O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 13
Capítulo 13




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Por Henutmire

Ao olhar pela janela de meu quarto vejo a luz de Rá iluminar todo o Egito. Mais um dia começa e eu tenho a sensação de que ele me reserva grandes surpresas. Ah! Como eu queria que uma destas surpresas fosse ver meu filho entrar pelas portas de meus aposentos, sorrindo para mim, e eu pudesse envolvê-lo em meus braços saudosos de mãe. O tempo passou depressa, mas nada foi capaz de me fazer deixar de pensar em Moisés um só dia e em como as coisas seriam se ele tivesse voltado. Minhas filhas se tornaram belas moças, de corações e sentimentos nobres, ao mesmo tempo em que são fortes, justas e decididas em tudo que fazem. A cada dia mais certeza eu tenho de que Hur é o amor da minha vida. Tenho ao meu lado um homem maravilhoso, que me ama até mais do que mereço. Seria ingratidão com os deuses me queixar do que quer que fosse. Mas, às vezes, acho que minha existência seria plenamente completa se eu tivesse Moisés perto de mim.

—Pensando em Moisés? — Me surpreendo ao ouvir a voz de Hur próxima a meu ouvido e seus braços envolverem minha cintura. Porém, mais surpresa fico por ele saber onde estão meus pensamentos.

—Será que algum dia eu vou deixar de sentir essa saudade, essa necessidade de ter meu filho comigo outra vez? — Pergunto, sem desviar o olhar do azul do céu que vejo através da janela.

—Acho que não. Moisés pode não ter o seu sangue, mas é seu filho. Você o salvou da morte, da fúria do rei. — Hur responde. — E por isso sempre haverá uma ligação especial entre você e ele.

—E será que essa ligação é capaz de trazê-lo de volta? — Pergunto novamente.

—Creio que sim, se você não deixar de acreditar.

Fico em silêncio, mas dou razão as palavras de Hur. Jamais deixei a incerteza tomar conta de meu coração, mesmo que as circunstâncias fossem contrárias. Algo dentro de mim nunca me deixou perder a esperança de que meu filho voltará um dia. Talvez isso seja amor de mãe. Eu soube o que era este sentimento no instante em que encontrei Moisés no Nilo e o coloquei em meus braços, ninando-o para acalmar seu choro. Ele foi meu único filho, meu menino... Até que eu o perdi e em meu ventre gerei duas filhas e as trouxe ao mundo. Foi então que passei a conhecer este amor em toda a sua essência e a força que possui.

—Talvez os deuses tenham me tirado Moisés como forma de me punir pelo mal que causei. — Interrompo o silêncio.

*Flash back on*

—Perdão, princesa. — Ela fala. Eu olho incrédula para a mulher hebreia vestida como egípcia. — Eu tinha que ver meu filho.

Faço um gesto para ela se calar. Olho ao redor para ver se alguém está por perto e até me distancio um pouco dela para ter absoluta certeza de que estamos sozinhas.

—Ele não é seu filho. — Falo friamente. — Uma palavra e eu acabo com a sua vida agora mesmo. — Ameaço e ela permanece em silêncio, olhando para mim. — Como conseguiu entrar? Quem te ajudou?

—Ninguém. — Joquebede responde. — Eu consegui enganar os guardas e entrei.

—Você teve ajuda de alguém aqui de dentro. Se não, como saberia que Moisés está preso? — Demonstro que não acredito no que ela diz. — Eu preciso saber o nome dessa pessoa.

—Foi por acaso. — Joquebede continua mentindo para mim. — Eu ouvi os guardas conversando e consegui entrar, sozinha.

—Fique sabendo que se... se tentar se aproximar novamente de Moisés, eu mato você e quem a ajudou. Entendeu bem? — Falo com firmeza e Joquebede acena afirmativamente com a cabeça e baixa seu olhar. — Agora vá embora daqui antes que eu mude de ideia.

A mãe hebreia de Moisés faz menção de se retirar, mas seu olhar retorna até mim. Eu a encaro, sem entender o motivo pelo qual ela não acatou minhas ordens.

—Senhora, antes de ir, eu quero lhe dizer que sou muito grata por Moisés ter sido criado com amor de mãe... mesmo que não tenha sido o meu. — As palavras de Joquebede conseguem tocar meu coração, mas faço o possível para não demonstrar isso. — Por favor, eu já vou embora, mas eu preciso saber. O que vai acontecer com ele?

—Eu não sei. — Respondo. — O julgamento é amanhã.

—Moisés pode morrer?

Sequer tenho coragem de responder a tal pergunta, porque a remota possibilidade de perder meu filho consegue me tirar toda a paz e segurança que sempre tive. Apenas faço um gesto de cabeça indicando que sim. Vejo o medo tomar conta de Joquebede, enquanto diz algo que eu não entendo.

—Misericórdia, Senhor. — Ela fala. Então me dou conta de que ela pede algo ao deus invisível dos hebreus em favor de Moisés.

—Ore a seu deus. — Peço. — Só um milagre pode salvar Moisés. — O olhar de Joquebede para mim começa a me desarmar por dentro e eu não posso permitir isso. — Agora vá embora daqui. Não esqueça do que eu falei, fique longe do palácio.

*Flash back off*

—Não se martirize pelo passado, meu amor. Você fez o que achou correto para proteger seu filho. — Hur fala. — Tenho certeza que a família hebreia de Moisés não guarda mágoas de você.

Não sei como meu marido pode ter tanta certeza, talvez seja porque os conhece melhor do que eu. No entanto, não o questiono sobre isso. O que toma meus pensamentos são as coisas que fiz e que deixei de fazer, os erros que cometi e o desejo de um dia ter a chance de repará-los.

—Você fica ainda mais linda a cada dia que passa. — Diante de meu silêncio, Hur me elogia e eu sinto meu rosto corar.

—E você continua sendo muito gentil. — Sorrio.

—O que posso fazer se minha esposa é a mulher mais bela de todo o Egito? — Meu marido pergunta, mas eu sequer tenho a chance de responder, pois logo sinto seus lábios beijarem meu pescoço sucessivamente.

—Mas, assim é covardia. — Falo e me viro, ficando de frente para Hur. Seus olhos cativam os meus e eu sorrio. — Eu te amo, sabia?

—Eu te amo muito mais.— Antes que eu possa me dar conta sinto os lábios de Hur se encontrarem com os meus.

Mesmo depois de tantos anos juntos, não consigo descrever o que sinto cada vez que Hur me beija, me abraça ou que simplesmente me olha ou sorri para mim. Parece que o nosso amor é algo grandioso demais para que alguém, até mesmo eu, possa compreender. Talvez não exista explicação para o que nos une, para nos pertencermos de corpo e alma.

Ouço passos rápidos no corredor, no mesmo instante em que Hur e eu nos separamos um do outro. As portas de meus aposentos logo se abrem e Mayra entra correndo, com seu típico sorriso. Ao perceber que ela vem em minha direção, me ajoelho e minha sobrinha se joga em meus braços e me abraça com todo carinho.

—Pelo visto a minha menininha fugiu novamente do harém. — Falo sorrindo.

—Eu me canso de ficar tão sozinha, tia.

Mayra se tornou uma criança carente do carinho de seus pais. Quando mais nova, era o centro das atenções de Ramsés e Nefertari e até mesmo de Amenhotep, que fazia de tudo para desempenhar bem seu papel de irmão mais velho. Mas, conforme o príncipe herdeiro crescia, o rei e a rainha passaram a se dedicar mais a ele e a filha mais nova foi sendo deixada de lado aos poucos. Meu irmão e minha cunhada se comportam como se tivessem apenas um filho, o que fez de meu sobrinho um rapaz mimado e cheio de vontades, que se acha superior a todos. Mayra foi deixada aos cuidados de damas e mestres, e se não fosse a atenção que Paser e eu devotamos a ela sempre que possível, minha sobrinha poderia afirmar que não tem família, que é apenas mais uma das crianças que são criadas no palácio.

—Agora você está aqui comigo e não vai ficar sozinha. — Falo e ela sorri.

—A senhora me ensina a dançar? — Mayra pede, já se animando com a ideia.

—Dançar? — Falo incrédula. — Eu não tenho mais idade para isso, Mayra.

—A senhora não ensinou minhas primas? — Ela pergunta.

—Sim.

—Então, pode me ensinar também. — Mayra argumenta. — Por favor, tia.

—Está bem. — Acabo por ceder ao olhar doce e inocente da menina.

—Não poderia ter escolhido melhor professora, princesa. — Hur fala com um sorriso.

—Tia Henutmire já dançou para você, Hur? — Mayra pergunta sutilmente.

—Não está atrasado para o trabalho, meu marido? — Desconverso.

—Claro, preciso mesmo ir. — Hur entende que tento fugir do assunto. — Com sua licença, alteza.

Meu marido faz uma pequena e simples reverência a Mayra, que mesmo sendo ainda uma criança é alvo do respeito e das formalidades por ser filha do faraó do Egito. Hur se despede de mim com um beijo no rosto e em seguida me deixa sozinha com minha sobrinha.

—Tia, a senhora sabe quem é Anat? — A pergunta de Mayra me faz estremecer por dentro.

Desde que Anat partiu para Om não temos notícias suas, nem sequer um papiro ela enviou para seu próprio tio. Não nego que me agrada que ela tenha desaparecido, mesmo que eu saiba onde está. É reconfortante saber que hoje provavelmente já seja uma adoradora do deus Seth e que isto a manterá longe do palácio e de minha família.

—Onde ouviu esse nome, Mayra? — Pergunto.

—Ouvi meu avô falar com Simut sobre essa pessoa, mas não sei de quem se trata. — A menina fala.

—Anat é sobrinha de seu avô e prima de sua mãe. — Falo. — Ela morou no palácio por um tempo, mas há muitos anos se mudou para o templo de Om.

—Ela é uma sacerdotisa? — Mayra demonstra interesse.

—Sim, é uma adoradora do deus Seth. — Respondo.

—Quando eu crescer também quero me dedicar ao sacerdócio, assim como meu avô. — Ela sorri.

—Você ainda é muito pequena, Mayra. Tem toda uma vida pela frente antes de tomar decisões como esta. — Falo. — Mas, você quer aprender a dançar, não é mesmo?

—Sim. — A alegria toma conta da voz de minha sobrinha.

—Então, vamos começar.

Por Tany

Sentada ao lado de minha irmã, observo o treinamento de nosso primo e de Pepy. O som das lâminas das espadas pode ser ouvido ao longe, assim como as provocações do príncipe.

—Vamos! Me ataque! — Amenhotep ordena a Pepy. O filho de Karoma avança com toda sua força em direção a meu primo, que com facilidade se livra do golpe do menino. — É só isso que você sabe fazer?

—Se concentre, Pepy. — Bakenmut, que supervisona o treinamento, fala.

—Estou esperando. — Amenhotep fala com deboche.

—Amenhotep não deveria tratá-lo dessa maneira. — Hadany fala. — Pepy é só uma criança.

—Até parece que nosso primo se importa com isso. — Falo.

—Você não leva jeito para isso, Pepy. — Amenhotep mais uma vez provoca o menino. — Deveria trabalhar como ajudante na cozinha de Gahiji.

—Eu sou um guerreiro e vou provar que sou tão capaz quanto você. — Pepy esbraveja.

O menino vai em direção a Amenhotep com toda a sua raiva. Hadany observa tudo tão atentamente que sequer pisca. O confronto entre as duas espadas dura alguns instantes, até que o príncipe consegue desarmar Pepy e joga-o no chão, colocando sua espada no pescoço dele.

—Eu sou o futuro rei do Egito e você não é nada além de um fracote. — Amenhotep fala com toda sua soberba.

—Agora basta! — Hadany se levanta de súbito e eu percebo o quanto ela está furiosa.

—O que vai fazer? — Pergunto ao segurar seu braço.

—Você verá.

Minha irmã se solta de minha mão e pega a espada de Pepy, que estava caída perto de nós. Enquanto ela caminha com firmeza até Amenhotep, me dou conta de que minha irmã sairá em defesa do menino e começo a temer o que pode acontecer.

—Vá para junto de minha irmã. — Hadany fala para Pepy, assim que o ajuda a se levantar, e no mesmo instante ele vem até mim.

—É melhor me dar essa espada, alteza. — Bakenmut aconselha. — A princesa pode se machucar.

—Não se meta, Bakenmut. — Minha irmã ordena. O general curva sua cabeça em sinal de obediência. — Isto é um assunto entre mim e meu primo.

—Posso saber o que pensa em fazer? — Amenhotep pergunta.

—Eu não penso, eu vou fazer. — Hadany encara Amenhotep. — Vamos ver quão bom você é lutando com alguém do seu tamanho.

—Isso é ridículo! Você sequer sabe manusear uma espada. — Amenhotep menospreza minha irmã.

—É o que veremos. — As palavras de Hadany são seguidas pelo som de sua espada ao se encontrar com a do príncipe, que logo se defendeu do golpe que minha irmã lhe desferia.

—Pelos deuses! — Exclamo, apavorada. — Parem com isso!

—Pois bem. — Amenhotep fala. — Será como você deseja.

Bakenmut observa abismado o novo confronto entre minha irmã e meu primo. Cada novo golpe entre a luta dos dois aumenta mais o meu medo de que acabem se ferindo gravemente. Todavia, Hadany manuseia a espada com tamanha precisão que me impressiona, o que me faz temer por Amenhotep. Minha irmã é calma na maior parte do tempo, mas sua personalidade forte não nega o sangue que corre em suas veias.

—Não saia daqui. — Falo para Pepy.

—Está bem. — Ele concorda e eu saio apressadamente do campo de treinamento.

(...)

—MÃE! — Chamo ao entrar nos aposentos.

—O que foi, Tany? — Minha mãe pergunta ao me ver ofegante a sua frente. — Por que está gritando desse jeito?

—Hadany e Amenhotep... — Respiro fundo para continuar falando. — Eles estão lutando no campo de treinamento.

—O que? — Minha mãe se mostra incrédula diante de minhas palavras.

—Se a senhora não intervir, vai acabar acontecendo uma tragédia. — Falo.

—Vá, senhora. — Leila fala. — Eu fico com a princesa Mayra.

—Onde estão indo com tanta pressa? — Tia Nefertari pergunta ao nos encontrar no corredor, assim que saímos dos aposentos de minha mãe.

—Impedir que seu filho e minha filha acabem se matando. — Somente essas palavras de minha mãe foram suficientes para minha tia arregalar seus olhos e nos acompanhar até o campo de treinamento.

Por Henutmire

—HADANY! — Exclamo ao chegar no campo de treinamento e me deparar com minha filha com uma espada na mão, lutando bravamente contra Amenhotep.

—Parem com isso já! — Nefertari ordena, mas nenhum dos dois lhe dá ouvidos.

Hadany ataca Amenhotep, que não consegue se defender. Em um movimento rápido demais para que eu possa perceber, ela o desarma e a espada dele vai parar em sua mão. Em seguida, derruba-o no chão e coloca ambas as espadas no pescoço dele. Pelos deuses! Onde e como foi que minha filha aprendeu a manusear uma espada com tanta destreza?

—Está vendo? O futuro rei do Egito não é tanta coisa assim. — Hadany fala. — Isto é para você aprender a nunca mais humilhar as pessoas.

—Já chega, Hadany! — Nefertari se aproxima e ajuda o filho a se levantar. — Por que estavam brigando dessa maneira?

—Pergunte a ele! — Minha filha responde com grosseria.

—É esta a educação que dá a suas filhas, Henutmire? — Minha cunhada me olha.

—Eu poderia lhe fazer a mesma pergunta. — Falo. — Se Hadany fez o que fez, com certeza há um motivo.

—Nada justifica a atitude de sua filha. — Nefertari fala. — Amenhotep é o herdeiro do trono.

—E o que justifica o herdeiro do trono ter sido vergonhosamente derrotado por uma garota? — Pergunto, deixando-a sem argumentos. — Antes de acusar minha filha, procure saber o que de fato aconteceu.

—Vamos, meu filho. — Nefertari fala para Amenhotep.

A rainha e o príncipe dirigem seus passos para fora do campo de treinamento. É então que percebo que meu sobrinho sofreu apenas alguns pequenos arranhões como consequência do confronto de espadas com Hadany. Mas, minha filha... Minha filha sequer desalinhou os adornos de sua peruca ou sofreu algum ferimento.

—Você venceu Amenhotep. — Pepy fala admirado ao se aproximar de Hadany.— Onde aprendeu a lutar tão bem?

—Isso é um segredo e você não pode contar a ninguém. — Ela sorri. — Promete?

—Prometo. — O menino corresponde ao sorriso de minha filha. — Eu vou treinar bastante para ser tão bom com a espada como a princesa é.

—Então, é melhor começar agora mesmo. — Hadany entrega a espada com a qual lutava para Pepy. — Não me decepcione.

(...)

—Agora, pode me explicar o que aconteceu entre você e Amenhotep? — Falo para Hadany assim que entramos em seus aposentos.

—Eu já não aguentava mais ver meu primo humilhar o filho de Karoma, como se fosse muito superior a ele. — Ela fala. — Depois do que aconteceu, ele vai pensar duas vezes antes de se colocar acima de alguém somente por ser o herdeiro do trono do Egito.

—Apesar de não concordar com sua atitude, reconheço que meu sobrinho estava mesmo precisando de uma lição. — Falo. — Mas, isso não deveria ter partido de você, minha filha.

—E quem o faria, mãe? — Hadany contesta. — Ninguém tem coragem de confrontar Amenhotep porque ele é o príncipe.

—E você é uma princesa. — Acrescento. — Não deveria se comportar dessa maneira, por melhor que seja sua intenção.

—Justamente por ser uma princesa estou no mesmo nível que ele. — Minha filha argumenta. — Eu o desafiei de igual para igual, eu o derrotei e fiz com que provasse um pouco de seu próprio veneno.

—Eu não quero voltar a ver uma espada ou qualquer outra arma em sua mão, fui clara? — Falo com seriedade. — Você poderia ter se machucado ou coisa pior.

—Isso não teria acontecido. — Hadany fala. — Eu não pegaria em uma espada se não soubesse lidar com ela.

—E como foi que aprendeu? — Finalmente faço a pergunta que tanto me intriga.

—Olhando os oficiais treinarem.

—Acredito em você, até porque ninguém do palácio teria a ousadia de ensinar a sobrinha do rei a lutar, sabendo que poderia ser severamente castigado. — Falo e olho em seus olhos. — Mas, ainda assim você precisaria de muito treinamento para manejar tão bem uma espada.

—Talvez seja influência do nome que a senhora me deu. — Hadany diz e eu logo me lembro que seu nome significa "nobre guerreira".

—Com licença, senhora. — Um oficial fala ao entrar nos aposentos. — O rei a aguarda na sala do trono.

Por Hur

—Não é possível! — Falo incrédulo diante do que minha filha acaba de contar.

—Parece mentira, mas não é. — Tany fala. — Hadany lutou com Amenhotep e o derrotou.

—Pelos deuses! — Uri exclama. — Minha irmã não poderia ter enfrentado o príncipe dessa maneira. — O olhar de meu filho se mostra preocupado. — Ela se machucou?

—Não, o que já não posso dizer de Amenhotep. — Minha filha responde. — Meu primo saiu do campo de treinamento com uns pequenos arranhões.

—Hadany perdeu o juízo! — Agora sou eu a olhar com preocupação para minha filha. — O rei já sabe?

—Se ainda não sabe, não demora muito a saber. — Ela afirma. — Tenho certeza que tia Nefertari irá contar tudo a meu tio.

—Como Hadany aprendeu a manejar uma espada? — Uri pergunta

—Não sei, nunca a tinha visto com uma espada na mão, até hoje. — Tany responde.

—Não importa como ela aprendeu, o que importa é qual será a reação soberano quando souber. — Falo.

—Posso garantir que não ficará nem um pouco satisfeito, meu pai. — Uri fala, conseguindo me deixar apreensivo por minha filha.

—Se fosse com outra pessoa... — Tany considera uma possibilidade de sua irmã não ser alvo da ira do rei. — Mas, Hadany foi se meter justo com Amenhotep.

—O que vai fazer? — Uri pergunta ao ver que dirijo meus passos para fora da oficina.

—Qualquer coisa, menos ficar parado aqui. — Respondo.

Não posso ficar de braços cruzados quando há a remota possibilidade de minha filha ser castigada pelo rei por causa de sua atitude para com o príncipe. Por mais justos que fossem seus motivos, Hadany não deveria ter feito o que fez. Todos no reino sabem que o herdeiro do trono é tratado como um deus, e como tal nada pode contrariá-lo ou desagradá-lo. Novamente faço menção de deixar a oficina, mas dessa vez sou impedido pela chegada de Simut, com seu típico jeito atrapalhado. Ele faz uma reverência a Tany, o que incomoda um pouco a Uri. Tantos anos se passaram e meu filho ainda não se sente confortável com o fato de suas irmãs mais novas serem parte da realeza egípcia, serem descendentes de sangue real.

—Perdão se atrapalhei a conversa de vocês, mas eu vim a pedido do mestre. — Simut fala. — Ele pede que você vá a sala dele, Hur.

—Agora? — Questiono. — É que eu estava saindo para resolver um assunto importante.

—O mestre disse que é urgente. — O assistente de Paser fala, me deixando curioso e preocupado.

(...)

—Desculpe interromper seu trabalho, Hur. — Paser fala. — Mas, eu preciso muito falar com você.

—Aconteceu algo grave? — Pergunto, diante da seriedade dos olhos do sumo sacerdote.

—Isto acabou de chegar ao palácio, destinado ao rei. — Ele fala com um papiro nas mãos. Tento entender o que uma correspondência para o soberano tem a ver comigo. Então, Paser me entrega o papiro. — Leia.

Então, abro o papiro em minha mão começo a lê-lo. As palavras passam a fazer sentido e eu me dou conta do que está acontecendo. Dentro de mim, peço a todas as divindades que o que está escrito seja mentira, que seja apenas uma ilusão de minha cabeça. Não tenho reação alguma, o que deixa Paser preocupado.

—Hur? — Paser me chama, mas não o respondo. — Você está bem?

—Não pode ser! — É apenas o que consigo dizer.

Por Hadany

Não nego a satisfação que sinto em ter derrotado Amenhotep e ter feito isso diante dos olhos de minha tia. Por culpa da criação que a rainha deu a meu primo, ele se acha superior aos demais e tem prazer em humilhar as pessoas, como fez e sempre costumava fazer com Pepy. Mas, eu mostrei que as coisas não são bem assim e o atingi onde mais dói: em seu orgulho de herdeiro do trono.

—Eu sabia que a encontraria aqui. — Ouço uma voz próxima e ao me virar me deparo com Leila.

—Quis ficar um pouco sozinha. — Falo ao olhar em volta e não ver ninguém no jardim além de mim e de minha cunhada.

—Arrependida do que fez? — Ela pergunta ao se sentar a meu lado.

—De maneira alguma.

—Então, por que está assim?

—Leila, você já teve a sensação de que seu coração tenta te avisar algo, mas você não compreende o que ele diz? — Indago.

—Não sei, acho que sim. — Ela responde.

—É como um pressentimento, que não sei se é bom ou ruim. — Falo. — Eu sinto que algo está para acontecer, mas não sei o que é.

—Talvez seja medo, alteza. — Leila sugere. — Medo de que o que aconteceu entre a princesa e o príncipe traga alguma consequência.

—O único que temo é que, para me defender, minha mãe acabe se indispondo com meu tio e os dois se desentendam, mais uma vez. — Falo. — O que estou sentindo é por algo muito maior e mais grave que minha briga com Amenhotep.

—Está conseguindo me assustar. — Seus olhos confirmam que minhas palavras a deixaram nervosa.

—Ouça... — Peço para Leila, todavia o silêncio toma conta do ambiente. O único que se pode ser ouvido é som produzido pelo vento ao agitar as folhas das plantas. — É como a paz que antecede uma guerra.

—Mas, nenhuma ameaça de guerra paira sobre o reino, princesa.

—Guerras não são travadas somente nos campos de batalha, Leila. — Falo.

Por Henutmire

—Mandou me chamar, meu irmão? — Falo ao entrar na sala do trono.

—Sim, mandei. — Ramsés fala. — Preciso falar com você.

—Se for por causa do desentendimento que houve entre Hadany e Amenhotep, saiba que...

—Eu não pedi que viesse por isso, Henutmire. — Ele me interrompe. — Mas já que tocou no assunto, saiba que pretendo relevar a atitude de sua filha, desde que ela não volte a se comportar dessa maneira tão... inadequada para uma princesa.

—Eu asseguro que não voltará a acontecer. — Falo, surpresa pela reação de meu irmão. — Mas, se não é esse o assunto, para que me chamou até aqui?

—Recebi notícias do templo de Om. — Ramsés responde.

—Soube de Anat? — Pergunto, tentando disfarçar meu desconforto ao mencionar o nome da sobrinha de Paser.

—Ela foi consagrada adoradora de Seth e é uma das melhores sacerdotisas do templo, ao menos foi o que Atalia disse no papiro que enviou.

—Que bom, eu fico feliz por ela. — Falo. — Ser esposa do deus Seth é uma grande honra.

—Anat está voltando, Henutmire.


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Notas finais do capítulo

Olha Anat de volta aí, gente! Será que Henutmire gostou da notícia?
Hadany é a nova princesa guerreira. huehuehue



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