O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Preparados? Espero que sim.



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Por Henutmire

 

Inacreditável! Esta é a palavra que encontro para definir o que acabo de ver. Não consigo acreditar que encontrei Hur nos braços de outra mulher... E justamente Anat, com quem tenho reservas desde sua chegada ao palácio. De todos os castigos que os deuses poderiam imaginar para me punir por algum erro, este é o pior deles.

 

—Minha senhora! — Paser me ampara em seu braços, ao ver que aos poucos perco as forças de meu corpo e me desequilibro.

 

—Eu estou bem. — Minto. Como posso estar bem depois do que vi?

 

—É melhor irmos para seus aposentos. — O sumo sacerdote sugere.

 

—Não! — Exclamo ao me desvencilhar dos braços de Paser.

 

—Podem nos explicar o que está acontecendo aqui? — Paser pergunta para Anat e Hur.

 

—Não é preciso explicação alguma, Paser. Por acaso não viu com seus próprios olhos? — Falo, um pouco nervosa. — A sua sobrinha e o meu marido são amantes.

 

—Isso não é verdade! — Hur se defende. — Anat e eu nunca tivemos nada!

 

—Certamente que não, percebi isso quando cheguei aqui. — Falo com ironia.

 

—Não é o que você está pensando, Henutmire. — Os passos de Hur o aproximam de mim, todavia eu me afasto dele. — Me deixe explicar.

 

—CALE-SE! — Ouço minha voz alterada ecoar pela oficina.

 

—A culpa foi minha, alteza. — Anat agora é quem se aproxima e se ajoelha perante mim. — Eu beijei seu marido.

 

—Olhe para mim. — Ordeno e ela obedece.

 

Não estou com raiva, estou furiosa! Não vejo arrependimento ou culpa nos olhos de Anat ao assumir o que fez e sim satisfação. Eu não estive enganada! Anat é dissimulada, soube enganar a todos com sua pose de boa moça, quando na verdade isto era apenas uma máscara escondendo quem ela é de verdade. Eu não estava louca quando me senti ameaça por sua presença e por sua aproximação com Hur.

 

Mas, estou perdendo o controle sobre mim mesma, e só me dou conta disso ao ouvir o som do encontro de minha mão com o rosto de Anat e seu corpo ir de encontro ao chão, demonstrando quão forte foi a bofetada que lhe dei.

 

—Princesa, se acalme, por favor. — Paser pede.

 

—Eu não quero me acalmar! — Exclamo. Ao olhar para Anat no chão, vejo a vermelhidão de sua face, mesmo com os adornos e fios de cabelo de sua peruca cobrindo-a. — Vocês não têm o mesmo sangue, mas são iguais. — Comparo Anat a sua tia.

 

—Por favor, senhora, me perdoe! Jamais tive a intenção de ofendê-la. — A sobrinha do sumo sacerdote chora compulsivamente, mas não acredito em suas lágrimas. — Eu suplico que me perdoe.

 

—Leve sua sobrinha para os aposentos dela. — Falo para Paser. — Anat não deve sair de lá, até que eu decida o que fazer com ela.

 

—Sei que mereço ser castigada, alteza. — Anat fala assim que Paser a puxa pelo braço, colocando-a de pé. — Mas, por favor, use de benevolência para comigo.

 

—É melhor você não dizer mais nada. — Paser ordena. — Vamos!

 

O sumo sacerdote praticamente arrasta Anat para fora da oficina. Jamais vi Paser agir dessa maneira com alguém, o que me leva a mensurar o tamanho de sua decepção. Mas, a decepção dele não se equipara a minha, e nem a dor que sinto neste momento. Não sinto que meu coração está ferido e sim que parou de bater. Em todos esses anos juntos, jamais esperei algo assim de Hur.

 

Ao voltar minha atenção para meu marido, vejo seu rosto demonstrar espanto, certamente pela minha atitude para com Anat. Ele e todos no palácio sabem que uma de minhas principais características é não sair do sério tão fácilmente. Hur não olha para mim, o que dá a entender que está envergonhado ou se sentindo culpado por ter despertado a minha ira. Não sei o que fazer agora. Como vou lidar com esta situação?

 

—Venha comigo. — Falo para Hur, da mesma forma como dou uma ordem a um súdito.

 

Por Paser

 

—Você tem noção do que fez, Anat? — Falo, assim que entramos em seus aposentos.

 

—Eu amo Hur, meu tio. — Ela responde.

 

—Ele é um homem casado! — Altero a voz.

 

—Eu sei! — Anat fala nervosa. — Mas, eu não posso mandar no meu coração.

 

—Então, é por isso que você desistiu de se tornar uma adoradora de Seth e relutou tanto em ser consagrada sacerdotisa. — Olho com incredulidade para minha sobrinha. — O que esperava? Que Hur te correspondesse?

 

—Talvez sim. Mas, ele nunca me deu esperanças e eu sempre soube o quanto ele ama a princesa. — Anat me olha com tristeza. — Eu não queria desapontá-lo, tio. O senhor estava tão orgulhoso porque eu ia me dedicar ao sacerdócio.

 

—E você conseguiu transformar todo o meu orgulho em decepção, Anat. — Falo com firmeza. — Entende como eu me sinto?

 

—Me perdoe, meu tio. — Ela suplica.

 

—Eu não sei o que pode acontecer, mas seja o que for me fará sentir culpado para o resto da vida. — Falo. — Porque fui eu quem trouxe você para o palácio.

 

—A quem a princesa me comparou? — Anat pergunta, após alguns segundos de silêncio.

 

"Vocês não têm o mesmo sangue, mas são iguais."

 

—A sua tia. — Respondo ao me lembrar das palavras da princesa. — Um dos motivos de Yunet ter sido expulsa do palácio foi porque se envolveu com o marido da princesa. E você fez o mesmo.

 

—O que acontecerá comigo? — Anat pergunta, com medo no olhar. — Serei expulsa também?

 

—Agradeça muito aos deuses se for somente expulsa. — Olho nos olhos dela. — A princesa é benevolente, mas está furiosa. Ela pode pedir a sua morte ao soberano e, diante das circustâncias, creio que ele não se negará a atender o pedido da irmã.

 

—Mas, o senhor é o sumo sacerdote. — Minha sobrinha fala. — Pode intervir a meu favor, não pode?

 

—Sou o sumo sacerdote, mas Henutmire é a princesa. — Falo. — Seja qual for a punição que ela lhe der, não poderei fazer nada.

 

Por Henutmire

 

—Vou lhe dar uma única oportunidade de me contar toda a verdade sobre você e Anat. — Falo para Hur, assim que entramos em meus aposentos.

 

—Se lembra quando pediu para que eu me afastasse dela? Eu fiz o que me pediu. Mas, quando percebeu o meu afastamento, Anat passou a me perseguir e em pouco tempo mostrou qual era a sua verdadeira intenção em se aproximar de mim. — Hur fala. — Há muito tempo ela tenta me seduzir, mas eu sempre me nego a ceder as suas investidas.

 

—Que motivos você deu para que Anat tivesse uma atitude como essa? — Pergunto sem pensar.

 

—Motivo nenhum, Henutmire! — Ele fala com a voz levemente alterada. — Anat é louca! Sempre deixei bem claro que sou um homem casado e que amo minha esposa.

 

—Se é mesmo verdade tudo o que está dizendo, por que nunca me contou nada? — Pergunto. — Por que escondeu isso de mim?

 

—Eu tive medo da sua reação e do que pode fazer. — Ele responde. — Você é a princesa do Egito, filha e irmã de faraós.

 

—E por ser a princesa posso fazer o que eu quiser com a mulher que teve a ousadia de tentar tomar o meu marido, não é? — Pergunto com certa indignação. — Inclusive condená-la a morte.

 

—É exatamente isto que eu tentei evitar. Que a mulher que um dia salvou a vida de um bebê escravo viesse a ter nas mãos o peso de ser responsável pela morte de alguém. — Hur se aproxima de mim, mas eu me afasto. — Não acredita em mim?

 

—Como se sentiria se me encontrasse aos beijos com outro homem, mesmo que não fosse minha culpa? — Questiono, mas recebo o silêncio de Hur como resposta. — Eu posso e quero acreditar em você, mas não consigo.

 

—Por que não? — Ele novamente se aproxima de mim, mas desta vez eu não me afasto. Sinto o toque macio de suas mãos em meus braços. — Será que todos esses anos juntos não foram suficientes para você acreditar que eu te amo e que o seu amor é tudo para mim?

 

—Jamais duvidei disso, Hur. Eu vi e senti o nosso amor crescer dentro de mim e vir ao mundo em forma de duas vidas, nossas filhas.— Falo, olhando nos olhos dele. — Mas, o que está em questão não é o amor e sim a mentira.

 

—Eu não menti para você. — Hur fala com voz terna.

 

—Como não? — Me afasto brutalmente, me soltando das mãos dele. — Diversas vezes eu notei o quanto você ficava incomodado com a presença de Anat, mas quando perguntei o porquê você disse que não era nada, que era impressão minha. — Dou as costas a Hur para esconder lágrimas que insistem em escapar de meus olhos. — Você teve muitas chances de me contar a verdade, mas preferiu mentir.

 

O silêncio toma conta de todo o ambiente. Hur não tem argumentos diante do que eu disse, pois sabe que tenho razão. Por mais dolorosa que seja, a verdade sempre deve ser dita. Vi sinceridade em seus olhos, quando afirmou que não há nada entre ele e Anat, que ela o perseguia mas ele nunca cedeu. Mas, a pessoa que é capaz de mentir para quem ama, também é capaz de muitas outras coisas. Então, como posso acreditar em meu marido?

 

—Você vai cumprir o que prometeu, não é? — Hur quebra o silêncio.

 

—Do que está falando? — Pergunto.

 

—Você disse que se...

 

Flash back on

 

—Onde você quer chegar? — Ele pergunta.

 

—Se um dia eu descobrir que você mentiu para mim ou que foi capaz de me trair, eu pedirei a Ramsés que te expulse do palácio e encontrarei uma maneira de fazer com que você nunca mais veja nossas filhas.

 

—Você teria coragem de me afastar de minhas filhas? — Hur altera um pouco a voz.

 

—Não só disso, mas também de fazer com que elas se esqueçam de você. — Falo com firmeza.

 

Flash back off

 

—E espera que eu faça isso? — Pergunto, após me lembrar da conversa que tivemos há anos atrás.

 

—É o justo. Eu menti para você, te decepcionei. — Hur fala. — Não irei contestar sua decisão, seja qual for.

 

—Se eu pedir o divórcio, — Me viro e olho para ele. — você concorda sem questionar?

 

—Sim. — Vejo a tristeza tomar conta de seus olhos e escapar em forma de uma única lágrima que Hur não foi forte o bastante para conter.

 

—Você aceita que eu não permita que volte a ver nossas filhas?

 

—Sim. — Ele responde com voz embargada, limpando lágrimas que rolam por seu rosto. — Só peço que não deixe que elas se esqueçam de mim, do quanto eu as amo. — Ele me olha. — É melhor que diga a elas que estou morto, para que não se voltem contra você.

 

Por mais que eu me esforce não consigo entender como Hur pode estar disposto a aceitar o divórcio sem resistência alguma, depois de tudo o que enfrentamos para estarmos juntos. Não entendo como ele pode aceitar, ainda que com muita dor, nunca mais ver as filhas, ser privado do direito de pai de vê-las crescer, de cuidar delas. E se preocupar tanto comigo a ponto de pedir que eu diga a elas que ele está morto, para que não se voltem contra mim. O que leva alguém a sacrificar sua felicidade dessa maneira? Só mesmo o amor, ou melhor, o maior amor que pode existir.

 

—Eu não vou pedir o divórcio, tampouco vou te afastar de nossas filhas. Por mais que eu esteja magoada, você é o pai delas e o homem que eu amo. — Falo e um pequeno sorriso toma conta dos lábios de Hur.

 

—Então, você me perdoa? — Ele pergunta.

 

—Ainda é cedo, preciso de tempo para curar a dor que estou sentindo. — Respondo e olho seriamente para meu marido. — Preste muita atenção no que vou dizer agora: o que aconteceu hoje não pode chegar aos ouvidos de meu irmão. Se Ramsés vier a saber, não será tão compreensivo como eu. Ele pode te expulsar do palácio ou coisa pior, e eu não poderei fazer nada.

 

—Quer dizer que...

 

—Que não contarei nada a meu irmão, e pedirei o mesmo a Paser. — Interrompo Hur. — Esta história morre aqui.

 

(...)

 

—Que bom que ainda está aqui, Paser. — Falo ao entrar nos aposentos de Anat.

 

—A princesa já tomou uma decisão sobre minha sobrinha? — Ele pergunta.

 

—Sim.

 

—O que irá acontecer comigo? — Anat pergunta, notavelmente com medo.

 

—Eu poderia condená-la a morte, mas não quero manchar minha integridade com o seu sangue. — Falo. — Tampouco quero escândalo ou falatórios no palácio envolvendo meu marido e, consequentemente, a mim também.

 

—Então, o que irá fazer? — Ela pergunta, me olhando de uma forma estranha. — Suponho que a princesa não permitirá que tamanha ofensa fique impune.

 

—Eu vou realizar o seu grande desejo, Anat. — Falo com um ponta de ironia. — Escrevi para Atalia, a grande sacerdotisa, em dois dias ela estará no palácio. Você irá com ela para Om e se tornará uma adoradora de Seth, como sempre quis.

 

—Mas, eu não quero ir! — Anat contesta. — Não quero deixar o palácio, nem minha família.

 

—Eu não perguntei se quer, é uma ordem. — Altero a voz, demonstrando quem sou e que ela me deve obediência.

 

—Você não está em condições de discordar, Anat. — Paser fala. — Deveria agradecer a princesa de joelhos por ser tão benevolente.

 

—Pense bem, você tem duas opções: ir embora com Atalia e se tornar sacerdotisa ou ficar e enfrentar a fúria do rei. — Falo, esperando que Anat diga alguma coisa, mas seu silêncio mostra que ainda não aceita acatar minha ordem. — Pemita-me explicar: Hur é meu marido, e eu sou a irmã do soberano do Egito. Se Ramsés chega a saber do que você fez, mandará matá-la sem pensar duas vezes.

 

—Então, a senhora não contará nada ao rei? — Paser questiona.

 

—Não, e gostaria de lhe pedir o mesmo. — Falo para o sumo sacerdote. — Você conhece Ramsés, sabe o quanto ele é fiel a promessa que fez a nossa mãe de cuidar de mim. — Volto meu olhar para Anat. — Se meu irmão descobre o que houve, será severo em punir não somente a sua sobrinha, mas também Hur, sem se importar que ele seja o pai de minhas filhas.

 

—Não se preocupe, não direi nada ao soberano ou a qualquer outra pessoa. — O sumo sacerdote concorda, me deixando mais tranquila. — E você também não dirá nada, não é mesmo, Anat?

 

—Irei acatar todas as ordens da princesa, sem questionar. — Anat responde, com um pouco de sarcasmo na voz.

 

(...)

 

—Se a princesa tem nas mãos o poder de pedir a minha morte, por que foi tão condescendente comigo? — Anat pergunta, assim que Paser nos deixa a sós nos aposentos. — Acaso tem simpatia por mim?

 

—Eu sempre soube que você não era confiável, mas ainda não tinha tido provas para sustentar minha opinião. — Falo friamente. — E respondendo a sua primeira pergunta, meus motivos não lhe interessam.

 

—Tivemos o infortúnio de nos apaixomarmos pelo mesmo homem, alteza. — Ela fala, me deixando incrédula.

 

—Infortúnio teve você, ao cruzar o meu caminho. — Falo, assustando-a. — Mas, isso já não importa! Você irá para bem longe e eu espero nunca mais voltar a vê-la.

 

—O que Hur lhe contou sobre nós dois? — Anat pergunta, se aproximando de mim.

 

—A verdade. — Respondo.

 

—E acreditou nele? — Ela me encara, mas eu não recuo diante de sua ousadia. — Perdão, mas acredito que um homem que é capaz de mentir para a esposa também é capaz de traí-la e dizer que não houve nada.

 

—Não ouse caluniar o meu marido! — Falo, tentando conter a raiva que domina meu sangue. — Ao contrário de você, eu estou ao lado de Hur há muitos anos e sei muito bem quando ele está mentindo e quando está dizendo a verdade.

 

—A verdade é que a princesa ainda é a mesma ingênua de antes, que acreditou cegamente em um homem porque ele dizia lhe amar. — Anat fala e eu luto para não perder o controle mais uma vez. — Que não enxergou que havia uma serpente invejosa ao seu lado, disfarçada de sua melhor amiga. E que agora se nega a aceitar que foi novamente traída pelo seu marido.

 

Não me contenho e acabo esbofeteando Anat novamente. Jamais pensei voltar a sentir tamanho ódio por alguém, justo eu que sempre fui reconhecida por ser uma pessoa amorosa, às vezes até mais do que devo. Mas, assim como Yunet um dia despertou o pior que podia haver em mim, Anat faz o mesmo hoje. Ela me olha furiosa e tenta revidar o tapa, mas detém sua mão no ar antes de chegar perto de meu rosto.

 

—Vamos! Me bata! — Eu a desafio. — Me dê o motivo que preciso para matá-la com minhas próprias mãos, sem me importar de sujá-las com o sangue de uma mulher como você. — Lentamente, ela abaixa sua mão.

 

—A senhora não seria capaz. — Anat fala rindo.

 

—Eu fui capaz de enfrentar meu pai, um dos faraós mais temidos da história do Egito, por amor a um bebê que encontrei no Nilo. Eu enfrentrei meu irmão e todos os nobres do Egito para poder me casar com um hebreu, atentando contra o equilíbrio da ordem cósmica. — Olho nos olhos dela. — E isto não é nada perto do que eu sou capaz de fazer.

 

—Farei o que a princesa gentilmente me pede. — Anat fala com ironia. — E prometo agir como se minha partida fosse um desejo meu e não uma ordem da irmã do soberano.

 

—É bom que seja convincente. — Aconselho. — Ninguém deve desconfiar que está deixando o palácio para assegurar a sua vida.

 

Dou as costas a Anat e dirijo meus passos até a porta, na intenção de sair de seus aposentos. Já não suporto mais olhar para ela e ver toda a sua falsidade estampada em seu rosto. Além disso, não aguento mais conter a vontade que sinto de chorar até não haverem mais lágrimas. Essa dor que se instalou dentro de mim parece aumentar a cada segundo, principalmente pelo fato de eu ainda não estar totalmente convencida de que Hur não foi capaz de me trair. Por mais que eu demonstre ser forte, me sinto insegura e vulnerável.

 

—Vossa alteza permitirá que eu me despeça de minha prima, ou terei que ficar trancada em meus aposentos até a chegada da grande sacerdotisa? — Anat pergunta e eu paro meus passos, mas não me viro para ela.

 

—Pode ir onde quiser, desde que não saia do palácio.

 

—E quanto a sua filha, a princesa Tany? Sabe o quanto ela gosta de mim. — Ela fala. — Poderei me despedir dela?

 

—Se você chegar perto de minhas filhas ou de meu marido, eu te mato. — Falo ao olhar para ela, que parece se assustar com o tom ameaçador de minha voz.

 

Por Ramsés

 

—Em dois dias? — Questiono. — É estranho que a grande sacerdotisa de Om não tenha nos avisado de sua vinda com maior antecedência.

 

—Foi um pedido da princesa, soberano. — Paser fala. — Sua irmã esteve conversando com minha sobrinha e notou que ela ainda tem interesse em se tornar uma adoradora de Seth, mas que tem receio de que a grande sacerdotisa não a aceite mais como aluna, visto que está há muito tempo no palácio.

 

—Entendo. — Falo. — Mas, você poderia mandar sua sobrinha para Om, seria mais simples do que trazer Atalia até aqui.

 

—A princesa achou melhor pedir a grande sacerdotisa que viesse buscar Anat pessoalmente, para lhe fazer uma surpresa. — Paser explica.

 

—Henutmire e suas ideias. — Falo rindo. — Então, que seja. Prepare tudo para a partida de Anat e que todo o reino saiba que ela será uma adoradora do deus Seth.

 

—Farei como pede, soberano. — Ele fala. — Anat precisará de sua permissão para deixar o palácio e para entrar no templo de Om, afim de exercer o sacerdócio.

 

—Está concedida.

 

Por Henutmire

 

Busco refúgio no jardim, para libertar todas as lágrimas que prendi até agora. Estou sozinha com a dor que a decepção me causa. Por minha cabeça se passam várias lembranças do que já vivi ao lado de Hur... Não posso acreditar que, talvez, esta única mentira seja capaz de distruir tudo o que construimos juntos.

 

Flash back on

 

—Como me encontrou? — Pergunto ao notar a presença de Hur. — Eu não disse a ninguém que vinha aqui.

 

—Quando você não está no palácio, está admirando o Nilo. — Ele fala.

 

—Foi por meio dessas águas que os deuses trouxeram Moisés para mim. — Falo, olhando o nosso rio sagrado. — Estar aqui é como estar perto do meu filho.

 

—Já não acredita que Moisés voltará um dia?

 

—Acredito, mas a cada dia se torna mais impossível. — Falo com tristeza.

 

—Alguns impossíveis são feitos para serem derrubados, Henutmire. — Hur fala com um amplo sorriso.

 

—Por que é que está sorrindo? — Pergunto.

 

—Porque estou feliz. — Ele responde e seu sorriso parece ficar ainda maior.

 

—E qual o motivo de tanta felicidade? — Eu o olho com curiosidade.

 

—O soberano do Egito acaba de me conceder a mão da mulher mais maravilhosa que eu conheço. — Hur fala e eu fico sem reação alguma. — Ela se chama Henutmire.

 

—Está dizendo que Ramsés permitiu o nosso casamento? — Pergunto e Hur confirma. — Isso não é possível! Ele disse que jamais aprovaria nossa união.

 

—Pelo visto, o rei reconsiderou e voltou atrás em sua decisão. — Ele me olha com um belo sorriso. — Agora, eu preciso te fazer uma pergunta.

 

—Qual? — Pergunto e vejo Hur se ajoelhar diante de mim e segurar minha mão esquerda.

 

—Eu sou um simples artesão, que não pode oferecer tudo o que uma princesa merece. Mas, posso oferecer meu coração, que bate únicamente por você, e meu amor incondicional, para toda a vida. — Hur fala, conseguindo me emocionar. — E, tendo o sagrado Nilo por testemunha, eu pergunto: Henutmire, você aceita ser minha esposa?

 

—É claro que eu aceito. — Falo sorrindo. Por pouco minha voz não sai, devido ao nó que se formou em minha garganta pela emoção.

 

Então, vejo surgir na mão de Hur um belo anel feito de ouro, adornado por uma pequenina e única pedra azul, certamente uma safira, que brilha em contraste com a luz do sol. Com delicadeza, ele coloca o anel em meu dedo e eu não consigo deter as lágrimas de felicidade que inundam meus olhos. Hur beija minha mão, no lugar exato onde colocou em anel. Em seguida se levanta e me olha nos olhos.

 

—Agora você é minha noiva e eu prometo te fazer a mulher mais feliz de todo o Egito. — Sinto a carícia de Hur em meu rosto. — Eu te amo tanto, Henutmire.

 

—Eu também te amo, meu amor. — Sorrio. Sinto meu corpo tremer de nervosismo ao ver Hur aproximar seu rosto do meu, mas não impeço que a união de nossos lábios aconteça.

 

Flash back off

Naquele dia, eu tive a certeza de que escreveria as novas páginas de minha vida ao lado de Hur, páginas repletas de felicidade e de amor, amor verdadeiro. Quem, depois de passar por tudo o que eu passei, voltaria a dar uma chance para o amor? Mas, assim como Hur esperou muito tempo por mim, também não desistiu de ter o meu amor e de me fazer esquecer todas as coisas ruins do passado. Hur cuidou e cuida de mim, assim como prometeu no dia de nosso casamento.

 

Flash back on

 

—Henutmire, hoje te faço minha esposa, segundo as leis e tradições do Egito. — Hur fala, tão emocionado quanto eu mesma estou. — Prometo zelar pela sua felicidade, protegê-la, cuidar de você e lhe dar todo o amor que merece.

 

—Fizeste-me tua esposa e assim serei até o fim de nossas vidas. — Me esforço para dizer as palavras que concretizam nosso casamento.

 

—Eu te amo. — Hur fala baixinho, quase inaudível, e sorri para mim.

 

—Eu te amo. — Falo, também num sussuro, e correspondo seu sorriso.

 

Todos os presentes na sala do trono olham para mim e para Hur, enquanto Ramsés faz o típico discurso que oficializa nossa união. Sei que alguns podem estar nos olhando com reprovação, outros podem estar me julgando por ter insistido tanto em me casar com um hebreu, sendo princesa do Egito e descendente de sangue real do faraó Seti. Sei até mesmo que meu próprio irmão não está plenamente satisfeito em ter concedido permissão para que este casamento acontecesse. Mas, nada disso me importa agora. Não me importo com o que ninguém na sala do trono possa estar pensando. O único que me importa é o quanto estou feliz por finalmente ser esposa de Hur. Ele é o homem que eu escolhi, o verdadeiro grande amor da minha vida.

 

Flash back off

—Por que está chorando, mamãe? — Ouço a voz de minha filha e me surpreendo com sua presença.

 

—Por nada, meu amor. — Minto, limpando as lágrimas de meus olhos.

 

—A senhora me disse que nunca choramos por nada. — Hadany fala.

 

—Você ainda é muito pequena para entender certas coisas, minha filha. — Falo e sorrio para ela. — Onde está sua irmã?

 

—No harém, com Leila e Amenhotep. Saí sem que percebessem. — Hadany responde e olha em meus olhos. — É por causa de tia Nefertari que a senhora está chorando? Ela não melhorou?

 

—Sua tia está bem, meu amor. — Falo, comovida pela preocupação de minha filha para comigo. — O bebê que ela esperava nasceu, é uma linda menina.

 

—Então, a senhora deveria estar feliz, mamãe. — Hadany fala, mas eu não consigo demonstrar felicidade alguma, o que faz com que minha tristeza seja notável. — Tem alguma coisa que eu possa fazer?

 

—Me abraçar. — Falo e logo me vejo envolvida pelos braços de minha filha. — Me abraçar bem forte.

 

Por Hur

 

"Eu não vou admitir mais mentiras, Hur. Portanto, pense muito bem antes de esconder algo de mim novamente, seja o que for."

 

As últimas palavras que Henutmire me dirigiu, antes de sair de nosso quarto para decretar a punição de Anat, ecoam por minha mente. Por um momento, considerei contar a minha esposa o que houve entre mim e Miriã, para me livrar desse peso de esconder algo dela. Mas, se ela já está completamente decepcionada por causa da minha mentira, sendo que nunca houve nada entre mim e Anat, como ficaria se soubesse que me envolvi com a irmã de seu filho? Não! Isto ela nunca pode saber! Seria o fim do nosso casamento, do qual Henutmire por pouco não desistiu hoje.

 

—Espere, princesa! — Ouço a voz de Leila no corredor e logo as portas dos aposentos se abrem e minha filha entra correndo por elas. — Perdão, meu sogro. Eu disse a ela que deveria esperar no harém, mas não consegui segurá-la.

 

—Tudo bem, Leila. — Falo. — Pode ir se quiser, eu fico com ela.

 

—Como preferir. — Minha nora dá um último sorriso para a menina e se retira.

 

—O senhor está triste, papai, parece até que chorou. — Tany fala. Às vezes me esqueço do quanto minhas filhas são observadoras, nada passa despercebido por seus olhos. — Aconteceu alguma coisa ruim?

 

—Não, minha filha. — Minto com o máximo de veracidade possível.

 

—Então, por que estava chorando? — Ela pergunta. — Não diga que não estava porque seus olhos estão vermelhos.

 

—Por nada. — Falo, mas não consigo esconder o quanto estou decepcionado comigo mesmo por ter magoado Henutmire. Suas palavras e seu olhar frio para mim não saem da minha cabeça. Acabo por me entregar as lágrimas novamente. Sinto que estou perdendo o grande amor da minha vida, e tudo por culpa do capricho tolo de Anat.

 

—O que aconteceu, papai? — Tany me olha penalizada por me ver chorar.

 

—Existem coisas que você ainda é muito nova para entender, Tany.

 

—E o que posso fazer para o senhor não chorar mais? — Ela pergunta, com sua inocência de criança.

 

—Me dê um abraço, filha. — Peço e de imediato Tany me envolve com carinho em seus braços. — Um abraço bem forte.


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Notas finais do capítulo

As gêmeas sendo umas fofas, né? *—* E eis que Anat pediu para levar os tapas que Henutmire deu nela (se fosse eu teria dado uma surra hahahaha). Até o próximo capítulo.



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