Morte aos Lobos escrita por Beatriz Rozeno


Capítulo 16
Capítulo 15 - Aviso


Notas iniciais do capítulo

Não postei o capítulo no dia, de novo. Desculpem, eu não consegui ontem.
Tenham uma boa leitura!



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Não faço ideia de que horas eram quando fui dormir ontem, mas sei que foi bem tarde, provavelmente de madrugada. Bob colocou diversas músicas para nós, e dançamos uns com os outros, revezando os pares. Suamos tanto que o frio não mais existia. Ficamos tão cansados que simplesmente nos jogamos no chão e dormimos.

Abro os olhos, ainda sorrindo com a lembrança. O sol aparece lá fora e já são mais de sete da manhã. Eu sou a única que já acordou. Recosto-me na parede, olhando para todos. Thiago dorme do meu lado esquerdo, e Julie está perto do meu pé, do lado direito. Terry dorme mais afastado, perto da janela, assim como Zac. Mas a surpresa é Carol e Bob. Eles não estão sob o mesmo cobertor, cada um está usando o seu, mas estão praticamente colados. Apesar de não terem se dado muito bem quando se conheceram, agora parecem bem próximos.

Há alguns dias, Thiago me disse que eu tinha uma família, e que eles eram essa família. Sinceramente, duvidei muito daquilo, principalmente por causa de Julie. Mas hoje, depois do apoio que me deram quando perdi o dedo, depois dos sorrisos de ontem, tenho certeza de que eles são a minha família. Não existem mais dúvidas quanto a isso. Antes, eu sacrificaria minha vida apenas por Carol e Thiago, mas agora eu faria isso por todos eles. Até mesmo Zac, que se mostrou tão gentil quando o conhecemos.

Thiago se mexe ao meu lado, ameaçando acordar. Olho para onde Bob e Carol estão dormindo, e decido acordar Bob, porque não sei qual seria a reação de Thiago se visse a cena que estou vendo. Ele sempre me pareceu um irmão muito ciumento. Levanto-me devagar e sigo até eles. Cutuco Bob levemente, e espero que ele acorde. Depois de alguns segundos, em que ele acorda de fato, vê Carol ao seu lado e parece envergonhado.

— Desculpa te acordar assim — falo baixinho. — Thiago ia pirar se visse vocês.

— Obrigado — diz sem jeito. — Mas eu juro que não foi proposital.

— Ah, é claro que não — digo enquanto sento no chão.

— Ei, estou falando sério.

— Não precisa ficar preocupado, Dom Juan. Não vou contar pra ele — digo indicando Thiago com a cabeça.

Bob olha para mim e, de repente, franze o cenho, numa expressão de surpresa.

— O que foi? — pergunto.

— Você parece... diferente.

— Diferente como?

— A sua terrível feição sombria — diz sorrindo. — Ela sumiu hoje. É por que um pouco de música sempre faz bem, eu acho.

Feição sombria? — pergunto deixando transparecer minha mágoa.

— Tudo bem, desculpa. Não foi bem o que eu quis dizer — explica ele. — É que você tem essa expressão de ódio constante, como se fosse dilacerar qualquer pessoa a qualquer instante.

— Quando nos conhecemos, você também usou um olhar nada amigável — replico.

— Me dá um desconto: ver você ali, igualzinha a Julie, me deixou um pouco maluco. E depois de lá, eu fui ruim pra vocês?

Não demoro a responder:

— Não. Mas eu também não fui uma má pessoa com vocês.

— Realmente. Porém — enfatiza —, esse seu semblante ameaçador nunca mudou enquanto esteve com a gente. Hoje, agora, eu vejo a Amy, e não a personificação do mal dela.

Eu não imaginava que toda a desconfiança que sentia para com que eles ficou assim, tão visível. Sinto-me péssima.

— Desculpe por isso — é o que consigo dizer.

— Como eu não posso perdoar esses belos olhos verdes? —diz enquanto segura meu queixo.

Nós trocamos um abraço, e percebo o quanto fui errônea com todos eles, desde sempre. Às vezes, não é tão ruim ser gentil.

Levanto-me, sorridente, e não saio de perto dele sem avisar:

— Estou de olho em você, garanhão.

Ele apenas sorri.

Julie acorda em seguida, e desperta os outros. Organizamos nossas mochilas, e logo estamos prontos para sair. Zac se voluntaria para ir à frente, servindo de guia. Eu acabo seguindo caminho com Carol. Ela me oferece alguns biscoitos, e eu aceito porque ainda não comi nada hoje.

— Sabe o que eu queria muito? — pergunta ela.

— Não faço ideia — digo.

— Um bom banho.

Noto que ela não fala isso de brincadeira, e eu a entendo. Ultimamente, algo tão comum como um banho, tornou-se uma dádiva rara. Bob aparece ao meu lado e acaba me assustando.

— Você esqueceu isso.

Vejo a arma que Terry me deu em sua mão. Eu a apanho, pensando na minha despreocupação com o artefato. Não sou nada boa com ele.

— Obrigada — digo.

Ele segue em frente, até chegar a Zac, não sem antes dar uma piscadela para Carol. Ela fica vermelha imediatamente.

— O que está acontecendo entre vocês? — deixo escapar.

— Nada, Amy.

— Não é o que parece. Estão muito próximos ultimamente.

— Nós só conversamos — diz ela. — Ele me falou sobre sua vida, eu falei sobre a minha. Descobrimos que nós nos julgamos sem nos conhecermos.

Decido não contar a ela que eles estavam colados pela manhã.

— Eu gosto dele — afirma. — Mas não do jeito que você imagina.

Sem prestar atenção no que ocorre à minha frente, acabo trombando em Julie. Noto que algo está errado, a expressão de Zac é espantosa.

— Precisamos voltar — diz ele indicando a direção de onde viemos.

— O que foi? — indaga Bob.

— O cheiro deles está forte demais — explica. — Deve ser um bando.

Aceleramos o passo, não a ponto de correr, por enquanto. Logo eu sinto o cheiro, não muito depois de Zac. Ele tem razão ao dizer que seu faro não é tão apurado quanto o das pragas, suas habilidades são bem limitadas.

— Corram! — pede Zac. — Eles estão vindo.

Sem precisar pedir duas vezes, corremos desesperadamente em meio aos prédios e vielas. Em questão de segundos, meu coração está a mil por hora. Nervosa, corro sem pensar para onde estou indo. Quando viramos uma esquina, a toda velocidade, damos de cara com um enorme bando, que também está correndo. Tropeçamos uns nos outros, mas continuamos correndo para longe dos seres moribundos. Zac, em meio à corrida, pede desculpas por não ter sentido que aquela era a direção errada. Mas acho que era difícil saber que eles estavam vindo, já que quando corremos muito rápido, vários cheiros se misturam, nos enganando. Não tenho tempo de dizer isso a ele.

Entramos por um beco, o primeiro que vimos, Zac ainda bem à frente. Do nada, ele para e grita:

— Voltem, voltem!

De esguelha, vejo pragas surgindo da direção para onde estávamos indo. Voltando à rua principal, o bando com o qual nos deparamos está vindo até nós. Corremos para o primeiro espaço vazio que enxergamos, que é entre dois armazéns. Alguns metros adiante, identifico diversas árvores. A floresta novamente. Nada bom, penso.

Mas Zac continua indo até ela, e confiamos nele. Perto da entrada da floresta, vemos outro grupo de jacks surgindo do nosso lado esquerdo. Algo está muito errado. Eles estão chegando rápido demais. Será que sabiam onde estávamos? Cercaram-nos? Fizeram um plano? Como saber?

Conforme corro, a floresta fica mais fechada. Algumas pragas surgem aqui e ali e paramos para lidar com elas. Sinto minhas pernas pedindo desesperadamente para parar. Mas eu não posso. É quando eu percebo: o único perto de mim é Bob, e ele ainda está alguns metros longe. Ao parar para olhá-lo, esbarro com um Jack. Com o impacto, caio com força no chão, inteiramente tonta. Com a faca, acerto qualquer lugar do bicho quando ele pula em mim e, pelo visto, funciona. Olho para trás: nada e nem ninguém à vista. Mas ainda escuto folhas sendo pisadas e alguns gritos.

Vejo uma poça de lama e faço a primeira coisa que me vem à cabeça, pois não tenho condições de continuar correndo. Passo lama por todo o meu corpo, o mais rápido que posso. Escolho uma árvore grande, que tem o caule espesso, e escondo-me atrás dele. Os passos se aproximam, e logo identifico que são das pragas. Em nenhum momento fecho os olhos, com medo do que pode acontecer. Controlo minha respiração ofegante, o que é muito difícil. Quando eu menos espero, elas passam por mim, desesperadas. Felizmente, não percebem a minha presença.


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Notas finais do capítulo

O que será que vai acontecer, hein?? 'O'
Até o próximo!
Abraços, Beatriz ♥



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