Morte aos Lobos escrita por Beatriz Rozeno


Capítulo 17
Capítulo 16 - Queda


Notas iniciais do capítulo

Tenham uma boa leitura!!



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Por alguns instantes, fico paralisada. Os moribundos correm, cada um seguindo para uma direção distinta, confiando em seus instintos. Quando finalmente somem de vista, ouso me mexer. Retiro o excesso de lama o máximo que posso. Procuro meus amigos com os olhos, mas não vejo ninguém. Então, decido procura-los antes que se afastem muito.

Espero mais alguns minutos, na esperança de que alguém apareça, e também para ter certeza de que não há mais tantas pragas ao redor. Depois do que me pareceu uma eternidade, sigo na direção em que vi Bob pela última vez. Tento ser o mais cautelosa possível com barulhos, mas piso em alguns galhos e folhas que produzem sons incômodos e chamativos. Procuro por rastros, sinais que indicam para onde os outros foram, mas sou péssima nisso. Sem alternativa, adentro mais na floresta, sem cogitar voltar para a cidade. Mas se aquelas coisas darem meia-volta agora, eu estou perdida.

Ao pensar nas pragas, penso em como nos cercaram tão rapidamente. Parecia um tipo de armadilha que, de certa forma, foi pensada. O que reforça minha tese de que os lobos estão evoluindo. Suas mentes e corpos estão se adaptando cada vez mais rápido ao novo ambiente, tanto que eles passaram a agir como verdadeiros animais selvagens. Uma dessas ações foi caçar em bando, para melhor êxito na obtenção de alimentos.

Fico nervosa ao notar que não será tão fácil assim reencontrar meus companheiros, pois acredito que correram para bem longe de onde estou. Ao menos alguns devem ter dado um jeito de se “camuflar”, como eu fiz. Ninguém é capaz de correr para sempre.

O repentino farfalhar de folhas me assusta, e eu procuro de onde veio. Os imensuráveis galhos acima de mim mexem-se num ritmo estranho. Saco a faca, mas o par de olhos que vejo me fazem suspirar de alívio. Bob está olhando para mim, aparentando ficar mais tranquilo ao me ver. Ele fala algo, mas não entendo de imediato. Eu o ajudo a descer. Ele olha para o meu rosto, incrédulo e surpreso.

— O que é isso no seu rosto? — pergunta.

— Tive que me virar com lama. E você, pelo visto, é bom quando a questão é escalar — digo. — Onde aprendeu?

— Infância. Viu para que lado os outros foram? Perdi todo mundo.

— Eu também. O último que vi foi você, por isso segui por aqui. Como eles não perceberam você, ou o seu cheiro?

— Não sei, talvez estivessem rápidos demais — diz ele.

— Vamos, é melhor nos apressarmos — aviso.

Quando demos o primeiro passo, um grito ecoa por entre as árvores, e corremos sem parar para pensar sobre. Logo em seguida, um estrondoso tiro. Isso me deixa mais aliviada, pois isso talvez venha a ser útil para nos reunir novamente. Após mais uma intensa corrida, alcançamos Terry, que está largado, no chão, totalmente exausto. Ao seu lado, há uma praga, já morta. Escutamos passos vindo da direção oposta, e logo Julie e Thiago aparecem, também ofegantes. Thiago vem até mim.

— Cadê a Carol? Ela não está com nenhum de vocês? — pergunta ele.

— Não — diz Bob. — Pensei que ela estava com você.

— Acabamos correndo para direções opostas, e depois não a encontrei mais. Somente Julie, e agora vocês.

— Ela pode estar com Zac — lembra Terry.

— Temos que ir — avisa Bob. — Essa mata é muito fechada.

Concordamos em silêncio e seguimos adiante. Com a sensação de segurança que temos quando estamos juntos, andamos mais devagar. Fazemos pausas para comer e beber água. Mas percebo que Thiago e Bob estão muito inquietos. Em uma de nossas paradas, sento ao lado de Thiago para confortá-lo. Até por que sei o motivo de ele estar assim.

— Ei — digo. — Ela está bem, e provavelmente está com Zac. Não se sinta tão mal.

— Mesmo que ela esteja com ele, não confio nele.

— Você também?

— Julie, Terry e eu estamos frequentemente de olho nele. Um passo em falso e estamos prontos para lidar com ele — diz Thiago amargamente.

— Isso não é necessário.

— Um dia saberemos.

Tenho raiva das palavras de Thiago e saio de perto dele, sem dar explicações. Ele pode estar certo com relação a Zac, mas planejar matar o garoto se ele der qualquer vacilo é demais. Caio ao lado de Bob, bufando. Como não sou nada boa em esconder emoções, ele percebe que estou extremamente chateada.

— O que foi?

— Thiago acabou de dizer algo que não me alegrou nem um pouco.

— Foi sobre o Zac, não foi?

— Como você sabe? — pergunto.

— Está estampado na cara dele, e eu já o ouvi comentar algumas coisas com Julie.

— Acredite, esse não é o Thiago. Ele fica assim quando está nervoso, ou desconfiado. Mas devo admitir que ele está exagerando.

— Eu sei disso. Pelo que Carol contou, ele é um excelente irmão e amigo. Só está preocupado — explica Bob. — Vai perceber que Zac é até menos perigoso do que nós, uma pessoa melhor.

— Por que você acha isso?

Ele olha para mim com vivacidade para responder.

— Eu não sei você, mas já aprontei muito nessa vida. E depois do apocalipse, eu matei pessoas. Quantas pessoas você acha que Zac matou?

Ele demora a continuar, então acho que ele quer que eu responda sua pergunta com sinceridade.

— Nenhuma — respondo.

— Exatamente — continua. — E mesmo que ele seja ruim, pode vir a mudar. Como todos nós mudamos depois da convivência em grupo.

Convivência em grupo. É o que muda as pessoas: a amizade, o amor, a confiança, a esperança de um futuro melhor.

— Bob, você acha que algum dia encontraremos abrigo? Uma comunidade, quem sabe? Algum lugar seguro?

— Claro que sim, Amy. É por isso que ainda estamos lutando. Eu vivo para um dia encontrar a paz. Com vocês ao meu lado, é óbvio.

Repentinamente, algo se projeta em cima de Bob, prendendo-o ao chão. Não vi de onde ela veio, mas a praga que está tentando o morder mostrou-se sorrateira. Puxo a faca do cinto e a acerto. Ajudo Bob a se levantar, e quando ouvimos passos apressados, colocamos as bolsas nas costas e corremos.

Thiago, apesar de nossa conversa nada feliz, espera que eu fique ao seu lado para continuar a correr. Acho que nada abalaria nossa amizade tão facilmente assim.

Lobos aparecem de todas as direções, e nos assustam. Desviamos deles e continuamos a correr. Em certo ponto, as árvores parecem mais afastadas e acabamos numa área descampada. Mais à frente, Terry para e esbarra em Julie e Bob. Eu e Thiago paramos a tempo. Estamos na beira de um grande abismo. Mas quando olho para baixo, há um grande rio que corre livre. No momento em que vamos voltar, vemos que todos os lobos nos cercaram. Olho para Thiago, desesperada.

— O que vamos fazer?

Mas é Bob que responde:

— Temos que pular.

As pragas não param para pensar como nós, e estão praticamente com as mãos na nossa carne. Seguro a mão de Thiago, e começo a tremer. Terry e Bob vão primeiro, e nós três vamos depois. Fecho os olhos e Thiago me leva consigo. Sinto o vento batendo com força em meu rosto e abro os olhos involuntariamente. Noto que há diversas pragas caindo ao nosso lado. A lei que prevalece quando caímos na água é: salve-se quem puder.


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Notas finais do capítulo

O capítulo ficou pequeno e bem rápido, mas eu tive que fazer ele às pressas porque não tive tempo essa semana. Mas ta aí porque não deixarei vcs na mão.
Até o próximo!
Abraços, Beatriz ♥



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