Sr. Sawyer escrita por JW


Capítulo 1
Sr. Sawyer




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O sinal ecoou pelos corredores vazios da escola de ensino médio, que logo se encheram de alunos saindo das salas como se fossem formigas em um formigueiro, colidindo-se uns com os outros, espremendo-se, correndo. No meio de tantos ali, estava um simpático garoto, com um sorriso bobo, que estonteava os que o viam, seus olhos verdes esmeralda eram raros e também atraíam admiradores. Tal par de olhos combinava perfeitamente com o cabelo cacheado em tom castanho-claro. O menino, Henry Gale, era um anjo na terra, de beleza simples e traços delicados.

Ele continuou andando pelos corredores, juntamente com duas colegas, os três conversavam animados sobre a formatura, que chegaria a pouco menos de dois meses. Eles conseguiram sair do velho prédio, indo para o pátio da escola. Era uma tarde quente, porém, agradável, o vento era fresco.

Henry Gale despediu-se das duas colegas e continuou andando, até sair do campus da escola. Distraído com os livros nos braços e fones de ouvido em suas orelhas, o vento acariciava os cabelos cacheados do garoto, fazendo-os balançarem lentamente. Ele não percebeu, mas a alguns metros atrás dele um homem, sentado ao volante de um automóvel o seguia, e não era a primeira vez.

Há alguns dias, esse mesmo homem passava em frente à escola, era para ser apenas mais uma volta normal do trabalho, estava distraído enquanto dirigia, no entanto, ele foi fisgado por uma figura. Como em câmera lenta, a figura de Henry Gale andava com livros em mãos e fones de ouvidos, na calçada e isso foi o suficiente para fazer o coração do homem disparar; ele sempre teve uma atração por garotos de cabelos cacheados. A partir desse dia, começou a seguir Henry todos os dias, no mesmo horário de saída da escola até o instante em que chegava em casa.

Durante os primeiros dias, o homem ficou um tanto preocupado com o que fazia, seguir um menino que não devia ter mais do que dezessete anos, enquanto ele já chegava na casa dos quarenta – bem conservados. Mas eram os malditos cabelos cacheados! Ah! Eles os fisgavam. Antes de tomar a decisão de parar o carro e tentar conversar com o menino, olhou-se no retrovisor do carro, que refletiam um indivíduo de meia idade, porém, muito bonito e charmoso, de olhos azul-claros, moreno claro, cabelos castanhos mostrando fios grisalhos. Ajeitou a gravata, e parou o carro na beira da calçada, desceu do Ford Maverick 1978 vermelho, item de colecionador, transporte pelo qual ele tinha investido uma salgada quantia.

Do bolso da calça social, que combinava com o terno, ele tirou um maço de cigarros Marlboro e tragou, esperando o garoto que o atraia, que vinha em sua direção, sempre o avaliando sem tirar desviar os olhos da imagem que lhe parecia a de um anjo.

Henry, no início, não achou que o homem estava apreciando-o diretamente, achou que era algo de sua cabeça, por isso continuou com os olhos voltados para o chão enquanto caminhava. Mas quando subiu o olhar novamente, notou que o desconhecido estava, sim, encarando-o com um meio sorriso nos lábios. Assim, Henry retirou os fones de ouvido e diminuiu o passo. O homem que o admirava, escorado num carro vermelho e com o cigarro nos dedos, era a reencarnação viva de George Peppard, ator que ficou famoso ao interpretar ao lado de Audrey Hepburn, em ''Bonequinha de Luxo''.

A respiração de Henry falhou por um tempo, ele tinha uma forte atração por homens mais velhos, principalmente pela a maturidade que alguns deles tinham. Continuou andando meio sem jeito e, quando estava bem próximo do homem, surpreendeu-se ao vê-lo dirigir-lhe.

Olá, garoto. – disse, com a voz rouca, voz que fez com que os pelos da nuca de Henry se ouriçassem. Ele arregalou seus olhos verdes e depois os cerrou, como se fosse um gato, receoso, que observa o predador. Era um trejeito do menino.

Oi. – foi seco, afinal podia ser atraente, mas era um desconhecido, que o cumprimentou do nada, e não parecia ter boas intenções, não com aqueles olhos azuis cintilantes e um meio sorriso safado no rosto.

O sujeito acabou de fumar, jogando o toco do cigarro no chão e pisando-o com os lustrosos sapatos negros.

Quer uma carona até sua casa?— perguntou.

O menino deu uma risada, meio que debochada.

Eu moro a três quadras daqui... E...

E?

E... Não devo entrar em carros de desconhecidos?— completou, feito uma criança que é aconselhada pelos pais.

Tom Sawyer, prazer. – estendeu a mão. Henry meio que hesitou, mas seria muita falta de modos, não responder o cumprimento. Ambos apertaram as mãos.

Prazer, Sr. Sawyer, Henry Gale.

Pronto, não somos mais desconhecidos. – falou, largando a mão do menino, abrindo a porta do carro, para Henry.

Henry continuou parado.

Qual é, garoto? É só uma carona, não faremos nada que você não queira.— disse olhando-o por baixo e mostrando seu sorriso torto.

Henry deu-se por vencido, mas antes de entrar no carro avisou:

Eu tenho spray de pimenta na minha mochila, e fiz dois anos de karatê.

Sawyer riu discretamente, fechando a porta do carro e fazendo a volta, entrando no Ford.

''E quem disse que eu teria coragem de fazer algo com um ser que parece um anjo?''

Deu a partida, no carro.

Venho te observando tempos. – declarou.

Esse é o momento que eu uso o meu spray, Sr. Sawyer. – advertiu Henry, com um sorriso maroto.

Tom, pode me chamar de Tom, senhor faz me sentir mais velho do que já sou.

Eu gosto de Sr. Sawyer, e porque anda me observando?

Porque você é uma figura que me desperta interesse.— respondeu, tirando os olhos por um instante da rua e fitando-os nos de Henry, encarando-o, como se pudesse ver tudo, até a alma do garoto. O menino engoliu em seco. Era obviamente uma cantada.

− O-Ok.

As três quadras se passaram rapidamente com o dialogo. Henry apontou o dedo, mostrando a casa na qual morava, que se encontrava em um bairro clássico de família de classe média alta dos EUA.

Ali, fica minha casa.

Sawyer estacionou o carro em frente à casa.

Obrigado pela carona.

Disponha.

Henry sorriu, mas quando estava prestes a abrir a porta do carro, Sawyer pegou em sua mão.

Quem sabe uma hora dessas eu te ofereço outra carona? − sugeriu.

Henry corou com aquela aproximação. Aquela situação era tão irreal, deliciosamente irreal.

É... quem sabe. – disse, Sawyer, soltou sua mão, e o menino se foi andando lentamente, até a porta de casa, sem olhar para trás.

[...]

Dois dias depois

Henry Gale estava sentando em um dos bancos que espalhavam-se pelo campus da sua escola, em posição de ''índio'', comendo um churros, enquanto seus olhos verdes se concentravam na estrada a frente da escola. Há dois dias, ele disse que voltaria a oferecer outra carona, o misterioso e bonito Sr. Sawyer, e em seus pensamentos Henry temia nunca mais ver aquele homem, que de tão elegante parecia ter vindo da década de 50.

Ficou olhando mais um tempo para a rua, esperando ver o carro antigo, passar por ali, mas não passou. O sinal tocou, para a aula de educação física. Não foi nada fácil para o menino se concentrar na atividade em que ele nunca tinha sido muito bom mesmo, subir em cordas, fazer polichinelos, jogar queimada, nada disso era o forte de Henry.

Ao final da aula, Henry nem foi ao vestiário tomar uma ducha, pois chegar logo em casa, para acabar de ver uma temporada de uma série de TV que ele amava. Saiu da escola, meio suado mesmo, com os cabelos colando na testa, de regata azul com o brasão da escola, e shorts amarelos. Era ridículo, mas ele sobreviveria andar daquele jeito por três quadras. Porém, na metade da primeira quadra, Henry foi petrificado, os olhos esbugalharam-se ao ver a imagem, do Sr. Sawyer, parado na frente do seu Ford vermelho, com o cigarro entre os lábios. Vestia um terno preto, com gravata cor de vinho, o cabelo escovado para trás. Aquele homem era irreal de tão perfeito, a maioria se atiraria em seus braços com um estalar de dedos.

Ao ver Henry, o sorriso torto surgiu no rosto do elegante homem e Henry odiou-se por não ter ido ao vestiário, tomado um banho, e trocado de roupa, o que o Sr. Sawyer, pensaria vendo-o daquele jeito? Totalmente desarrumado, com os cabelos desalinhados, e aquele uniforme ridículo, todo suado.

Ao longe, ele acenou. Henry respirou pela boca, e com uma dificuldade imensa deu um passo, um de cada vez, parecendo um robô, com as engrenagens enferrujadas. Quando ambos estavam em uma distância de dois palmos um do outro, Henry estendeu a mão.

Oi, Sr. Sawyer.

Olá, garoto. – ele correspondeu o cumprimento.

Um silêncio constrangedor reinou por alguns segundos, Henry olhou para baixo fitando os tênis sujos, e voltou-se para cima.

Sabe... você não deveria fumar. – aconselhou, quebrando o silencio.

Porque não?

Câncer?— sugeriu revirando os olhos, a resposta do ''porque não'', parecia tão óbvia para ele.

Sawyer sorriu aquele sorriso único dele, que não mostrava nem muito dos dentes e nem pouco, só o suficiente.

Carona, garoto?

Ah... Acho melhor não, sai da educação física estou sujo e...

Antes de acabar de falar, Henry foi interrompido pelo gesto do homem, que abriu a porta do carro e jogou o toco de cigarro na calçada.

Vamos, entre. − não era um pedido, era uma ordem.

O menino entrou, sem jeito, colocando a mochila sobre o colo, o homem fechou a porta, fez a volta, e entrou no carro, dando a partida.

Eu disse que voltaria para te oferecer outra carona.

É, já estava achando que não te veria mais... – respondeu olhando pela janela do carro, vendo outros alunos, voltando para suas casas pelas calçadas.

Henry. – chamou atenção.

Henry parou de olhar para a janela e encarou o charmoso homem a sua frente.

Você aceitaria sair comigo hoje?— ele perguntou.

Era difícil para Henry concentrar-se naqueles olhos azuis, que eram tão misteriosos, tão indecifráveis.

Para onde?

Segredo, mas como já te disse, pode confiar em mim.

Henry sentia-se totalmente seguro com aquele homem, o que era estranho até para ele mesmo, já que só o tinha visto duas vezes na sua vida, mas ele era tão educado, atencioso e nunca tinha passado dos limites, não transparecia ser um mau-caráter, além disso, Henry já sabia se cuidar, se defender, então arriscou.

Sim.

Fico feliz, mas antes preciso saber, por favor, me diga que já completou dezoito. – falou, demonstrando certa preocupação.

Henry riu.

Sim, já. Não se preocupe, não corre o risco de ser preso.

Ótima noticia.

Meia noite, na minha casa, não buzine e nem toque a campainha.— determina o garoto.

Sawyer assentiu com a cabeça, o percurso já os tinham levado em frente à casa de Henry.

Até mais...— despede-se, mostrando um sorriso, que fez as pernas de Fred Sawyer tremerem e a região abaixo de seu frente formigar.

Henry saltou de dentro do carro e foi correndo para dentro de casa, tinha que se preparar, tinha muito o que fazer, em pouco tempo, inclusive lidar com os pais.

[...]

À meia noite

Ele não sabia o que vestir, afinal não sabia nem para onde iam. Como se vestir para ir ao um lugar que você não conhece? Para jantar tem que ser algo social, para ir ao cinema ou balada algo descontraído. No fim, resolveu usar a mistura de ambos, uma calça preta jeans, meio desbotada, sapatênis e uma camisa social cor de vinho, os cachos que brotavam da cabeça eram perfeitos. Esguichou um pouco de perfume e se olhou no espelho.

''Merda, não posso ir assim, vou sair com um cara que sempre está de terno...''.

Já estava prestes a se trocar quando olhou no relógio de ouro no pulso e constatou que marcava meia noite em ponto. Não tinha mais tempo, colocou vários travesseiros em baixo do edredom, na cama, e cobertas em cima, para o caso de o pai ou a mãe irem dar uma olhada (o que quase nunca acontecia). Tinha que sair escondido, afinal era meio da semana, os pais só aceitavam saídas no final dela e também tinha a questão de Sawyer ter idade para ser seu pai, certamente seus pais não se agradariam, se soubessem. Desligou a luz do quarto e silenciosamente foi até a janela do quarto, descendo pelo cano de ferro que era preso na parede, indo até o chão. Sem muita dificuldade, conseguiu descer, sobretudo porque não era a primeira vez que usava o cano para sair de fininho. Já estando em chão firme, ajeitou a roupa e foi para frente da casa.

E lá estava o seu misterioso, esperando-o.

Tom Sawyer, ou Sr. Sawyer para Henry, jazia encostado no seu Ford Maverick 1978 vermelho, como sempre, com o cigarro entre os lábios, mas Sawyer parecia alguns anos mais novo, culpa da roupa que ele vestia. Trajava uma calça social preta, sapatos lustrosos negros, camisa branca sem estampa, e uma bela jaqueta de couro negro, o cabelo para trás, seria o tipo de roupa que Elvis Presley usaria.

Ao ver a cena, Henry suspirou, o maldito era charmoso, e sabia.

O menino de cabelos cacheados e olhos cor de esmeralda ficou aliviado, pela escolha de sua roupa, Sawyer não usava o terno de sempre, o que dava uma dica de que o passeio não seria algo que exigisse trajes mais formais.

Você está lindo, garoto!— elogiou Sawyer, dando um inocento beijo na bochecha do menino ao se aproximar.

Ele corou levemente, mas gostou de sentir os lábios dele em sua bochecha.

Você também! Parece com o Elvis.

Sawyer arqueou uma de suas sobrancelhas e mostrou seu típico sorriso torto para Henry.

Presumo que foi um elogio, Elvis, o rei do Rock!

Foi sim.

Ocorreu o mesmo gesto de sempre, ele abriu a porta do carro e Henry entrou, Sawyer, jogou o toco de cigarro fora, fez a volta, e dominou o volante.

Henry adorava aquilo, de andar de carro com Sawyer, para o menino era tão prazeroso, apenas ficar sentado ali, ver aquele homem que parecia ter-se deslocado do passado só para conhecê-lo, vê-lo dirigindo, notar os músculos rígidos dos seus braços sobre o volante, sentir a brisa do vento no rosto, sorrir para ele, pois sentia que ele amava quando fazia isso.

Logo o carro parou perto do cais, que se encontrava na praia da cidade. Lugar que era vazio à noite e, na opinião dos dois, era bem mais bonito, só se ouvia o barulho das ondas se quebrando no mar, o ar fresco acariciando os rostos e as gaivotas ao longe.

Espero que goste daqui, da praia.

Tá brincando! Eu amo a praia, é o meu lugar favorito da cidade... Mas gosto quando a praia ‘tá vazia! — respondeu Henry animado.

Sawyer impressionou-se, pois o lugar favorito na grande cidade também era a praia, e também gostava de ir lá quando não havia ninguém, algo que os dois tinham em comum. O homem, então, assustou-se com a fascinação que este menino de cabelos cacheados, olhos verdes, que parecia um anjo na terra, exercia sobre si.

Vamos descer então?— indagou, pegando uma garrafa de vinho de dentro do porta-luvas do carro. − Espero que goste de vinho.

Henry assentiu, sorridente, com a cabeça. Ambos ficaram no parapeito do píer, observando a grande massa prateada que era o mar, vendo o céu que tinha borrões de nuvens brancas, cheio de estrelas, e uma grande lua cheia amarelada, que lembrava as de desenhos animados, feitas de queijo.

O vinho foi-se acabando, ambos não se importavam de tomar no gargalo mesmo. As conversas eram basicamente sobre a vida de Henry, que contou a Sawyer que se formaria naquele ano, pretendia estudar para ser cirurgião, e quando contou o porquê de seguir aquela profissão, fez com que Sawyer liberasse um riso bem alto.

Não acredito que você será cirurgião por causa de Grey's Anatomy ?!

O que é? Para de rir!— protestou, socando de leve o peito de Sawyer – A série me fez perceber o quão bom é salvar a vida de outras pessoas e...

A frase não foi acabada, porque Sawyer agarrou Henry pela cintura, colando o corpo do garoto contra o seu, agarrando seu rosto com uma das mãos, e encarando o menino, olhando-o como se o quisesse o devorar. Henry sentia a respiração quente dele em seu rosto, que depressa ficou sério, mas logo o sorriso torto surgiu.

No primeiro momento que te vi sair daquela escola, que te vi andando pela calçada eu soube, soube que te queria. – falou firme.

O garoto novo corou e não disse nada. E Sawyer o teve. Invadiu a boca do menino, beijando seus lábios com intensidade quase feroz, invadindo com sua língua e entrelaçando-a com a do menino. O beijo intenso durou por um longo período e ao se afastarem, eles se apreciavam, ofegantes, tendo a lua amarela sobre suas cabeças a lhes assistir.

Voltaram para o parapeito e continuaram a conversar. Novamente o assunto restringiu-se a Henry, que depois de um tempo, intrigado, perguntou:

− Porque você não fala de você?

Não sou interessante, você é, e bem mais, garoto. - respondeu acendendo um Marlboro, e levando aos lábios.

Pare de me chamar de garoto.

Mas você é.

O menino revirou os olhos e fez outra pergunta.

Porque veste sempre terno quando vai à escola me dar uma carona?

É como... Como um uniforme de trabalho.

Que tipo de trabalho?

Sawyer, olhou para seu relógio de prata no pulso, que marcava duas horas da manhã, o tempo tinha voado, era o que acontecia, quando algo era divertido, e a conversa era boa.

Está tarde, garoto, vou te levar pra casa, você tem aula amanhã de manhã. – falou, trocando de assunto e jogando o cigarro apagado e a garrafa vazia de vinho em uma lixeira próxima do píer.

Você não respondeu minha pergunta. — fechou a cara, franziu a testa, e fez bico, mas isso não pareceu surtir efeito em Sawyer, que o pegou pela mão, levando-o até seu carro.

Com uma pontada de saudade do lugar, os dois seguiram caminho rumo à casa de Henry. Com a cabeça meio zonza, por culpa do vinho, mas com aquela desinibição e a felicidade gostosa que qualquer álcool provocava.

Acho que você é casado e tem filhos. – falou, do nada, na metade do caminho, esse era um dos outros fatores que o álcool fazia, ele entrava em seu corpo e a verdade saia por seus lábios.

Sawyer, que era mais resistente à bebida, dirigia perfeitamente, com o vento da noite batendo em seu rosto. Simplesmente, sem demonstrar surpresa ou raiva respondeu:

Não, garoto.

Ambos não falaram muito no caminho e o garoto, que tinha os cabelos balançados pelo vento da fria noite, estava meio desapontado por não conseguir informações sobre o misterioso homem que o levava para casa. Sawyer continuava dirigindo, porém, no caminho resolveu segurar a mão de Henry, naquele momento o desapontamento sumiu e um tímido sorriso surgiu nos lábios de Henry.

Logo chegaram à frente da casa de Henry, Sawyer estacionou o carro.

Espero que tenha gostado do pequeno passeio.

Sim, foi ótimo.

− Pois fico feliz que tenha gostado.

Silêncio.

Então... – começou Sawyer. − Está entregue.

Daquela vez, quem tomou iniciativa foi Henry, tirando o sinto de segurança, e pulando em cima do colo de Sawyer, pegando-o de surpresa e o beijando ousadamente, colocando as duas mãos de Sawyer em volta do seu quadril. Ao separem os lábios, Sawyer, ofegante disse:

Acho melhor você ir para casa dormir, garoto, não sei se isso é certo....

Cale a boca. – interrompeu, Henry, tirando sua camisa, mostrando um peitoral pequeno, um tronco magro e esguio, de pele bastante branca.

Henry observou o homem que estava abaixo dele, com as mãos em seu quadril, fitando-o como se fosse uma paisagem, olhava-o com fascinação.

O menino arregalou seus olhos e depois os cerrou, exibindo seu autêntico trejeito. E novamente voltou a beijar Sawyer, as coisas foram ficando quentes, os movimentos eufóricos faziam os vidros do carro se embaçarem e, em pouco tempo, Henry sentiu um membro duro cutucá-lo nas nádegas. Um sorriso malicioso surgiu em seus lábios.

Acho que alguém precisa ser liberto. – disparou, tirando o sinto de Sawyer, o mesmo tirava sua jaqueta de couro e logo sua camisa, mostrando seu peito largo e bronzeado, com poucos pelos loiros claros, e braços fortes.

Em uma sincronia meio desajeitada, Sawyer conseguiu levar Henry para o banco de trás e deita-lo de frente, sem parar de beijá-lo. Em um momento, ainda em cima de Henry, Sawyer, interrompeu o beijo e ficou encarando-o por uns segundos. Após isso, desabotoou a calça jeans do garoto e a arrancou de seu corpo, deixando-o apenas de cueca, uma boxer vermelha. Logo repetiu o ato consigo mesmo, também ficando apenas de cueca branca, dentro dela estava um membro rigido que ansiava pular para fora.

Tem certeza que quer fazer isso? − perguntou Sawyer.

A resposta foi um beijo e uma mão invadindo sua cueca e agarrando seu membro. Os dois tinham o corpo em chamas, excitados.

E ali naquele Ford Maverick 1978 vermelho, nos bancos de trás, Sawyer penetrou Henry com cuidado e ambos, com uma cobiça sobre-humana, tiveram um ao outro, chegando ao ápice, minutos mais tarde, soltando urros de prazer. O mais velho caiu sobre o corpo do franzino. Nus, os dois ficaram aproveitando o bom momento, suados, e com a respiração acelerada.

[...]

Quatro dias depois

Porque você tá desse jeito?— perguntou uma menina de descendência asiática, de 17 anos, Anko Mashimoto, melhor amiga de Henry.

Os dois amigos caminhavam pelo campus da escola, rumo a suas casas, era mais um final de tarde.

Desse jeito como?— devolveu a pergunta o garoto distraído, que não tirava os olhos da rua, tendo a esperança de, ao longe, ver um carro vermelho.

− Com a cabeça em marte e essa cara de enterro, esses olhos de cachorro... Desse jeito.

Você está louca Anko. Eu não tenho nada.

Um garoto te magoou? − tentou mais uma vez.

Henry suspirou fundo. Não tinha sido um garoto e sim um homem. Desde a noite em que o sexo tinha acontecido e em que Henry e Sawyer tinham-se despedido com um beijo, nos quatro dias seguintes, o menino apenas ansiava por vê-lo, ansiava por ver aquele homem escorado em seu carro, com um cigarro na boca, esperando-o para oferecer uma carona até em casa. Mas ele não tinha voltado a aparecer.

Sentindo-se usado, Henry, experimentou um nó na garganta. Será que era possível que aquele homem, que o olhava com tanto desejo, na verdade, somente o havia usado? E depois que tinha conseguido tê-lo, preferiu deixá-lo, jogando-o fora, descartando-o como lixo? Ou quem sabe ele tinha feito algo errado? Quem sabe Sawyer não tinha gostado do corpo dele, ou do sexo ou algo do tipo...

Henry!— gritou Anko.

Henry assustou-se, saindo do seu transe de pensamento.

O que é, garota?! — devolveu o grito, irritado.

Te perguntei três vezes se você quer que eu vá até um pedaço, contigo. - disse Anko, referindo-se a levar o colega até um pedaço da caminhada até sua casa.

Ele balançou a cabeça negativamente, pois queria fazer o percurso sozinho, no fundo, sabia que tinha esperança de se encontrar com Sawyer no caminho.

Não, obrigado. – respondeu.

Despediram-se um do outro e ele seguiu seu caminho, andando lentamente pela calçada, cada dez que via de relance um carro vermelho, seu coração saltava, e a decepção vinha junto, ao ver que não era o carro de Sawyer.

Entretanto, na segunda quadra seu desejo tornou-se a realidade. Lá estava ele como sempre, escorado no carro, com seu terno e sapatos elegantes, e o cigarro entre os lábios o esperando-o. Um sorriso enorme formou-se nos lábios de Henry, Sawyer não o tinha abandonado, ele estava lá, esperando-o para lhe oferecer uma de suas caronas!

Ao longe, Sawyer, jogou o toco de cigarro no chão, e esperou seu anjo, com a porta do carro já aberta.

[...]

Três meses depois e o fim

Decorrem-se três meses, que foram os mais felizes daquele garoto de olhos verdes e brilhantes. As caronas de Sawyer ou Sr. Sawyer, como Henry o chamava, faziam os dias do menino mais radiantes e, em pouco tempo, sem ao menos perceber o jovem garoto se tinha apaixonado por aquele homem tão elegante e bonito, que parecia ter saído direto de um filme dos anos 50.

Porém, faltando uma semana para a formatura do ensino médio, Henry Gale teria seu coração fragmentado em tantos pedaços ao ponto que seria difícil um dia conseguir reconstruí-lo.

Em uma das caronas, ele percebeu que algo de ruim iria acontecer, viu na expressão de Sawyer, no cenho franzido dele, enquanto dirigia, nos olhos azuis que pareciam distantes, e nós lábios que não paravam de ser mordidos.

− ‘Tá tudo bem Sr. Sawyer?

Garoto, precisamos conversar.

O coração parou, o sangue subiu pela cabeça, e um nó se formou na garganta, um ''precisamos conversar'' nunca era bom, era antecessor de um término ou algo do tipo.

Sawyer estacionou o carro na beirada de uma calçada, respirou fundo e virou-se para Henry, que o fitava com a expressão congelada, uma expressão de dar pena, uma expressão de dor.

Você vai terminar comigo, não vai? Vai dizer que não podemos mais nos ver, é isso não é?— desatou o garoto, a falar rápido, com a voz cortada, e os olhos marejados.

Henry, por favor, não chore... É tão complicado.— ver o menino daquela forma não era algo fácil para Sawyer, mas ele não podia seguir adiante com aquilo.

O que é complicado?

Isso. Nós.

Não tô entendendo, onde você quer chegar...

Henry, eu tenho uma vida complicada... Eu trabalho muito, às vezes não tenho tempo para nada....— começou a explicar, tentando ter cuidado, não queria fazer Henry chorar. – Não poderia te dar a atenção que você merece.

Eu nem sei no que diabos você trabalha!— gritou Henry, e partir dai não conseguiu aguentar e desatou em lágrimas. – Você não conta nada da sua vida para mim!

Isso só complicaria mais as coisas.... E, garoto, você tem dezoito anos, e eu trinta e oito, sou muito velho você. É...

Você não pensou nisso antes de me oferecer uma maldita carona!— gritou novamente em resposta, em meio a soluços e choros.

Sawyer tentou abraçar Henry para acalmá-lo, para fazê-lo parar de chorar, aquela cena o machucava também.

Por favor, garoto, fique calmo... Não chore, te imploro. – Sawyer foi empurrado.

Não me abraça! E para de me chamar de garoto!— gritava.

Por um tempo Henry só chorou e Sawyer apenas assistiu à cena, sentindo-se a pior pessoa do mundo, por fazer aquele ser que parecia um anjo chorar.

Só me leva para casa. – pediu Henry, por fim, mais calmo parando de chorar, limpando as lágrimas.

Henry... Por favor,deixa eu explicar.

Só me leva para casa! — gritou.

O homem suspirou, sentindo o peso do mundo sobre os ombros, e deu a partida, levando o carro de volta a estrada. O percurso que percorreram foi realizado em silêncio.

Minutos mais tarde, o carro estacionou novamente na calçada em frente à casa de Henry, que ao tentar sair do carro, foi impedido por Sawyer.

Garoto... Eu tive que fazer isso, eu vou embora da cidade, na quarta-feira.

Henry encarou os olhos claros de Sawyer e ele encarou os verdes de Henry, que estavam vermelho, devido ao choro.

Quero te dar algo e quero que você aceite, pelo tempo que ficamos juntos... Te digo, garoto, que foi curto, mas foi especial e nunca vou esquecer.

Sawyer curvou-se abrindo o porta-malas, pegando um caleidoscópio azul.

Pela sua formatura, garoto, quero que use quando for um cirurgião, e atender seus pacientes...

Henry pegou o caleidoscópio e o examinou, novamente não aguentou e as lágrimas começaram a correr, por suas bochechas, brancas.

Maldita hora que eu aceitei uma carona sua. − disse por fim, pegando o presente, abrindo a porta do carro, fechando-o com força, e saindo correndo em direção a sua casa.

Garoto!— gritou Sawyer, mas era tarde demais, o seu anjo tinha entrado em casa, e saído da sua vida para sempre.

Deste modo, Sawyer foi deixado. Por um tempo, ficou na frente da casa do menino que jamais esqueceria. Era impossível não se comover também, pois ele exercia em si uma atração muito forte, nunca esqueceria os olhos esbugalhados e verdes, o jeito que ele os arregalava e depois os cerrava, como se fosse um felino, nunca esqueceria os cabelos cacheados e de como era prazeroso tocá-los, não esqueceria a pele sedosa e branca, do cheiro, do corpo franzino. E ao se dar conta de que nunca mais teria o garoto em seus braços, Tom Sawyer, deixou sua cabeça cair sobre o volante e um choro silencioso saiu juntamente com alguns soluços guturais.

O fim tinha chegado.

[...]

Dia da formatura

Os dias anteriores à formatura não tinham sido nada fáceis para Henry Gale. Comer era algo que ele não sabia mais exatamente como fazer, só quando a mãe o obrigava, dormir tornou-se difícil, pois as lembranças do curto, mas marcante tempo que teve com Sawyer não paravam de lhe invadir a mente.

Passava a maior parte do tempo deitado em seu quarto, no escuro, na posição fetal, chorando silenciosamente, com o caleidoscópio em volta do pescoço, sentindo-se usado e descartado, perguntando-se quem era Tom Sawyer, quem era aquele homem misterioso que tinha aparecido em sua vida, do nada, para fazê-lo tão feliz e para, também do nada, ir-se embora.

E porque ele gostava tanto daquele homem? Porque tinha se apaixonado por ele de forma tão rápida e forte? A cabeça do menino enchia-se de questionamentos.

Obrigou-se a reerguer-se, afinal, uma pessoa só se formava no ensino médio uma vez na vida. Resolveu não pensar mais em Sawyer, pelo menos não por um tempo. E, pelo menos no dia da formatura, não se lembrou dele, feliz por finalmente estar se formando, juntamente com os amigos, por ver seus pais tão orgulhosos, não era o fim do mundo. Era o começo de uma nova vida, de oportunidades, de faculdade, de viver sozinho. Porém, no final da formatura quando os capelos foram jogados para o alto pelos formandos, que estavam em cima de um imenso palco, e os diplomas, erguidos em suas mãos, Henry Gale enxergou Sawyer ao longe, encostado no seu carro vermelho, com seu terno e sapatos de sempre, fumando um cigarro.

Com um sorriso tímido, ele acenou para Henry, que ficou apenas olhando sem saber que reação ter. Todavia, após alguns segundos, Sawyer fez a volta e entrou em seu carro para nunca mais voltar.

Em cima da arquibancada, já formado, Henry Gale perguntou-se se algum dia aquela dor agoniante passaria, se ele voltaria a gostar de alguém como tinha gostado daquele homem, do qual ele não sabia nada sobre a sua vida. E tal pergunta nunca sairia da cabeça de Henry.

''Algum dia eu tornarei a vê-lo?''.

Quando o seu carpelo caiu no chão, Henry o pegou, colocando novamente na cabeça, viu seus pais, sentados na primeira fileira da arquibancada, chorando emocionados, foi ao encontro deles e os abraçou forte. Sentiu-se feliz, afinal, não era o fim do mundo.


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Notas finais do capítulo

Comentários são sempre bem vindos. Espero que tenham gostado!