O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente quero agradecer de coração aos que comentaram o primeiro capítulo desta história. Fico imensamente feliz que tenham gostado. Agora, vamos de segundo capítulo.



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Por Henutmire

 

Os dias correram desde que descobri que espero um filho. Ainda me lembro perfeitamente da reação de Hur quando lhe dei a notícia. Assim como eu, ele parecia não acreditar.

 

Flash back on

 

—Pai? — Hur me olha incrédulo. — Isso quer dizer que...

 

—Que nós vamos ter um filho, ou filha. — Falo sorrindo.

 

Hur apenas me olha, mas eu posso ver que seu olhar está pleno de alegria. Ele me abraça, me tirando do chão e me girando no ar.

 

—Está feliz? — Pergunto quando ele me coloca novamente no chão.

 

—Como não estaria? Você me deu o seu amor e agora vai me dar um filho. — Ele sorri para mim. — Eu sou o homem mais feliz de todo o Egito.

 

—E eu sou uma mulher afortunada por ter você ao meu lado. — Falo. — Não poderia dar ao meu filho melhor pai que você, meu amor.

 

—Será um menino ou uma menina? — Hur pergunta, colocando uma de suas mãos sobre meu ventre.

 

—Eu sequer sabia que ele existia, como posso saber se é menino ou menina? — Falo rindo.

 

Flash back off

 

A notícia sobre minha gravidez logo se espalhou por todo o Egito e reinos aliados. Agora, todos aguardam com ansiedade a chegada de dois príncipes. Ramsés se preocupa com cada passo meu e de Nefertari, o que chega a me incomodar algumas vezes. Porém, entendo a preocupação de meu irmão comigo. Sei que preciso me cuidar muito por meu filho, para que ele nasça forte e saudável, como um príncipe deve ser.

 

Mas, não é apenas isso que tem afligido meu coração. Meu filho terá o sangue real, mas também o sangue hebreu. Não que eu tenha algo contra, mas vejo de perto como Ramsés é intolerante com os hebreus e os trata não mais como escravos e sim como animais. Meu irmão é cruel com eles por mero prazer. Não consigo imaginar o meu filho sendo tratado dessa forma, sendo humilhado... Isso eu nunca irei permitir. Nunca!

 

—Parece preocupada, princesa. — Leila fala enquanto coloca os adornos em minha peruca.

 

—A história está se repetindo, Leila. — Falo.

 

—Do que está falando, senhora?

 

—Moisés não foi tratado como escravo, ou condenado a morte pelo decreto de meu pai, porque eu fiz dele meu filho. — Falo e coloco uma de minhas mãos sobre meu ventre. — O mesmo acontece agora. Esta criança não será um escravo porque é meu filho, assim como Moisés.

 

—Se a senhora enfrentou o rei por amor a um bebê que encontrou no Nilo, o que não enfrentará por amor ao filho que carrega em seu ventre, que tem o seu sangue? — Leila fala me fazendo refletir. — Uma mãe é como uma leoa que luta para proteger seu filhote.

 

—Apenas temo que eu não possa protegê-lo de tudo, Leila. — Falo, acariciando meu ventre. — Temo que algum dia, Ramsés se volte contra meu filho, apenas por ele ter sangue hebreu.

 

—Acho improvável, senhora. O soberano está muito entusiasmado com seu filho. — Leila fala e sorri. — Já fala até em vê-lo lutar ao lado do príncipe herdeiro.

 

—Que isto demore muito a acontecer. — Falo. — Não quero passar novamente pela aflição de ter um filho na guerra.

 

—Feche os olhos. — Leila pede.

 

Sinto a leve mão de minha dama pintar meus olhos com a cor azul. Sem querer, me lembro de quando era Yunet quem o fazia. Lembrar dessa mulher me causa arrepios! Ela foi capaz de matar meus filhos ainda no meu ventre, e se ainda vivesse no palácio não hesitaria em fazer o mesmo com o filho que espero. Yunet é um ser monstruoso, como jamais eu vi. Seu ódio por mim é sem limites! Será que ela sabe sobre minha gravidez? Meu coração se aperta só de pensar nesta possibilidade, embora eu saiba que Yunet já não pode me fazer nenhum mal. Nem a mim, nem ao meu filho.

 

—Estão prontas? — Hur pergunta ao entrar no quarto e eu abro os olhos. — O soberano está aguardando na sala do trono.

 

—Se a princesa permite, vou procurar Uri e Bezalel e os encontro na sala do trono. — Leila fala.

 

—Pode ir, Leila. Muito obrigada. — Sorrio para ela.

 

—Com licença. — Leila fala e sai em seguida, me deixando sozinha com Hur.

 

—Você vai mesmo ao cortejo? — Hur me olha.

 

—E por que não iria? — Pergunto.

 

—Por isso. — Ele se aproxima e toca meu ventre delicadamente por cima do tecido azul de meu vestido. — Não acho prudente subir em uma liteira no seu estado.

 

—Prefere que eu vá andando? — Falo brincando. — É o aniversário de meu irmão, todo o povo aguarda para ver o soberano e a família real passarem. Não posso deixar vazio o meu lugar no cortejo. — Olho para ele. — Falta pouco tempo para o meu sobrinho nascer e ainda assim Nefertari irá ao cortejo.

 

—Ela é a grande esposa real, não poderia faltar. — Hur argumenta.

 

—E eu sou a irmã do soberano do Egito. — Sorrio, tentando tranquilizá-lo. — Não se preocupe, Hur. Nosso filho e eu estamos bem, não irá acontecer nenhum incidente durante o cortejo.

 

—Assim espero. — Ele sorri, demonstrando que confia no que eu disse. Seu olhar vai de encontro ao meu ventre. — Nosso filho está crescendo.

 

—E ficando mais pesado a cada dia. — Falo sorrindo. — Se continuar assim, não conseguirei mais andar.

 

—Não acha que está muito grande, pelo tempo de gravidez? — Hur analisa meu notável ventre com o olhar.

 

—Como vou saber? Eu nunca estive grávida antes. — Respondo. — Você deveria saber, afinal, sua falecida esposa lhe deu um filho.

 

—Isso faz tanto tempo que mal me lembro de quando ela esteve grávida de Uri.

 

—Você sentiu muito a morte dela? — Pergunto. Hur não me fala muito sobre seu passado e às vezes fico curiosa por saber mais sobre sua vida, antes de eu estar nela.

 

—Foi uma dor muito grande. — Ele responde. — Uri ainda era muito pequeno e eu não sabia como iria criar meu filho sozinho.

 

—Não pensou em se casar novamente?

 

—Eu achava que jamais conseguiria amar outra mulher, até te conhecer. — Hur me olha, sorrindo. — Me apaixonei por você desde o primeiro momento em que a vi. Mas, eu jamais me declararia a uma mulher casada e você me via apenas como amigo.

 

—Demorei tanto a perceber seus sentimentos por mim. De grande amigo, você tornou o amor da minha vida e agora será o pai do meu filho.

 

—Eu sempre te amei, mesmo achando que era um amor impossível. — Hur fala. — Fiz de tudo para esconder meus sentimentos, até tentei esquecê-la, mas nunca consegui.

 

—Então você não se interessou por nenhuma mulher antes de nos casarmos? — Pergunto.

 

—Não. — Ele responde com firmeza. — Depois da mãe de Uri, você foi e é a única mulher em minha vida.

 

(...)

 

—Ramsés diz que irá segurar no colo os dois príncipes juntos. — Nefertari fala rindo. — Está claro que não irá conseguir.

 

—E por que não? — Ramsés pergunta.

 

—Veja o tamanho do ventre de Henutmire. — Nefertari responde. — Esta criança não será pequena.

 

—Meu sobrinho já é forte e soberano, assim como o nosso filho. — Ramsés sorri ao colocar uma de suas mãos sobre o ventre de sua esposa. — Eles crescerão juntos.

 

As palavras de Ramsés me fazem lembrar que ele e Moisés também cresceram juntos, como irmãos. Será que meu filho e o filho de Nefertari também serão assim? Me lembro de quando Moisés era apenas um menino e eu o tinha sempre perto de mim. Hoje, sequer sei onde meu filho está, se está bem ou se está vivo... Embora meu coração de mãe me diga que ele está vivo, em algum lugar distante, e que um dia irá voltar para mim.

 

—Está tudo pronto para o cortejo, soberano. — Paser anuncia ao se aproximar de nós.

 

—Vamos? — Ramsés fala para mim e Nefertari.

 

Meu irmão e sua esposa caminham em direção as as portas da sala do trono. Eu vou logo atrás deles, acompanhada por Leila. Hur e Uri nos esperam no pátio do palácio, junto as liteiras. Enquanto caminho sinto meu filho se agitar em meu ventre, o que me faz deter meus passos. Não é a primeira vez que ele se faz notar, mas sempre é uma sensação indescritível.

 

—Está tudo bem, minha senhora? — Paser se aproxima ao notar que algo acontecia comigo.

 

—Está sim, Paser. — Falo com um sorriso. — É apenas o meu filho, ultimamente ele está muito agitado.

 

—Se o príncipe está assim ainda no ventre, imagina quando nascer. — Simut fala divertido, me fazendo rir.

 

—Simut! — Paser repreende seu assistente.

 

—Simut tem razão. — Falo sorrindo. — Parece que a natureza de meu filho é ser inquieto.

 

(...)

 

Todo o povo do Egito está nas ruas, prestigiando seu rei por mais um ano de vida que os deuses lhe concedem. Só me lembro de ter visto tamanha multidão no dia da coroação de Ramsés. Sinto meu filho se mexer novamente, porém com mais força, o que me causa certo incômodo. Por estarmos na mesma liteira, Hur logo percebe meu desconforto.

 

—O que foi, meu amor? — Ele pergunta, preocupado.

 

—Nosso filho está muito inquieto hoje. — Respondo. — Como se quisesse me avisar que algo vai acontecer.

 

—Ainda não estamos longe do palácio, talvez seja melhor voltarmos. — Hur sugere.

 

—Voltaremos... — Falo e um sorriso de alívio nasce no rosto dele. — Quando o cortejo acabar.

 

—Você é muito teimosa, Henutmire. — Seu sorriso se desfaz.

 

Uma confusão no meio da multidão chama a minha atenção. Um homem corre por entre as pessoas e dois oficiais o perseguem incansavelmente. O estrangeiro passa pelo cortejo, sem se dar conta de que seus passos apressados fazem com que a liteira do rei, da rainha e consequentemente a minha parem bruscamente.

 

—O que está acontecendo? — Pergunto.

 

—Mas, o que é isso? Como ousam interromper o cortejo de aniversário do hórus vivo? — Ouço a voz alterada de Ramsés. — Bakenmut, vá imediatamente saber o que está acontecendo e que o responsável seja severamente punido.

 

—Agora mesmo, soberano. — Bakenmut se retira do cortejo para cumprir as ordens do rei.

 

—O que houve, Leila? — Pergunto para minha dama de companhia, que caminhava ao lado de minha liteira durante o cortejo.

 

—Eu não sei, senhora. — Leila responde. — Parece que um estrangeiro invadiu o cortejo.

 

—Pelos deuses! Meu irmão mandará matá-lo por tamanha afronta. — Lamento pelo desconhecido que sofrerá com a fúria do rei.

 

Ao voltar minha atenção para Hur, vejo que seu olhar está temeroso ao fitar um rosto na multidão. Em meio a tantos, não consigo identificar qual rosto prende o olhar de meu marido. Talvez seja algum hebreu, conhecido seu. Me intriga o fato de ver temor nos olhos dele, mas acabo desviando minha visão para o outro lado, contemplando a multidão. Então, noto que um olhar entre muitos está fixo em mim e logo reconheço a quem ele pertence. É Yunet! Eu mal a reconheço, pelas roupas maltrapilhas e sujas que veste. Mas, jamais conseguiria esquecer seu olhar para mim, repleto de ódio e de inveja, desejando sempre o meu mal.

 

Sinto meu filho se agitar novamente, como se me dissesse para sair dali naquele mesmo instante. Será possível que meu filho sente que o mal está por perto e por isso está inquieto dessa maneira? Yunet não desvia seu olhar de mim e de meu ventre. O pavor começa a tomar conta de meu coração. Sem perceber, seguro com firmeza o braço de Hur, o que faz com meu marido volte suas atenções para mim.

 

—Henutmire? — Hur me chama e eu volto meu olhar para ele, mas não consigo dizer nada. Seguro em seu braço com mais força. — O que você tem, meu amor?

 

—Ela está aqui, Hur. — Respondo. — Ela não tira os olhos de mim.

 

—Quem? — Ele pergunta.

 

—Yunet. — Respondo ao voltar meu olhar para ela.

 

Hur acompanha meu olhar e encontra Yunet no meio da multidão. Sei disso porque agora é ele quem me segura com firmeza junto de si, como se quisesse me proteger do olhar perverso dessa mulher. Yunet faz uma reverência plena de ironia, me olha mais uma vez e sorri falsamente, o que me causa arrepios. Vejo-a sair do meio da multidão e desparecer de minha visão. Se antes eu tinha alguma dúvida, agora não tenho mais. Yunet sabe que estou grávida e isso com certeza aumentará seu ódio por mim.


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