O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 4
Capítulo 4




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Por Miriã

 

Não contei a ninguém sobre o encontro que tive no Nilo. Tantos dias se passaram e eu não consigo esquecer a imagem da princesa na minha frente, falando comigo, perguntando qual era o motivo do meu choro. Se ela soubesse... se ao menos imaginasse que o seu marido, o pai do filho que espera, me usou para tentar esquecê-la, que me iludiu ao me dar esperanças e depois simplesmente sumiu, sem se importar com meus sentimentos. Talvez ela jamais o perdoasse e os dois acabassem se separando para sempre.

 

Embora eu saiba que a princesa Henutmire não é culpada do que aconteceu, não posso deixar de me sentir mal em sua presença. Desde que a vi com Hur as margens do Nilo, passo meus dias tentando não me lembrar que ele me deixou para ficar com ela, que ela tem o amor do homem que eu amo. Vê-la, depois de tantos anos, gerando um filho que é fruto desse amor foi demais para mim... A felicidade dela é a minha tristeza, o seu sorriso é a minha lágrima.

 

—Ah, meu Deus! Eu lhe peço, tire esse sentimento e essa mágoa de dentro de mim. — Suplico. — Por favor.

 

Por Henutmire

 

Estranho não encontrar Hur a meu lado, como todas as manhãs. O que faria meu marido se levantar tão cedo? Me levanto de minha cama e vou até a janela, o sol já brilha alto no céu. Não foi Hur quem se levantou cedo e sim eu que despertei tarde.

 

—Bom dia, meu amor. — Falo para a criança em meu ventre. Meu filho parece me escutar, pois sinto-o se agitar. — Dormimos demais e já perdemos metade da manhã.

 

Pego um de meus vestidos azuis, que foi feito pelas artesãs há pouquíssimo tempo. Ao vestí-lo, noto que já começa a ficar justo na barriga, como as antigos. A cada dia que passa, meu ventre fica maior e mais pesado.

 

—Você está crescendo muito rápido, meu filho. Preciso pensar em qual nome irei te dar. — Falo ao me sentar para colocar minhas jóias. — Onde estará Leila?

 

No mesmo instante, minha dama de companhia entra em meus aposentos. Ela está ofegante, parece ter vindo correndo.

 

—O que foi, Leila? — Pergunto.

 

—A rainha... — Leila começa. — O seu sobrinho vai nascer.

 

—Agora? — Falo surpresa.

 

—Sim, eu estava trazendo o seu desjejum e encontrei Karoma no caminho, que me avisou. — Leila responde. — A parteira já está nos aposentos da grande esposa real.

 

—Que os deuses protejam Nefertari e o meu sobrinho. — Falo.

 

—A senhora não vai até lá? — Ela pergunta.

 

—É melhor eu esperar aqui, Leila. — Falo. — Não poderei ajudar em nada, minha presença só atrapalharia.

 

—Como preferir, senhora.

 

—Me ajude a colocar minhas jóias. — Peço. — Irei depois até os aposentos de minha cunhada.

 

—Como quiser, senhora. — Leila fala e se aproxima. — Qual colar a senhora deseja usar hoje?

 

(...)

 

—Quer carregar o seu sobrinho, Henutmire? — Ramsés pergunta, segurando o filho nos braços.

 

—Claro que quero. — Respondo sorrindo e Ramsés me entrega a criança. Assim que o tenho em meus braços, o filho de meu irmão abre seus olhos e me contempla com atenção. — Seja bem vindo, meu sobrinho.

 

—Que cresça forte e soberano. — Ramsés fala e eu me lembro das palavras ditas por meu pai quando meu irmão nasceu.

 

—Como se chamará? — Pergunto.

—Amenhotep. — Nefertari, que ainda se encontra deitada em sua cama, responde.

 

—Belo nome. — Elogio e beijo com carinho o topo da cabeça de meu sobrinho.

 

—Por falar nisso, já escolheu o nome de seu filho? — Nefertari pergunta.

 

—Não. — Respondo. — Ainda tenho tempo para isso.

 

—Nem tanto, minha irmã. — Ramsés argumenta. — Daqui a mais algumas luas, ouviremos o choro de mais um príncipe pelos corredores do palácio.

 

—Ou talvez uma princesa. — Falo.

 

Me preocupava muito o fato de que a criança que Nefertari esperava pudesse ser uma menina. Temia que Ramsés não fosse como meu pai, que não se importou que seu primeiro descendente fosse uma mulher. Desde o início de gravidez de minha cunhada, meu irmão se referia a criança apenas como um menino e os deuses atenderam ao seu pedido, deram a ele um herdeiro para o trono. Não duvido nem um pouco que Ramsés ficaria decepcionado se Amenhotep fosse uma menina. Às vezes, penso no que teria acontecido se minha mãe não tivesse engravidado de Ramsés e eu fosse a única filha do rei. Eu teria herdado o trono do Egito, mesmo sendo mulher?

 

Por Hur

 

—Está ficando belíssima, meu pai. — Uri fala sobre a jóia na qual eu trabalho. — Digna de Ísis.

 

—Acha mesmo, meu filho? — Pergunto e ele afirma com a cabeça. — Quero que seja a jóia mais linda de todo o reino.

 

—Certamente será. — Uri sorri. — A princesa ficará muito feliz com a surpresa. Quando dará a ela?

 

—Quando o nosso filho nascer. — Sorrio. — Não vejo a hora de carregar meu filho nos braços, de ver o seu rostinho.

 

—Eu fico muito feliz pelo senhor, meu pai. — Uri fala. — Que os deuses permitam que a felicidade do senhor e da princesa dure para sempre.

 

—Papai. — Bezalel entra na oficina chamando por Uri.

 

—Meu menino. — Uri pega o filho no colo.

 

—Papai, é verdade que o filho da princesa Henutmire vai ser meu tio? — Bezalel pergunta.

 

—É sim, meu filho. — Uri responde. — O bebê que a princesa espera também é filho de seu avô, portanto é meu irmão.

 

—Mas, eu vou ter um tio mais novo do que eu? — Bezalel pergunta, fazendo Uri e eu rirmos. — Isso é estranho.

 

—Não se preocupe, meu neto. — Falo para Bezalel. — Com o passar do tempo você irá se acostumar.

 

—Então você está aqui. — Leila fala ao entrar na oficina e se deparar com Bezalel no colo de Uri. — Estava te procurando por todos os cantos, rapazinho.

 

—Ele veio visitar o trabalho do papai, não é? — Uri fala e Bezalel confirma com um sorriso.

 

Saber que meu filho construiu uma família e que é feliz me faz ver que tudo que fiz por ele não foi em vão. Mesmo sozinho, eu pude criar o meu filho, dar a ele uma boa educação e o conforto que o palácio pode oferecer. Uri não cresceu em meio a escravidão, mesmo sendo um hebreu. Tampouco o meu filho com Henutmire será tratado como tal. Jamais permitirei que meu filho seja tratado com indiferença ou de forma inferior por ter também o sangue hebreu, além do sangue real egípcio.

 

—Que jóia linda, meu sogro. — Leila elogia. — De quem é?

 

—Da princesa Henutmire. — Bezalel responde, mas de imediato leva uma de suas mão a boca. Leila me olha sem compreender.

 

—É uma surpresa, Leila. — Explico. — Darei essa jóia de presente a Henutmire, quando nosso filho nascer.

 

—Com certeza ela irá gostar muito do presente. — Leila sorri. — Não se preocupe, ela não irá saber de nada. — Ela volta seu olhar para o filho. — Não é mesmo, Bezalel?

 

—Sim, mamãe. Eu não vou contar para mais ninguém. — Bezalel faz cara de menino sério e nós rimos.

 

Por Nefertari

 

Enfim ouço o silêncio em meus aposentos, estou apenas em companhia de meu pai. Ramsés foi para a sala do trono e levou Henutmire com ele. Permaneço deitada, pois minhas forças ainda não se reestabeleceram para que eu fique de pé. Olho para meu filho, que dorme seguro a meu lado. Meu menino, o futuro rei do Egito.

 

—Ele se parece tanto com você quando nasceu... — Meu pai fala. — Os mesmos traços, os mesmos olhos.

 

—Eu fui grandemente abençoada pelos deuses, pai. — Sorrio, mas logo minha expressão se torna séria. — Acha que Ramsés ficaria igualmente feliz se nosso primeiro filho fosse uma menina?

 

—Por que diz isso, minha filha?

 

—Porque pensei muito nisso enquanto estava grávida. — Falo. — Ramsés tem sede de poder, meu pai. Não sei qual seria a sua reação se eu não tivesse lhe dado um filho homem, um herdeiro para que sua linhagem permaneça no trono do Egito.

 

—Um filho é uma dádiva dos deuses, minha filha. — Meu pai fala. — Tenho certeza que seu marido ficaria feliz e amaria essa criança, fosse menino ou fosse menina.

 

—Espero que o senhor esteja certo. — Falo e decido mudar de assunto. — Por que Ramsés levou Henutmire para a sala do trono?

 

—O príncipe Jahi virá ao Egito para a comemoração do nascimento de Amenhotep. — Ele responde. — Com certeza, o soberano quer avisar a princesa sobre a festa.

 

—E quando será? — Pergunto.

 

—Quando meu neto completar três meses de vida. — Meu pai fala e eu o olho interrogativa. — O soberano achou melhor assim.

 

Por Henutmire

 

—Acho sensato esperar que Amenhotep cresça um pouco antes de dar uma festa em homenagem ao seu nascimento, meu irmão. — Falo.

 

—Espero que no dia da festa possamos comemorar também o nascimento de seu filho. — Ramsés sorri para mim, sentado no trono. — Acho que não falta muito tempo para isso, não é?

 

—Eu não sei dizer, é a primeira vez que estou grávida e há muitas coisas que não tenho conhecimento. — Falo rindo. — Mas, pelo tamanho de meu ventre, presumo que em breve iremos conhecer o novo membro da família real.

 

—Quem diria que hoje eu veria a minha irmã casada, carregando um filho em seu ventre. — Ramsés desce os degraus do trono e vem até mim. — Quando eu nasci, você já era uma mulher, mas ainda assim nunca deixou de ser a irmã que eu precisava. — Ele ri. — Se lembra do dia em que coloquei a coroa de nosso pai em você?

 

—Até hoje não sei como ele permitiu isso. — Falo rindo.

 

Flash back on

 

Ramsés é um lindo menino, mas muito curioso para uma criança de apenas cinco anos de idade. Meu irmãozinho... Nos damos tão bem que, às vezes, me sinto novamente uma criança perto dele. Estamos nos aposentos de meu pai e ele nos olha brincar juntos, sentados no chão. Seus olhos sorriem, assim como seus lábios.

 

—Henutmire, onde está Moisés? — Meu pai pergunta.

 

—Disebek o levou para treinar com ele, embora eu ache que meu filho ainda é muito novo para pegar em uma espada. — Respondo.

 

—É de pequeno que se aprende, minha filha. — Meu pai fala. — Ramsés, venha até aqui.

 

Meu irmão rapidamente se levanta e vai até nosso pai. Este, pega sua coroa, que estava sobre a cama, e traz até os olhos de Ramsés.

 

—Um dia, você será o soberano do Alto e Baixo Egito e deverá governar com sabedoria, para que o nosso reino continue sendo a nação mais poderosa da Terra. — Meu pai fala e coloca a coroa em Ramsés. — Entende a responsabilidade que tem, meu filho?

 

—Sim, papai, e eu prometo não desapontar o senhor. — Meu irmão fala e se vira para mim. — Como estou, Henutmire?

 

—Está lindo, meu irmão. — Sorrio para ele. — Ou melhor, meu soberano.

 

Faço uma reverência para meu irmão, que ri. Ele vem até mim e eu penso que quer se mostrar usando a coroa de nosso pai. Mas, Ramsés para frente a mim, de pé. Eu o olho, ainda sentada, tentando entender sua atitude.

 

—É muito pesada. — Ramsés fala, tirando a coroa. Certamente, irá devolvê-la ao nosso pai. — Tome. — Me surpreendo ao sentir coroa do Egito sobre minha cabeça. — Fica melhor em você do que em mim.

 

Flash back off

 

—Nosso pai nos olhou tão sevaramente, que eu me senti como se houvesse cometido o pior crime do mundo. — Ramsés fala. — Mas, depois ele sorriu.

 

—Você será o soberano do Egito, mas nunca deixe de dar ouvidos ao que sua irmã disser. — Repito as palavras que meu pai disse a mim e a meu irmão naquele dia.

 

—Juntos, vocês irão governar o Egito com sabedoria, quando eu não estiver mais aqui.

 

Ao repetir tais palavras de nosso pai, Ramsés tirou a coroa de sobre sua cabeça e a colocou sobre a minha, como fez quando era criança. Não gosto de sentir o peso da coroa real sobre mim, o peso da responsabilidade de governar um reino. Sempre me senti incapaz de tal coisa. A coroa, o trono... São duas coisas que nunca me pertenceram e que eu nunca almejei.

 

—O que está fazendo, Ramsés? — Pergunto, sem entender.

 

—Ela ainda fica melhor em você do que em mim, Henutmire. — Ramsés fala, olhando atentamente para mim com a coroa do Egito.


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