Morte aos Lobos escrita por Beatriz Rozeno


Capítulo 10
Capítulo 9 - Promessas


Notas iniciais do capítulo

O capítulo deveria ser postado na sexta, eu sei. Mas não poderei postar amanhã e me adiantei um dia. Na semana que vem voltamos para a postagem na sexta. Se bem que já é bem mais que meia-noite então, tecnicamente, é sexta-feira kkkkk
Tenham uma boa leitura!



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Julie esquece da minha existência no momento em que Bob cai desacordado. Ela aninha sua cabeça e a põe em seu colo, e pede para que ele acorde de um jeito muito delicado. O modo preocupado com que olha pra ele... Naquele momento, vejo meu pai, com o mesmo olhar de atenção quando eu quebrei meu braço aos seis anos. Ela parece a mamãe, mas, mesmo que não tenha sido criada com ele, tem as mesmas expressões de papai. A vontade de chorar vem intensamente, mas eu a afasto.

Terry aproxima-se deles e analisa os ferimentos do amigo. Thiago e Carol vêm até mim.

— Eu sei que fiz o acordo sem falar com vocês — começo —, mas eu pensei que talvez fosse uma boa ideia.

Thiago sorri abertamente apesar da situação.

— Amy, confiamos em você — diz ele. — Se você dissesse que seria melhor ir pra Lua, nós iríamos.

Escutamos os gemidos de dor de Bob e nos viramos para ele. Terry o levantou com um pouco de dificuldade, e apesar de estar com alguns arranhões, ele parece bem.

— O que aconteceu? — pergunta Julie.

— Eu me perdi de vocês e acabei sendo encurralado — começa devagar. — Eu dei um jeito neles, mas eram muitos e o esforço me deixou exausto.

— Ele teve esgotamento físico — diz Carol. Todos se viram para ela. — Por isso desmaiou.

Julie olha para ela sem piscar, procurando algo errado em sua frase. Mas não há nada.

— Precisamos sair dessa cidade — avisa Terry. — Parece que essas coisas brotam do chão por aqui.

— Ele não pode continuar assim — pede Julie.

— Eu estou bem — tranquiliza Bob. — Só preciso de um pouco de água.

Num piscar de olhos, Julie pega uma bolsa do chão e retira dela uma garrafinha d’água. Bob bebe quase tudo.

Ele logo se sente melhor, e Julie e Terry também. Eles apanham quatro bolsas do chão. Vejo Terry pondo uma delas nas costas, e a outra ao seu lado. Na bolsa lateral vejo a ponta de um rifle. Provavelmente é a bolsa de armas que ele havia citado, a que eles usam somente em casos extremos. O que me leva a pensar no porquê de eles não as terem usado agora a pouco. Talvez não tenha sido extremo o suficiente para eles.

Eu, Carol e Thiago vamos à frente, enquanto os outros se recuperam.

Chegamos à cabana de alguns dias atrás em poucos minutos, e tudo está revirado. Acredito que nem todas as criaturas tenham nos perseguido, muitas ficaram por conta do nosso cheiro e, como são cegos, caçaram-nos com o olfato por todo o lugar. Enchemos diversas garrafas no pequeno riacho e descansamos um pouco. Mas logo decidimos ir embora para aproveitar ao máximo a luz do sol.

Durante todo o caminho, observo Julie com o canto do olho. Ela parece raivosa, mas eu finjo não notar. Carol e Bob trocam olhares de desprezo vez ou outra, eles não se deram bem desde o momento em que se conheceram.

Quando estamos na rodovia, o sol se põe, e ficamos mais atentos. À noite somos mais vulneráveis. Fico tão perdida em meus pensamentos, que só percebo a presença de Terry ao meu lado quando ele fala comigo.

— Que bom que ainda temos a luz da Lua e das estrelas — comenta.

Olho para as lindas estrelas acima de nós.

— Não destruímos tudo — respondo. — Ainda bem.

— Elas ficam lindas sem toda aquela poluição que as impedia de brilhar.

Sorrio com sua afirmação, não só porque ele tem razão, mas também pelo rumo da conversa.

— Eu sei no que estava pensando hoje mais cedo, quando fez aquele acordo — diz ele.

— Na realidade, nem eu mesma sabia o que estava passando pela minha cabeça.

— Você quis dar uma chance para vocês duas, não foi?

Tento lembrar o que eu queria ao fazer o “acordo”. Tudo é muito vago, mas lembro do desejo incontrolável de estar o máximo de tempo possível ao lado dela. Tentar fazer com que ela sentisse o mesmo.

— Mais ou menos isso — digo.

— Você não é uma má pessoa, Amy. Mas receio que tenha tido uma péssima primeira impressão de Julie.

— Eu não...

— Você talvez pense que ela é sempre assim: incontrolável, impulsiva, sem limites. Ela realmente é tudo isso e muito mais — diz sorrindo. — Mas acontece que ela só mostra suas qualidades depois de muito tempo de convivência.

Não sei o que responder. A definição que ele fez, de certo modo, lembra a mim mesma. Eu também não sou difícil de lidar? Bom, talvez nem tanto, mas um pouco.

— Pelo visto você passou por poucas e boas ao aproximar-se dela — comento.

— Ah, com certeza! Eu a conheci quando tinha nove anos, e ela, apenas seis. Ele me fez tremer da cabeça aos pés — brinca.

— Ela é tão difícil assim?

— Sim, ela é. E eu peço que não desista dela, Amy. Eu creio que um dia todo esse esforço terá valido a pena.

Ele acelera o passo para chegar até Julie, que está um pouco mais à nossa frente, conversando com Bob.

Thiago estava na retaguarda, atrás de mim, mas agora está bem à minha direita. Ele parece curioso com relação à minha conversa com Terry, mas não pergunta nada. Sou eu quem falo.

— Acha que foi uma boa ideia? Trazê-los conosco?

Ele pára um pouco para pensar.

— Como eu disse naquele dia no prédio, eles são quase “imbatíveis” — ele faz o sinal das aspas com a mão. — Pelo menos pra mim foi ótimo. Fica mais fácil proteger minha irmã; e você, é claro.

— Não preciso de proteção — digo um pouco irritada. — Não sei se você lembra, mas, por muito tempo, eu estive sozinha, e viva.

— É muito fácil sobreviver só para si mesmo — responde. — É bem mais difícil partir desse mundo deixando aqui pessoas que se importam com você. E olhe para nós, Amy.

Involuntariamente, meus olhos encontram Carol, que está perto de nós, Terry, Julie e Bob, que conversam entre si. Ainda não compreendo.

— Pode ser complicado acreditar — continua —, mas agora somos sua família.

Olho para ele, chateada. Onde ele quer chegar com isso? E, ao invés de parar, ele continua.

— Isso você não pode mudar, não adianta. Porque não abandonamos a família.

Eu o encaro, surpresa. Mas ele não vê minha expressão porque está olhando para Caroline. Eu logo viro o rosto. Sinto como se ele tivesse lido minha mente e visto meu pai, dizendo isso para mim, em um de seus ataques de esquizofrenia, enquanto ele se culpava por ter deixado Julie para trás. Não abandonamos a família. Mas eu o abandonei, no fatídico dia em que o deixei para trás. Eu sou um monstro, daqueles do pior tipo. Eu o abandonei. Pelo resto de minha vida, jamais esquecerei os seus gritos, da dor que senti no momento em que corri, deixando-o para trás. Eu o abandonei. Então lembro o que Thiago acabou de dizer, sobre sermos uma família. Não sei Julie, Terry e Bob, mas sei que, genuinamente, Thiago e Carol gostam de mim, e que sofreriam com minha morte, assim como eu sofreria com a deles. Imaginar um deles morto, com seus belos sorrisos apagados, não é o que desejo. E também não quero que me vejam assim também, sem vida. Talvez papai esteja trabalhando de algum lugar, usando Thiago para fortalecer minha fé, que a cada dia fica mais abalada. Eu aceito sua sugestão, pai.

Minha mão direita sai do bolso do casaco e toca a de Thiago. Eu a aperto com força, para que ele saiba que não o abandonaria. Mesmo em uma circunstância insuperável, eu não o deixaria para trás, nenhum deles. Abro um sorriso para ele, e ele retribui. E sinto que aquele é o momento mais belo que tive durante todo o dia, e sinto-me verdadeiramente feliz em dias.

— Eu nunca deixaria você para trás, Thiago. Eu juro.

— Eu também, não, Amy. Eu também não.

Escutamos Terry assoviando, e nos viramos em sua direção. Ele achou uma caminhonete azul, e está tentando ligá-la. Quando ele consegue, o farol do veículo acende e, naquela escuridão da noite, tudo fica muito claro. E o motor do carro acaba fazendo um barulho ensurdecedor por conta do silêncio que existia antes. Gritos horrendos ecoam pela floresta, e logo várias pragas estão correndo atrás de nós. Bob e Julie entram na frente com Terry, que está no volante. Eu pulo na caçamba junto com Thiago e Carol. Terry dá a partida. O farol ilumina aqueles terríveis seres enquanto eles nos perseguem, mas logo ganhamos velocidade e eles somem de vista.


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Notas finais do capítulo

Olhem, aqui nesse link tem uma foto com todo o "DreamCast". Mas não posso deixar de lembrar q é como eu os imagino, se não concordarem, vcs são livres para imaginá-los da forma que quiserem, ok? E devo lembrar tmb que temos os personagens da fic INTEIRA, então pode conter spoilers. Fica por sua conta e risco.
(Ah, e o Grant Gustin como Thiago, bem, eu sei que ele tem olhos azuis e o Thiago olhos castanhos, mas vamos fingir que o Grant tem os olhos castanhos, ta? kkk)

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Sei q o capítulo ficou pequeno, mas acho que vcs já entenderam meus meios e sabem que foi preciso. Preparem-se para o 10 pq não existirá mais paz.
Amo vcs! Até o próximo!
Abraços, Beatriz ♥



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