Morte aos Lobos escrita por Beatriz Rozeno


Capítulo 22
Capítulo 21 - Felicidade?


Notas iniciais do capítulo

Pois é... por incrível que pareça, eu não abandonei Morte aos Lobos. Sei que foram meses, e que durante esse tempo eu não dei nem um recado. Mas eu não esperava isso. Não sei se vcs lembram, mas da última vez que postei, eu postei dois capítulos de uma vez, e tudo estava se encaminhando mto bem. Alguns dias depois, qnd inclusive eu já planejava este capítulo, tudo começou a dar errado pra mim. Minha vida foi caindo ladeira abaixo e eu fui rolando. Problemas familiares, perda de um ente querido, coisas que eu não estava preparada pra viver. Fiquei afastada da escola, inclusive, por um bom tempo, e até da história pq, me desculpem, eu não estava no clima pra escrever. Mas em nenhum momento pensei em desistir, pq escrever é uma das melhores coisas da minha vida. Não sei se alguém ainda vai estar aí, do outro lado da tela, lendo o q eu escrevo, até pq eu quebrei um voto de confiança. Eu adoraria ganhar mais uma chance. Tentarei postar toda semana, por enquanto sem dia definido, mas haverá sim capítulo toda semana, se Deus me permitir estar aqui escrevendo.
Minhas sinceras desculpas pra quem acompanhava e gostava da Fiction, como eu disse, eu ficaria grata se me aceitassem de volta.
Tenham uma boa leitura!!



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Fecho a porta do trailer com força e a tranco imediatamente. Terry corre para fechar as janelas e a abertura que leva ao teto. Thiago obriga Carol a sentar em uma das poltronas e a analisa como se fosse um médico.

Ela está com dois grandes curativos: um na panturrilha direita, e outro no braço esquerdo.

— Thiago, eu estou bem — diz ela.

— E o que foi tudo isso? — pergunta ele enquanto se agacha para ver a panturrilha dela.

— Ferimentos de guerra — brinca Carol. — Foram um pouco sérios, eu sei, mas Gwen cuidou deles.

Thiago se levanta e abraça Gwen, a garota que salvou Carol. Espantada, ela não sabe muito bem o que fazer e retribui o abraço com timidez.

— Muito obrigado — diz Thiago. — De verdade, eu agradeço por você tê-la salvado.

— Não precisa. Ela foi uma boa paciente — explica Gwen. — Ficou desacordada por dois dias.

Thiago a solta, nervoso.

— Dois dias? — pergunta ele à irmã. — É assim que você acha que é “estar bem”?

— Ei — digo. — Ela já está bem acordada, não está? E Gwen cuidou bem dela, nós todos estamos vendo.

— Você está nervoso — lembra Terry. — Fica calmo, ela está com a gente agora.

Thiago suspira fortemente e passa a mão no cabelo.

— Eu sei — diz ele. — Eu só... estou preocupado.

— Vamos ficar de olho nela e nesses ferimentos — fala Zac.

— Se for preciso, faremos isso 24 horas, todos os dias — diz Julie.

Ninguém consegue evitar a risada, nem mesmo Thiago.

— Como sempre, pareço um idiota — ironiza Thiago.

— Mas você é um idiota — lembra Bob.

— Bem observado, Dom Juan — devolve Thiago.

— Dom Juan? — questiona Carol. — O que foi que eu perdi?

Todos nos olhamos sorridentes. Bob realmente contou certas coisas só pra mim, mesmo que eu desconfie que ele também tenha dito à Terry e Julie, mas nenhum de nós é cego. A tristeza em seu olhar já era o suficiente para indicar que ele estava sofrendo mais do que como um amigo. Além do desenho que Carol fez dele, o qual Bob passava o dia olhando.

— Você vai acabar entendendo — diz Zac à Carol. — Sem pressa.

Ele tenta permanecer sério, mas não consegue esconder o sorriso. Thiago então logo volta sua atenção para a irmã.

— Você está bem mesmo? Está sentindo alguma coisa? Alguma dor?

Ela pondera antes de responder.

— Um pouco de dor de cabeça. Mas, eu juro, não está forte.

Ele procura um remédio na pequena caixa que deixamos em cima de uma das mesas. Enquanto ele faz isso, vejo Carol olhando para Gwen, como se a estivesse repreendendo ou, quem sabe, pedindo segredo sobre algo.

Ela faz isso muito rápido e seu irmão nem percebe. Thiago dá a ela uma pílula com um pouco de água. Depois que ela ingere o remédio, Bob lembra:

— Não vai nos contar o que aconteceu com você nos últimos dias?

— É melhor vocês sentarem — responde sorrindo.

Ao fazermos isso, Carol começa a contar tudo, desde o momento em que ela se separou de nós. Então, tudo começa a fazer sentido, cada rastro que seguimos, encaixa-se perfeitamente com o que ela diz. Carol deixa claro o quanto é grata por Gwen tê-la salvado, o que me fez querer observá-la melhor.

Porte pequeno, olhos azuis claros, cabelo ruivo, poucas cicatrizes visíveis: três nas mãos e uma no rosto. Olho para uma das bolsas que ela deixou no chão do trailer. No bolso esquerdo, um pequeno lenço sujo de sangue seco. No bolso direito, duas facas pequenas e pretas, uma delas possui encaixe para os dedos. Ela também tem uma faca, essa bem maior, que guarda no cinto: cabo marrom, lâmina curva, aparência mortal. Noto ainda uma pequena lâmina em sua bota; mesmo que ela esteja de calça comprida, a arma ficou visível quando ela se sentou. Apesar de bela e aparentemente frágil, Gwen sabe o que é preciso fazer para sobreviver.

Quando levanto o olhar novamente, ela está olhando para mim. Mas não fico com vergonha, ou embaraço. Eu a encaro de volta. Seu olhar não é raivoso, mas curioso. Acho que ela estava me observando também. Finalmente ela desvia o olhar e eu volto a prestar atenção no que Caroline está falando.

— Então vi meu nome nas árvores e simplesmente saí correndo — conta. — O resto vocês sabem.

Ela faz uma breve pausa antes de continuar:

— Desculpa.

Isso nos pega totalmente de surpresa.

— Por tudo o que vocês passaram. Não que eu seja a pessoa mais importante do mundo, mas sei que ficaram preocupados.

— Não precisa se desculpar — diz Bob.

— Você está de volta, e isso é tudo o que importa — lembra Julie.

Carol sorri.

— Bem — diz ela —, onde posso guardar minhas coisas?

Bob a leva até o final do trailer, onde dormimos e guardamos praticamente tudo. Exceto a comida, que fica nos armários do corredor.

— Agora podemos voltar para a estrada — digo. — Depois dessa chuva.

— Alguém tem que dirigir isso aqui — diz Thiago.

— Eu posso fazer isso — garante Terry.

— Você sabe dirigir trailers? — pergunta Julie. — Desde quando?

— Eu já dirigi tanques de guerra — brinca Terry. — É a mesma coisa.

— Não é, não — diz Gwen. — Nunca pilotei um tanque, mas é preciso um pouco mais de delicadeza para guiar um trailer.

— E você sabe fazer isso? — indaga Zac.

— Sei — responde ela.

— Você é nosso mais novo piloto — afirma Terry. — Bem-vinda.

Ele e Julie a levam para o final do veículo, para que ela se acomode. Thiago vai dar uma olhada no painel do trailer. Eu levanto e pego um pequeno pacote de cereal no armário.

Olho pela janela. Apesar de a tempestade estar cobrindo o céu, dá pra notar o alvorecer. O frio fica mais intenso e eu aperto o casaco. Zac começa a comer junto comigo.

— O que você acha? — sussurra ele.

Automaticamente sei do que ele está falando.

— Perigosa — digo. — Mas não para nós.

— Somente para as pragas — completa.

— Exatamente.

Vejo a silhueta de Thiago. Ele está sentado no banco do motorista, provavelmente pensando. Ou analisando sobre o que estamos falando, isso se ele consegue escutar sussurros em meio à tempestades.

Nós nos reunimos no centro do trailer, dividindo as mesas. Logo escurece e precisamos ligar a única lanterna vertical que temos, deixando-a em cima de uma pequena prateleira, localizada do lado dos armários, para que todo o corredor fique iluminado. Passamos grande parte da noite conversando, mas não demoramos a nos preparar para dormir.

Terry vai ficar de guarda, no banco do passageiro, durante a noite. O resto de nós vai dormir. No nosso pequeno “quarto” nos acomodamos do jeito que dá. Deito perto da parede inferior, ao lado de Thiago. Carol está deitada do lado dele e, assim que ela dorme, ele se vira para mim. Ver a felicidade nos olhos dele me faz bem.

— Acho que seus olhos nunca brilharam tanto — sussurro.

— É o escuro — brinca. — Apesar de eu estar genuinamente feliz também.

— É ótimo te ver assim. Feliz.

— Acho que eu vou ter sonhos com unicórnios saltitantes hoje — diz ele.

— Então boa noite. E boa sorte com os unicórnios.

— Boa noite, Amy.

Viro-me para a parede, na esperança de que o sono chegue em breve. Mas fico lembrando do dia de hoje, todos os momentos dele. Repassando os detalhes que me levam a um só pensamento.

Eu já estive muito tempo sozinha durante o apocalipse, principalmente por ter medo de seguir em frente ao lado de alguém, até por que essa é uma vida onde não existe o privilégio de acreditar que as pessoas que você ama sobreviverão até a manhã seguinte. Mas, por mais que seja difícil lembrar-se de todas elas, muitas pessoas passaram pela minha vida depois que meu pai morreu. Algumas me deixaram lembranças maravilhosas cheias de sorrisos, outras me deram apenas momentos ruins para recordar. E todas foram arrancadas deste mundo de formas cruéis. E depois de um tempo, você perde ainda mais as esperanças, você persiste no medo de criar afeição por alguém.  E então, uma pessoa, ou algumas pessoas, simplesmente aparecem na sua vida, te trazendo um café, ou salvando sua vida com um pé-de-cabra, ou, quem sabe, ameaçando te jogar de um prédio. Coisas assim são fáceis de evitar. Quantas coisas não teriam acontecido comigo se eu não tivesse entrado naquele carro com Helena, há algumas semanas? Uma escolha simples que mudou minha vida do dia pra noite, e que agora me fez entender que você não é capaz de prever o que está por vir, mesmo na monótona vida apocalíptica. Nunca estive tão vulnerável quanto agora, com as esperanças renovadas pela volta de Carol. Se eu tivesse sentido essa vulnerabilidade há alguns dias, eu teria fechado meu coração para todos eles. Mas o tempo fez seu trabalho mais uma vez, esperando o momento certo para que eu descobrisse mais uma das minhas incontáveis fraquezas: eles. Porque, nesse exato momento, não estou ignorando meus sentimentos por eles, e sim os fortificando. Não há problema em amar atualmente, o fato é que você corre sérios riscos de quebrar a cara com isso. Eu estou disposta a quebrar a minha.

**

Suas roupas já estavam encharcadas há muito tempo, e a chuva caía cada vez mais forte, fazendo com que eles tremessem e rangessem os dentes. A lanterna falhava repetidas vezes, dando sinais de que logo sua única luz cessaria.

Apesar de estarem na floresta, com pouca luz e forças, eles não temiam os predadores. Eles não caçavam na chuva. O que realmente os preocupava era a falta de abrigo. Poderiam muito bem dormir em alguma árvore, como já fizeram incontáveis vezes, mas o risco de serem atingidos por raios os impedia.

Andavam de mãos dadas, ele e ela, dois jovens que se uniram para tentar sobreviver. O cabelo loiro dela estava molhado e grudado em sua face, e ela tremia; mas ele só conseguia pensar no quanto ela era linda. E em como queria dar conforto e abrigo a ela, coisa que no momento não podia fazer. Sem que ele sequer imaginasse, apesar de saber que o amor deles era verdadeiro, ela pensava exatamente o mesmo. Em como queria que ele estivesse confortável.

Ela foca a luz da lanterna em uma árvore e se vira para o companheiro:

— Ei, olha isso.

Ele aperta os olhos para ler “Carol Jones” gravado na árvore. Uma pequena seta indica que devem seguir em frente.

Eles trocam olhares e não precisam dizer nada para confirmar que vão seguir a instrução. Alguns minutos depois, chegam a uma rodovia onde há outras árvores com o mesmo nome, e com setas que agora indicam a esquerda.

A lanterna pisca mais uma vez e finalmente desliga, sem retorno. Não há nem mesmo a luz de uma pequena estrela para lhes guiar. Eles então apertam as mãos e seguem o asfalto. Não muito longe dali, veem a silhueta de um trailer na lateral da estrada. Eles se aproximam com cuidado, dão a volta no veículo, à procura de uma janela aberta que indique se há alguém lá dentro, mas todas estão bem fechadas e cobertas por dentro.

As persianas da frente estão completamente fechadas, mas há uma pequena brecha na janela do lado do motorista, e ela consegue visualizar o contorno de alguém. Ele entende o seu olhar e ergue as sobrancelhas: “E agora?”. Ela o puxa até a entrada do veículo e bate com força na porta.


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Notas finais do capítulo

Então, oq acharam? Adoraria saber o q pensam desses dois, quais suas opiniões e teorias kkkk
Só o q posso dizer, Carol está de volta e eu tmb!!
Amo vcs.
Abraços, Beatriz ♥



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