Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 41
Ultimato


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Peço imensas desculpas pela demora em postar! Eu tenho estado bastante ocupada.
Muito obrigada a todos que continuam acompanhando esta LONGA história!
Este é nosso PENÚLTIMO capítulo!
Quando comecei eu não pensava que seria tão grande, mas tudo vai saindo do controle e esses personagens têm vida própria! Remember Me vai deixar saudade para mim, espero que em vocês também!
Tentarei postar o último capítulo em breve! ♥



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 Não podia acreditar que estava cara a cara com ele

 Depois de passar por tantas coisas, a amnésia, toda confusão e revolta em Sindria, a ida a Balbadd, a violência por parte de Kouen… Será que finalmente havia perdido a sanidade?

 Mas o que seus olhos refletiam parecia mais que real. Apesar de ele estar contra a porta, consequentemente de costas para a sacada do palácio, fazendo com que a luminosidade fosse bloqueada por sua figura, Ja’far não tinha dúvidas. Os longos fios púrpura, aquela pele morena, as vestes alvas e impecáveis alinhadas naquele corpo alto e bem feito… Era Sinbad. 

 Mas os olhos dourados não lembravam o par que habitualmente adornava o rosto perfeito de seu rei. Eles lembravam mais os olhos de quem havia perdido tudo na tragédia de tantos anos atrás, em Parthevia. Aquela havia sido a única vez em que Ja’far viu Sinbad com um olhar tão triste, vazio, ao mesmo tempo que tomado pela fúria. 

 Ja’far tentou balbuciar o nome de seu rei, apesar de se sentir sem forças. Estava atônito. Mas assim que murmurou a primeira consoante, sentiu o braço machucado ser puxado com força. 

 Ele gritou pela dor ao mesmo tempo em que tropeçou até o ruivo. 

— JA’FAR! - Sinbad exclamou vendo a pele clara maculada pelas marcas roxas que Kouen apertava firmemente. - Solte-o agora! - ordenou ao erguer o rosto para encarar o Imperador.

— Você não está em posição de exigir nada!

— Eu vim buscar o Ja’far!

— Buscar? - retrucou Kouen. - Que eu saiba Ja’far veio a Balbaad por conta própria após tê-lo convi-

— VOCÊ O AMEAÇOU! - Sinbad o interrompeu cuspindo as palavras. - Coagiu Ja’far para que ele viesse ao seu encontro! Ja’far! - o moreno o fitou, era hora de confrontá-lo. - Você se lembrou de tudo e entendeu que esse miserável o enganou, não é? 

 O ex-conselheiro de Sindria apenas balançou a cabeça positivamente. Aquele mero gesto foi o suficiente para que Kouen apertasse mais seu braço - e de propósito, sabia que estava ferido. Ja’far já não aguentava mais a dor, deixou os joelhos caírem no chão enquanto o ruivo ainda o mantinha em seu encalço. 

— NÃO ESTÁ VENDO QUE ESTÁ MACHUCANDO ELE?! - era demais para o rei de Sindria. - Que tipo de monstro você é?!

— Ele precisa aprender o que é certo e o que é errado! Confuso como está, precisa que eu seja rígido com ele! Aceite os fatos, Sinbad: O JA’FAR ME AMA!

— NÃO! 

 Ja’far reuniu o que sobrava de suas forças. Tentou se soltar, mas não obteve sucesso. Aos pés do ruivo ele ergueu o rosto para encará-lo. 

— Eu te odeio, Kouen… - ele sussurrou, apesar de desejar gritar. As lágrimas que transbordavam de seus olhos demonstravam o que sua voz não conseguia. - Você… Me usou. E por mais que eu tenha vindo pra cá… Para que não atacasse Sindria, propondo ficar com você… Você continuou me ameaçando… Me agredindo… EU TE ODEIO!

— SEU…!!!

 Não era possível! Tinha certeza de que conseguiria tirar de Sinbad aquilo que ele mais amava. Kouen se surpreendia com seus próprios sentimentos, já que a rejeição de Ja’far doía fisicamente, em seu peito. E tomado pela fúria, Kouen não teve outra reação. Tão acostumado a domar o alvo pela agressão, erguei seu punho livre para acertá-lo. 

— Não se atreva!

 Tudo foi muito rápido, até mesmo para o primeiro príncipe de Kou. Congelando seus movimentos, Kouen apenas moveu os olhos para baixo para encontrar a ponta da lâmina da espada de Sinbad a poucos centímetros de distância de seu pescoço. Com o punho cerrado flutuando no ar fitou, ainda sem se mover, um confiante e sério Sinbad.

— Solte-o, agora! - o moreno disse, ou melhor, ordenou entredentes. 

 Até mesmo Ja’far prendia sua respiração. Ele não sabia se esperava o golpe que receberia de Kouen, ou se veria a cabeça do ruivo voando pelos ares.

 Um sorriso repleto de malícia cruzou os lábios de Kouen. Sinbad franziu o cenho, receoso, quando o calor e o fogo apareceram. Ele pulou para trás quando as chamas subitamente cobriram o corpo de Kouen, que tomava a forma de seu djinn, Astaroth. Mas o que lhe surpreendeu mesmo foi o grito de Ja’far, que ecoou por todo o quarto.

— JA’FAR!

 Kouen não havia soltado Ja’far enquanto as chamas rodearam seu corpo. O alvo sentia seu braço, já quebrado, agora arder. A longa manga do hanfu que o cobria derreteu e o que sobrou do tecido permaneceu ali, grudado em sua pele, agora avermelhada. Ja’far se contorcia com a dor enquanto o ruivo se negava a soltá-lo. 

— SEU…!!!

 Era demais para Sinbad. Já brandindo o receptáculo de seu djinn, ele foi tomado por Baal. Sem pestanejar o rei avançou, fazendo com que Kouen, finalmente, fosse obrigado a soltar o ex-conselheiro de Sindria.

 Ja’far urrava com a dor. Como Kouen havia sido capaz? Ele tentava recuperar o fôlego, a mão saudável buscando o nada tateando o chão enquanto os olhos verdes arregalados não conseguiam enxergar nada. Tanta dor. Sentia que não ia aguentar. Será que ia morrer?

  Não… Ele sentia como… se sentiu daquela vez, há tantos anos. Seu coração acelerado parecia que ia explodir dentro de seu peito e, se esforçando um pouco, erguendo o queixo do chão ele pôde enxergar, mesmo que desfocada, a sua mão… coberta de escamas azuis? Ele sabia bem o que aquilo significava.

— Na-não…

— JA’FAR! 

 Sinbad se ajoelhou rapidamente, segurando-o. Não teve cuidado algum, mas era uma emergência maior do que qualquer coisa. E céus, como ele estava magro! - pensou assim que o teve em seus braços. Conhecia bem o corpo de Ja’far e ele sempre foi magro, mas não tanto. Mas aquilo não importava agora e sim aqueles sinais que já apareciam até mesmo no rosto daquele que começava a ser tomado pela assimilação, assim como pelo seu desespero.

— Por favor! Fique calmo, Ja’far! Precisa se controlar! 

 O rei de Sindria tentava esconder que estava em pânico também. Não podia permitir que Ja’far assimilasse completamente, ao mesmo tempo em que pensava que a regeneração ajudaria a curar a ferida no braço queimado, que aliás estava em frangalhos.

— KOUEN! - era o último recurso, não havia orgulho se a vida de Ja’far estava em jogo. Estava desesperado. - Use Phenex para curar Ja’far! Se curá-lo ele vai se acalmar e parar a assimilação!!!

— Hunf. - o ruivo abriu um largo sorriso. - Se ele assimilar você o jogará fora, Sinbad?! Se virar um monstro, uma aberração!? É esse o seu amor?!

 O moreno não podia acreditar na frieza de Kouen. 

— Você é asqueroso! Não vê que ele está sofrendo?! Por sua culpa! Se o ama mes-

— Argh… Si… Siiin...

 Sinbad foi interrompido ao ouvir o sôfrego clamor do alvo. A mão que estava quase completamente coberta pelas escamas azuis puxou as vestes brancas. 

— Não… 

 Mesmo com tanta dor e desespero, Ja’far praticamente implorava. Não queria ver Sinbad se humilhando para Kouen. Não. Que fosse seu fim. Afinal, acreditava merecer. Fez seu rei sofrer tanto!

— Não se esforce! - suplicou. - Por favor, Ja’fa-

 Antes que Sinbad pudesse segurar sua mão, ela deslizou, pousando no peito do alvo. O moreno se assustou, rapidamente fitando o rosto agora desacordado de Ja’far. As escamas haviam desaparecido completamente.

 O moreno suspirou aliviado antes de deitar cuidadosamente seu amado no chão. 

 Era o melhor que havia acontecido. Ja’far não precisava presenciar sua luta e consequente assassinato de Kouen. 

 Sinbad se levantou, encarando o ruivo que permanecia inabalável. 

— Não se importa nem um pouco com Ja’far. - pontuou.

— O Ja’far que ama você, Sinbad, não me interessa nem um pouco. - Kouen cruzou os braços sem soltar a espada. - O meu Ja’far me ama incondicionalmente. Quem sabe, com mais umas pancadas na cabeça, ele volte a lembrar que me ama e posso ajudá-lo. 

— Você nunca mereceu Ja’far, Kouen!

— Me responda: doeu todas as vezes que ele disse que te odiava? Ja’far entendeu que era apenas usado por você e que o lugar dele… era ao meu lado. E sabe por que ele voltou? - Sinbad apertava com mais força o punho de sua espada ao ouvir o ruivo. - Porque… Não sei se você percebeu, mas Ja’far e eu vamos nos casar hoje. Você nunca o assumiu, Sinbad. Enquanto se deitava com mulheres todos os dias, usando ele volta e meia, ele entendeu que eu poderia valorizá-lo mais…

— Isso não é verdade!!! - retrucou.

— É sim, e você sabe.

— Eu ia pedir Ja’far em casamento… assim que ele voltasse de Kou. Mas ele não voltou porque você tramou essa armadilha e, desde então, transformou nossas vidas em um inferno!

— Esse era meu objetivo desde o início. - Kouen foi claro. - Ainda não entendeu? Queria atingi-lo onde mais doía. Descobri seu ponto fraco. E, eventualmente, nos apaixonamos. Ah, Sinbad… Nunca vai saber quantas vezes desfrutei do corpo de seu querido conselheiro.

— CALE A BOCA! - era demais para Sinbad, ouvir e imaginar Ja’far nos braços do primeiro príncipe.

— De início confesso que tive nojo. Um plebeu… Mas você o educou muito bem. Por isso decidi fazê-lo minha imperatriz!

— JÁ CHEGA!!!!

 Tomado pela fúria, Sinbad avançou em direção a Kouen. Mas tão rápido quanto o rei de Sindria, Kouen voou para fora usando janela, sendo seguido por seu oponente. Ele teve de ser rápido para conter o ataque de Sinbad. 

 As lâminas das espadas, cruzadas, faiscavam eletricidade e fogo que cintilava nos olhos de cada um. Mas aumentando a intensidade daquela investida, as chamas subiram preenchendo toda a lâmina de Astaroth, novamente obrigando Sinbad a recuar. Mas antes que ele pudesse se afastar, mesmo com os dois em pleno ar, Kouen lhe deu uma rasteira, fazendo com que Sinbad se desequilibrasse. O breve deslize foi o suficiente para que o ruivo lhe acertasse na boca do estômago. 

 Perdendo o fôlego ao sentir a dor atravessar seu dorso, ele rapidamente se recompôs para, agitando a espada de Baal, acertar de raspão o braço direito de Kouen. 

— Tsc, como ousa?

 Nitidamente irritado meramente ao ver o sangue escorrer por seu braço, Kouen estalou a língua e, ambidestro como era, trocou a mão que segurava a espada. Como um plebeu, que considerava inferior, como Sinbad, ousava feri-lo? Pior: fazer seu sangue derramar.

 Não era o suficiente. Sinbad partiu para uma nova investida, mas o ruivo conseguiu esquivar. As chamas de Astaroth incineraram uma longa mecha dos cabelos de Sinbad, que agora estavam azulados após assumir a forma de seu djinn. Porém a leve distração foi o suficiente para que Kouen novamente o acertasse, agora com um soco em seu rosto. 

 O moreno mal conseguiu sentir o sangue quente escorrer do nariz e lábios, pois a lâmina ardente de Astaroth surgiu em sua direção. Ele desviou por pouco. Um golpe daquele verdadeiro bastão de fogo seria fatal. Precisava se afastar e se concentrar para utilizar a técnica de Baal. Então voou rapidamente até o topo de uma das torres do palácio e segurou a espada com as duas mãos, cerrando os olhos. 

 Não haveria tempo. Kouen voou com tudo tendo Sinbad como seu alvo. O sorriso de vitória estampado em seu rosto.

— Acha que vou esperar que use seus truques?!

 Sinbad permaneceu impassível até a espada de Kouen estar a menos de um metro de distância de acertá-lo. Foi quando ele abriu os olhos e, ao invés dos relâmpagos que cintilavam por entre as nuvens atacarem o ruivo, como Kouen presumia que fosse acontecer, Sinbad simplesmente atacou de uma vez só o príncipe, este que estava com as defesas todas abertas. 

 Havia enganado o príncipe. A lâmina de Baal cortou o braço de Kouen de fora a fora na altura do bíceps. A lâmina banhada em chamas voou longe agarrada ao braço amputado do príncipe que urrou, rolando pelo chão ao sentir o sangue jorrar por aquele imenso ferimento.

— Aaaah seu… Seu desgraçado! - exclamou Kouen. - Como… Como ousa?!?!

— Isso é pelo braço do Ja’far. - Sinbad estava determinado, sério. - Você tirou de mim o que me é mais precioso e ainda ameaça meu país, meu povo. Eu prometi há muitos anos que jamais vou voltar a perder o que amo!

— Argh… Seu…

— Já chega, Kouen! 

 Relâmpagos preenchiam os céus, que subitamente ficaram cobertos de nuvens escuras e carregadas. As escamas azuladas que seguravam a espada centelhavam, assim como sua lâmina. 

 O ruivo apenas se rastejou, de forma desajeitada, para trás. Foi quando sentiu as costas se chocarem com o muro de proteção. Era o fim da linha.

— Nada vai mudar a verdade, Sinbad! - ele forçou um riso enquanto segurava o que sobrara de seu braço, como se fosse capaz de conter o sangramento. - Eu venci!

— Você está louco. - Sinbad falou calmamente antes de brandir a espada. - Acabou!

— NÃO!!!!!

 Por entre os rugidos das trovoadas que anunciavam a tempestade que viria, a voz de Ja’far ecoou. Como ele havia chegado até ali? - Sinbad se preocupou ao ver o alvo tropeçando nos próprios passos ao se colocar entre Kouen e ele.

— Ja’f-

— Por favor, Sin! - a voz de Ja’far estava embargada ao interromper seu rei. - Não mate o Kouen! Apesar de tudo… Não quero que manche suas mãos e... 

 Sinbad suspirou. Não conseguia esconder a desolação em seu rosto ao desviar o olhar.

— Você se afeiçoou a ele. - o rei de Sindria completou.

 O ex-conselheiro não teve coragem de assumir. Mas, por cima do ombro ele encarou o derrotado Kouen. Como negaria que, todos aqueles meses ao lado do príncipe não haviam sido o suficiente para conhecer um outro lado? Um lado que poderia ser o verdadeiro de Kouen, atrapalhado por sentimentos tão confusos? Kouen tinha um lado bom e Ja’far estava certo disso. E a última coisa que queria era que Sinbad fosse seu assassino, além do que… Sentiria-se eternamente responsável pela morte de En, melhor, Kouen. Não podia esquecer os momentos bons que teve com o príncipe. Por mais que suas intenções tivessem sido ruins…

— En… - Ja’far se virou de frente para o ruivo. - No fundo… você é aquela boa pessoa que tantas vezes se preocupou comigo, não? Que… me defendeu do seu irmão.

— Ja’far, o que está dizendo?! - Sinbad não tinha estômago para aguentar assistir aquilo. - Ele se negou a curá-lo! Olhe seu…

— EN! - o alvo exigia respostas e essas não viriam de Sinbad, que decidiu se calar.

 Um pequeno brilho de esperança surgiu nos olhos de Kouen. Ele abriu um sorriso.

— É claro que sim, meu amor! - declarou. - Você sabe… O quanto você queria ser valorizado pelo Sinbad e eu… eu te valorizei! 

 Sinbad balançou a cabeça negativamente, enquanto Ja’far deu um passo para trás.

— Na-Não… Eu amo o Sin! Mas… eu sei que você é uma boa pessoa e podemos esquecer tudo isso. Por favor… Nos deixe em paz. Eu imploro! Não quero que se machuquem… mais. - ele fitou o que restava do braço do ruivo.

 Kouen suspirou. Estava derrotado, ele sabia. 

 Mordendo o lábio inferior, ele entreolhou Sinbad antes de encarar Ja’far.

— Está disposto a me perdoar depois de tudo?

— Claro que sim! 

 Um sorriso apareceu nos lábios do alvo e Kouen correspondeu a reação. 

— Posso… - o príncipe voltou a fitar Sinbad. - lhe dar um último abraço?

— NÃO. - Sinbad foi categórico ao dar um passo à frente.

— Sin! - Ja’far estava indignado. - Por favor!

 Era um pedido inaceitável, além de extremamente perigoso. Mas Ja’far… havia se tornado alguém independente e ordená-lo agora, mesmo que fosse como seu rei, a autoridade que era, parecia algo tão vazio… Aqueles meses haviam provado a Sinbad o que talvez lhe doía mais e voltava, anos depois, a atormentá-lo: ele não tinha controle de nada. Ja’far não era sua propriedade. Naquele momento não era nem mesmo seu subordinado, ou seu amante - claro, não fora capaz de assumi-lo nem da pior forma. - ele refletia. O melhor a fazer… era confiar.

— Tudo bem. Eu… Você é quem sabe, Ja’far. 

 Apesar de concordar, era nítido que estava desagradado. 

 Ja’far sorriu com resignação. Sabia o quão difícil era para seu rei.

 Três passos eram o suficiente para que chegasse até aquele sorridente e arrependido Kouen. Ja’far queria acreditar que aquele lado bom que descobriu em Kouen pudesse florescer para sempre.

 Mas assim que o alvo se aproximou, Kouen o puxou com o único braço que lhe restava. Agarrou-lhe pelo pescoço com violência, usando-o de escudo. 

— E-EN!!! - Ja’far não podia acreditar.

— SEU MISERÁVEL!

 Assim que Sinbad fez menção de dar o primeiro passo, Kouen ameaçou jogar Ja’far do alto da torre.

— Mais um passo e o mato! - avisou. - Seus idiotas ingênuos! Vá embora, Sinbad! Nosso acordo está feito! Mas Ja’far fica aqui comigo!

— JAMAIS! - Sinbad disse entredentes.

— Então era mentira… - sussurrou o alvo que estava nas pontas de seus pés sendo praticamente enforcado pelo príncipe. - Tudo era mentira, En…

— Não! Eu te amo, Ja’far! Mas…

— ERA MENTIRA, EN?! - repetiu Ja’far, os olhos verdes que pareciam os de uma cobra assustaram Kouen.

— Temos que nos livrar do Sinb…

— BARARAQ SEI! 

 Tanto Kouen quanto Sinbad se surpreenderam ao ver as centelhas de eletricidade envolverem ambos. Kouen gritou ao ser eletrocutado enquanto que o rei de Sindria ficava impressionado. Nunca havia visto o poder do receptáculo de Ja’far se manifestar tão forte. 

— Ja… Ja’far… Eu te amei.

 Foram as últimas palavras que o ruivo sussurrou antes de, cambaleando, tropeçar na mureta, caindo assim do alto da torre. E quem diria que sua última visão seria o rosto de Ja’far tomado pelo ódio e pela decepção.

— JA’FAR!!!!

 Sinbad correu até seu conselheiro, mas só houve tempo de segurá-lo antes que seu corpo fosse de encontro ao chão. Sob a manga que lhe sobrara do hanfu deslizaram as linhas vermelhas de suas lâminas amarradas ao braço saudável, agora marcado pela força aplicada àquela técnica. Sinbad não pôde deixar de notar as unhas de seu conselheiro, que estavam pintadas de vermelho. Kouen havia lhe transformado em uma mulher contra sua vontade. Impressionado, ele fitou o braço queimado, que estava completamente roxo, voltando a encarar o rosto pálido e enfraquecido. Como permitira que Ja’far fosse tão maltratado?

— Acabou, meu amor! Acabou! 

 O rei de Sindria afastou os fios esbranquiçados e selou um carinhoso beijo na fronte de Ja’far.

— Majestade!

 Sinbad ouviu os passos acelerados que se aproximavam. A sombra do gigante de Immuchak se projetou sobre o rei e o alvo. Junto dele vinha Sharrkan e Yamuraiha logo atrás. Os três logo se assustaram.

— Ja’far-san! - Yamuraiha exclamou, descendo de seu báculo, de onde vinha flutuando.

— COMO O JA’FAR ESTÁ?! - Hinahoho indagou aflito, afinal, tinha Ja’far como um filho. - O que aquele miserável fez com ele?!

— Yamu! - Sinbad foi rápido, deitando a cabeça de Ja’far em suas pernas. - Por favor!

— Claro, majestade! - ela prontamente se ajoelhou ao lado de ambos para atendê-lo.

— Onde está aquele miserável?! - Hinahoho insistiu.

— Kouen está morto. - Sinbad foi direto. O robusto general arregalou os olhos.

— Você…!!!

— Não. - o moreno balançou a cabeça.

 Atônito, Hinahoho não podia acreditar ao fitar aquele rapaz tão doce, mas que conheceu como um assassino, ainda criança. Depois de tudo o que havia acontecido entre Kouen e ele…

— Qual a situação no palácio? - Sinbad encarou Sharrkan.

— Tudo sob controle. - o príncipe de Heliohapt deu um passo a frente. - Drakon está verificando com as tropas se há alguém do exército de Kou tentando se rebelar ainda. Todos do exército de Balbaad agradeceram quando nos viram chegar aqui, cansados dessa palhaçada de serem colônia desses miseráveis!

— Espero que… O Rei Rashid esteja feliz por termos libertado Balbadd também. - Sinbad comentou sem tirar os olhos de Ja’far.

— Só uma coisa: não encontramos em lugar nenhum o príncipe Koumei. Os criados disseram que ele estava aqui. - Hinahoho adicionou.

— Deve ter fugido, aquele covarde! - Sharrkan cruzou os braços.

— O que importa é voltarmos logo para casa. Entrarei em contato com Alibaba sobre a situação daqui. E então, Yamu? - Sinbad estava inquieto.

— Já o estabilizei e ele está fora de perigo, majestade. Mas ele precisa de muitos cuidados. Sinceramente, esse braço do Ja’far-san me preocupa muito e ele está muito debilitado. A recuperação vai ser demorada.

— O que importa é que tudo isso acabou e Ja’far… vai voltar para casa. - Sinbad suspirou, permitindo que um pequeno sorriso aparecesse em seus lábios. - E ninguém mais vai fazer mal a ele.

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 A forte tempestade castigava o litoral de Balbaad. O anoitecer trouxe nuvens pesadas e uma chuva torrencial. As folhas das palmeiras, açoitadas pelo vento, formavam uma melodia junto do mar agitado.

 Do outro lado da baía mais próxima ao castelo, o corpo do primeiro príncipe de Kou era arrastado pela areia. As mãos firmes o puxavam da costa até onde as ondas pudessem encostar apenas nos pés de um desacordado Kouen. 

 Koumei afastou as mechas ruivas grudadas naquele rosto e, curvando-se, conferiu se seu irmão respirava. Havia tido trabalho escapando do ataque ao palácio e, determinado, salvando seu irmão que, literalmente, estava perdido ferido em alto-mar. 

 Não demorou para que abrisse um largo sorriso ao ter certeza de que havia sucedido.

 Kouen estava vivo!


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Notas finais do capítulo

Gente, eu estou tão cansada FISICAMENTE MESMO depois de escrever esse capítulo! Haha!
Para quem não sabe, eu odeio escrever cenas de luta, não me sinto muito preparada, apesar de gostar muito de filmes de luta haha! Mas essa cena, esse capítulo, é algo que desde que comecei a escrever sabia que aconteceria.
Nesse capítulo volto a mencionar alguns fatos de Sinbad no Bouken, como a guerra de Parthevia e a assimilação do Ja'far. Vocês já notaram que eu amo pincelar isso, né? Deve ter sido porque foi super dramático e teve muito hit sinja no manga haha!
Se surpreenderam com o fato de não ter sido o Sin a dar um fim ao Kouen? Ou melhor: não deram fim ao Kouen? Ou será que sim?
Tudo explicado na conclusão no próximo e ÚLTIMO CAPÍTULO!
Leiam, por favor! ♥
Muito obrigada a todos que leram, comentaram, favoritaram até aqui!!!! ♥



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