e eu não consigo pensar em mais nada. Apenas corro de encontro a elas, até tê-las junto a mim e abraçá-las com todas as forças de minha saudade.

 

—Minhas filhas. — Sorrio ao sentir que elas correspondem ao meu abraço. — Como eu senti saudade!

 

—Nós também, papai. — Tany fala com um sorriso ao nos separarmos.

 

—O senhor está diferente, não parece mais o meu pai. — Hadany brinca, nos fazendo rir.

 

—Minha aparência pode mudar, mas o meu amor de pai nunca mudará. — Falo e elas sorriem.

 

—Vou avisar a princesa Henutmire que o senhor está aqui. – Alon dirige uma reverência a minhas filhas. — Com licença de vossas altezas.

 

—Tem toda. — Tany diz e o rapaz se retira.

 

—Fiquei surpreso ao ver Alon vestido como um oficial do rei. — Falo. — Como isso aconteceu?

 

—Foi uma atitude surpreendente de meu tio. — Hadany responde. — O senhor não sabe, mas depois da morte de Anat descobrimos que Alon é filho dela com Disebek.

 

—O quê? — Indago, abismado. — Como?

 

—É uma longa e aparentemente inacreditável história. — Tany fala. — Quando tivermos mais tempo, contaremos tudo ao senhor.

 

—Por hora, basta saber que Alon é irmão da rainha. Bastardo, mas ainda assim irmão de sangue. — Hadany fala. — Ele é um príncipe, mas recusou ao título e a ser legitimado por tia Nefertari. Então, meu tio deu a ele um lugar na guarda real.

 

—Esta história limita-se aos muros do palácio, ninguém de fora sabe que Alon é um bastardo de Disebek. — Tany me olha. — Peço por favor que não comente nada com ninguém, para a sua própria segurança.

 

—Não se preocupe, não direi nada a ninguém. — Afirmo. — Vocês podem me dizer porque sua mãe pediu a Ramsés para que eu viesse aqui?

 

—Não sabemos. — Hadany responde, mas parece estar mentindo. — Talvez ela sinta a sua falta.

 

—Tenho fortes razões para acreditar que não é esse o motivo. — Falo e olho para minhas filhas. — É sobre o divórcio? Ramsés fez o que prometeu?

 

—Não vai precisar esperar muito para saber, meu pai. — Tany responde e seus olhos se desviam para outra direção. Acompanho seu olhar e logo me deparo com Henutmire entrando no jardim, acompanhada por Alon e Leila. Eu simplesmente perco a fala, fico sem ação ao ver que seus passos solenes e calmos a aproximam de mim. Pode parecer tolice de minha parte, mas Henutmire está ainda mais bela. Algo nela está mudado, mas não consigo saber exatamente o que é.

 

Por Henutmire

 

Bastou eu colocar meus olhos em Hur para sentir todo o meu corpo estremecer. Por mais que eu tenha me preparado para este momento, definitivamente não estou pronta. Faço com que meus passos sejam os mais vagarosos possíveis, para ganhar tempo antes de dirigir alguma palavra a meu marido. Hur parece paralisado ao me olhar, seu rosto não expressa reação alguma, o que me deixa nervosa. Então, meus passos cessam assim que fico frente a frente com ele.

 

—Shalom, meu sogro. — Leila se pronuncia, quebrando o silêncio que se fez no jardim.

 

—Shalom, Leila. — Hur sorri. — Posso lhe dar um abraço?

 

—É claro que sim. — Ela diz e logo os dois se abraçam. — Não sabe como fico contente em vê-lo de novo.

 

—Eu digo o mesmo, minha nora. — Ele fala e volta seu olhar para mim, porém de forma tímida que até remete a um servo diante de sua senhora.

 

—Eu preciso conversar a sós com o pai de vocês. — Falo para minhas filhas. — Pedirei que as chamem de volta em alguns minutos.

 

—Leve o tempo que precisar, mamãe. — Hadany diz com um sorriso e deposita um beijo em meu rosto, assim como Tany.

 

—Eu as acompanho, altezas. — Alon fala e logo em seguida ele e minhas filhas deixam o jardim.

 

—Estarei por perto, como pediu. — Leila fala e se distancia de nós, me deixando sozinha com Hur.

 

—Há quanto tempo. — É tudo o que consigo dizer ao olhar para ele, pois um milhão de coisas a serem ditas se atropelaram em minha mente.

 

—Uma eternidade para mim. — Ele diz.

 

—Você está tão diferente, eu quase não o reconheço. — Tento controlar a minha vontade de me jogar em um abraço nos braços de Hur.

 

—Já você não mudou nada, apenas está ainda mais linda. — Ele me elogia e eu tento disfarçar um sorriso. — Eu soube do que a última praga fez ao palácio. Você e as meninas estão bem?

 

—Sim, o pão que os hebreus mandaram tem nos alimentado. — Respondo. — E na vila, como vão as coisas?

 

—Tudo vai bem.

 

—E Miriã? — Pergunto, mas logo me arrependo de minha pergunta.

 

—Você me chamou aqui para perguntar sobre Miriã? — Hur me olha com certa indignação.

 

—Eu vi você e ela no dia do cortejo fúnebre de Anat. — Falo com calma, tentando não demonstrar ciúmes.

 

—Alguns dias depois que cheguei a vila, procurei por Miriã para lhe pedir perdão. Percebi que deveria reparar meu erro, antes que fosse tarde demais. — Ele fala e eu me surpreendo. — Eu estava pronto para que ela colocasse toda a sua mágoa para fora e jogasse em minha cara a culpa pela dor que lhe causei.

 

—E foi isso o que ela fez?

 

—Não. — Ele responde. — Para a minha surpresa, Miriã me perdoou. Ela foi capaz de deixar para trás tudo o que aconteceu e me perdoar.

 

—Miriã é uma grande mulher, já o era desde criança.

 

—Por favor, não pense mal a respeito dela e de mim. No dia do cortejo, Miriã soube que a família real estaria presente e foi me avisar. — Hur diz. — Eu não queria ir, mas ela me convenceu de que me faria bem ver você e nossas filhas, mesmo que de longe. Então, Miriã me levou até o local onde o cortejo iria passar, por isso você nos viu juntos.

 

—Está tudo bem, Hur. Eu não duvido de suas palavras. — Falo ao perceber que ele se preocupa em me dar explicações. — Aliás, não é por isso que está aqui.

 

—E por que estou aqui? — Ele pergunta. — Juro que já pensei em vários motivos, mas nenhum deles me serve como explicação.

 

—Eu pedi a Ramsés que deixasse você voltar ao palácio, mas ele cedeu por deixá-lo vir apenas uma última vez. — Dou um passo, me afastando um pouco de Hur e ficando de costas para ele. — Eu tenho algo importante para te dizer, mas não sei como falar.

 

—É sobre o divórcio, não é? — Noto tristeza na sua voz de Hur e me calo. — Fale, Henutmire. Eu sou forte, irei aguentar.

 

—Ramsés não decretou o divórcio, eu não deixei. — Volto meu olhar para ele e noto o quanto está confuso.

 

—Eu não entendo.

 

—Se lembra do dia em que eu soube sobre Miriã? Você disse que não havia chegado até ali para me perder, pois seria maior dor do que poderia suportar. — Falo e ele afirma se lembrar. — O mesmo aconteceu comigo quando vi Ramsés prestes a colocar um fim em nosso casamento.

 

—Eu não sei o que dizer.

 

—É melhor que apenas ouça. — Peço e respiro fundo. — Eu fiquei muito magoada, você sabe disso melhor do que ninguém. Mas, eu estava permitindo que essa mágoa estava me transformasse em alguém que jamais quis ser. Por vezes jurei a mim mesma que jamais colocaria meus olhos novamente em você, me proibi de sentir sua falta e me obriguei a viver de forma inteira, quando na verdade me faltava metade de mim por estar longe de você. — Vejo que minhas palavras entristecem Hur. — Mas, Deus me concedeu a oportunidade de perceber o quanto eu estava errada. Ele colocou alguém em minha vida, que me fez voltar a ser aquela que sempre fui, que me fez ver tudo com um pouco mais de amor e tolerância. — Pego uma das mãos de meu marido e seguro entre as minhas. — Por isso, hoje eu posso dizer de todo o coração que perdôo você.

 

—Está falando sério? — Um sorriso ilumina o rosto de Hur.

 

—Claro que sim, meu amor. Sei que não foi um erro qualquer, mas devemos deixar isso para trás. Se Miriã, que foi a mais injustiçada em toda esta história, foi capaz de te perdoar, eu não posso lhe negar o meu perdão. — Falo e seu sorriso aumenta. — E aproveito também para pedir perdão pela forma como me comportei e por ter te negado uma despedida quando foi embora do palácio.

 

—Ah, Henutmire! — Ele me abraça fortemente. Sinto meu coração bater mais forte ao estar entre os braços de Hur. Como eu senti falta desse abraço. — Eu não tenho o que perdoar, meu amor.

 

—Não ficou magoado comigo? — Pergunto ao nos separarmos.

 

—Eu não tinha esse direito. O que aconteceu foi consequência de meus atos, você tinha razão em tudo o que disse e na forma como agiu. — Ele sorri ao olhar em meus olhos e acariciar meu rosto. — O que importa para mim é ter o seu perdão e saber que ainda é meu o seu amor.

 

—Meu amor será sempre seu. — É a minha vez de sorrir.

 

—Você disse que Deus colocou alguém em sua vida. — Seu olhar é curioso. — Gostaria de saber de quem se trata. Preciso agradecer a essa pessoa por me devolver a razão que tenho para viver.

 

—Acho que não há muitas formas de dizer, então... — Tomo uma das mãos de Hur e coloco sobre meu ventre. Ele parece não entender a princípio, mas logo a expressão de seu rosto indica surpresa e espanto. Ele acaricia meu ventre por sobre o tecido azul de minhas vestes, como que finalmente descobrindo o que com palavras não consegui dizer.

 

—Você está... — Hur não completa o que diz e então eu vejo seus olhos úmidos demonstrarem sua emoção. — Você está grávida?

 

—Você disse que seu coração lhe dizia que uma parte sua estava ficando comigo e que isso me mostraria que nossa história não foi em vão. — Falo e ele se mostra surpreso, certamente por se dar conta de que li o papiro que me deixou. — Dentro de mim bate um coração, além do meu.

 

—Quando descobriu? — Hur pergunta, sem tirar sua mão de meu ventre.

 

—Antes que se completassem três luas. — Respondo. — Nosso filho é um verdadeiro milagre, Hur. Depois do que Anat fez, eu jamais imaginaria que poderia engravidar novamente.

 

—Anat? — Ele indaga e só então percebo que falei mais do que deveria. — O que ela fez a você?

 

—Quando aconteceu, foi muito doloroso para mim e por isso eu não quis contar nada a você. — Me vejo sem saída e então resolvo contar a verdade. — Durante a primeira praga, Anat tentou me matar. Ela envenenou um vinho do qual bebi, mas seu plano não foi bem sucedido como esperava. No entanto, o veneno fez com que eu abortasse o bebê que só então eu soube que esperava.

 

—Maldita! — Hur esbraveja furioso.

 

—Isso já não importa, meu amor. — Faço com que ele olhe em meus olhos, assim acalmando-o. — Deus restituiu a perda daquele filho e me concedeu a grande alegria de estar gerando uma vida em meu ventre.

 

—Eu ainda não acredito. — Ele se ajoelha diante de mim, seus olhos se fixam em meu ventre e suas mãos o acariciam. — Eu serei pai outra vez.

 

—Deveríamos estar pensando em ter netos, não filhos. — Falo em tom de brincadeira.

 

—Você não sabe a alegria que está me dando, Henutmire. — Hur beija meu ventre delicadamente. Em seguida, coloca-se de pé e olha em meus olhos. — Meu amor... Amor da minha vida inteira.

 

Meu coração dispara assim que percebo o que está prestes a acontecer. Hur permanece olhando em meus olhos, mas seu rosto se torna cada vez mais próximo do meu. Consigo sentir sua respiração junto a minha, até que nossos lábios se encontram. O beijo é tudo o que eu imaginei que seria nesde momento, é pleno de carinho, amor e acima de tudo de saudade. Mais parece uma delicada e suave carícia, um brilhante raio de sol que invade minha alma e a preenche de amor e alegria. É tudo o que eu preciso agora, nada mais me faz falta.

 

—Eu te amo. — Sussuro, ainda de olhos fechados, assim que nossos lábios se separam e eu permaneço com meu rosto junto ao dele. — Não é justo que eu tenha que deixar você ir.

 

—Te deixar aqui, sabendo que espera um filho meu, será uma das piores coisas que serei obrigado a fazer. — Ele me abraça. — Mas, seja forte, meu amor. Confie que Deus não permitirá que fiquemos separados.

 

—Ramsés não irá permitir que você volte ao palácio, e tampouco me deixará sair. — Falo com tristeza. — Esses muros são a minha luxuosa e confortável cela, onde tudo o que eu desejo é estar lá fora.

 

—Logo tudo isso irá acabar e poderemos ficar juntos novamente. — Ele coloca sua mão direita sobre meu ventre. — Nós e nossos filhos.

 

—Hur, eu sei que os hebreus irão partir do Egito e certamente isso não demorará muito a acontecer. — Olho em seus olhos. — Eu quero que vá com seu povo.

 

—Não pode me pedir algo assim! — Meu marido se altera. — Eu não irei a lugar algum sem você, ainda mais agora que vamos ter outro filho.

 

—Ramsés é meu irmão mais novo, mas é o rei. Ele jamais me deixará partir com os hebreus. — Afirmo. — Por favor, Hur. Você precisa ir, para o seu próprio bem.

 

—Eu não posso! — Ele nega. — Não posso fazer isso.

 

—Eu estarei sempre com você, levará meu coração consigo e parte de mim.

 

—Do que está falando? — Ele me olha, desconfiado pelo modo como falo.

 

—Quero que leve Hadany e Tany com você. — Falo, para o espanto de meu marido. — Elas já viveram muito tempo sob o julgo insano de Ramsés. Quero que minhas filhas sejam livres, mesmo que eu não possa ser.

 

—Eu entendo seu modo de pensar, mas acha mesmo que elas irão aceitar ficar longe da mãe e do irmão mais novo? — Hur pergunta.

 

—É o melhor a ser feito. — Falo. — Você levará nossas filhas para Canaã, irá mantê-las seguras e cuidar delas. Eu ficarei no Egito com esta criança, que me servirá de consolo quando a saudade que eu sentir de vocês for maior que a minha capacidade de sorrir.

 

—Eu nunca, nunca irei fazer algo assim com você. — Ele segura delicadamente em meus braços. — Se eu for, irei sozinho.

 

—Como eu gostaria de nunca ter que lhe dizer adeus, Hur. — Lágrimas tomam meus olhos, mas não deixo que sejam notadas.

 

—Não precisa dizer adeus, meu amor. — Hur acaricia meu rosto. — Nunca precisará dizer, pois nenhum deserto será capaz de nos separar.

 

(...)

 

Quando pedi a Leila que fosse chamar minhas filhas, até Mayra veio junto com elas. O rosto da menina se iluminou com um sorriso e ela correu para abraçar Hur assim que o viu. Mayra sempre gostou muito de Hur, principalmente pelo fato de que ele lhe dava o carinho e atenção que ela não recebia do pai.

 

—Você irá ao casamento de Bezalel, não é? — Pergunto para Leila. Uma das notícias trazidas por Hur é a de que seu neto irá se casar em breve.

 

—Claro que sim, princesa. — Ela responde. — Mas, voltarei ao palácio assim que a festa terminar.

 

—Não precisa voltar, Leila. — Falo. — Eu disse que pode ir viver com seu povo.

 

—Acho que vossa alteza está tentando se livrar de mim. — Ela fala em tom de brincadeira e me faz rir.

 

—Esteja certa de que eu jamais iria querer me ver livre de você. — Sorrio.

 

—Uri fez uma coroa para mim. — Ouço Mayra falar para Hur.

 

—Eu vi vossa pequena alteza usando-a no cortejo. — Hur fala. — Devo dizer que é uma belíssima coroa, digna da princesa.

 

—Hur, eu posso te pedir uma coisa? — A menina pergunta.

 

—Se estiver ao meu alcance, eu o farei. — Ele diz e nossas atenções se voltam inteiramente para Mayra.

 

—Você é marido de minha tia, a ajudou a cuidar de mim e esteve perto em todos os momentos que eu me lembro. — Ela o olha. — Será que eu posso te chamar de tio Hur?

 

—Será uma honra para mim, princesa. — Ele sorri, emocionado com a atitude da menina.

 

—Princesa Henutmire. — Alon chama por mim ao entrar no jardim e caminhar até nós. — Sinto muito por interromper, mas o rei ordenou que eu leve o senhor seu marido de volta.

 

—Agora? — Hadany se manifesta.

 

—Infelizmente sim, alteza. — Ele responde com pesar.

 

—Eu não quero que o senhor vá embora, pai. — Tany o abraça e Hadany faz o mesmo.

 

—Eu também não quero ficar longe de vocês, mas não temos escolha. — Hur se separa das filhas e olha-as nos olhos. — Me prometem que irão cuidar de sua mãe e de seu irmãozinho?

 

—Ou irmãzinha. — Hadany acrescenta com um sorriso. — Nós prometemos.

 

—Ficaram bem em vocês. — Ele diz ao voltar seu olhar para os braceletes que nossas filhas usam, braceletes que ele me deu e eu dei a elas.

 

—Ficam melhores na mamãe, mas ela preferiu que ficassem conosco. — Tany fala. — Sempre que olharmos para eles vamos nos lembrar do senhor, assim nunca iremos esquecê-lo.

 

—Não sabem como isso me deixa feliz. — Ele sorri ao abraçá-las novamente. — Eu sempre amarei vocês, independente de distância.

 

As palavras de Hur emocionam não somente a Hadany e Tany, mas também a mim. Faço o possível para conter as lágrimas e obtenho êxito, até que o abraço entre meu marido e nossas filhas se desfaz e ele se aproxima de mim. Baixo meu olhar tentando esconder o choro, mas Hur levanta meu rosto e faz com que eu olhe para ele.

 

—Não quero que chore, Henutmire. — Ele diz ao limpar as lágrimas de meu rosto com gestos delicados de seus dedos.

 

—Alguém sempre chora em despedidas. — Falo com voz falha.

 

—Você sempre foi forte, minha princesa. Continue sendo, principalmente por essa vida que cresce em seu ventre e que tanto depende de você. — Hur olha em meus olhos. — Não é o fim, Henutmire. Nossa história não acaba aqui.

 

—Você irá me amar para sempre? — Pergunto.

 

—Você sabe que sim. — Ele sorri. — Amarei você por toda a minha vida, para além dela e por outras vidas, se existirem. — Fala antes de unir seus lábios aos meus em um beijo suave e apaixonado, porém com um amargo sabor de adeus.

 

—Eu te amo, Hur. — Falo ao olhar novamente em seus olhos. — E te prometo que, aconteça o que acontecer, o meu coração te amará para sempre.

 

—Para sempre. — Hur repete minhas palavras e em seguida deposita um beijo delicado no topo de minha cabeça. Seu último ato é acariciar meu ventre e um sorriso ilumina seu rosto.

 

Abraço meu marido uma última vez. Abraço-o tão forte que deixo mais do claro a minha incapacidade de deixá-lo partir. Quando nos separamos, Hur se despede de Leila e até Mayra lhe dá um último abraço. Então, ele se aproxima de Alon, demonstrando que está pronto para ir. O rapaz olha para mim e eu posso ver que é com pesar que cumpre as ordens de Ramsés. Logo os dois caminham para fora do jardim. Hadany me envolve em um abraço ao meu lado direito, já Tany ao meu lado esquerdo. E Mayra envolve seus braços em minha cintura, tomando todo o cuidado para não me machucar pois seu abraço abrange meu ventre. E eu... Eu apenas observo em silêncio o grande amor da minha vida se distanciar de mim. A cada passo mais longe está... E antes de sair de vez do jardim, Hur olha para trás e me dirige um belo sorriso. Eu correspondo, torcendo para que de longe ele possa ver apenas o meu sorriso e não as lágrimas que já não posso conter.

 

—Meu Deus, me ajude a manter a minha fé. — Peço, silenciosamente. — Eu preciso acreditar que o Senhor pode me unir a meu marido novamente, independente do que aconteça.


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