366 Rabiscos escrita por Priy Taisho


Capítulo 6
Capítulo 6 - Sharkyboy Uchiha


Notas iniciais do capítulo

Ôe genteeeeeeeeeeeeee! Como vocês estão? Bem, bem?! hahahahah
Segue ai mais um capítulo da fic, não tenho muito o que dizer hoje -v-
Aos novos leitores, sejam bem vindos!!!
Amei o feedback do capítulo passado ♥
Boa leitura!



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12 de Fevereiro de 2016 – 16h15min

As janelas da sala estavam parcialmente cobertas pelas cortinas brancas, a luz provinha da televisão que naquele momento estava no mudo.

Eu estava sentada em um dos sofás e tinha colocado uma almofada verde sobre o meu colo, meu dedo indicador realizava contornos imaginários no tecido dela enquanto eu explicava a situação. O tom de voz que eu usava era baixo, como se eu estivesse dando um depoimento para um delegado.

A postura de meu ouvinte também não era das melhores.

Os olhos dele, escuros como ônix, fixaram-se em mim com atenção e ora ou outra ele os estreitava, aquiescendo em momentos propícios. Ele usava uma bermuda bege e uma camisa xadrez vermelha, apoiava os cotovelos nos joelhos e o queixo nas mãos. Nem mesmo alguns fios de cabelo fora do lugar retiravam a autoridade que ele tinha naquele momento.

— Então deseja minha ajuda, senhorita Haruno? – Questionou-me rompendo um silencio que havia entre nós. Confirmei com a cabeça e ele desviou seus olhos rapidamente para a televisão, antes de focá-los em mim novamente. – E o que eu ganharia com isso? – Antes que eu pudesse responder, a porta de entrada foi aberta e as luzes acesas. – Mãe! – Ralhou perdendo totalmente a compostura. – Estávamos em meio a uma negociação! – Reclamou enquanto eu começava a rir de forma escandalosa.

— Chantagear a Sakura não é uma forma de negociação, Itachi. – Disse Mikoto balançando a cabeça negativamente enquanto fechava a porta. O cabelo e os olhos dela eram pretos iguais aos dos filhos, ela usava um vestido florido que ia até a altura de seus joelhos e carregava duas sacolas. – Sasuke daqui a pouco vai chegar, terminem logo com isso.

Olhei para Itachi e dei um sorrisinho, ele revirou os olhos e apoiou o cotovelo no braço do sofá.

— Você mora com ele, não é difícil achar alguma coisa constrangedora. – Falei e ele concordou com um resmungo. – Detesto admitir, mas preciso da sua ajuda, Itachi, não seja cruel.

— E o que eu ganho com isso? Quem teve um vídeo publicado na internet foi você, não eu. – Disse ele erguendo os ombros com descaso. – Aliás, que bunda, hein? – Joguei duas almofadas nele e o maldito continuou a rir. – Para, para! Eu te ajudo! – Acrescentou quando fiz menção de jogar meu chinelo nele. – O que vai me dar em troca? – Itachi sorriu de forma maliciosa e eu revirei os olhos.

— Prazer. – Respondi de forma simples e ele arregalou os olhos, inclinando seu corpo na direção do meu com súbito interesse. – Em ver seu irmão sendo zoado. – Completei e ele tacou uma das almofadas que eu tinha arremessado nele em mim. – Tem alguma coisa em mente? – Perguntei e após tatear o sofá encontrei o controle e aumentei o volume da televisão.

— Ainda não. – Itachi respondeu-me após bocejar. – Mas vou encontrar algo. – Acrescentou dando um sorriso convencido.

— Encontrar o que?

Sasuke estava parado próximo dos sofás e segurava algumas sacolas. Continuava com a camisa verde que tinha usado para ir à escola, mas a calça jeans tinha sido substituída por uma bermuda preta. A expressão dele era curiosa e ao mesmo tempo desconfiada.

— Um filme, nós estávamos procurando um filme que preste. – Falei a primeira desculpa que veio em minha cabeça. Uma desculpa ridícula. – Itachi estava sugerindo que nós...

— Assistíssemos Sharkyboy e Lavagirl. – Itachi completou virando-se para Sasuke com uma expressão presunçosa. Ele se levantou e caminhou até Sasuke, ambos eram da mesma altura e eu tive a sensação de que havia muito mais por trás das palavras inocentes do Uchiha mais velho. – Um filme divertido, não é maninho? – Questionou ele antes de pegar as sacolas que estavam no chão e seguir para a cozinha sem esperar para ouvir uma resposta.

— Cale a boca, doninha.

— Estou perdendo alguma coisa? – Perguntei como quem não quer nada. Na verdade eu queria sim, mas Sasuke não precisa saber disso agora. – O que tem esse filme?

— Nada. – Sasuke falou e poucos instantes depois ele estava jogado na mesma poltrona que Itachi estava antes. – Não é o filme que tem o cara de Crepúsculo? – Catou o controle da minha mão e começou a zapear os canais. – Amanhã tem a festa do Kiba, já decidiu se vai pegar carona comigo ou com a Ino?

— Eu e as meninas combinamos de nos arrumarmos na casa da Porca. – Respondi encostando minha cabeça no sofá e voltei minha atenção para a televisão. – Foi um convite sem chances de recusa, se é que você me entende.

— Tenho pena da sua pobre alma. – Declarou Sasuke rindo da minha desgraça.

Kiba Inuzuka estudava conosco e esse ano tinha sido escolhido para ser o anfitrião da festa de inicio letivo. A escolha era totalmente aleatória, colocavam os nomes de todos dispostos a ter uma pequena parcela da sua casa destruída dentro de uma caixa vermelha e o nome que fosse retirado era o escolhido. Uma grande responsabilidade se quer minha sincera opinião.

Eu nunca na minha vida aceitaria a oportunidade de realizar uma festa para metade da minha escola. NUNCA.

Primeiro: Não sou organizada.

Segundo: Não trabalho bem sobre pressão.

Terceiro: Só os motivos um e dois já são o suficiente para ninguém desejar que eu organize uma festa de tamanha importância.

— Sakura, você não está me ouvindo. – Sasuke afirmou inclinando-se na minha direção para me cutucar. – No que está pensando?

— Nada. – Menti e ele continuou a me observar como se dissesse: “Eu sei quando você está mentindo, Haruno”. – O que você disse?

— Eu disse pra gente ir correr mais cedo hoje. – Sasuke respondeu-me enquanto endireitava sua postura. Ele revirou os olhos ao ver mais uma propaganda sobre sabão em pó e desligou a televisão, jogando o controle no espaço vago ao meu lado. – Neji estava dizendo alguma coisa sobre fazer uma social na casa dele, lembra?

— Achei que não tinha ficado nada combinado. – Murmurei colocando o dedo indicador sobre minha bochecha. – Tenho que ir em casa trocar de roupa, vai querer que eu volte pra cá? – Questionei erguendo os meus braços para me espreguiçar. Sasuke me observou em silencio e esperou até que eu estivesse em pé para me responder.

— Pode ir e eu te encontro lá. – Anunciou ele levantando-se também. – Ou quer me esperar e vamos juntos?

— Você demora demais pra se arrumar. – Brinquei erguendo o dedo em riste e o cutucando no peito. Sasuke revirou os olhos e segurou minha mão para que eu parasse de cutucá-lo. Encarou-me por um momento e entreabriu os lábios. – O que foi? – Foi tudo o que consegui dizer, seu olhar era intenso. Odiei o fato de que minha voz tinha soado como um sussurro.

— Ridícula. – Sasuke murmurou soltando minha mão lentamente. – Passo na sua casa as seis. – Anunciou afagando minha cabeça e deu um sorriso.

Despedi-me de Itachi e Mikoto (não antes de roubar um pedaço de bolo que ela tinha feito, melhor tia do mundo, aliás). Sasuke tentou manter a pose de durão, ficando com os braços cruzados enquanto ficava encostado no batente da porta, mas não resistiu por muito tempo e comeu uns dois pedaços de bolo enquanto eu ainda estava lá.

O caminho para casa tinha sido tranqüilo. Algumas crianças jogavam futebol com dois gols improvisados por chinelos. Havia quatro garotas, duas em cada time, os demais eram garotos. Também tinham aqueles que corriam pela calçada e gargalhavam alto.

Ao chutar a bola, um dos garotos – que estava descalço – acabou por arrastar o dedão no asfalto e soltou um grunhido de dor, sentando-se no chão enquanto segurava o pé. Os amigos dele riram e ele retrucou irritado.

Acabei dando um sorriso nostálgico lembrando-me de quando Sasuke ou Naruto faziam o mesmo quando éramos pequenos. Quando nos juntávamos, na maior parte dos dias, alguém saia machucado. Sejam joelhos ralados, galos na testa, (uma vez, Naruto quebrou o dente da frente e por sorte, era de leite). Eu me limitava a rir de forma escandalosa e proposital, até que um dia Sasuke (que tinha caído e ficado com um galo enorme) se irritou comigo e atirou uma bola na minha cara.

Naquele dia eu parei de rir para chorar porque meu rosto estava ardendo.

Quando cheguei em casa segui direto para o meu quarto, estava determinada à me arrumar o mais rápido que eu conseguisse para poder comer alguma coisa antes de sair. Ao dar uma espiada rápida no celular vi que eram 17h23min, eu teria tempo de sobra.

— Estou gostando de ver, mocinha. – Ouvi a voz divertida da minha mãe ao me ver saindo do banheiro já com a minha roupa de exercício. Ela estava com roupas casuais, um vestido azul e chinelos. – Vai correr com o Sasuke? – Perguntou acompanhando-me até o meu quarto.

— Vou ser passada mais uma vez para trás. – Confessei e ela riu jogando-se na minha cama; me deitei ao seu lado e fiquei encarando o teto do quarto. – Na verdade, eu queria muito dormir. – Resmunguei fechando os olhos após soltar um bocejo involuntário.

— Tem que honrar com os seus compromissos, Sakura. – Ralhou ela com um tom falsamente repreensivo e logo senti seus dedos cutucando minhas costelas. - Para não ser deixada para trás é só não deixá-lo te ultrapassar.

— Essa vai pra lista de frases reflexivas, dona Mebuki. – Provoquei abrindo um dos olhos para poder encarar sua expressão indignada. – Na vida, Sasuke é o papa-léguas e eu sou o coiote. – Uma ótima comparação, por sinal.

Estreitei os olhos quando percebi que minhas palavras eram a mais pura verdade.

— Isso tudo é falta de sustância. – Minha mãe se sentou na calma e deu algumas batidinhas em minha barriga. – Vamos comer algo para que você tenha energia. – Declarou levantando-se da cama e estendeu a mão para mim.

— As chances de eu voltar e dormir são bem grandes. – Avisei segurando a mão dela e deixei que ela me puxasse para fora do quarto. – Voltou cedo hoje. – Comentei enquanto descíamos as escadas.

— Orochimaru me expulsou do ateliê. – Ela disse desgostosa e eu acabei rindo. – De acordo com ele estou “trabalhando demais”. – Fez o sinal de aspas com os dedos e revirou os olhos. Acabei rindo de sua indignação e ela me olhou de esguelha. – Não tem graça, Sakura.

— Não tem mesmo, você tem trabalhado demais. – Falei puxando um dos bancos que ficava próximo do balcão de mármore. – Um pouco de ócio faz bem pra saúde.

— Nos seus sonhos, querida. – Minha mãe disse ao abrir a geladeira e tirar de lá uma jarra de suco que ela logo colocou em minha frente. Caminhou até o armário, pegou um copo de vidro e uma xícara, colocando ambos no balcão. – Há tantos protótipos para serem aprovados, um ensaio fotográfico para ser realizado e eu sequer sei qual vai ser o fotógrafo, muito menos as modelos... – Ela resmungava ao pegar um saquinho de chá.

— Mãe, você não trabalha sozinha. – Peguei a jarra de suco e enchi o copo enquanto ela estava indo de um lado ao outro na cozinha para preparar seu chá. Em um desses momentos ela colocou um pote com biscoitos na minha frente. – De qualquer forma, vai tudo dar certo. – Acrescentei antes de morder um pedaço do biscoito.

— Claro, claro. – Dona Mebuki murmurou distraída ao abrir a geladeira novamente. – Como andam as coisas entre você e o Sasuke?

— O que?

— Não fale de boca cheia, Sakura. – Ralhou ela fechando a geladeira sem ter pegado nada dentro dela. A água para o chá estava dentro do microondas esquentando. – Sasuke é o genro que toda sogra quer. – Continuou em um tom aparentemente distraído. – E vocês são amigos há tanto tempo que achei que poderia estar rolando alguma coisa. – Dessa vez minha mãe sorriu e seus olhos verdes, iguais aos meus, brilharam com expectativa.

Revirei meus olhos e enfiei o restante do biscoito na boca, não acreditava que ela estava falando asneiras de novo. Minha mãe sempre que tinha oportunidade insinuava que eu e Sasuke deveríamos ter alguma coisa. Ela o ama e eu não exagero quando digo isso.

— Somos só amigos.

— Ele gosta de você. – Rebateu ela cruzando os braços. – Querida, os olhos dele brilham quando você está por perto. – Fiz minha melhor expressão de tédio ao ouvir as palavras dela. Se eu me deixasse influenciar por tudo o que ela dizia, certamente não teria pintado meu cabelo de rosa. – Pare de fazer essa expressão!

— Mãe, é claro que os olhos dele brilham quando ele está perto de mim. – Ergui mais um biscoito, deixando-o bem perto da minha boca antes de continuar. – Porque Sasuke ri tanto da minha cara que os olhos dele lacrimejam, é só isso.

— Sakura, eu sei do que eu estou falando.

— E desde quando você se tornou uma conselheira amorosa? – Fiz minha melhor expressão debochada e ela caminhou até o microondas para pegar a água quente. Eu não me atreveria a contar para ela o que tinha acontecido no ano novo. De jeito nenhum.

Minha mãe já tinha esperanças o suficiente de que eu e Sasuke ficássemos juntos sem que eu precisasse iludi-la.

— Mikoto concorda comigo. – Disse ela ao despejar a água na xícara. – Mães nunca erram. – Advertiu-me com um sorriso presunçoso.

A campainha tocou e eu literalmente fui salva pelo gongo. Agarrei meu copo e após olhar descrente para a minha mãe, levantei e segui para a sala. O relógio que estava na sala indicava 18h01min.

— Espero que esteja pronta.

Revirei os olhos e indiquei para que ele entrasse com um gesto de cabeça. Sasuke estava usando um moletom preto, bermuda e seu habitual tênis de corrida. O fone de ouvido estava ao redor de seu pescoço e ele não estava os usando. Seus olhos analisaram minhas roupas com precisão e quando ele finalmente me encarou havia um pequeno sorriso em seus lábios.

— Fico feliz que já está pronta. – Concluiu satisfeito.

— Eu sou uma pessoa extremamente pontual. – Declarei após beber o meu suco em um único gole. Sasuke cruzou os braços com uma expressão repleta de cinismo. Eu não precisava saber ler mentes para suspeitar sobre o que ele estava pensando. – Vou buscar os meus fones, leva isso pra cozinha pra mim? – Apesar de ter feito uma pergunta e Sasuke ter a chance de recusar, eu simplesmente puxei sua mão e coloquei o copo nela.

Subi e desci as escadas correndo sem maiores contratempos como tropeções inesperados. Havia uma mensagem de Itachi e eu tratei de lê-la antes de chamar Sasuke, que continuava na cozinha (aposto que puxando o saco da minha mãe, como sempre).

“Achei o que você precisava.”

(Itachi Uchiha lhe enviou uma imagem).

Coloquei a mão sobre a minha boca para reprimir minha gargalhada. A imagem era simplesmente ridícula, embora fofa. Constrangedoramente fofa. Era uma foto de Sasuke quando pequeno e ele estava com uma fantasia de tubarão azul, bem maior do que ele. Ele estava rindo, os olhos quase fechados, as bochechas coradas e lhe faltavam os dois dentes da frente.

Enviei a mensagem com a resposta no mesmo instante em que Sasuke voltou da cozinha acompanhado de dona Mebuki.

— Do que você está rindo? – Sasuke perguntou olhando-me desconfiado. – Sakura... Por que está com essa cara de idiota?

— Você tem cara de otário, mas eu nunca fico deixando isso exposto. – Rebati guardando o celular no bolso do meu moletom. – Vamos? – Chamei já caminhando em direção a porta. – Tchau mãe! – Acenei para minha mãe que mantinha o mesmo olhar desconfiado que Sasuke.

Como se eu fosse perigosa.

O Uchiha também se despediu da minha mãe e juntos, nós nos alongamos em frente a minha casa. Tive que me alongar duas vezes, porque Sasuke disse que eu estava fazendo tudo totalmente errado e por isso meu corpo ficava dolorido nas manhãs seguintes.

Meu corpo já estava começando a ficar mais resistente as corridas e pouco tempo após começar a correr eu já tinha me livrado do moletom e o amarrado na cintura. O cansaço começava a surgir somente quando estávamos na metade do percurso que envolvia a praça, era sexta a noite e crianças divertiam-se no parquinho ali perto, acompanhadas por seus pais.

Sasuke acabou tirando o moletom também e ficou com a regata azul que estava com algumas manchas de suor, igualmente ao seu rosto. Ele olhava para a frente e permanecia quieto, como se estivesse perdido em seus próprios pensamentos. Alguns fios de seu cabelo grudavam sua testa, mas ele parecia não se importar.

Não sei se era por influencia dos absurdos que minha mãe vivia dizendo, porém, naquela noite eu notei que ele estava recebendo mais olhares femininos do que o normal.

Não que eu estivesse com ciúmes.

Longe de mim.

Embora Sasuke continuasse a olhar para frente, meu olhar estava sendo revezado entre ele e o caminho à nossa frente. Eu esperava ser discreta e acredito que estava conseguindo até que ele decidisse tirar a regata. Meus lábios se entreabriram e eu fiquei tempo demais sem olhar para frente, estava totalmente desconcentrada. Acabei tropeçando em algum bloco imaginário e tombei no chão como uma jaca.

— Tudo bem? – Perguntou ele parando de correr para me olhar. Eu poderia me deitar no chão e agir como se aquilo fosse algo normal.  – Sakura? – Franziu o cenho ao ver meu olhar confuso. Eu estava sendo discreta como uma mula ao encarar seu abdômen definido de baixo para cima.

— Ah, eu estou ótima. – Respondi me sentando e dei um sorriso amarelo. Sasuke olhou para o chão a procura do que havia feito que eu tropeçasse. – Dois pés esquerdos, você sabe. – Sacudi minha mão direita com descaso e ele estendeu a sua para me ajudar a levantar.

 - Tem certeza? – Sasuke franziu o cenho e me puxou para que eu ficasse em pé. – Você ta mais vermelha que o normal, Sakura. – Droga.

— Ah... Calor. Está muito quente. – Minha fala saiu entrecortada, pois eu ainda não tinha conseguido normalizar minha respiração. Desvencilhei minha mão da de Sasuke e arrumei meu cabelo. – Uau e eu achando que estava pegando o ritmo. – Coloquei as mãos na cintura e inspirei pela boca. Nem sob ameaça eu admitiria que o abdômen definido de Sasuke tinha feito com que eu caísse. – Você também está vermelho, Sasuke.

— Devo estar. – Sasuke inclinou a cabeça para a esquerda e continuou com o cenho. – Tem certeza de que está bem?

— Claro! – Endireitei minha postura e dei um sorriso. – Só que tudo ficaria melhor com um milkshake. - Sasuke me observou pensativo e passou a regata pelo próprio rosto secando o suor que havia nele.

— É uma boa ideia. – Concordou por fim e eu soltei um gritinho de animação. – Aliás, é tão comum de te ver lá em casa que me esqueci de perguntar o que você estava fazendo lá. – Comentou enquanto nós começávamos a caminhar.

— Você não é o único motivo que me faz ir até sua casa. – Declarei colocando ambas as mãos em minha nuca como Naruto costumava fazer. Eu estava toda grudenta de suor, mas pelo menos não emanava nenhum odor ruim. – Estava com saudades do Itachi.

— E vacas voam. – Sasuke disse sarcasticamente e me olhou de esguelha. – O que você estava aprontando?

— Por que tanto ênfase em “você”? – Ele estava certo em desconfiar de mim, se eu fosse ele desconfiaria de mim também. – Devia confiar mais no que eu digo Sasuke! – E o Oscar de atriz cara de pau vai para... TAN TAN, Sakura Haruno!

Eu já conseguia ouvir o público me ovacionando com entusiasmo.

— Quando as vacas voarem.

— Por que tanta obsessão com vacas, Sasuke?

— Não é da sua conta.

— Grosseiro. – Bufei e cruzei os braços contrariada. - Neji confirmou sobre a social? – Troquei de assunto antes que ele recomeçasse com seu questionário.

— Está confirmada, mas somente pra semana que vem. – Sasuke disse assim que viramos uma esquina e eu já conseguia ver a placa brilhante com os dizeres “Joes” de onde nós estávamos. – Hinata o convenceu de que é loucura encher a cara hoje e amanhã também. – Resmungou contrariado.

— E você concorda com isso?

— De jeito nenhum. – Sasuke afirmou rapidamente. – Eu consigo beber hoje, amanhã, domingo e ir para o colégio na segunda como se nada tivesse acontecido. – Gabou-se parando por um momento para colocar a regata novamente.

Não me dignifiquei a respondê-lo, apenas segui até a porta do Joes e entrei. O piso era quadriculado, as mesas que acomodavam até quatro pessoas com sofás vermelhos ao invés de cadeiras. As paredes eram verdes e nelas havia quadros aleatórios, o que mais tinha destaque era o painel preto que ficava atrás do caixa com a tabela de preços.

A lanchonete estava cheia e mesmo que as vozes conversando em conjunto fossem altas, consegui ouvir a melodia de uma música que não reconheci.  Fui para a fila e logo Sasuke entrou, caminhando até parar ao meu lado. Ele mordeu o lábio inferior pensativo e franziu o cenho antes de olhar para mim com uma expressão confusa.

— O que você vai pedir?

— Um milkshake.

— De que? – Questionou ele olhando para a placa que indicava os sabores. – Chocolate?

 - Eu quero um de negresco. – Murmurei pensativa e direcionei meu olhar também para a placa. Faltavam duas pessoas para que nós fossemos atendidos. – Já decidiu qual vai ser o seu? – Perguntei ao ver que Sasuke continuava a encarar a placa.

— Vou pegar um igual ao seu.

Sasuke me lançou um olhar feio quando percebeu que eu estava dançando e cantarolando alto enquanto nós esperávamos na fila. Ele resmungou dizendo que eu o fazia passar vergonha, mas não me importei. O Uchiha tomou a frente e fez nossos pedidos, aproveitei para arrumar meu cabelo que eu tinha certeza do horror que estava.

— Seu cabelo está parecendo um ninho de pássaros. – Foi tudo o que Sasuke disse ao me entregar meu milkshake.

— Por que você é tão cruel? – Perguntei frustrada e ao beber o primeiro gole me senti bem melhor. Estava fazendo um calor infernal. – Obrigada. – Agradeci ao notar que ele estava segurando a porta para que eu saísse.

— Você se sentiria melhor se eu mentisse? - Sasuke olhou para mim por um momento e colocou o canudo na boca.

Fingi que estava refletindo sobre sua pergunta e permaneci em silencio até nós virarmos a esquina. O silencio entre nós era confortável, caminhávamos devagar e um sorriso brincou em meus lábios aos ver que as crianças ainda estavam brincando. Olhei para Sasuke e vi que seus olhos também estavam observando-as.

— Pega-Pega? – Perguntou ele retoricamente e balançou a cabeça negativamente. – Um de nós sempre acabava arrebentado.

— Isso é engraçado. – Comentei olhando para as crianças uma última vez. – Quando eu estava saindo da sua casa hoje de tarde, tinham umas crianças brincando por lá e um menino arrebentou o dedão. Também me lembrei de nós. – Sasuke riu baixo e eu fiz o mesmo. – Quando ficamos tão velhos?

— Ah, pare com esse papo de gente chata. – Sasuke resmungou puxando o celular do bolso da bermuda. O toque do meu celular fez com que eu me assustasse e soltasse um gritinho. – Maluca. – Resmungou ele voltando a olhar para a tela do telefone.

— Alo?

— Olá Porca-Rosa! — Revirei os olhos ao ouvir a saudação animada de Itachi. Ele riu sem motivo algum. – Como está sua noite?

— O que você quer? – Perguntei diretamente evitando falar o nome dele perto de Sasuke. – E não me chame desse jeito! – Ralhei e ele gargalhou.

— Espero que a sua esteja ótima, porque a minha com certeza está. — Itachi contou em um tom divertido e eu apertei ainda mais o telefone contra o meu ouvido. — Não quer saber o que eu fiz?— Antes que eu pudesse confirmar, ele continuou. — Vou contar do mesmo jeito. Tubarões estão na internet.— Arregalei meus olhos ao ouvir tal informação.

— Você é maluco? – Deixei que Sasuke caminhasse na frente para que ele não conseguisse ouvir com clareza o que eu estava dizendo (nem ver minha expressão de pânico). – Não era pra agora! – Sasuke olhou-me por cima do ombro e pareceu curioso.  – Acabou de assinar meu atestado de óbito, idiota! – Sorri de forma amarela para Sasuke que parou de caminhar e olhava algo no celular com os olhos estreitos.

— O que?— Prendi minha respiração e passei na frente de Sasuke que recomeçou a caminhar. — Você está com ele? Ai merda!— Itachi exclamou com espanto. — Bem, um de nós tinha que sofrer com as conseqüências, não é?— Ele riu nervoso e eu não acreditei no que estava ouvindo. — Boa sorte Porca-Rosa, juro te visitar no hospital caso você sobreviva. Se não, te vejo no cemitério.

— Está esquecendo de que compartilham o mesmo teto? – Sibilei baixo esperando por tudo o que me era mais sagrado que Sasuke não decidisse prestar atenção em minha conversa. – Está tão ferrado quanto eu! – Acusei Itachi e me virei pra observar Sasuke, ele continuava concentrado no... Celular. – Ai meu Deus.

Sasuke ergueu os olhos e eu demonstrei minha bravura recuando um passo. Os lábios dele curvaram-se em um sorriso e ele me estendeu o celular, o que seria um gesto simples, caso estivéssemos em outra situação. O meu próprio celular estava apertado contra minha orelha (com o auxilio de meu ombro) e Itachi puxou o ar pela boca causando um barulho de espanto; agarrei o celular que Sasuke me estendia e olhei com receio a imagem que ele me mostrava.

Itachi Uchiha marcou você em uma foto há 15 minutos.

Maninho, admito que você ficou lindo fantasiado de Sharkyboy.

“Já ouvimos falar de um tubarão prego, de um tubarão martelo, mas nunca de um tubarão banguelo”. – Por Sakura Haruno.

Lá estava Sasuke em sua gloriosa fantasia de tubarão azul, sentado no chão da sala de sua casa com os olhinhos pretos brilhando, as bochechas coradas e sem os dois dentes da frente. Um Sasuke que parecia extremamente animado com o que estava acontecendo e que poderia muito bem ter feito diversas poses para que sua mãe o fotografasse.

Um Sasuke muito diferente do que estava em minha frente.

E que me encarava com um brilho maldoso nos olhos.

Poupei-me de ler os comentários.

— Sasuke... hehe... Sasukinho... – Murmurei umedecendo meu lábio inferior com a ponta da língua. Bancar a inocente não me salvaria, então decidi partir para o ataque. – Você me filmou rebolando! – Com a mão esquerda eu ainda estava segurando meu celular e com a esquerda o meu copo de milkshake, então não pude apontar para ele como desejei.

— Lembra que nós estávamos falando sobre aquelas crianças brincando de pega-pega? – Sasuke perguntou em um tom de voz ameno enquanto guardava o celular no bolso. – Quanto tempo você precisa de vantagem antes que eu pegue você? – A pergunta soou ambígua demais para o meu gosto. Sasuke estava me dando medo.

— Nós estamos quites, nem vem com essa. – Péssima resposta Sakura, péssima resposta. Itachi continuava quieto, provavelmente temendo por minha vida. – Sasuke.

— DEZ, nove, oito...

— Nós estamos quites!

— SETE, seis...

CORRE SAKURA, CORRE COMO SE SUA VIDA DEPENDESSE DISSO! — Itachi gritou e eu não demorei para seguir seus conselhos. – CORRE!!!!!

— MINHA VIDA DEPENDE DISSO! – Gritei em resposta enquanto corria feito uma maluca para o mais longe que podia de Sasuke. Quando me atrevi a olhar para trás, ele também já estava correndo e meu desespero, se possível, aumentou. – AI MEU DEUS! — Berrei desesperada voltando a olhar para frente.

Decidi parar de correr reto e entrei na praça, saltei um banco de pedra e por pouco não esbarrei em uma lixeira. Meu coração estava acelerado, minhas pernas estavam doendo, meu milkshake estava fazendo uma bela sujeira por onde eu estava passando (Como as migalhas de João e Maria, mas ao invés de pão, sorvete) e Sasuke continuava cada vez mais rápido.

— MERDA! – Não me atrevi a parar de jeito nenhum. Nós estávamos chamando a atenção das pessoas pelas quais passávamos, mas me jogar na frente de um carro em movimento era mais tentador do que a possibilidade de parar. – SASUKE, NÃO! – Choraminguei continuando a correr feito uma maluca. Meus braços sacudiam-se ao lado do meu corpo, completamente descoordenados.

 Engasguei com minha própria saliva, desviei de uma senhora e de um cachorro que quase começou a me perseguir junto com Sasuke, dessa vez derrubei uma lixeira e sai arrastando comigo uma lata de coca-cola e ao pisar nela quase fui parar no chão. Ao invés de continuar seguindo pela praça, entrei em uma rua com ladeira e continuei a correr aproveitando o impulso da decida.

O problema é que eu não era a única que tinha conseguido impulso com a ladeira. Sasuke se possível parecia ainda mais rápido e pior, assustadoramente mais perto.

Eu não fazia ideia de onde estava indo. Só queria fugir e vencer o Uchiha pelo cansaço, SÓ QUE, o problema sempre foi que em questão de capacidade física ele ganhava de mim.

Não se enganem, no fator medo quem ganha sou EU.

E nem se me contassem eu acreditaria que conseguiria correr tão rápido.

O meu desespero era tão grande que eu estava rindo enquanto implorava para que ele parasse. Rindo era pouco para o que eu fazia. Minha gargalhada era alta, escandalosa, desesperada.  Me atrevi a olhar para trás rapidamente e o desgraçado também ria, mas não parecia nem perto de desistir da corrida como eu estava.

Me senti em um filme de ação com a Angelina Jolie.

Só que nesse caso, eu era o bandidinho despreparado e Sasuke, ah, Sasuke era a própria Jolie encarnada em um atleta olímpico.

Se estivéssemos dentro do filme As Branquelas, eu seria o imbecil que achou que seria legal roubar a bolsa de uma delas e que foi aterrorizado pela perseguição daquela loira que na verdade era um agente disfarçado. Sasuke como perseguidor estava fazendo um ótimo papel, inconscientemente eu já aguardava o momento em que ele se jogaria em cima de mim, pegaria a bolsa e diria “Não é só uma bolsa, é uma Prada”.

Eu não estava pronta para o que aconteceu a seguir.

— AHÁ! – Sasuke gritou vitorioso ao puxar a blusa que eu estava usando quando finalmente conseguiu me alcançar. – Não adianta correr mais, Haruno! – Ele estava ofegante e segurou meu braço firmemente para garantir que eu não sairia do lugar.

Eu não estava conseguindo nem formular uma frase quanto mais recomeçar a correr. Minhas pernas tinham virado gelatina.

Abri a boca e antes que pudesse tentar dizer algo em minha defesa, Sasuke abriu a tampa do copo de seu milkshake que ele continuou carregando por todo o caminho por livre e espontânea vontade, ao contrário de mim, que não consegui me livrar do meu por puro desespero. Ele virou todo o Milkshake em minha cabeça e eu o encarei com os olhos arregalados enquanto o maldito estava rindo.

— SASUKE! – Gritei frustrada passando a mão por meu rosto. – SEU IDIOTA! – Bradei avançando contra ele que continuou a rir.

— Você deve estar morrendo de calor. – Provocou ele ficando cada vez mais vermelho. –Refresque-se Sakura! – Colocou a mão sobre a boca tentando reprimir o riso.

Estreitei os olhos e em um momento de insanidade tirei a tampa do meu próprio milkshake e joguei o conteúdo em Sasuke que ficou estático. Havia voado em sua camisa, cabelo e principalmente, rosto. No meu copo não havia tanto milkshake quanto no dele, mas fez um belo estrago.

Estávamos os dois, sujos, no meio da rua após uma perseguição insana.

Sasuke olhou para mim irritado e eu retribuo o olhar, com dificuldade, admito, porque estávamos tão ridículos que eu não consegui me reprimir e gargalhei alto sendo acompanhada por ele.

Combinamos de descansar um pouco antes de seguir para a casa mais próxima, que no caso, era a dele. Sasuke colocou o braço sobre o meu ombro e eu passei o meu ao redor de sua cintura, nenhum de nós tinha tentado amenizar o estrago que os milkshakes tinham feito. Tive a impressão de que chamávamos mais atenção agora do que antes.

— Minha mãe vai ter um ataque. – Disse Sasuke assim que viramos a esquina de sua casa. – Se eu soubesse que medo te faria correr mais rápido e por mais tempo teria apostado nisso antes.

— Estou tão surpresa quanto você. – Falei apoiando o peso de meu corpo nele, minhas pernas estavam doendo. – Aliás, qual é a da fantasia de tubarão?

— Irritante. – Sasuke olhou-me de esguelha e voltou a prestar atenção no caminho. – Eu estava viciado em Sharkyboy e Lavagirl. Enchi tanto o saco dos meus pais que eles me compraram uma fantasia de tubarão; Itachi ficou com ciúmes, é claro, não conseguia entender que comprar uma fantasia de tubarão era mais simples que enviá-lo para Hogwarts.

— Seu irmão queria ir para Hogwarts?

— Ainda quer. - Ele sorriu lembrando-se de alguma coisa e eu desejei saber o que era, mas fiquei quieta. – Pronta para ver dona Mikoto tendo um ataque?

Aquiesci e fomos até a porta da casa dele. Sasuke, mesmo com as chaves, fez questão de tocar a campainha. Foram necessárias três vezes até que a porta fosse aberta. Mikoto olhou para mim e depois para Sasuke antes de repetir o processo novamente, seus olhos negros vasculharam nossos rostos a procura de qualquer sinal que explicasse o que havia acontecido.

Logo atrás dela estava Itachi que tinha acompanhado toda a confusão por telefone, mesmo que eu tivesse desligado a chamada sem querer enquanto fugia. A expressão de surpresa dele era melhor do que a de Mikoto, seus lábios estavam entreabertos e o balde de pipocas em sua mão parecia a ponto de cair no chão a qualquer momento.

— Vocês foram atacados por pombos? – Foi tudo o que ele disse antes de notar meu olhar irritado e o de Sasuke também.

Mikoto olhou para trás em tempo de ver o filho mais velho deixando o balde de pipocas em uma mesinha e sair correndo escada a cima sem qualquer descrição. Ela voltou seu olhar para nós e cruzou os braços, franzindo o cenho igual Sasuke costumava fazer, umedeceu o lábio inferior e nos deu uma boa olhada antes de se pronunciar:

— Devo me preocupar? – Balançamos a cabeça negativamente. Mikoto fez uma expressão conformada e em seguida girou para o lado a fim de nos deixar entrar. – Já sabem onde ficam as toalhas e os banheiros.


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Notas finais do capítulo

Continua... Mereço reviews?
Até semana que vem!
Beijão ♥