Morte aos Lobos escrita por Beatriz Rozeno


Capítulo 9
Capítulo 8 - Confronto


Notas iniciais do capítulo

Eu queria muito agradecer a quem está acompanhando a história, valeu mesmo.
Tenham uma boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/690790/chapter/9

Deixo as cartas de Carrie exatamente onde estavam, talvez outra pessoa que passe por aqui tenha a oportunidade de conhecer esta história.

Volto para a sala e encontro Carol, ela está escrevendo algo em seu caderno. Thiago logo aparece.

— É um bom lugar pra passar a noite — diz ele.

— Parece bom. Até porque não daria tempo de voltar pra estrada principal ainda hoje — lembro.

— Eu vou procurar alguma coisa pra fazer a fogueira — avisa Thiago.

— Caroline, pode me ajudar a tapar as janelas?

Ela está muito concentrada lendo algo no caderno, e como Thiago saiu, eu fico no vácuo. Eu me viro com as janelas sozinha, e ainda é cedo para isso. Sigo na mesma direção para onde Thiago foi. Eu o encontro na cozinha, com algumas revistas na mão e ainda vasculhando os armários.

— O que está procurando? — pergunto.

— Algumas panelas, pra apoiar a grelha.

— Vai usar a do fogão? — é a primeira ideia que me ocorre.

— Sim — responde sorrindo —, ainda bem que ninguém se preocupou em levar o forno dele.

Sorrio junto com ele, é inevitável.

— O que Carol está fazendo? — pergunta.

— Lendo alguma coisa em seu caderno, ou escrevendo — digo.

— Ela está muito concentrada?

— Demais — respondo pensativa.

— Odeio quando ela fica assim, ela esquece de tudo e de todos.

Eu nunca havia presenciado a relação de Carol com aquelas anotações, e penso que talvez ela saiba o que está fazendo para se dedicar tanto a isso.

— Às vezes fico preocupado com isso, sabe? Eu sei da capacidade dela, é claro, mas não acho que consiga algo de útil com isso — diz ele.

— Mas o quê exatamente ela escreve ali?

— Coisas sobre o apocalipse, sobre as pragas, o seu comportamento, absolutamente tudo.

— E por que você acharia isso inútil? — arrisco perguntar. — Não me parece uma má ideia.

Ele põe as revistas na bancada e suspira. Olha para mim com seriedade, e essa é a primeira vez que o vejo completamente sério.

— Amy, mesmo que ela faça algum tipo de descoberta, o que acontece depois? Ela cria uma cura e o mundo volta ao normal? — ele pára para que eu possa acompanhar seu raciocínio. — Ela não pode fazer nada sem medicamentos, equipamentos, energia e treinamento. Carol passou pra faculdade de medicina, e é muito inteligente, mas, você sabe, não teve tempo de estudar pra profissão de médica.

Eu acabo ficando em silêncio, totalmente envergonhada por não saber o que responder. Ele tem toda razão, mas ainda assim eu queria ter um argumento pra defender as motivações de Carol para isso. Mas eu não tenho.

— Eu só queria te pedir pra não comentar sobre essas coisas com ela — continua. — Nem sobre o que ela faz. Eu quero que ela tenha alguma esperança, mas não desse tipo.

Thiago volta para a sala e me deixa sozinha com meus devaneios. Carol está mesmo tão errada assim? Errada talvez não, mas equivocada em achar que isso chegaria a algo. E ele também tem razão em não querer que alimentem as esperanças dela, seria muito ruim ela esperar tanto por uma coisa que nunca terá: a solução para o mundo.

Apanho as grelhas que Thiago esqueceu e as levo até a sala, onde eles já estão. Carol ainda está com os olhos grudados naquelas palavras misteriosas, e Thiago procura algo na mochila. Ficamos assim, em silêncio, até o anoitecer, quando precisamos fazer fogo.

Vou até o quarto de Carrie e pego o colchão de solteiro, e Thiago consegue um de casal. Esta noite dormiremos bem.

Caroline olha para as páginas do caderno, e de repente fica irritada, largando o que estava fazendo para ajudar a cobrir as janelas. Comemos sardinha enlatada, que fica deliciosa quando frita. Poder estar em um lugar fechado para fazer uma fogueira é uma benção, lembro-me bem dos dias em que não podia improvisar um pouco de fogo e acabava comendo enlatados frios. Era péssimo.

— É melhor sairmos cedo amanhã, assim chegaremos à rodovia à noite — começa Thiago. — Se tivermos sorte alcançamos um carro a tempo, antes de escurecer.

Se tivermos sorte — diz Caroline.

— Estamos vivos. É sorte o suficiente — interfere Thiago.

Eles trocam olhares amedrontadores, e algo me diz que isso sempre acontece quando Carol começa com a história do caderno. Ela sabe que ele não aprova. Ele sabe que ela odeia a falta de confiança dele, mas depois eles sempre ficam bem, fingindo que nada aconteceu, e voltam a fazer piadas um com o outro. E então eu paro de tentar entendê-los, porque isso acabaria me deixando maluca.

**

Tive dificuldades para dormir esta noite, porque, incrivelmente, fiquei pensando em Julie, no que ela estaria fazendo, se estaria pensando em mim. Provavelmente não. Logo que os primeiros raios de sol aparecem pelas frestas, eu levanto e acordo os irmãos. Eles logo se cumprimentam.

— Bom dia, formiguinha.

— Não me chama assim, não sou mais criança há muito tempo — diz ela.

— Velhos hábitos nunca mudam — responde ironicamente.

— Então levanta daí seu palito ambulante.

Eles não veem, mas estou sorrindo abertamente por causa deles.

Como temos muitas provisões, não levamos nada do apartamento conosco. Nosso desjejum acaba sendo algumas bolachas e  água, o que ajuda na sensação de barriga cheia.

Fazemos todo o percurso de volta, agora andando um pouco mais devagar, prestando muita atenção nos mínimos movimentos. A pequena cidade está livre de pragas, até o momento. Tudo está estranhamente silencioso. Dobramos a esquina da rua onde está o shopping, e vemos as grandes portas de ferro totalmente destruídas, aos pedaços. Aceleramos o passo, quase correndo. Meu coração palpita fortemente. Julie.

Conforme nos aproximamos da floresta, escuto os gritos. Tanto de pessoas quanto de pragas. Corremos a toda velocidade até o local de onde o barulho está vindo, e os gritos ficam mais audíveis. Damos a volta em uma pequena loja, seguindo o som, e encontramos Julie e Terry numa batalha sangrenta com dezenas de pragas. Várias estão no chão, mortas. Mas muitas ainda estão de pé, atacando-os. Não pensamos duas vezes, e vamos em direção a eles. Pego duas facas do cinto, uma em cada mão, o nervosismo me faz querer dilacerar todos esses moribundos.

Thiago e Caroline estão perto de Terry, enquanto eu auxilio Julie. Quando todas as pragas caem, ela olha diretamente para mim. Está toda machucada, com diversos arranhões, molhada de suor e com a respiração acelerada.

Antes que possamos impedir, uma praga, que estava atrás de uma árvore, pula na nuca de minha irmã. Minha mão esquerda solta uma das facas, e eu pulo na coisa, impedindo-a de machucar Julie. Minha arma perfura seu crânio, e o sangue preto escorre. Julie está se recuperando, olhando para mim e depois para o bicho. Sem que eu espere, ela vem para cima de mim, prendendo-me ao chão. Estou indefesa, sem minha faca que voou de minha mão. Ela puxa um pequeno canivete do cinto, e o coloca sobre a minha bochecha. Thiago e os outros fazem menção de se aproximarem, mas faço um gesto com o dedo indicador para que não avancem. Não posso dar motivos para que ela faça o que pretende fazer. Seu cabelo está solto, como o meu, nos deixando ainda mais parecidas. É como se meu reflexo tivesse resolvido dar na minha cara. Ela berra para mim:

— É tudo culpa sua! Aqueles malditos sentiram o cheiro podre de vocês e nos atacaram! Eu vou acabar com você!

Ela pressiona a lâmina com mais intensidade.

— Julie, pare com isso! — pede Terry.

— Cala a boca, Terry! — devolve.

Ela olha para ele por um momento, tirando sua atenção por um segundo. É o que preciso. Uso meu corpo com toda a força que tenho para empurrá-la para o lado. Tiro o canivete de sua mão e o jogo longe, rapidamente usando minhas mãos para imobilizá-la. Uma súbita sensação de controle toma conta de meu corpo.

— Você não pode provar que foi culpa nossa — começo. — Mas todos aqui são testemunhas de que eu salvei a sua vida. Vocês nos devem uma.

Ela geme de raiva, e se debate para livrar-se de mim. Mas não consegue.

— Não te soltarei até que se controle — aviso.

Tento pensar em algo rapidamente. Não posso deixar que ela me escape novamente, preciso de um plano. Uma ideia me ocorre.

— Podemos fazer um acordo — digo.

— E o que você quer? — diz mais calma.

O que eu quero? Essa é uma boa pergunta. Pense Amy, pense.

— Estamos voltando para a rodovia, para tentarmos chegar ao próximo estado, o que estiver mais perto — digo. — Vocês perderam o abrigo, e estão tão perdidos quanto nós. Ajudem-nos até lá, e depois podem fazer o que quiserem com o que resta da vida de vocês.

Até eu mesma me surpreendo com o tom de autoridade da minha voz, mas não transpareço. Ela deve pensar que estou acostumada a isso.

— É um preço muito alto a se pagar — diz ainda mais firme.

Salvei a sua vida. Pensei que ela fosse valiosa para você.

Julie pensa por um tempo e, ao olhar para Terry, responde:

— Tudo bem. Agora saia de cima de mim.

Pressiono seus pulsos mais ainda e chego mais perto de seu rosto. Sussurro para ela:

— Se tentar qualquer coisa, juro que serei mais rápida.

— Pode deixar — diz sorrindo raivosamente.

Saio de cima dela e ofereço minha mão para ajudá-la a levantar, mas ela ignora. Seus olhos me mandam um aviso: “Você vai pagar por isso”.

Nesse momento, um Bob todo ferido sai da floresta cambaleando. Ele nos encara com um ar de incredulidade, e desmaia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sobre o gif, a Isabelle Fuhrman é a minha Amy/Julie, caso quiserem acatar a sugestão kkkkk
Tenho algumas fotos de como imagino os personagens, caso queiram peçam nos comentários que passo o link das fotos.
Bem, temos 9 pessoas acompanhando a Fiction, mas somente duas pessoas falam sobre o que acharam e tiram dúvidas. Eu adoraria saber o que as outras sete estão achando, e se precisarem, perguntem. Sei que às vezes algumas coisas acabam não sendo bem explicadas, então estou aqui para isso :v
Vejo vcs nos comentários e na próxima sexta.
Beijos. Amo vocês.
Abraços, Beatriz ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Morte aos Lobos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.