Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 5
Premonição


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! ♥ Confesso que estava cruzando os dedos para chegar nesse capítulo, mas... ele não conseguiu ir até onde eu queria. Hahaha! Já estava enorme então outro ponto chave da fic será no próximo capítulo, além do crucial que teremos nesse! Confesso que tive uns apertos no meu coração enquanto escrevia e espero que estejam gostando de como está ficando!



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Premonição:

acontecimento que deve ser tomado como aviso; presságio, advertência.

 

O pânico estava estampado no rosto de Ja’far. Os olhos esverdeados refletiam o magi que sorria de orelha a orelha ao ver o conselheiro de Sindria prostrado. Judal o mantinha firme ao chão apoiando a sola de seu pé descalço na rabeira da flecha que atravessava a panturrilha de Ja’far. Empurrando-a de um lado para outro, o sacerdote do Império Kou fazia com que o alvo se debatesse ao sentir aquela ferida ser alargada com tanta violência. Ele fincava as unhas compridas à terra batida, como se fossem garras, como se quisesse fugir dali mesmo que isso significasse destruir por completo sua perna.

— Parece um animalzinho acuado. - Judal comentou, sarcástico. - Deixa eu te ajudar?

E retirando o pé de cima dali, o magi se inclinou para frente e agarrou o corpo daquela flecha. Ja’far arregalou os olhos e pensou em implorar para que Judal não fizesse aquilo, mas seu orgulho era maior. Não se permitiria.

Sem deixar aquele sorriso esmaecer, Judal o encarou antes de puxar aquele dardo, de uma só vez, com toda a sua força.

Ja’far sentiu novamente aquela lâmina rasgar sua pele, agora no sentido contrário do qual havia entrado ali. O alívio de se ver livre daquele objeto estranho em seu corpo se misturava com a dor lancinante que o fez urrar. Ja’far se contorcia no chão e aquela expressão de dor era puro deleite para o magi, que voltou a se erguer e arremessou a flecha naquele vale.

— Não se sente melhor agora? - o magi apoiou os punhos nos quadris. - Não vai me agradec...

Judal foi surpreendido quando uma das lâminas passou tão rente ao seu rosto que chegou a abrir um pequeno corte. Seu rápido reflexo fez com que desviasse a tempo - nem tanto - quando viu a expressão de fúria no rosto de Ja’far.

O conselheiro de Sindria mordia o lábio inferior a ponto de fazê-lo sangrar, tentando desviar a atenção da dor que sentia em sua perna enquanto sentia as longas vestes serem tomadas pelo escarlate que jorrava daquele ferimento.

— Ora, ora… - Judal tentava disfarçar a raiva enquanto usava o polegar para limpar aquele rastro que descia por seu rosto. - O franguinho ainda tem forças?

O conselheiro de Sindria tinha de reagir. Era a única coisa que ele podia ter em mente, já que estava bem claro que, se não o fizesse, morreria ali mesmo. Determinado como estava, mesmo com dificuldades ele se reergueu, equilibrando-se sobre a perna saudável e trazendo de volta para si a lâmina que havia arremessado em direção a Judal.

— Como fui patético acreditando em gente da sua laia… - Ja’far ofegava, ainda estava incrédulo com aquela abrupta susseção de fatos.

— Não esperava menos do brinquedinho do Sinbad. - o magi provocou. - Acreditava mesmo que Kouen estava fazendo um acordo de paz com Sindria?

O silêncio e a forma como Ja’far desviou o olhar, constrangido com sua própria ingenuidade, era o suficiente para servir de afirmativa. Ao constatar aquilo, Judal gargalhou o mais alto que pôde.

— Não acredito! - ele chegava a segurar a barriga exposta. - Você é muito tolo mesmo! Aliás, todos de Sindria! Vocês me dão pena e… nojo!

— Eu só… queria realizar o sonho do Sin… - Ja’far pareceu desabafar. - Mas pelo menos não conseguiram atraio para essa armadilha! Achavam que era ele quem vinha…

— Ai, ai… - Judal suspirou. - Quando digo que é um tolo...

Ja’far arqueou uma sobrancelha. O que Judal queria dizer com aquilo?

— Acha que não sabíamos sobre a reunião da Aliança? Por que acha que Kouen marcou assinarem este acordo justamente na época de um compromisso inadiável para o Sinbad? Sei que é um fracote, mas achava que não fosse tão burro!

Era como se um peso enorme desmoronasse sobre os ombros de Ja’far. Tomar conhecimento de que aquela trama era algo muito maior era… terrível. Pior ainda ter consciência de que, em momento algum, a partir de quando se viu bem tratado e estimado pelos príncipes daquele país, lhe passou pela mente a hipótese de tudo aquilo ser uma cilada. Mas…

— O alvo de Kouen sempre foi você, Ja’far. Ele sabia que você viria e justamente pelo seu idealismo em levar paz ao paiszinho patético do Sinbad.

— Não tem sentido o que você diz. - Ja’far estava atônito. - Por que Kouen me teria como alvo? Não sou ning…

— Corta essa, Ja’far! - Judal o interrompeu. - Todo mundo sabe que você é a mulherzinha do Sinbad!

As bochechas tão claras foram tomadas por um forte rubor ao ouvir aquelas palavras. Sempre tivera discrição com o que dizia respeito a sua relação com Sinbad, mas parece que não havia sido o suficiente. Não que se envergonhasse pelo fato de se relacionar com seu rei, mas justamente pela autoridade que Sinbad significava, temia manchar a reputação do soberano de Sindria.

— Cala a boca! - ele não podia permanecer calado.

— Acha que enganavam alguém? - o magi prosseguiu, o sorriso cínico em seu rosto sendo o suficiente para irritar ainda mais Ja’far. - Imagina quando o Sinbad souber que nós demos fim à doce esposinha dele! Vai vir correndo e se esquecer completamente de todas as regras idiotas que ele inventou que garantiam que ele não viesse nos invadir! - Ja’far balançava a cabeça negativamente, horrorizado ao ouvir todo aquele plano. - E claro, declarar guerra contra Kou vai colocar em risco os países da Aliança que, óbvio, ficarão contra ele!

— Como conseguem ser tão perversos?! - Ja’far vociferou.

— Não temos culpa de ser tão burro, franguinho. - Judal cruzou os braços e suspirou. - Acho que a culpa foi sua de ser tão ingênuo de vir para cá. Mas pense bem, ao menos aproveitou um bom tempo na companhia do Kouen e dos outros! - ele riu. - Mas agora...

Judal se viu interrompido pelo estalar da eletricidade que era conduzida por aqueles fios vermelhos. Mesmo sorrindo, balançou a cabeça negativamente o ao ver Ja’far segurar firmemente as lâminas em suas mãos, os olhos verdes refletindo as centelhas que faiscavam.

— Olha só…

E com um gesto natural , o magi fez a varinha aparecer em sua mão direita. Mesmo ao ver que seu oponente estava pronto para revidar, Ja’far não deu nenhum sinal de que recuaria. Nem mesmo a dor em sua perna ou a dormência que sentia devido àquele veneno eram o suficiente para pará-lo.

Estava decidido a enfrentar Judal. Ele sabia que mesmo com o poder que seu rei lhe fornecia, não tinha como vencê-lo. Mas poderia ganhar tempo, fugir. Afinal, podia ver, estando à margem daquele vale, que ali havia uma densa floresta. Poderia se esconder ali até a ajuda chegar. Até Sinbad chegar…

Como se culpava em pensar que havia caído naquela trama.

Poderia ser o fim de seu rei, de Sindria, de tudo.

— Está demorando demais.

E agitando a varinha, Judal fazia com que surgissem várias estacas de gelo ao seu redor. Suas pontas afiadas em direção ao alvo que não vacilou ao ver aqueles cristais surgindo.

Judal riu, divertido em ver que Ja’far não faria corpo mole. Talvez pudesse se divertir com ele mais do que pretendia. E assim sendo, com mais um movimento feito naquele artefato mágico, aquelas estacas se moveram, rapidamente, em direção ao conselheiro de Sindria.

Ja’far usou da perna saudável para ganhar impulso e saltar para sua esquerda. Rolou as costas pelo chão enquanto ouvia os estilhaços das estacas das quais conseguira desviar e se quebravam ao atingir o solo e as pedras ao redor daquela estrada. Então, ainda agachado, sem pensar duas vezes, lançou as duas lâminas. Porém, ele não esperava que ainda era alvo de alguns dos projéteis que Judal lançava, tendo conhecimento apenas quando sentiu o braço direito ser atingido por um deles, enquanto que outro tratou de fincar a ponta de suas vestes no chão.

Tsc, merda!

E enquanto uma das lâminas de Ja’far acertou o borg de Judal, graças à distração do alvo ao se ver atingido, o magi capturou a outra por sua linha, puxando-a firmemente.

Ja’far sentiu o corpo se chocar de frente ao chão. Parte de suas vestes foram se rasgando enquanto foi arrastado até o magi, que estava à beira daquele vale.

— Você não me diverte. É muito fraco. - Judal balançava a cabeça negativamente. - Já cansei.

Engolindo a seco, o conselheiro de Sindria tentou se reerguer. Mas já não tinha mais forças, sendo que aquele veneno o consumia e já ouvia bem distante a voz do magi. Os cantos de seu campo de visão eram cobertos por uma mancha escura.

Esforçava-se para se pôr de joelhos, a respiração estava acelerada quando sentiu aquela mão lhe agarrar firmemente pelo pescoço.

Ja’far tossiu, esperneando enquanto Judal, sem a menor dificuldade, o erguia.

Com a outra mão, o sacerdote ainda tinha a lâmina do conselheiro. Era a chance de Ja’far.

Um sorriso malicioso cruzou seus lábios e o magi se surpreendeu ao ver a luminosidade que irradiava daquelas linhas. Ja’far só tinha como murmurar enquanto era estrangulado por Judal.

Barara...

Não houve como terminar.

Judal desferiu um único chute na altura de seu estômago e o soltou. Atingira-o forte o suficiente para que seu corpo fosse lançado para trás e não tivesse onde pousar.

Ja’far viu seu fim diante de seus olhos ao ver Judal se afastar e, consequentemente, aquela estrada no alto daquela montanha.

Foi num reflexo desesperado que se agarrou à beira daquela rocha, quase descrente de que conseguiria se segurar. Ofegante, ele perguntava a si mesmo como ainda estava vivo. Suas pernas flutuavam enquanto seus dedos eram tudo o que o afastava da morte certa. Seu fim era certo se caísse do alto daquela montanha.

Mas agora só precisava se esforçar e subir, porém um impiedoso Judal pisou firmemente em sua mão.

Argh! Seu…

— Seu o quê, franguinho? - Judal provocava, esfregando a sola do pé sobre os dedos do conselheiro de Sindria. - Ainda tem forças para falar merda?

— J-Judal… - não havia como manter seu orgulho mais. - Você sabe que se eu morrer aqui, o Sin vai atás de você até o inferno…

— Ah, é?

Ja’far evitava olhar para baixo. A visão se perdia nas copas das árvores e pedras no caminho. Encarou o rosto do magi. Atrás dele já estava a lua cheia alta no céu. Já havia anoitecido.

Judal, então, se agachou sem tirar o pé de cima da mão do alvo e o encarou. Um largo sorriso emoldurava o rosto do jovem que era inconsequente o bastante para ser capaz de tudo, e o conselheiro de Sindria sabia muito bem disso.

— Pois diga a ele que estarei esperando lá!

E dando a devida resposta, Judal se reergueu e chutou, impiedosamente, a mão do alvo.

Foi naquele momento que o tempo subitamente parou, ao menos para Ja’far, quando ele se viu afastar daquela montanha, do sorridente Judal. A queda, implacável, extinguiu por completo o peso de seu corpo.

Não podia ser verdade. Não podia.

— Me prometa que vai voltar para Sindria, Ja’far.

Aqueles poucos segundos se tornaram minutos, horas, dias aos olhos do Ja’far. Mas todo o tempo do mundo não seria o suficiente para lhe salvar. Por mais que suas mãos tentassem se agarrar ao nada, conseguindo apenas serem cortadas pelas afiadas rochas, quando conseguia alcançá-las.

Ele não podia desistir. Por ele.

— SIN!

Ja’far gritou e sua voz, mesmo enfraquecida, ecoou por todo aquele vale.

Lembrava-se daquela expressão preocupada, inquieta, tão atípica de se ver no rosto de seu rei e que contrastava tanto com seu sorriso ao tentar acalmá-lo, confortá-lo.

Sin havia insistido tanto para que não fosse.

Tanto para que se cuidasse.

Tanto para que voltasse.

— Prometa que vai voltar bem, ok?

Apertou os olhos firmemente quando, repentinamente, sentiu sua queda ser bruscamente interrompida, sendo substituída por uma lancinante dor em seu braço direito.

Só então o conselheiro de SIndria olhou para cima, vendo seu braço, amarrado por aquelas linha vermelhas, sendo suspenso por aquela que havia ficado presa no galho de uma árvore.

Seria ótimo se o peso de seu corpo não estivesse fazendo as cordas se apertarem ainda mais. Sentia como se seu braço fosse ser arrancado.

Olhou para baixo e viu, além de seus pés, um riacho que se estendia por entre inúmeras rochas. Pensou em romper a linha que o sustentava, mas não tinha como cair ali ainda, já que estava a, aproximadamente, vinte metros do chão ainda.

— Já estou te esperando, Ja’far…

Não tinha tempo de pensar.

Voltava a olhar para cima e começava a ver seu braço ficar cada vez mais roxo entre os vãos daquelas grossas linhas. Precisava tentar se balançar para alcançar uma daquelas árvores, um galho que fosse para impedir que seu peso continuasse a dilacerar seu braço.

Mas se balançando uma, duas vezes, mesmo resistindo a dor, não conseguiu alcançar a árvore mais próxima que tinha como alvo. Porém, pôde ouvir nitidamente um galho se partir e, subitamente, sentiu o afrouxar das linhas em seu braço.

Não havia mais nada que cessasse sua queda.

Havia perdido, então.

Era seu fim.

Nunca mais veria seu rei.

— Volte, Ja’far!

— Sin...

Foram as últimas palavras que ele proferiu antes de sentir aquela dor atordoante em sua cabeça e seu corpo se chocando de uma vez só àquelas rochas.

O mundo de Ja’far girou, por mais que ele já estivesse no chão, antes da escuridão tomar tudo o que ele tinha.

Absolutamente tudo.

—---xxxxx----

O som estridente de inúmeros cacos que aquela taça de cristal havia se tornado ecoou por todo o salão. O rei Sinbad agora se apoiava em uma mesa, os olhos arregalados enquanto ofegava, extremamete pálido.

— Majestade!

— Sinbad-sama!

Aqueles que estavam ao seu redor se assustaram. Afinal, o rei de Sindria estava conversando sorridente e de forma tão animada quando, subitamente, pareceu ser tomado por um mal-estar.

— O que está acontecendo, Sinbad?

Quem perguntava era a rainha de Artemyra, que no momento estava ao lado do moreno. Preocupada, ao lado do rei de Sasan, Mira abanava com a mão aquele aliado de longa data.

Mas Sinbad não respondeu. Parecia distante quando Masrur e Yamuraiha se aproximaram.

— Sin-sama! - o fanalis o segurou pelos ombros.

— O que aconteceu? - a maga estava aflita.

— Estávamos conversando e parece que o Sinbad não se sentiu bem. - Darius explicou.

— O Ja’far… - as mãos dele tremiam. - Eu ouvi o Ja’far me chamar…

— Majestade... - Yamuraiha meneou a cabeça.

E enquanto todos estavam aflitos, logo os outros generais se aproximaram, nitidamente preocupados com seu rei, que permanecia extremamente atordoado.

— Confira se tinha algo na bebida do Sin, Yamuraiha. - Drakon a orientou.

— S-sim…

E enquanto a maga se afastava para cumprir a ordem de seu amigo, Masrur conduziu Sinbad até uma cadeira para que ele pudesse se sentar. Os olhos dourados estavam perdidos enquanto ele parecia tomado pela aflição. E aquela apatia parecia preocupar mais ainda todos que estavam ao redor do rei de Sindria.

— Eu ouvi o Ja’far! O Ja’far me chamou! - Sinbad ergueu o rosto para encarar seus generais. - Ele precisa de ajuda, eu sei! - ele insistiu.

Todos ali se entreolharam um tanto quanto confusos. Não sabiam como agir.

— Estava bebendo demais de novo, Sinbad? - Hinahoho cruzou os braços. - Ja'far disse para não encher a cara enquanto ele não estivesse fora!

— Não, ele estava bebendo a primeira taça de vinho agora. - Mira saiu em sua defesa. - O que está acontecendo?

— Nossa majestade está muito aflita desde que o Ja’far-san viajou para Kou… - foi a vez de Spartos falar.

— Kou? - o pai do cavaleiro indagou um tanto quanto surpreso.

— É uma surpresa que a majestade vai falar no fim do banquete de hoje. - explicou o ruivo. - Ou ia… - ele se corrigiu.

Darius decidiu não questionar mais, apesar de ter ficado curioso. Afinal, Sindria nem nenhum outro país pertencente à Aliança dos Sete Mares tinha relações com Kou, justamente pela política taxativa e invasiva daquele Império. O que Sinbad estava tramando?

— Está se sentindo melhor, majestade? - Sharrkan perguntava enquanto assistia seu rei terminar de beber um copo d’água.

— Sim… - ele assentiu. - Mas… eu juro que ouvi a voz do Ja’far. - Sinbad o encarou.

— Sin, Ja’far está a quilômetros de distância em Kou. - Hinahoho interviu. Ele estava sendo sensato expondo o óbvio.

— Não importa! Eu ouvi ele me chamar! - o moreno contestou.

— Não havia nada de errado na bebida da majestade. - Yamuraiha voltava a se aproximar.

— É claro que não! - Sinbad se levantou. - Estou falando a verdade! Ja’far me chamou e eu senti isso!

E diante daquela convicção de seu rei, os generais e os demais soberanos ao seu redor pareciam um tanto quanto assustados. Sinbad costumava ser uma pessoa equilibrada demais para ter um comportamento como aquele. Suas mãos tremiam e ele parecia desesperado. Estava nitidamente atordoado e seus amigos não sabiam como ajudá-lo.

— Ele… ele está com problemas, eu sinto isso… Yamuraiha, - ele se voltou à maga. - onde está o ítem mágico? Preciso falar com o Ja’far!

— Ma-majestade! Ja’far-san não partiria no final da tarde de hoje? Já deve estar em alto-mar.

— Eu preciso ao menos tentar falar com ele! - Sinbad rebateu rispidamente. - SERÁ QUE NÃO ENTENDEM QUE EU PRECISO FALAR COM O JA’FAR?! - ele perdia o pouco do controle que tentava manter.

— Sin-sama. - foi a vez de Masrur se aproximar. - Não acha que deve ir descansar?

— Eu não quero descansar, Masrur. - o moreno cruzou os braços. - O que quero é falar com Ja’far, mas vocês não entendem! Eu… tsc, eu sabia que ele não devia ter ido sozinho para Kou! - ele lamentou extremamente angustiado.

— Majestade, prometo que tentarei entrar em contato de alguma forma com o Ja’far-san. - Yamuraiha deu um passo a frente. - Mas, por favor, acalme-se. Está exausto e se preocupar assim só fará mal.

— Eles estão certos, Sinbad. - Mira cruzou os braços. - Nunca o vi assim. Parecia angustiado o dia todo e agora não está se divertindo ou bebendo. O que está acontecendo?

Sinbad suspirou, sentindo agora não apenas agora o peso da preocupação por Ja’far. Mas agora percebera que havia sido um péssimo anfitrião.

— Me.. me desculpem… Eu não gostaria de tê-los recebido mal assim, mas…

— Sinbad… - a loira pareceu preocupada.

Por mais que soubesse que todos queriam seu bem, a aflição que sentia o tirava de si. Seu peito doía, preenchido com uma angústia que lhe dava uma certeza terrível: Ja’far precisava dele.

Como se não tivesse ninguém mais ali, Sinbad afastou-se em passos largos. Os demais não o impediram, notando que seu rei precisava ficar sozinho, nem que fosse por pouco tempo. Mas tudo o que Sinbad queria, de verdade, era ir até Kou buscar Ja’far. Era a única maneira de se sentir tranquilo.

—---xxxxx----

O primeiro príncipe andava de um lado para o outro no salão principal do palácio. Parecia angustiado e aquilo não passou impune aos olhos de seu irmão mais novo, Ren Koumei.

— O que lhe preocupa, meu irmão e rei? - ele escondia metade do rosto com as plumas escuras de seu leque. - A essa hora Judal já deu fim àquele homem.

Kouen, ao ouvir aquelas palavras, cessou sua caminhada e encarou o chão. No que ele estava pensando? - Koumei se perguntava.

— Missão cumprida!

Judal adentrou o lugar, saltitando com os pés descalços sobre o carpete vermelho. Em sua mão estava o keffiyeh do conselheiro de Sindria. Era como se trouxesse a prova de que havia concluído seu trabalho de elimininá-lo.

— Onde ele está?

— Anh? - Judal contorceu o lábio. - No inferno? - ele ergueu os ombros.

— Estou falando sério! - Kouen parecia irritado e aquela veia saltada em sua testa constatava a hipótese de Judal.

— Não está satisfeito? Ele está morto! E nem tive muito trabalho. Acabou caindo do alto da montanha na estrada que o atacaram. Nem fui conferir, é ÓBVIO que ele não tem como sobreviver a uma queda daquelas!

E ao ouvir aquelas palavras, Kouen não respondeu nada. Apenas se dirigiu rapidamente para fora daquele salão, atraindo a atenção de Koumei e do sacerdote.

— Oe, meu irmão!

O mais jovem chamou, mas o primeiro príncipe só fez ignorar, prosseguindo seu caminho. Parecia determinado em seu objetivo, quaisquer que fosse.

— O que deu nele? - Judal apoiou os punhos nos quadris.

— N-não sei… Desde que a carruagem daquele homem saiu, meu irmão está estranho. Mas, com certeza, coisa boa não é. - constatou o ruivo.

Não demorou muito a chegar à estrada, identificando o lugar certo onde o assalto ao conselheiro de Sindria havia ocorrido. As carruagens ainda estavam lá e os corpos dos guardas do país inimigo permaneciam no chão.

A noite já havia caído e seria difícil encontrar Ja’far, Kouen constatou.

E ao refletir sobre aquilo, o primeiro príncipe questionava a si mesmo se havia enlouquecido. O que estava fazendo ali?

Desembainhando sua espada e deixando Astaroth tomar seu corpo, Kouen usou da habilidade de seu djinn para sobrevoar aquele vale. Uma pequena chama de esperança dentro de si o dava forças para prosseguir em uma busca que durou quase meia-hora.

Foi quando seus olhos foram ofuscados pelo reflexo do luar em algum objeto brilhante.

Piscando, ele seguiu aquele brilho e voou até a copa de uma das árvores, encontrando lá a lâmina que, sabia bem, pertencia a Ja’far. A linha vermelha que a suspendia estava amarrada a um dos galhos.

Tomando aquele objeto para si, Kouen constatou que ele não estaria longe e, de fato, precisou procurar apenas um pouco mais para avistar o corpo de Ja’far sobre uma das rochas próximas dali.

Uma aflição inexplicável tomou seu coração quando voou para perto do rapaz.

Assustou-se ao ver o longo rastro rubro que manchava os fios esbranquiçados e formava uma poça sob a cabeça do rapaz. As vestes estavam rasgadas e sujas, tingidas pelo mesmo vermelho que escorria das narinas e dos lábios do conselheiro de Sindria.

De fato, aquilo chocou Kouen. Sentia-se extremamente culpado. Mas por quê? Não havia atraído Ja’far até ali justamente para eliminá-lo e atrair Sinbad para Kou?

E sem ter noção do que sentia e de como aquilo estava, subitamente, entrando em conflito com suas tão fortes convicções, ele tinha certeza de que havia chegado tarde demais.

Foi quando levou as costas da mão até a altura do rosto de Ja’far e sentiu a fraca respiração que ainda existia ali.

Os olhos rubros se arregalaram. Como ele ainda estava vivo?

—---xxxxx----

Quem estava aflito naquele momento era Koumei, preocupado com o paradeiro de seu irmão. Onde ele estava até aquela hora? Onde tinha ido?

Judal estava deitado sobre um amontoado de almofadas enquanto comia alguns pêssegos. Como sempre, parecia despreocupado e indiferente à preocupação estampada no rosto de Kouha e de Koumei.

Uma forte tempestade era anunciada pelos trovões que iluminavam os céus. E assim que as portas duplas se abriram, a ventania tratou de extinguir as chamas de alguns candelabros. Não o suficiente para que os irmãos mais novos, junto de Judal e os demais criados, não pudessem ver Ren Kouen adentrar o palácio trazendo um desacordado e ferido Ja’far em seus braços.

— En-nii! - Kouha exclamou, confuso com aquela cena.

— Quero que tratem imediatamente dos ferimentos dele! - Kouen exclamou de forma imperativa para os criados. - Ponham-no em uma cela segura e cuidem dele! Se deixarem que ele morra, eu, pessoalmente, os matarei! - ameaçou.

Koumei nada disse, apenas observando enquanto Kouen entregava o conselheiro para os demais servos que recebiam suas ordens e corriam para cumpri-las.

Já Judal havia se levantado e estava completamente atônito. O que significava aquilo?

Assim que os servos se retiraram levando o conselheiro de Sindria, Kouen se viu alvo dos olhares de seus irmãos mais novos e do magi. Suspirou enquanto encarava as próprias mãos ensanguentadas.

— Meu irmão e rei, - Koumei deu um passo a frente. - sei que não tenho o direito de me intrometer, mas… O que signfiica isso?

— Como esse magrelo sobreviveu?! - Judal estava indignado. - Não era para matá-lo? Você está o trazendo para ser cuidado aqui, Kouen?! - o sacerdote cruzou os braços.

— Eu finalmente entendi o que quero. - Kouen respondeu sem encará-los. - Eu não quero apenas destruir o que Sinbad tem…  - os olhos avermelhados brilhavam, ele sorria com bastante determinação. - O que eu quero é tomar para mim o que o Sinbad tem de precioso! Não posso permitir que ele morra, porque o Ja’far... vai ser meu!


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Notas finais do capítulo

Então, pessoal... Eu sei, eu sei, vocês querem me linchar junto com o Kouen! Eu tinha avisado que o alvo de sofrimento da vez era o Sin, não é? Hahaha!

Eu adorei trabalhar nesse capítulo com personagens que nunca tive oportunidade e adoro, como a Mira e o Darius. Pena que foi uma 'figuração'? Hahah! Espero ter oportunidade de trabalhar mais com eles!

As frases do Sin, para quem não percebeu, foram tiradas da despedida que aconteceu no prólogo. Quando escrevi o prólogo, eu já tinha essa intenção, mas foi bastante doloroso escrever isso (???). Por isso o nome do capítulo: Premonição.

Eu espero que estejam gostando!

Muito obrigada por lerem, pessoal! E como sempre, mandem comentários, críticas, elogios! Tudo o que vocês dizem faz muito bem e me inspira muito a escrever mais! ♥



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