Morte aos Lobos escrita por Beatriz Rozeno


Capítulo 13
Capítulo 12 - Escadarias


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, estou tendo problemas para postar os capítulos na sexta. Portanto, o dia de postagem passará a ser sábado.
Tenham uma boa leitura.



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Carol precisou limpar meus ferimentos várias vezes ao dia durante a última semana. Foi o tempo que ficamos na velha casa. No segundo dia, já estava acostumada com as dores. Ontem Caroline decidiu que eu não precisava mais fazer curativos frequentes, apenas algumas vezes na semana, já que não havia mais o risco de infecção. Finalmente vi o real estado dos meus braços, e até que não estavam tão feridos. Cada um tinha cinco pequenos buracos, não tão fundos: as marcas das garras da praga que me atacou.

Terry conseguiu encontrar outro carro na estrada, um modelo de quatro portas, cinza, capaz de acomodar cinco pessoas. Como somos seis, e nossos suprimentos são indispensáveis, utilizamos tanto o carro quanto a caminhonete preta.

Depois que um pequeno bando nos atacou, decidimos ir embora definitivamente, mesmo conseguindo eliminá-los. No momento do pequeno ataque, não corri para aniquilar os moribundos, como fazia antes. Apenas me encolhi no pequeno colchão, esperando que seus gritos guturais terminassem.

— Amy?

Fecho o porta-malas do carro, que já está cheio com nossos suprimentos, e me viro para responder à Terry.

— Oi.

— Julie quer que você vá com ela no outro carro.

Aceno positivamente para ele e vou até ela. Thiago e Carol estão encostados no capô da caminhonete, conversando.

— Algum problema se você for no carro com o Terry? — pergunta Thiago.

— Claro que não — responde sorrindo. — Eu sei por que você faz questão de ir na pick-up.

Ela dá um tapinha no braço dele e passa por mim sorrindo. Não gostei muito do jeito como ela olhou para mim, senti-me totalmente desconfortável.

Terry vai na frente com Carol e Bob, e Julie o segue. Fico pensando no quanto minha jornada teria sido mais fácil no início se eu soubesse dirigir. Depois da morte de meu pai, sempre andava a pé. Teve uma vez em que peguei carona com dois rapazes, um pouco mais velhos do que eu. Eu estava exausta, por isso fui com eles; e ainda não imaginava o quanto as pessoas haviam mudado depois de todas as desgraças que assolaram o mundo. Acontece que eles me levaram para uma casa, afirmando que passaríamos a noite ali. Mas quando já estávamos lá dentro, tentaram abusar de mim, à força. Puxei minhas facas do cinto, e os matei, sem pensar duas vezes. Eles provavelmente não esperavam que eu soubesse me defender, o que me tornaria um alvo fácil. Infelizmente cometeram um grande erro. Eu nunca me arrependi do que fiz naquele dia, mas às vezes penso no ocorrido, porque eles foram as únicas pessoas que matei. É certo que muitas vezes deixei pessoas para trás em ataques de acampamentos, mas eles morreram pelas minhas mãos. Fico nervosa ao pensar nisso e começo a girar a faca na mão, o que é um antigo tique nervoso. Thiago percebe, e observo ele olhar para mim.

— Tudo bem? — pergunta.

— Sim, tudo bem. Só estava pensando em algo.

Ele sorri, acreditando em mim e deixando para lá o que quer que eu esteja pensando. É por isso que gosto dele e o considero meu amigo, ele não me exige respostas que não posso dar, não me sufoca, ele simplesmente entende que preciso de espaço, talvez porque ele também precise. 

Depois de dirigirmos por horas, vemos, alguns metros à frente, uma grande placa anunciando: “Bem vindos ao Estado de Mayra”. Vejo que Julie abriu um grande sorriso.

— Finalmente — sussurra ela.

Após dois quilômetros, consigo ver os prédios ao longe. Mas a estrada está bloqueada, com diversos tipos de veículos impedindo a passagem. Teremos que continuar caminhando, pelo menos por enquanto.

— Droga — afirma Julie.

Terry e Julie estacionam os veículos, e nós retiramos nossos suprimentos. Escuto Bob bufando e batendo a porta do carro com força.

— Ei — diz Carol. — Cuidado com o barulho.

Ele olha para ela, com raiva, mas seu olhar suaviza ao perceber a burrada que está fazendo.

— Desculpe.

— O espaço entre os carros é muito estreito — diz Terry aproximando-se. — Se algum deles aparecer, vai ser difícil se defender.

— E se formos por cima? — pergunta Bob.

— Não é uma má ideia, mas temos que ter cuidado pra não cair — lembra Carol.

— Andar por cima deles também facilitaria a visão — diz Thiago apontando para os prédios à frente.

— Excelente — diz Julie. — Então temos um plano.

Ela se prepara e pula no primeiro carro, mas antes que continue, Terry pede que espere.

— Não sabemos o que encontraremos por lá, então é melhor cada um levar consigo alguma arma de fogo.

Ele retira da bolsa seis pistolas, todas pequenas, porém aparentemente letais. Apenas a de Bob é cinza, provavelmente uma calibre 38, a minha e a dos outros é preta. Não sei como usar uma arma, então simplesmente a enfio no meu cinto, e deixo uma de minhas facas em mãos.

— Escutem: não temos nenhum silenciador, e o barulho atrairia diversos lobos até nós, então usem as armas somente em casos extremos — pede Terry.

Nunca tinha escutado Terry chamar as pragas de lobos, o que comprova que é tão difícil achar um nome definitivo para essas coisas, que cada um chama como bem entende. Percebo que todos os outros também guardaram as suas pistolas no cinto, rezando para que nenhuma urgência nos obrigue a usá-las.

Julie e Terry verificam o caminho, e quando eles afirmam que não há nenhuma praga a vista, nós seguimos em frente. É muito dificultoso pular de um carro para outro, mas com um pouco de esforço, eu consigo. O labirinto de carros parece não ter fim, mas pelo menos os prédios estão bem mais próximos agora. A distância entre os carros diminui conforme nos aproximamos da cidade, e voltamos ao chão.

O vento sopra com força, sendo o único barulho em toda a cidade. Andamos devagar, observando todos os detalhes, tendo cuidado em cada passo que damos. Estremeço ao pensar que talvez dezenas de pragas estejam à espreita, esperando para atacar. É quase impossível encontrar um abrigo que não esteja com todas as portas e janelas destruídas, ou até mesmo em pé. Vamos ter que tentar os prédios.

Bob indica um que não está em péssimas condições, e como estamos próximos do anoitecer, aceitamos a sugestão. O hall de entrada está com todos os vidros despedaçados no chão, e toda vez que pisamos neles, eles estalam, causando um barulho um tanto quanto chamativo no meio de todo aquele silêncio.

Começamos a subir as escadas, e quando olho para cima, vejo que teremos um longo trajeto pela frente.

— O dia só melhora — brinca Carol.

Já no terceiro andar, começo a suar intensamente. Como eu gostaria de um bom banho. Estamos no sexto andar, e minhas pernas começam a falhar. Como todos sentiram o mesmo, resolvemos descansar e beber um pouco de água.

No momento que retornamos a subir as escadas, o barulho de vidros sendo pisados chega aos nossos ouvidos. Ao olhar para baixo, vejo o braço de alguém, com a mão firme no corrimão enquanto corre escada acima. Logo depois, os estranhos sons que as pragas produzem chegam até nós.

— Vamos, vamos! — peço desesperadamente.

Enquanto corremos, dou mais uma olhada para a escada abaixo de nós. Não são apenas algumas pragas, mas dezenas. Corro ainda mais rápido, mas as escadas me enfraquecem.

— São muitos — anuncio.

Terry abre a porta de um dos apartamentos, mas quando está para fechá-la, um rapaz aparece, desesperado.

— Esperem! Esperem!

Ele se joga dentro do quarto e Terry fecha a porta. Mas eu só consigo pensar no quanto ele nos alcançou rápido, e quando levanta, não parece estar tão cansado quanto nós. Bob, Julie e Thiago ajudam Terry a colocar móveis na frente da porta. Ficamos em completo silêncio, perto da porta, escutando. Muitas delas passam direto, ainda subindo as escadas, e quando relaxo, pensando que passaremos despercebidos, vejo pelo vão da porta que algumas ficaram. Não posso dizer quantas, mas não foram poucas. Quando sentem o nosso cheiro, jogam-se contra a porta, tentando derrubá-la.

Caroline pega uma cadeira e quebra a janela, grande o suficiente para nossa passagem. Há outro prédio, menor, bem próximo a janela, mas é necessário pular para alcançá-lo. Carol é a primeira, seguida por Bob. Ajudo os outros a segurar a porta. Julie corre para a janela e pula, assim como Thiago. Depois que Terry salta, sobramos eu e o garoto. Ele acena com a cabeça, indicando para que eu vá antes dele.

Apoio os dois pés na janela, e preparo-me para pular. Não é uma distância tão grande, mas ainda assim um calafrio percorre minha espinha. Olho para trás, assustada, vejo nos olhos do rapaz a súplica para que eu vá logo.

Tomo coragem e me jogo para frente. Rolo no chão de pedra, e sinto que ralei o cotovelo. Terry me ajuda a levantar, e quando olho para a janela, vejo o tal cara, dando um salto acrobático na nossa direção. Um salto irreal para um simples ser humano.


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Notas finais do capítulo

Suposições? Quem seria o garoto?
Até o próximo!
Abraços, Beatriz ♥



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