Morte aos Lobos escrita por Beatriz Rozeno


Capítulo 19
Capítulo 18 - Amigos


Notas iniciais do capítulo

Queridos, fiquei duas semanas sem net, e quando ela voltou não tive tempo de postar de imediato. Mas agora voltei e me desculpem pela demora. Amo vcs ♥
Tenham uma ótima leitura



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De uma coisa eu tenho certeza: Carol não está morta, mas está muito próxima disso. Terry vai até Thiago, que permanece chorando, e dá a ele a faca de Caroline. Thiago se levanta e segue até a margem do rio, onde ele se agacha e começa a jogar água na lâmina. Ele está desolado. E eu, como uma covarde, não vou até ele. Bob é o único corajoso o suficiente para aproximar-se e dizer alguma coisa.

— Vamos encontrá-la — diz ele. — Ou então ela vai nos encontrar, já que sempre foi mais esperta do que nós.

Curiosamente, ele não fala isso como uma piada, mas como uma verdade.

— Ninguém aqui vai desistir dela — diz Terry.

Apesar de todo o apoio, o mais velho dos Jones ainda chora. E continua derramando lágrimas por horas a fio. Aproveitamos o rio para limpar nossas coisas e encher as garrafas de água. Zac leva o corpo da praga para longe, porque o cheiro começa a ficar mais insuportável do que já é.

— Ei — chama Julie. Ela vem até mim antes de falar. — Que tal um banho?

— Cairia bem — respondo.

— Vou avisar o Terry, me espera aqui.

Quando ela volta, vamos juntas até um grande aglomerado de pedras, que esconde uma caverna submersa, excelente para um banho a vontade. No primeiro momento, sinto vergonha em me despir na frente dela, mas, ao ver em como ela não está nem aí pra isso, faço isso sem preocupações. Sem pressa de sair da água, me esfrego por completo, tentando esquecer os problemas pelo menos por enquanto.

— Você acha que ela está viva? — pergunta Julie sem rodeios.

— Acho. Você não?

— Não sei, tenho minhas dúvidas.

— Carol é inteligente, ela está viva. Só precisamos chegar rápido até ela — digo.

— Essa é a questão. E se não formos rápidos o suficiente?

— Mas seremos.

É tudo o que eu digo. Não quero pensar na possibilidade de Carol morrer, não mesmo. Eu e Julie nos enxugamos e trocamos de roupa, totalmente revigoradas. Pretendo sugerir aos meninos que também tomem um banho.

Quando voltamos, percebo que Thiago parou de chorar, mas ainda está no mesmo lugar, imóvel. Vou até Bob.

— Tem um bom lugar pra tomar banho ali — digo enquanto indico o local para ele. — Se você for, tenta levar o Thiago, por favor.

— Claro — diz ele.

Bob convida os outros para irem com ele, e depois senta ao lado de Thiago e conversa com ele por um tempinho. Mas Thiago não responde. Chego mais perto, na esperança de ouvi-lo dizer algo. Finalmente escuto um sussurro:

— Tudo bem.

Meu coração desacelera, e aí percebo que ele estava palpitando fortemente antes de Thiago responder. Pior do que vê-lo morto, é vê-lo vivendo da forma errada.

— Ele precisa sair dessa — falo.

— Ele vai superar.

O modo como Julie fala me assusta, é como se ela tivesse convicção de que Carol morreu. Mesmo incomodada, não falo mais nada.

**

Quando eles finalmente voltam, o sol começa a se pôr. Ficamos tão distraídos nesta fonte que nos esquecemos das horas. Thiago está ligeiramente melhor, o que me conforta. Colocamos nossas bolsas nas costas e nos preparamos para sair. Então escuto a voz de Thiago atrás de mim:

— Eu preciso ir atrás dela.

Todos nos viramos para ele.

— O que quer dizer? — pergunta Terry. — Nós já estamos indo, não estamos?

— Ela pode ter seguido em qualquer direção. Como saberemos qual foi? — diz Thiago novamente.

— Você quer ir sozinho? — questiona Bob. — É arriscado demais.

— Eu já me decidi. Vou sozinho.

— Não — digo.

Olho diretamente em seus olhos, implorando pra que ele aceite a proposta que farei.

— Eu vou com você.

— Não é uma opção, Amy.

— Então eu também vou. E nós seremos dois grupos de três, o que torna tudo mais justo — pede Bob.

— Nada disso — solta Julie. — Ninguém vai se separar. Precisamos achar outra solução, não esta.

— Eu sei o que podemos fazer — diz Terry. — Antes de tudo, precisamos de um lugar fixo pra ficar. Pelo menos até a encontrarmos. Uma casa, um armazém, até mesmo um ônibus na estrada. Depois que tivermos isso, podemos nos revezar, sem deixar de procurar em nenhum lugar.

— Pra mim parece ótimo — fala Bob.

— Inclusive, estamos perdendo tempo. Vai ser difícil achar um local à noite — lembra Zac.

— Vamos — diz Julie.

Terry vai à frente com Zac e Julie, eu espero Thiago para ir ao seu lado, mas Bob passa por mim e diz:

— Pode deixar, eu vou com ele.

Sigo em frente, e quando olho para trás, Bob está conversando com Thiago. Tento não ficar tão preocupada, já que Thiago está em boas mãos, mas tudo que eu queria era lhe dar um abraço, ou quem sabe segurar sua mão e dizer que tudo ia ficar bem. Quando eu estava mal, ele nunca me deixava na mão. E olha o que estou fazendo agora. Sei que não somos tão próximos assim, já que nos conhecemos há algumas semanas, ou será que somos? Não sei exatamente. Conhecemos-nos há pouco tempo, é verdade, mas desde o início nós sempre nos entendemos, fomos amigos e companheiros e, apesar de nunca ter sido mais do que isso para ele, sinto que lhe devo desculpas. E um abraço, talvez.

Após mais de três quilômetros percorridos, chegamos à estrada. O sol já se pôs e usamos nossas lanternas, mas as desligamos logo quando alcançamos a rodovia. Andamos em completo silêncio, com nossas armas prontas, temendo um ataque surpresa das pragas. Vinte minutos depois, visualizamos um trailer a alguns metros de nós.

Terry e Julie vão à frente e fazem sinal para que esperemos. Eles entram no veículo, cuidadosos. Julie reaparece um minuto depois, indicando que podemos nos aproximar.

O trailer está tristemente vazio, sem nada que podemos usar. Ele é grande, possui duas mesas com bancos estofados ao redor, e uma cabine na parte traseira, onde poderemos dormir confortavelmente. Não demoramos muito para nos sentirmos confortáveis, já que estamos exaustos. Fazemos uma pequena refeição, composta de feijão enlatado frio e biscoitos.

Não dizemos nada por quase uma hora, porque simplesmente não sabemos o que dizer. Até que Thiago anuncia:

— Eu vou ficar lá em cima.

Ele vai até a cabine e sobe a pequena escada que leva ao teto do trailer, e escutamos seus leves passos acima de nós. Bob está olhando fixamente para mim.

— Engole o orgulho e vai falar com ele — diz Bob sem que ninguém espere.

Engulo em seco. Devo mesmo ir?

— Ele precisa ficar sozinho — digo.

— Amy, ele está sofrendo pela irmã desaparecida e ainda está brigado com você! Um desses problemas você pode resolver agora — diz Terry.

Quando levanto, vejo que ele esqueceu o casaco e o apanho, para ao menos ter algo para dizer. Até alcançar o teto, não paro para pensar em nada, com medo de desistir.

Sento ao seu lado, mas ele nem ao menos olha para mim. Decido não enrolar muito.

— Você esqueceu isso — digo estendendo o casaco.

Ele o veste logo em seguida, e tudo o que diz é um rápido “obrigado”. A iniciativa vai precisar partir de mim.

— Desculpa — falo rápido demais. Controlo meu nervosismo e continuo. — Desculpa por ter sido tão idiota, eu não deveria ter falado nada daquilo, nem ao menos ter me metido entre você e Zac.

Ele finalmente olha para mim e eu retribuo o olhar. Thiago suspira demoradamente, provavelmente procurando coragem.

— Eu que fui idiota — diz ele. — Não deveria ter atacado o cara daquele jeito, é que fiquei nervoso com a possibilidade dele ter feito alguma coisa a ela, o que não faz o menor sentido; não sei onde estava com a cabeça. Acho que ela estava cheia d’água, sei lá.

— Acho que a de todos nós estava.

Ele sorri e eu me permito esboçar um sorriso fraco. Mas ele não sorri por muito tempo, porque deve ter lembrado de Caroline. Como estou pertinho dele, solto o braço e aperto sua mão.

— Sabe o que eu acho? — digo. — Que ela está tão bem quanto nós. Ela é muito inteligente, ágil e forte. E ela tem outra faca além da que deixou na praga, sem contar a arma que Terry a deu.

— Então por que ela não usa a arma para nos levar até ela? — indaga.

— Ela sabe que atrairá outras pragas junto. Ela está machucada, e não pode correr esse risco.

— Estou desesperado, Amy. Não posso perdê-la, não posso.

— Você não vai — digo apertando sua mão ainda mais forte.

Thiago volta o olhar para mim, e me encara por uns seis segundos, sem desviar o olhar. Eu também não desvio, não sei exatamente porquê, mas seus olhos não me deixam acanhada ou nervosa, mas sim calma, então não vejo motivo para deixar de olhá-los. Então seus olhos desviam por apenas um milésimo de segundo para ver a minha boca. Involuntariamente, faço o mesmo.

A mão dele chega em meu queixo, e ele me puxa até que nossos narizes se tocam. Já beijei alguns garotos durante minha vida, mas simplesmente não sei o que fazer. Deixo que ele faça por nós, porque eu não sou boa em nada relacionado a isso.

Seus lábios tocam os meus suavemente, e sinto sua cobertura macia. Nos beijamos por mais ou menos cinco segundos e, quando nossos rostos se afastam, percebo o quanto aquilo foi estranho. Percebo que eu não senti absolutamente nada. Então começamos a rir. Não um riso alto e nervoso, mas baixo e vergonhoso.

— Posso ser sincero com você? — diz ele entre risos.

Faço que sim com a cabeça, também rindo.

— Parece que eu beijei minha irmã.

— Parece que eu beijei a minha também.

Rimos por quase um minuto, e só voltamos a falar quando recuperamos o fôlego. Ele volta a segurar minha mão.

— Desculpa, Amy — diz um pouco mais sério. — Nada a ver a gente ficar se beijando.

Então acabo me tocando de que não tem mesmo motivo para tal coisa. Nossa amizade é muito bonita, e muito firme. E, sinceramente, não temos tempo para beijos e amassos atualmente. E eu gosto da nossa relação do jeito que é e não pretendo mudar isso.

— Melhor esquecermos isso — digo.

— Com certeza — afirma.

Ele passa o braço em volta do meu pescoço e eu apoio a cabeça nele.

— Amigos? — sussurra ele.

— Sempre.

Então nós nos deitamos para olhar as estrelas: ele com o braço em volta de mim, e eu com a cabeça em seu ombro. E, surpreendentemente, não havia nada de romântico nisso. Felizmente, nossa relação agora só tende a melhorar, já que os dois sabem que o outro não sente nada amoroso demais e que não precisamos ficar ou namorar para sermos próximos. Estamos muito bem assim.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?? kkkk
Até o próximo!
Abraços, Beatriz ♥



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