O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 38
Capítulo 38


Notas iniciais do capítulo

Surpresos com as origens de Alon? rsrs Aqui temos mais surpresas. Boa leitura!



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Por Henutmire

Flash back on

—Não! — Nego mais uma vez. — Você está grandemente equivocada se acha que vou ajudar a mulher que matou o meu filho.

—Quantas vezes mais eu terei que repetir que jamais quis fazer mal a criança que carregava em seu ventre? — Anat questiona.

—Quantas quiser! Suas palavras não vão mudar os fatos. — Eu a encaro. — Saia daqui ou eu a colocarei para fora.

—Alon está morrendo, senhora. Tudo o que eu desejo é que o príncipe seja punido pelo que fez, por menor que seja o seu castigo. — Ela fala. — Vossa alteza é irmã do soberano, pode convecê-lo a...

—Não interfiro no modo como Ramsés educa seu filho, assim como ele não interfere no modo como educo minhas filhas. — Interrompo a sacerdotisa. — Desista de me convencer a ajudá-la, porque não o farei.

—Vossa alteza tem medo, não é? — Anat me olha. — Sabe que sua filha também é culpada do que aconteceu.

—Não vou tolerar que justamente você culpe minha filha pelo que houve com seu guardião. — Elevo meu tom de voz.

—Saiba que não me importo que queira convencer a todos de que a princesa Hadany é inocente, quando não é. — Ela fala, provocando minha ira. — O único que quero é justiça.

—Se é o que quer, procure por isso sozinha. — Dou-lhe as costas. — Saia daqui!

—Fale com o soberano, exija dele justiça. — Anat insiste, me irritando cada vez mais. — A senhora ainda é a princesa do Egito.

—E você ainda é um mero nada! — Esbravejo, nervosa. — Coloque-se no seu mísero lugar! És uma sacerdotisa profana que não tem o direito de proclamar por justiça. — Minhas palavras a assustam. — Ouça bem, Anat, esta é a última vez em que sou obrigada a olhar para o seu rosto. Saia por aquela porta e faça o impossível para não estar em minha presença novamente, pois se eu voltar a colocar meus olhos em você irei ao rei e contarei tudo o que houve no passado. E, tendo o direito de exigir justiça, pedirei a sua cabeça em uma bandeja de prata e esteja certa de que meu irmão me dará.

Flash back off

Aquela foi a última conversa que tive com Anat, no dia em que se completaram três tardes que Alon fora ferido por Amenhotep. E, conforme as palavras saídas de minha boca, aquela foi também a última vez que a vi antes de receber a notícia de sua morte. Uma semana se passou, mas confesso que ainda não consigo acreditar plenamente que a sacerdotisa deixou este mundo e que nunca mais voltará a me atormentar.

—Seu vestido está um pouco apertado. — Leila observa, enquanto me ajuda a me vestir. — A senhora engordou?

—Impossível. — Respondo. — Eu tenho me alimentado pouco desde a sexta praga.

—Roupas não encolhem, alteza.

—No quê está pensando, Leila? — Pergunto ao notar algo diferente em seu olhar.

—Suas regras... — Ela hesita em completar o que diz. — Estão atrasadas?

—Sim, há quase três luas.

—E a senhora não se preocupa? — Ela pergunta.

—Por que deveria? Eu já estou em uma idade onde as mulheres não possuem mais regras. — Falo com naturalidade. — É absolutamente normal que estejam atrasadas, talvez nem voltem mais.

—Se a princesa pensa assim. — Minha dama ri, mas não entendo o porquê disso.

—Pegue outro, não ficarei confortável usando este. — Falo me referindo ao vestido.

—Acho que teremos que encomendar novos vestidos com as artesãs. — Leila fala sorrindo, me deixando intrigada.

 

Por Tany

Eu nada disse sobre o que descobri, embora não tenha sido nada fácil fingir que nada está acontecendo. Todavia, achei prudente esperar a chegada da grande sacerdotisa Atalia e agora que ela finalmente está no palácio preciso saber o que fazer para revelar a verdade ao filho de Anat e a todos.

—Com licença. — Peço.

—Entre, alteza. — Atalia me reverencia e sorri ao olhar para mim. — Que belíssima moça a princesa se tornou.

—Agradeço o elogio. — Dou um meio sorriso. — Sei que acaba de chegar ao palácio, mas preciso muito lhe falar sobre um assunto sério.

—Estou a vossa disposição, princesa.

—Eu sei sobre o filho de Anat, ela própria me contou antes de morrer em meus braços. — Falo, melancólica. — Pediu que eu encontrasse o papiro que a senhora lhe escreveu e revelasse a verdade a seu filho.

—Vossa alteza contou isso a mais alguém? — Ela pergunta.

—Não. — Respondo. — Achei melhor esperar sua chegada.

—Agiu bem, princesa. — Atalia fala, aliviada. — Este é um segredo que pode e vai mudar a vida de todos, principalmente a de Alon.

—Ele foi gravemente ferido por meu primo há algum tempo e ainda se recupera. — Falo, preocupada com Alon. — Acha que ele está preparado para receber uma notícia como esta?

—Ninguém está, alteza. — Ela responde. — Mas, Alon é o que mais merece saber a verdade. Guardar este segredo por muito mais tempo só irá tornar pior a situação.

—E quando pretende contar tudo a ele?

—Eu irei a Aváris para o sepultamento de Anat, pois como grande sacerdotisa do templo onde ela viveu devo lhe conceder as honrarias que merece. — Atalia diz. — Retornarei amanhã e então contarei a verdade a todos.

—A senhora disse que tem provas.

—Além do que Ramunah me contou, possuo um objeto que não deixará dúvidas de que Alon é filho de quem é. — Ela fala. — Vossa alteza ainda tem o papiro?

—Sim, está guardado em segurança em meus aposentos. — Respondo.

—Ótimo, precisaremos dele também como prova. — A grande sacerdotisa me olha. — E da senhora sua mãe.

—Minha mãe? — Indago, incrédula. — Mas, o que ela pode ter a ver com esta história?

—Mais do que ela própria imagina.

 

Por Henutmire

—Isto está fora de cogitação, Ramsés! — Falo. — Eu não irei a este cortejo.

—É claro que irá. — Ramsés fala com firmeza. — Toda a família real deverá estar presente e você não é exceção.

—Não pode me obrigar. — Encaro meu irmão. — Eu não vou!

—Sim, você vai! — Ele esbraveja. — Você e suas filhas.

—Pare de gritar com ela! — Hadany sai em minha defesa. — Não tem esse direito.

—O cortejo não demora a sair. — Ramsés me olha. — Estejam na sala do trono antes que eu mande chamá-las e quero que usem suas respectivas coroas, como princesas do Egito que são.

Então, Ramsés se retira, deixando-me incrédula de que serei obrigada a comparecer ao cortejo fúnebre daquela que em vida foi minha pior inimiga, daquela que conseguiu fazer com que eu provasse do ódio em toda a sua essência.

—Eu não aguento mais receber ordens de Ramsés como se fosse um de seus servos. — Falo, nervosa. — Ele deveria ter respeito por mim, eu saí do ventre de nossa mãe muito antes dele.

—A coroa que ostenta sobre a cabeça faz com que meu tio pense que não deve respeito a nada, nem a ninguém. — Minha filha fala. — Ele não deveria ser rei.

—Não deveria, mas é. — Suspiro. — Leila, onde está minha coroa?

—Irei procurá-la, senhora. — Minha dama então começa a abrir vários baús a procura de minha coroa.

—Esta é a última vez que irei usá-la. — Decreto.

(...)

Sinto-me incomodada com o peso do objeto de ouro sobre minha cabeça, mas faço o possível para não demonstrar isto. Todavia, ao olhar para minhas filhas e vê-las com suas respectivas coroas acabo por sorrir. Lembro-me de quando Hur passou dias e noites trabalhando em cada uma delas, se dedicando ao máximo em cada detalhe para que as coras de nossas filhas fossem perfeitas em todos os sentidos. Sinto falta de Hur, como se metade de minha vida estivesse fora de mim. Porém, a insistente mágoa em meu coração me faz ter a certeza de que estar longe dele é o melhor para mim.

—Mayra, venha até aqui. — Ramsés chama pela filha, que no mesmo instante vai até ele. — Lembra-se do que eu lhe prometi?

—Sim. — Ela responde.

—Aqui está. — Ele pega das mãos de Uri uma caixa de porte médio e entrega-a para a filha. — Espero que esteja do seu agrado.

—É linda! — Mayra fala maravilhada ao abrir a caixa e tirar de dentro dela o seu presente: uma coroa adequada ao seu tamanho, feita em ouro puro e adornada com finos e delicados fios de prata. Na frente, a típica serpente egípcia foi esculpida da forma mais singela que já vi e pintada em tom de azul escuro.

—Deixe-me colocá-la em você. — Ramsés pega a coroa em suas mãos e a coloca sobre a cabeça de Mayra.

—Obrigada, papai. — A menina agradece e logo em seguida vem até mim.

—Está linda, minha princesa. — Sorrio para ela.

—Agora eu tenho uma coroa, igual a senhora e minhas primas. — Mayra fala satisfeita e sorridente.

—Majestade. — Paser faz uma reverência ao entrar na sala do trono. — Está tudo pronto para o cortejo, senhor.

—Então, vamos.

Ramsés e Nefertari são os primeiros a se dirigir para fora da sala do trono, acompanhados por Amenhotep. Pouco a pouco todos fazem o mesmo e eu não consigo deixar de notar o quanto Alon ainda está abalado. Parte de mim quer lhe dar um abraço como forma de consolo desde que o vi chorando ao lado do corpo de Anat. Mas, outra parte, a que prevalece, faz com que eu não me aproxime tanto dele como forma de cautela, embora eu não entenda porque deveria ser cautelosa a respeito desse rapaz.

—Pensei que não iria ao cortejo, minha senhora. — Paser fala ao se aproximar de mim.

—Se vou, é contra a minha vontade. — Falo. — Ramsés me obrigou, mas se dependesse de mim jamais prestaria minhas últimas homenagens a essa mulher.

—Nem mesmo como forma de agradecer o que Anat fez por sua filha? — Ele pergunta.

—Nem mesmo por isso.

(...)

Alon, juntamente com outros servos, carregam o sarcófago de Anat pelo cortejo. Atalia vai a frente deles, acompanhada por uma aprendiz que trouxe de Om. A grande sacerdotisa e Paser irão até Aváris em um cortejo menor para o sepultamento de Anat, acompanhados por outros sacerdotes e oficias da guarda do rei. É a primeira vez que coloco os pés para fora do palácio desde que fui presa. Meu irmão teme de tal maneira que eu tente fugir novamente que reforçou a escolta real ao meu redor. No entanto, é revigorante passar novamente pelas ruas da cidade, ver as pessoas e olhar o céu fora dos muros luxuosos que me aprisionam. Olho para trás e sorrio para Hadany e Mayra, que estão juntas na mesma liteira.

—Não deveria ter feito o que fez. — Falo para Tany, que está ao meu lado na liteira. — Sua irmã ficou constrangida.

—Eu não poderia me sentar na mesma liteira que Hadany depois do que aconteceu. — Ela fala, olhando a multidão nas ruas da cidade. — Por favor, não me peça novamente para fazer as pazes com minha irmã.

—Pedirei a vida inteira se for necessário. — Trago seu olhar para mim. — Acaso tem noção do quão terrível é para uma mãe ver seus filhos brigados dessa forma?

—Ainda não estou pronta para perdoar Hadany, nem para lhe pedir perdão. — Tany diz, enquanto ajeita a coroa em sua cabeça.

—Espero que esteja pronta antes que seja tarde demais.

Volto minhas atenções para as pessoas e seus olhares curiosos sobre o cortejo que se estenderá até os limites da cidade. É então que, em meio a multidão, noto um rosto familiar e um olhar que não se desvia de mim. É um homem hebreu de barba espessa e vestes azuis como meu vestido. Ele sorri ao ver que tenho meu olhar preso em si.

—Hur. — Pronuncio baixinho. Como ele está diferente da última vez em que o vi, embora seus olhos ainda me olhem da mesma forma marcante e terna de sempre. Sinto um pequeno incômodo súbito em meu ventre e coloco uma de minhas mãos sobre ele.

—Está tudo bem, mãe? — Tany pergunta ao ver que me inquietei por alguns poucos instantes.

—Sim, está. — Respondo. Volto meu olhar para Hur e só então vejo que há uma mulher ao seu lado, trata-se de Miriã. A expressão de meu rosto torna-se severa devido a raiva que sinto por vê-los juntos. — Leila?

—Sim, alteza. — Minha dama, que caminha ao lado de minha liteira, prontamente atende ao meu chamado.

—Por acaso sabe o que aconteceu aos seis hebreus que foram condenados a morte na forca? — Pergunto.

—Estão todos bem, senhora. — Ela responde. — A chuva de fogo impediu que os enforcamentos fossem executados.

—Então, Joquedebe está viva. — Concluo comigo mesma, enquanto o cortejo segue seu caminho. Por um momento, pensei que ver Hur e Miriã juntos pudesse significar que ele estava dando apoio a ela pela perda de sua mãe. Mas, não é esse o motivo e isso só me deixa um tanto mais irritada.

(...)

Flash back on

Embalo Moisés em meus braços, afim de fazer com que não volte a chorar. Já amo tanto esta criança que sequer consigo explicar o que sinto em meu coração. Talvez eu tenha sido amaldiçoada a não gerar filhos por causa do decreto absurdo de meu pai que condena a morte todos os bebês hebreus. Mas, os deuses trouxeram para mim um filho através do Nilo, me trouxeram Moisés.

—Senhora. — Ouço uma voz infantil chamar por mim e então me deparo com uma bela menina, certamente hebreia. — Se me permite.

—Mas, de onde você saiu, menina? — Yunet pergunta, já nervosa.

—Eu estava andando pela beira do rio e ouvi a conversa...

—Como ousa se dirigir a filha do rei? — Minha dama interrompe a menina.

—Yunet, está tudo bem. Deixe a menina. — Eu a repreendo e volto minhas atenções para a menina ao lhe sorrir. — O que ia dizer, querida?

—Quer que eu vá buscar uma ama hebreia para alimentar a criança? — A menina pergunta.

—Você conhece esse bebê? — Respondo com outra pergunta, já temendo que tenha que me separar de Moisés.

—Não, não conheço. — Ela responde. — Mas, ouvi ele chorando. Deve estar com fome.

—Então, vá. — Peço. — Vá depressa e peça para a ama me procurar no palácio.

—Sim, senhora. — Um sorriso ilumina o rosto da menina, que logo em seguida sai correndo pelas margens do Nilo para buscar a tal ama hebreia que irá alimentar Moisés.

Flash back off

Foram poucas as vezes em que vi Miriã, mas todas elas foram em determinados momentos que marcaram minha vida, a começar pelo dia em que encontrei Moisés no Nilo. De certa forma, eu a conheço desde criança. Mas, o fato é que estou mais do que enciumada por tê-la visto ao lado de Hur no cortejo de ontem e desde então minha mente só se dedica a questionar que motivos os dois teriam para estar juntos.

—Está pensando em meu pai? — Hadany pergunta.

—Como você sabe?

—Seus olhos têm um brilho único quando está pensando nele. — Minha filha suspira. — Eu sinto muito a falta dele.

—Lamento que eu não possa suprir essa falta. — Eu a abraço.

—Não se culpe por isso, mamãe. — Ela pede. — A senhora não podia evitar que meu pai fosse expulso do palácio.

O olhar triste de Hadany faz com que eu perceba que deixar a mágoa falar mais alto não está fazendo mal apenas a mim, mas também a minhas filhas. Eu poderia trazer Hur de volta ao palácio se quisesse, mas nada faço para que isso aconteça. No entanto, estou sendo grandemente egoísta. Tudo bem que eu não queira voltar a vê-lo, mas não é justo privar minhas filhas de seu pai.

—Encontrarei uma maneira para que você e sua irmã possam ver seu pai. — Falo. — Leila pode levá-las até a vila.

—Isso seria ótimo. — Hadany se anima com a ideia. — Mas, e a senhora?

—Não posso sair do palácio, lembra?

—Não sente falta do papai? — Ela me olha.

—Mais do que deveria. — Respondo, infeliz, e logo ouço batidas na porta. — Entre.

—Mãe, a senhora Atalia deseja lhe falar. — Tany fala ao entrar em meus aposentos, trazendo a grande sacerdotisa de Om consigo.

—Altezas. — Atalia faz uma reverência simples a mim e a Hadany. Então, noto em uma de suas mãos uma pequena bolsa feita de pano.

—Não sabia que já havia retornado, Atalia. — Falo.

—Na verdade, acabo de chegar ao palácio. — Ela diz. — Preciso falar com a princesa, se puder me ceder um pouco de seu tempo.

—Claro. — Mostro o divã a grande sacerdotisa. — Sente-se.

Atalia agradece e senta-se comigo no divã. Tany por sua vez senta-se na beirada da cama, mantendo certa distância de sua irmã, segurando um papiro fechado em suas mãos.

—Eu irei lhe contar uma história que parece inacreditável, mas peço que a alteza não duvide de minhas palavras. — Atalia fala.

—Farei o possível. — Digo, levemente curiosa devido a seriedade de seus olhos.

—Algum tempo depois que chegou a Om, Anat me confidenciou que teve um filho em sua juventude. Ela se apaixonou por um oficial do faraó que chegou em sua cidade em missão, mesmo sem saber direito quem ele era. Aproveitando-se disso, o homem se aproximou dela usando outro nome e fez por onde conquistar a moça com suas juras de amor até que ela se entregou a ele. — Atalia revela, para minha surpresa. — Porém, quando Anat engravidou, o oficial se negou a assumir o filho, pois era um homem casado, e ameaçou matá-lo se ela seguisse com a gravidez.

—Que horror! — É tudo o que consigo dizer.

—Mas, Anat já amava aquela criança e não se deixou intimidar pelas ameaças. — A grande sacerdotisa prossegue. — Quando o menino nasceu, o homem o arrancou dos braços de Anat e o levou consigo, para cumprir sua palavra e matar o bastardo.

—Quanta crueldade! — Hadany fala, abismada.

—Compreendo que seja uma história triste, me comovo com ela até certo ponto. — Falo. — Mas, não entendo porque está me contando isso.

—Há algum tempo, por uma grandiosa obra do destino, eu descobri que o pai do filho de Anat não matou o menino e sim que o abandonou na porta de um templo em outra cidade. — Atalia diz e vejo Hadany ficar pensativa. — De certa forma, o oficial fez com seu filho bastardo desaparecesse sem sujar suas mãos com seu sangue inocente.

—Alon... — Hadany pronuncia e então eu me lembro de algo que ela me contou sobre o guardião. — Alon é o filho de Anat?

—Sim, alteza. — Atalia responde. — Mas, nem mesmo a própria Anat sabia disso. Não havia como nenhum de nós saber se não fosse por Ramunah.

—Quem é Ramunah? — Pergunto.

—Uma prostituta que foi paga pelo oficial para abandonar o bebê na porta de meu templo. — Ela responde. — Ramunah estava a beira da morte quando me revelou o que sabia sobre o pai de Alon. — Atalia olha para Tany, que se levanta e entrega a ela o papiro que estava consigo. — Eu mesma escrevi este papiro para Anat e soube que ela o recebeu há cerca de duas semanas atrás. — A grande sacerdotisa me estende o papiro. — A princesa deve lê-lo.

Tomo o papiro em minhas mãos e começo a desatar a fita que o amarra. Hadany se levanta e se coloca ao meu lado, certamente para também ler o papiro. Abro-o e logo começo a lê-lo. Todavia, a medida que meus olhos devoram cada palavra, sinto minhas forças abandonarem meu corpo. Me sinto fraca o suficiente para não conseguir me mover um centímetro de onde estou. Ao terminar de ler, Hadany me apampara ao perceber que não estou bem. Ou isso é uma terrível brincadeira ou a vida é de fato mais surpreendente do que eu imaginava.

—Isso é mesmo verdade? — Pergunto com voz trêmula, bem como eu mesma estou.

—Eu não teria motivos para mentir, alteza. — Atalia me olha. — Lamento muito pela senhora.

—Este papiro estava escondido nos aposentos de Anat. — Tany finalmente fala alguma coisa. — A última coisa que ela me pediu antes de morrer foi para que eu o entregasse a Alon, pois queria que ele soubesse a verdade mesmo que não fosse por ela.

—E que provas a senhora tem de que tudo isso é mesmo verdade? — Hadany pergunta a Atalia. — A tal prostituta pode muito bem ter mentido.

—Ramunah quis me contar a verdade porque estava morrendo e não queria levar consigo para o mundo dos mortos a culpa de nada ter feito para se redimir por ter ajudado a condenar um inocente a viver como um órfão renegado pelos pais. — Atalia fala firmemente. — Quanto as provas, não é muito, mas é o necessário para que não restem dúvidas da veracidade desta história.

—Então, mostre-me. — Peço, mas meu tom de voz mais parece estar ordenando do que pedindo.

—A senhora reconhece isto? — Atalia pergunta ao tirar de dentro da pequena bolsa um anel de ouro e colocá-lo em minhas mãos.

—Sim, eu mesma presenteei Disebek com este anel quando ele retornou de uma de suas batalhas. — Falo ao observar os detalhes da jóia. — Pedi que seu nome fosse gravado nele, exatamente como está escrito aqui. — Volto meu olhar para Atalia. — Como isto chegou até você?

—Ramunah recebeu este anel como parte do pagamento que o general lhe deu pelo serviço prestado. — Ela responde. — Se vossa alteza reconhece este anel como sendo de seu falecido marido, não restam dúvidas de que Alon é filho de Disebek.

—Mas, restam dúvidas de que Alon seja filho de Anat. — Argumento ao me levantar. — Pode provar isso?

—A princesa não se recorda de nenhuma viagem de seu marido a Aváris? — A grande sacerdotisa pergunta.

—Como poderia se Disebek está morto há tanto temp... — Me interrompo ao recordar de algo. — Sim, eu me lembro de uma vez em que ele e outros oficias foram enviados a Aváris em missão diplomática.

—Então, vossa alteza já tem a prova que precisa. — Atalia pega do chão o papiro que deixei cair ao me levantar.

Flash back on

Caminho pelos corredores do palácio em direção ao jardim, mas detenho meus passos ao ouvir vozes animadas e próximas. Logo vejo Disebek conversando com um oficial e me escondo ao perceber que eles podem notar minha presença.

—Hoje a noite iremos a casa de Senet. — Disebek fala. — Precisamos comemorar.

—Eu só lamento que eu não vá me divertir com as mulheres da casa de Senet como o general se divertiu com a moça de Aváris. — O oficial ri.

—Não tenho culpa se ela se apaixonou por mim. — Disebek fala rindo. — De qualquer forma, eu não voltarei a vê-la mesmo.

—Como era mesmo o seu nome? — O homem pergunta.

—Anat. — Disebek responde. — Um nome um tanto incomum, não acha?

Flash back off

Eu sempre soube que Disebek não era o mais fiel dos maridos. Mas, no dia em que o ouvi falar sobre uma moça de Aváris fiz questão de esquecer que havia sido traída, pois aquilo me magoava profundamente. E de fato esqueci. Passei anos sem me lembrar daquela ocasião, até agora. Os fatos falam por si e as evidências não deixam dúvidas. Alon é filho daquela que foi minha inimiga e do homem que me traiu desde antes de nos casarmos. Sinto minha cabeça girar depressa, eu não estava preparada para que toda esta história fosse despejada em cima de mim. De uma hora para a outra eu soube que Disebek me enganou não apenas com Yunet e que foi cruel o suficiente para ameaçar a vida de uma criança e arrancá-la dos braços de sua mãe assim que ela nasceu.

—Alon já sabe? — Hadany pergunta a Atalia.

—Não, eu precisava que antes a princesa Henutmire reconhecesse o anel. — Atalia responde. — Mas, assim que eu sair daqui irei falar com ele.

—Leve isto! — Falo, nervosa, e entrego o anel a Atalia. — Não quero nada que seja daquele homem, nem mesmo algo que tenha sindo um presente meu.

—Lamento muito, alteza. Mas, peço humildemente que não deixe que isso a atinja. — Atalia pede ao se aproximar de mim. — Disebek lhe fez muito mal, mas a senhora foi recompensada com um homem que a ama verdadeiramente e duas filhas maravilhosas.

—E mesmo assim o passado ainda faz questão de assombrar o meu presente. — Falo quase em um sussuro ao sentir-me cada vez mais fraca.

—Se sente bem, minha mãe? — Tany pergunta ao me ver perder o equilíbrio e me ampara com a ajuda de Hadany.

—Não, eu... — Antes que eu complete o que digo, minhas vistas ficam escuras e tudo o que sinto é meu corpo perder completamente as forças, fazendo com que eu perca os sentidos.

(...)

Abro meus olhos absurdamente devagar e aos poucos o ambiente ao meu redor começa a se tornar menos turvo. Então, percebo a presença de alguém ao meu lado e vejo que se trata de Paser, que sorri ao ver que estou acordada.

—O que houve comigo? — Pergunto quase em um sussuro.

—Vossa alteza desmaiou. — Ele responde. — Como se sente?

—Como se carregasse o mundo inteiro sobre minhas costas. — Falo ao me lembrar de tudo o que Atalia me contou.

—É compreensível diante da situação, senhora. — Paser fala, dando a entender que já sabe sobre tudo.

—Se é compreensível, por que parece preocupado? — Pergunto ao notar seu olhar sério.

—Enquanto eu a examinava, Leila me contou sobre os mal estares que a senhora vem sentindo.

—Eu estou doente, é isso?

—Não, mas creio já saber o que a princesa tem. — Ele fala. — Perdão se estou sendo indiscreto, mas quando foi a última vez que a senhora e seu marido estiveram... juntos?

—Na noite anterior a praga das moscas. — Respondo um pouco constrangida. — Mas, isso foi há quase três luas atrás.

—É tempo suficiente para que a senhora esteja sendo acometida por enjôos e desmaios.

—Do que está falando, Paser? — Pergunto, sem entender absolutamente nada.

—Vossa alteza está grávida. — Ele responde com tamanha sutileza que me faz duvidar.

—Paser, eu não tenho mais idade para gerar uma criança. — Me recuso a acreditar no que acabo de ouvir. — Além disso, Anat me envenenou durante a primeira praga e fez com que eu tivesse um aborto sem que eu sequer soubesse que estava grávida.

—Princesa, a senhora é como a prova viva de que milagres realmente acontecem. — Paser sorri. — Nada do que aconteceu impediu que gerasse suas filhas e as trouxesse ao mundo, assim como agora nada impede que haja uma vida em seu ventre, mesmo que isso contrarie um pouco as leis naturais do ser humano.

—Você tem certeza? — Ainda incrédula, levo uma de minhas mãos até meu ventre.

—Não tenho dúvida alguma de que a alteza espera um filho.


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