Morte aos Lobos escrita por Beatriz Rozeno


Capítulo 20
Capítulo 19 - Segredos


Notas iniciais do capítulo

Nem parece, mas eu voltei. Acontece que meu pc deu prego e agora funciona qnd ele quer, mas tenho quase certeza que o próximo cap sai ainda essa semana. Eu não sumi não gente, enquanto eu puder vou estar escrevendo.
Tenham uma ótima leitura!!



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Sinto um vento refrescante passar por mim, trazendo consigo o delicioso cheiro da manhã. Meus dedos tocam a superfície de algodão do casaco de Thiago, e me permito uma leve sensação de paz. Não abro os olhos por longos minutos, querendo absorver ao máximo o momento. Mas sei que não possuo o luxo de viver assim. O dia só está começando, e temos muitas coisas a fazer. Uma delas é procurar Caroline. No instante em que me lembro dela, abro os olhos para ver Thiago. Mesmo dormindo, é identificável seu semblante de preocupação, pois ele pensaria nela mesmo em seu sono mais profundo. Faz apenas um dia que Carol se separou de nós, mas já temos fortes indícios de que ela pode estar morta. Está sendo insuportável para mim, e eu só consigo imaginar como Thiago deve estar devastado. Uma lembrança me vem à mente, do dia em que eu, ele e Carol achamos a cabana. Antes de dormir, conversamos sobre a queda do acampamento e a perda de Helena e, naquele momento, percebi o quanto ele tentava ao máximo disfarçar sua tristeza, para que Carol não sentisse o mesmo. Para que ficasse mais fácil de superar as dores. Eu o admiro por isso. Mas acho que, para ele, é muito difícil esconder suas emoções quando se trata de sua irmã. Antes que a tristeza me consuma, decido me erguer e acordar Thiago. Ele leva alguns segundos para acordar de fato, e eu fico de pé para ajudá-lo a levantar.

— Que horas são? — pergunta.

— Quase seis horas — respondo olhando para meu relógio. — Vamos, temos muito a fazer.

Noto o reconhecimento em seu olhar, ele sabe muito bem o que precisamos fazer desesperadamente. Descemos a pequena escada que leva para o interior do trailer, e eu quase piso em Terry, que está dormindo próximo à escada. Todos ainda estão deitados, mas não vejo Bob. Abro a pequena porta que separa o quartinho do resto do veículo. Bob está acordado, segurando seu pequeno rádio, rodando-o nas mãos, concentrado em algum ponto além da janela. Seu rosto entrega que ele não dormiu um minuto sequer. Sento-me na poltrona à sua frente, e Thiago fica em pé ao meu lado.

— Ei — digo. — Você dormiu?

— Não — responde sem tirar os olhos da janela.

— Você deveria ter descansado um pouco, cara — diz Thiago. — Você sabe, devemos estar preparados para ir atrás dela.

— Não se preocupe, não estou cansado — diz ele. Ele olha para nós, claramente pensando no que dizer. — Eu estive pensando.

— Em quê? — pergunto.

— Na Carol. Sabe, nós vimos que ela conseguiu matar a praga que a perseguia, mas por que ela continuou a fugir? Ela já havia matado a coisa, e estava ao lado de um rio; ela poderia ter parado, cuidado dos seus ferimentos com o que tinha na bolsa e, quem sabe, esperaria por nós.

Assim que minha mente entende onde ele quer chegar, Bob finaliza:

— Algo ou alguém a impediu de parar.

Thiago desaba na poltrona ao lado de Bob. Meu olhar encontra-se com o dele.

— Ela deve ter passado pelo rio, por isso não tinha mais rastros — diz Thiago.

— Eu pensei nisso — fala Bob. — E infelizmente, não significa que temos um caminho a seguir. Ela pode ter andando vários metros, virado em diversas possíveis direções e ter achado a estrada. Assim como pode ainda estar na floresta. São várias as possibilidades.

— Vamos fazer o que Terry sugeriu ontem — digo. — Nós nos separamos e marcamos um horário para voltar ao trailer.

— Se ela está machucada — começa Bob —, não deve ter ido muito longe.

— É melhor planejarmos tudo logo, para que tenhamos mais tempo — avisa Thiago. — Vou acordar os outros.

Thiago se levanta e vejo Bob seguindo-o com o olhar. Quando nossos olhares se cruzam, ficamos nos encarando por um bom tempo. Estou realmente confusa. Ontem Bob demonstrou-se o mais apto a consolar Thiago, dando-lhe palavras de consolo, pedindo-o para não se desesperar. E hoje, ele parece tão devastado quanto Thiago estava ontem. E ele também passou a noite toda acordado, revivendo o que vimos no caminho para o rio, colocando-se no lugar de Carol, tentando descobrir para onde ela foi. Escutamos os passos de nossos amigos, que estão vindo até nós, e Bob finalmente desvia o olhar, tornando a encarar a janela.

Thiago repete rapidamente as palavras ditas por Bob, e em seguida diz que vamos nos separar em três duplas, para que tenhamos um alcance maior da região. Fazemos um desjejum rápido e nos preparamos para sair. Na hora de escolhermos as duplas, prontamente falo:

— Vou com o Bob. Seguiremos o rio, para o oeste.

Bob apenas concorda com a cabeça, olhando rapidamente para mim. Terry e Thiago decidem seguir a estrada, e Julie e Zac seguirão para o norte, atravessando o rio. É um plano bom, no final das contas, já que procuraremos nas três direções por onde ela deve ter ido.

**

Quando alcançamos o rio, nos separamos de Julie e Zac. Nosso combinado é andar até meio-dia, e voltar para chegarmos ao trailer às seis da tarde, quando o sol estiver se pondo. Para não corrermos o risco de algum andarilho pegar o trailer, o escondemos na floresta. Mas Thiago escreveu em uma árvore na beira da estrada “Carol Jones”, para que somente ela entenda o recado e saiba que deve nos esperar se passar por lá. Thiago também disse que escreveria em árvores pelo caminho, deixando inclusive uma seta, apontando para onde ela deve ir se estiver em qualquer ponto da estrada. Eu espero sinceramente que nós a encontremos ou que ela nos encontre. Uma coisa é saber se seu amigo está vivo ou morto, outra totalmente diferente é ter dúvidas quanto a isso. Involuntariamente, penso em como é provável que a achemos morta em algum local da floresta. Pensando nisso, tento conversar com Bob.

— Bob, acha que ela está morta?

— Por que quer saber? — diz franzindo o cenho.

— Porque às vezes me sinto um monstro em achar que sim.

Ele para e eu faço o mesmo, permanecendo ao seu lado.

— Eu sinceramente não sei, Amy. Em alguns momentos, a possibilidade de ela estar viva é grande, mas a possibilidade de Carol estar morta é igualmente possível. Por isso estou ficando meio maluco, isso me deixou acordado a noite toda.

— Bob, sinto muito mas... eu não entendo — digo. — Você e Carol quase se mataram no dia em que se conheceram, e só pareceram se dar bem há três noites atrás, quando estávamos naquele prédio onde até dançamos e...

— Mas que porcaria, Amy — diz ele nervosamente. — Eu estou caidinho por ela, satisfeita?

Acho que não consegui esconder minha expressão de total confusão.

— Você provavelmente não se lembra, mas quando saímos daquela casa, depois que a praga ferrou com sua mão, eu vim no carro com ela e Terry, enquanto você estava na caminhonete com Thiago e Julie — explica ele.

“Conversamos a viagem inteira. Eu falei pra ela sobre a minha vida e até contei as besteiras que fiz. E ela foi diferente de todo mundo. Ela não me julgou antes que eu terminasse de falar, ela escutou cada uma das minhas palavras. E depois, ela disse que até me entendia, me deu os conselhos que eu queria ter ouvido quando fiz o que fiz. E, do nada, ela me abraçou e disse que eu poderia confiar nela pra tudo. E eu disse o mesmo.

Bob suspira demoradamente, talvez esperando que eu diga algo, mas não pronuncio uma palavra sequer. Ele continua:

— No dia em que dançamos, eu percebi que gostava dela. Conversamos madrugada adentro, sobre absolutamente tudo, entende? E quando eu decidi falar o que estava sentindo, ela disse que estava morrendo de sono e então fechou os olhos, e não os abriu mais. Deixei pra falar depois e, no dia seguinte, ela escapa de nós e some.

“Eu não devia ter deixado pra depois, Amy. Agora ela está desaparecida, talvez morta, e eu não falei porcaria nenhuma do quanto ela se tornou importante pra mim, de um jeito tão simples e rápido, que parece que isso estava escrito para acontecer.

Bob fica de costas para mim, inspirando e expirando o ar, provavelmente segurando-se para não chorar. Ele tira um papel do bolso e o desdobra, enquanto finalmente se volta para mim.

— Essa não pode ser minha última lembrança dela.

Olho para o papel: o desenho que Carol fez de Bob. Isso me atinge em cheio, dando-me a certeza de que não devemos desistir de encontrá-la.

— Não vai ser, Bob. Carol ainda fará um milhão de desenhos seus e vocês dançarão outras centenas de músicas — digo com a voz embargada. — Guarda isso e vamos procurá-la.

Eu devolvo o papel para ele, este é colocado em seu bolso com uma mão enquanto a outra enxuga uma lágrima que escapou de seus olhos. Eu vou à frente, tentando dar um pouco de tempo a Bob, e logo encontramos o Sol, agora aparecendo por completo, em seu total esplendor. Um sinal de que talvez nem tudo esteja perdido.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam??? Se notarem algum erro ortográfico, me avisem, pq não dei uma revisada mto boa (twd tá pra começar to desesperada aqui kk).
Vejo vcs no próximo!
Abraços, Beatriz ♥



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