Alguns dias haviam se passado; Jace fazia questão de pegar o jornal exatamente no horário que Clary saía para a faculdade e começou a sair de casa dez minutos mais cedo para o trabalho, para novamente encontrar a ruiva no corredor. Já estava se tornando um hábito desejar um bom dia na aula e ela lhe desejar bom trabalho, tanto que Jace começou a imaginar se ela não iria no Club qualquer dia desses para vê-lo.
– Eu vou chamar ela pra vir. - Izzy interrompeu os pensamentos do loiro enquanto ele fingia que lia alguns papéis na sala de Magnus.
– Eu cheguei a comentar alguma coisa? - não era uma pergunta mal-educada, ele realmente não tinha certeza se tudo que se passou em sua mente não havia escapado pela sua boca.
– Não, mas tá na cara que você quer que ela vá.
– Não está não.
– Ela me contou que você fala bom dia pra ela, todo dia, e que ela te fala "bom trabalho" todo dia. Hora de melhorar esse diálogo, irmãozinho. Credo, nem parece o Jace que eu conheço.
E o loiro sorriu. Izzy estava certa, dificilmente ela não estava.
Naquele dia, Clary chegou um pouco mais tarde, encontrando com Jace em frente ao prédio. Ela não parecia nada bem.
– Tudo bem, Clarissa?
– Sim, um pouco cansada, talvez. E atrasada, você já está aqui em baixo.
– Pensei que iria sem o meu "bom trabalho, Jace, se cuida.".
– Você morreria sem minha despedida todas as tardes, confessa.
– É claro que sim, faz parte da minha rotina. Isso me lembra que você ainda não foi no Sweet Dreams me ver.
– É um convite?
– Cadeira VIP perto do palco principal.
– Me sinto honrada. - ela fez uma pequena reverência. - Eu irei, no dia que eu estiver menos cansada, prometo.
– Vou cobrar, Clarissa. - ele sorriu e se despediu da ruiva com uma pontada no peito.
Ela não parecia estar bem de verdade, precisava de um banho morno e uma xícara de capuccino, era o que sempre animava Jace quando ele se sentia mal com alguma coisa ou muito cansado do clube. Ele queria poder ajudar mais, fazer companhia, conversar, mas já devia estar à caminho do clube, não podia simplesmente não ir hoje. Jace entrou no carro preto e seguiu para o Club, sem tirar a ruiva da cabeça.

Passava das dez da noite quando Bane foi até a sala de espera dos dançarinos cumprimentá-los e desejar um bom show, como sempre.
– Boa noite, Fireburn. - cumprimentou ele. - Pronto pra mais uma noite?
– Nasci pronto, Magnus. - apesar da firmeza em sua voz, ele ainda pensava em Clary.
– Ótimo. Simon disse que vendemos muitos ingressos hoje, a casa vai estar cheia, rapazes.
Os dançarinos comemoraram e o loiro sorriu.
– E se você prestar bastante atenção ao camarim esquerdo, pode ter uma surpresa, querido. - Magnus sorriu para o loiro e desejou boa sorte a todos.
Logo eles ouviram os cumprimentos de Simon no microfone, elogiando a casa lotada de mulheres. Jace não estava nervoso, ele nunca ficava, mas tinha uma ponta de curiosidade que o deixava levemente ansioso. Quando eles entraram e o salão explodiu em aplausos e gritos, ele correu os olhos por todas as mesas que estavam em frente ao palco, depois as mais distantes e, logo depois, aos camarins ao lado do palco. Ao encarar os olhos verdes de uma sorridente moça ruiva, ele sentiu o sangue gelar e um arrepio subir pela espinha.
Ela tinha vindo com Izzy, os cabelos soltos em cascata pelos ombros e a jaqueta preta que mostrava a fina blusa verde militar que usava por baixo; a calça preta e os saltos a deixavam sexy. "Foco, Jace, foco." - o loiro se repreendeu. Ele sorriu e piscou para ela, recebendo o sorriso que ele achou ser o mais bonito do mundo.
Os dançarinos cumprimentaram o público com uma reverência e a música começou.
– Eu adoro essa música. - Izzy sorriu, radiante por ter trazido a amiga junto.
– Só você pra me arrastar até aqui, Isabelle Lightwood.
– Aproveita, Clary, olha esse novo M.C., que fofo.
– Ele é bonito mesmo.
Izzy olhou feio por dois segundos para a ruiva. - Eu vi primeiro, trate de babar pelo Jace e não pelo MEU M.C.
– Ok, ciumenta possessiva e louca.
Elas riram e trataram de apreciar o show. Os rapazes dançavam e as mulheres gritavam; Clary conhecia quase todas as músicas que eles dançaram e cantou quase todas elas. Nos números solos, os rapazes dançavam com moças sorteadas na plateia e davam atenção especial as aniversariantes e as que comemoravam a despedida de solteiro naquele dia. A ruiva se assustou quando a suave voz de Jace surgiu ao seu lado; ele apoiou as mãos nas cadeiras das moças e se inclinou para frente entre elas.
– Gostando do show?
– Você nunca decepciona, Jace. - Izzy sorriu para o loiro.
– Você não devia estar lá com eles fazendo o seu show solo?
– Eu só danço com minhas clientes, Clarissa. Aqui eu só encerro o show. - ele sorriu e piscou para ela. Izzy ainda deu uma gargalhada enquanto Clary ficava vermelha como seus cabelos.
Jace sumiu como havia chegado, sem a ruiva notar. Logo ele apareceu no palco e começou a dançar uma música calma, sozinho. Os movimentos eram suaves e sensuais, cheios de segundas intenções; em meio a dança, ele retirou a jaqueta de moletom e depois a camisa, permanecendo somente com a calça preta. Clary imaginou que fosse ficar surda com os gritos, mas ela não se importava. Jace era o melhor dançarino e o homem mais bonito que ela já tinha visto na vida; Izzy já havia comentado inúmeras vezes de como ela estava vermelha e como ela olhava para Jace, mas nada disso importou quando, no final do número, ele veio até a bancada onde Clary e Izzy estavam, fez uma reverência e beijou a mão de Clary. Logo depois, ele se despediu do público e jogou a camisa para alguém.
– Meu... Deus. - "respira, Clary, respira, Clary, respira, pelo amor de Deus", ordenava a ruiva para o seu cérebro, mas a visão de Jace parecia ofuscar até a sua respiração.
– E agora, posso te chamar de cunhada?
– Onde eu assino mesmo? - ela disse em um suspiro e Izzy gargalhou.