Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 29
O Começo do Fim II


Notas iniciais do capítulo

Gente, como eu enrolei esse capítulo porque... tem tanta tensão nele e eu planejei tanto esse momento! Desde o começo da fic, aliás, mas agora que chegamos a ele eu fiquei: MEU DEUS!!!! Espero que gostem! ♥



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O rei de Sindria, estarrecido ao ouvir aquela notícia, levantou-se de imediato ao encarar seu conselheiro. Ja’far parecia bastante assustado também. O par verde estava enorme, incapaz de piscar, enquanto ele pareceu se retrair.

Ambos estavam sem ação. Encaravam-se deixando secar os lábios entreabertos, os quais eram incapazes de deixar escapar uma palavra sequer.

— Temos que esconder o Ja’far-san! - a voz de Sharrkan os arrancou daquela imobilidade.

— Verdade! - a maga, em um momento raro, concordou com o príncipe de Heliohapt. - Podemos escondê-lo no meu laborató…

— Ninguém vai se esconder! - Sinbad a interrompeu, ainda sem tirar Ja’far de vista.

Os dedos do alvo se fecharam apertando o tecido suave que cobria seus joelhos. Como eles tremiam! Muito mais ao ver o rei dar dois passos à frente.

Ja’far ergueu o rosto para encarar o homem de pé, parado diante de si, enquanto que Sinbad engoliu a seco. Como diria aquilo? Teria coragem?

Mas como ousaria continuar chamando o passarinho, que tanto amava, de seu, somente seu, se ao abrir sua gaiola, ele fugiria? Será que havia coragem para abrir aquela portinhola e ver quem tanto estimava fugir para a liberdade? Para um novo dono? Para quem havia, com um alçapão, o capturado e o cuidado com tanto carinho que, outrora um dia, tal passarinho se esquecera do dono anterior? Mas como aquele que tanto estimava continuaria a ser chamado de seu se ele mesmo não desejava pertencê-lo?

Seu coração falhou uma batida. Sinbad sentia como se ele fosse escapar pela boca. Mas… precisava ser prudente. Ele amava Ja’far mais do que qualquer coisa no mundo e… não podia obrigá-lo a ficar preso nas grades de seu coração - não se ele não quisesse.

— Ja’far… - ele respirou fundo. - Você quer ver o Kouen?

Para a surpresa de Sinbad, seu conselheiro franziu o cenho.

Em sua expressão havia um misto de indignação com… decepção.

Ora, por que não havia ordenado que, imediatamente, fosse trancado e impossibilitado de ver o príncipe do Império Kou? Por que não o abraçou, com todas as suas forças e implorou para que não fosse embora? Por que não o negou qualquer opção? Por quê?! Por quê ele era um homem tão bondoso a ponto de lhe dar a escolha de perdê-lo para sempre?

Afinal, tudo o que Ja’far queria era que Sin não lhe permitisse vê-lo. Ele teria uma razão para odiá-lo, mas privado de ver Kouen não sentiria seu coração balançar tanto quanto estava naquele momento. Quando visse o príncipe, como resistiria? Ele ansiava por ver o ruivo. E ao mesmo tempo em que o medo lhe invadiu, a ânsia e o forte desejo de reencontrá-lo entraram em um feroz confronto dentro de seu coração.

Ja’far tremia sem saber o que responder enquanto era alvo dos olhares dos generais e… do rei. Sinbad estava bastante aflito à espera de sua resposta.

— E… Eu… - ele começou, ofegante, enquanto levava as mãos às maçãs do rosto. Estava à beira de um colapso nervoso. - Eu não sei! - Ja’far confessou ao encarar o moreno. - Não quero deixar Sindria!

Foi impossível Sinbad impedir que aquele sorriso escapasse de seus lábios. O alívio imediato o fez se aproximar para se ajoelhar e abraçar firmemente seu conselheiro. Como aquele corpo pequeno tremia! - ele pensou ao senti-lo entre seus braços.

— Mas eu… eu também não posso deixar o En… Ele me ajudou, depois de tudo!

— Ja’far… - Sinbad se afastou brevemente, afagando o rosto pálido de seu amado. - Kouen tramou sua própria morte. Eu não sei porque ele decidiu ajudá-lo depois de tudo, mas… - ele pausou para suspirar. - junto do Judal, o magi do Império Kou, eles tentaram matar você!

— Ele… podia estar confuso. - Ja’far parecia bastante atordoado. - Eu também tentei matar você, Sin… E você me perdoou. Por que não posso perdoar o En também?!

Ja’far conseguiu deixar Sinbad sem resposta. Ele estava completamente correto. Ja’far, inclusive, já tinha perdoado demais suas atitudes impensadas. - Ah, o rei de Sindria jamais conseguiria apagar aquele terrível feito de suas lembranças.

Levantando-se, Sinbad tentou manter a calma diante dos questionamentos de seu conselheiro, que eram completamente naturais.

— Eu não pretendo perdoar o Kouen pelo o que ele o fez, Ja’far.

— Ele não te fez nada! - o alvo se levantou ao exclamar. - Se ele fez algo contra alguém, foi contra mim e eu o perdoei! Não quero que nutra ódio por ele! Ou está pensando em enfrentá-lo?!

— ELE ME TIROU VOCÊ! - retrucou Sinbad. - Como pode dizer que ele não fez nada?! Eu passei dia e noite esperando sua volta! - ele começava a perder a paciência. - Eu cheguei a pensar que estava morto e imagino que merda ele fez com você para deixá-lo completamente desmemoriado! Não satisfeito com isso ele plantou em você ÓDIO contra mim! - o rei enfatizou.

— CHEGA! - exclamou Ja’far. - Quis que eu decidisse se queria vê-lo ou não, certo? Pois bem, eu quero!

— Está louco para voltar para ele, não é?! - Sinbad cruzou os braços e o lançou um olhar desafiador.

— Não me teste, Sinbad!

Foi tudo o que Ja’far disse antes de dar meia-volta e se retirar. Yamuraiha e Sharrkan decidiram seguir Ja’far enquanto que os demais pareciam não saber como agir. Até o momento em que Hinahoho segurou firmemente o braço de seu rei e o sacudiu.

— O que pensa que está fazendo!? Quer por tudo a perder!?

— Estou aceitando essa merda de destino! - vociferou ele. - Se Ja’far quiser voltar para aquele miserável, não tem nada que eu possa fazer!

— Sinbad…

— Me deixem, por favor. Preciso me preparar para receber… aquele homem.

— É o pior momento para se deixar abater, majestade. - Pisti estava bastante preocupada. - Pode estar falando isso, mas é porque está com medo de perder o Ja’far-san!

— Por favor, me deixem só. - ele insistiu e estava mais tenso ainda quando Pisti reafirmou o que seu coração sabia muito bem. - E ajam com aquele príncipe como… se nada tivesse acontecido. Mas cuidem para que Ja’far não o encontre antes!

Bastante confusos, todos se entreolharam. O que seu rei planejava?

Irredutível como ele parecia estar, o melhor a fazer era acatarem sua ordem sem questioná-la. Pouco a pouco foram dispersando, bastante receosos ao verem aquela situação, porque precisavam se preparar para receber Kouen.

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— JA’FAR-SAN!

Insistente, a maga seguia o rapaz que marchava pelos corredores do palácio. Ele não estava disposto a ceder, tampouco a mostrar as lágrimas que escorriam pelo rosto. Sentia-se tão angustiado. Por que aquilo estava acontecendo?

E, tomado pela frustração, Ja’far cessou seu caminhar para, subitamente, bater com a cabeça em uma das paredes.

— JA’FAR-SAN! - Yamuraiha se assustou, cobrindo os lábios.

Ele tornou a bater a própria cabeça uma, duas, três vezes até que fosse puxado pelos braços pelo príncipe de Heliohapt. O conselheiro de Sindria se debateu, tentando se soltar do encalce de um preocupado Sharrkan. Mas ele já se sentia zonzo e não teve muita escolha a não ser ceder.

— ME SOLTA!

— Olha só para você, Ja’far-san! - o moreno estalou a língua ao ver o hematoma que surgia na fronte do alvo. - O que está tentando fazer?!

— Me deixa! - ele ainda tentava se soltar. - Eu vou bater com a minha cabeça até me esquecer de tudo de novo! De não lembrar mais do Sin! De vocês! NEM DO KOUEN! Eu não quero me lembrar mais de nada! - exclamou um desesperado Ja’far.

— Não diga isso, Ja’far-san! - a maga tentava interceder. - Precisa se acalmar!

— Como vou me acalmar?! Eu… Eu queria ficar aqui, em Sindria, mas como?! O En está aqui, veio me buscar! E eu não posso negar que o amo! - ele declarou.

— Tente falar isso com ele então, Ja’far-san! Fale com o príncipe Kouen que deseja ficar aqui!

— Está louca?! Kouen tentou matar o Ja’far-san!

— MENTIRA! - exclamou o alvo, empurrando Sharrkan e finalmente se soltando. - En nunca faria mal para mim! En me salvou! - insistiu Ja’far. - O En ME AMA!

O conselheiro de Sindria afirmava aquilo com bastante convicção.

Ja’far levou uma mão ao centro do peito. Sentia como se seu coração, tão apertado, não fosse resistir àquele conflito. Mas enquanto seu coração lutava para decidir entre o amor de Sinbad e o de Kouen, ele tinha certeza apenas de que o príncipe de Kou era uma boa pessoa. Não permitiria qualquer ofensa ou qualquer dúvida quanto à integridade ou às atitudes do seu salvador. Se não fosse por En, não estaria nem mesmo vivo! - ele estava certo daquilo.

— Pode continuar a afirmar isso e pode ser que hoje esse príncipe realmente te ame, Ja’far-san… - Sharrkan deu um passo a frente e Yamuraiha o segurou pelo braço. - mas saiba que ele NUNCA vai te amar mais do que a nossa majestade! E que se você der as costas para ele, eu vou ficar feliz porque… se fizer isso, você vai provar que não merece o amor dele!

Ja’far não sabia o que responder. As palavras do moreno, tão fortes, foram capazes de colocá-lo contra a parede.

Lembrava-se de quando Sinbad adoeceu e fez de tudo, mesmo enfermo, para mantê-lo ali, convencendo-o sobre seus sentimentos. E toda aquela fragilidade era consequência direta de seus atos, tão cruéis, para destratá-lo, para se desfazer do que Sinbad sentia por ele.

— Ja’far.

Aquele chamado tirou o alvo de seus devaneios. O conselheiro se virou para trás e, com os olhos marejados, encontrou um sério Sinbad. Ele cerrava os punhos, parecendo estar lutando para se conter, para controlar suas emoções. Certamente ele desejava matar Kouen e Ja’far sabia daquilo.

Tanto Yamuraiha e Sharrkan se abstiveram de falar qualquer coisa.

Ja’far encarava Sinbad quando uma lágrima escorreu por seu rosto.

— Tudo o que vou pedir é que permaneça ao lado dos outros generais.

Mais uma lágrima escorria pelo outro lado do rosto tão bonito. Como doía!

Ja’far nada respondeu. Apenas abraçou a si mesmo e soluçou baixinho enquanto ouvia os passos do rei de Sindria se aproximando. Foi quando sentiu aquela mão tocar seu queixo e erguer seu rosto para encará-lo.

— Pode fazer isso por mim?!

— Eu não quero ir embora, Sin! - a voz embargada falhou.  

Suspirando, Sinbad abraçou firmemente aquele corpo trêmulo, mais uma vez.

— Você não vai embora se não quiser! Não se preocupe! - ele sussurrou ao pé do ouvido de Ja’far. - Pode ficar tranquilo! E… Se deseja não ver o Kouen…

— Não, eu preciso enfrentar isso! - ele se afastou para encarar Sinbad. - Eu preciso… falar com o En.

Um novo suspiro escapou dos lábios de Sinbad.

— Tudo bem, Ja’far. Só depende de você! Lembre-se disso!

Era exatamente isso que Ja’far temia. Nem ele mesmo sabia o que seu coração poderia tramar, o que poderia ser capaz de fazer, o que sentiria ao ver Kouen. Tudo o que sentia era medo. Medo de si mesmo. Não se lembrava do momento em que havia perdido, completamente, o controle de sua vida, do que sentia, do que pensava.

— Aconteça o que acontecer, Sin… Obrigado por tudo!

Aquela expressão, “aconteça o que acontecer”, foi o que fez um arrepio atravessar a espinha de Sinbad. Ele cerrou os punhos e assentiu, por mais difícil que aquilo fosse.

E por mais que ele desejasse, ao encontrar aquele maldito que tanto mal havia lhes feito, esmurrá-lo, usar seu djinn para matá-lo, sem dó, ele precisava agir com diplomacia. Naqueles momentos ele amaldiçoava seu sucesso em realizar seu sonho de se tornar rei de seu próprio país. Queria poder agir sem se preocupar com qualquer conseqüência que uma atitude impensada poderia gerar. Não poderia colocar seu país, seu povo, em risco.

 

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O primeiro príncipe chegou ao festival, nos jardins internos do palácio, sendo alvo de vários olhares curiosos e bastante receosos. Era nítido que aquele homem era estrangeiro, mas os poucos que conheciam suas vestes, sabiam que era uma pessoa de Kou - não que era um nobre. Mas sabendo que o império tinha em vista uma invasão à ilha do extremo sul, todos pareciam um tanto quanto assustados ao ver aquele homem ali.

Alguns procuravam o rei Sinbad e seus generais, mas fazia um tempo que eles tinham sumido da vista dos cidadãos que aproveitavam o festival.

Mas assim que Kouen cruzou os portões principais, duas palmas foram o suficiente para que a música cessasse e, com o estranhamento que aquilo gerou, as conversas também desapareceram. O silêncio deu abertura para que a voz, imponente, do rei Sinbad se manifestasse.

— Povo de Sindria! Temos uma visita ilustre e inesperada em nosso reino! Temos em nossas terras ninguém menos que o primeiro príncipe do Império Kou, Ren Kouen!

O povo respondia com espanto e, até mesmo, para a surpresa do recém-chegado, com olhares de indignação. Não era por causa daquele homem que Ja’far havia perdido a memória? Aquele príncipe não atentara contra a vida do conselheiro de seu país?

Um sorriso, o mais cínico possível, estava talhado no rosto de Sinbad, que saía do meio da multidão. Atrás dele, os generais, seus fiéis escudeiros, o seguiam. O último entre eles, Ja’far, geralmente aquele que estava sempre às costas de seu rei, manteve a cabeça abaixada, evitando a qualquer custo encontrar aquele homem. Suas pernas tremiam, suas mãos também. A respiração falhava e ele sentia como se seu coração fosse explodir dentro de seu peito. Ainda mais quando… ouviu aquela voz.

— Rei Sinbad! É uma honra estar em seu país!

Os generais não conseguiam esconder o desagrado que sentiam ao estar diante daquele homem que tanto mal tinha feito a seu rei e a Ja’far. Mas, permanecendo em silêncio, eles se resignaram a apenas observar Sinbad e o príncipe. Aquele sorriso falso que ambos sustentavam contrastava a forma como um fuzilava o outro com o olhar.

Sinbad, em especial, cerrava os punhos escondidos pelos braços cruzados. Como queria acabar com aquele homem ali mesmo! Fazê-lo pagar por toda a aflição que passara ao crer que havia perdido Ja’far para sempre!

— E a que devo uma visita a essa hora? Não tinha nada marcado, certo? - ele respirou fundo. - Perdeu algo em minha ilha?

O moreno estava sendo bastante direto e Kouen parecia interessado em aceitar a provocativa.

— Digamos que… quis fazer uma surpresa.

— Surpresa? - Sinbad arqueou uma sobrancelha.

— Sabe que Kou está sempre focado em invadir à força países, mas Sindria… Sindria é um país que admiro e quero muito ter outro tipo de relação com você, Rei Sinbad. Chegar aqui e… - ele olhou para os lados, ainda alvo dos olhares de repulsa dos cidadãos. - ver este belo festival! Incrível! Esse é o espírito de Sindria, do qual todos tanto falam?

— Veio tratar de assuntos diplomáticos, no entanto, está sozinho? - provocativo, Sinbad estufava o peito. - Não há navio algum em um raio de cinco quilômetros de distância da minha ilha. Há apenas embarcações menores de comerciantes. Veio em uma delas?

— Vim sozinho, Rei Sinbad. Vim tratar de negócios… pessoais.

Era cinismo demais para uma pessoa só! - Sinbad pensava consigo mesmo, sentindo-se farto de toda aquela tensão e sorriso descarado estampado no rosto daquele príncipe.

Dando um passo à frente, ele o enfrentou.

— Eu sei muito bem porque está aqui!

Ao ouvir aquela afirmação, Ja’far finalmente ergueu o rosto e encarou aquele que estava frente a frente com Sinbad. Lá estava ele! Ren Kouen. Aquele a quem devia sua vida. Aquele que o acolhera com tanto carinho. Aquele que amav…

Uma dor aguda no topo de sua cabeça o fez levar as mãos até aquela região.

“Acreditava mesmo que Kouen estava fazendo um acordo de paz com Sindria?”

Aquela voz ecoou e ele viu, com perfeição, o sacerdote do Império Kou. O mesmo que estava no palácio estava na beira daquele penhasco. Aquele jovem que tinha uma longa trança, a qual o vento usava como açoite, e que ia até seus pés. Aquele pessoa lhe dava calafrios. Ele gargalhava.

“O alvo de Kouen sempre foi você, Ja’far.”

Um grito alto e desesperado chamou a atenção de todos, incluindo do rei Sinbad e de sua nova visita, o príncipe Kouen. Todos procuraram de onde vinha aquele clamor que exprimia tanta dor.

— Ja’far-san!!!

O coração de Sinbad falhou uma batida ao ouvir sua maga chamar por Ja’far.

Como se dominado por uma força maior ele abriu caminho até se aproximar do alvo, cujo keffiyeh havia ido ao chão enquanto ele puxava os próprios cabelos em uma tentativa desesperada de fazer aquela dor lancinante cessar. Mas parecia que, mais e mais, aquela dor aumentava. O ar lhe faltava e ele sentia que ia enlouquecer quando sentiu seu corpo completamente dormente despencar ao chão.

Olhares apavorados o cercavam e gritos que exclamavam seu nome antecederam o momento em que a escuridão começou a tomar sua vista. Mas, antes de tudo desaparecer, ele sentiu o tremular do chão à medida em que o rei de Sindria se aproximava. O pânico tomava conta da expressão de Sinbad e aquela foi a última coisa que Ja’far conseguiu ver.

Kouen, apreensivo, de longe assistia a chegada do rei que tomou Ja’far em seus braços. Como era doloroso não poder fazer nada e ele havia visto, tantas vezes, o alvo sofrer com aquelas crises. Se pudesse lhe dar algum consolo… Se pudesse tirá-lo dos braços de Sinbad. Afinal, ele se sentia assim por culpa daquele homem. - ele pensava.

— Ja’far! Oe! - ele sacudia o corpo enfraquecido do conselheiro. Sua pele estava gelada. - Preciso de um médico da corte aqui AGORA!

Ele mal terminou de ordenar quando já chegava assistência para seu conselheiro. Foi Hinahoho quem afastou Sinbad, que parecia inconformado, enquanto assistia os médicos examinarem o alvo. A multidão em volta parecia bastante aflita com aquele mal súbito que Ja’far sofrera. Desde que ele voltara não tinha sido mais o mesmo e, volta e meia, se sentia mal.

Sinbad, bastante preocupado, se recusava a soltar a mão do alvo.

— Deixe que cuidem do Ja’far! - o robusto homem foi firme. - Você tem que cuidar do Ja’far de outra maneira agora.

— Ele não está bem, Hina! Ele…

— Ele vai ficar bem! - Hinahoho permaneceu sério.

— Por favor! Levem ele para meus apo…

— É o seu conselheiro, Sinbad?

Aquela pergunta, aquela voz, fez com que o rei que permanecia agachado virasse para trás e encarasse aquele que, de pé, mantinha toda sua altivez. Porém o sorriso, que outrora esbanjava cinismo, havia desaparecido do rosto daquele homem. Havia uma genuína preocupação em sua expressão.

— O que você acha?!

A pergunta do moreno foi proferida enquanto ele se levantava para ficar no mesmo nível de Kouen. O tom de indignação e revolta cresceu assim que a fúria sucedeu em aparecer no semblante do rei de Sindria. Os cidadãos ao redor se assustaram. Nunca viram seu rei falar com tamanha rispidez.

— Ma-Mal me lembro de seu rosto. Ele passou menos de uma semana em meu reino.

— É MENTIRA! - refutou Sinbad, que deu um passo a frente. - Ficou meses com Ja’far ao seu lado! Encheu a cabeça dele de mentiras! Tentou matá-lo e ainda se aproveitou da debilidade dele para colocá-lo contra mim! Acha que sou estúpido?!

Todos estavam em choque. Até mesmo Hinahoho e Drakon, que costumavam ser os mais racionais, não sabiam o que dizer mas, no fundo, também não desejam impedir aquela explosão de seu rei. As pessoas em volta temiam um conflito entre o príncipe e Sinbad, mas eles se sentiam seguros pela presença de seu soberano e seus generais.

Porém, quem exprimia maior espanto ao ouvir aquelas palavras era ninguém menos que Ren Kouen. O príncipe tinha os olhos, tão rubros quanto os fios desalinhados ao redor de seu rosto, arregalados enquanto, aflito, ele pensava em como se explicaria e desmentiria aquilo que considerava uma falácia.

— Do… Do que está falando, Rei Sinbad? - gaguejou Kouen.

— Não se faça de inocente! - o moreno disse entre os dentes. - Minha vontade é de, agora mesmo, jogá-lo em nossa prisão e deixá-lo apodrecer por TUDO O QUE FEZ AO JA’FAR! E isso para não acabar com você com minhas próprias mãos!

O ruivo estava desconcertado ao ouvir tudo aquilo, ao ser alvo de toda a ira de Sinbad. Faltaram-lhe palavras para se expressar ao se ver tão destratado pelo soberano… Talvez porque precisasse interpretar muito bem aquela farsa, a qual havia planejado tão bem durante toda a viagem.

Mas Kouen estava admirado. Não imaginava que aquele rei, que pregava tanto o pacifismo, fosse capaz de enfrentá-lo sem papas na língua. Então seus sentimentos por Ja’far eram tão mais importantes assim do que seu próprio país? Pois Kouen também colocava Ja’far a frente de seu Império.

— M-Me perdoe, Rei Sinbad, mas está me ofendendo! - ele se impôs, apesar de parecer, em uma expressão teatral, bastante consternado. - Esteve há um mês visitando meu Império perguntando pelo paradeiro de seu conselheiro o qual afirmei que havia partido uma semana após sua visita. Não assinamos o tratado de paz por desacordo do próprio Ja’far. Inclusive fiquei muito preocupado quando me disse que ele não havia regressado. Apesar de sua grosseria, Rei Sinbad, saiba que estou muito feliz de saber que Ja’far se encontra bem e de volta ao seu lado!

Não. Não era possível! O que estava ouvindo? - Sinbad se perguntava.

Kouen estava querendo dizer que o tempo todo não sabia onde estava Ja’far? Que era completamente inocente? Isso faria com que tudo o que Ja’far havia lhe contado fosse uma grande mentira. Não. Ele não tinha motivos para causar tamanho transtorno.

Sinbad entreolhou seus generais que pareciam tão sem ação quanto ele. Mas Drakon apoiou aquela enorme mão sobre o ombro do rei e, inclinando-se para frente, sussurrou em seu ouvido:

— Tenha cuidado para não estar cometendo uma injustiça, Sinbad.

Ele engoliu a seco ao encarar seu amigo de aparência bizarra. Não havia como Ja’far ter inventado tudo aquilo, ter mentido sobre tantas coisas. - ele repetia a si mesmo, achando tudo aquilo completamente irreal. Fora que, durante aqueles momentos de conflito, Ja’far demonstrava tanto sofrimento e…

— Talvez seu conselheiro esteja perturbado para lhe dizer tantas inverdades!- o príncipe interrompeu seus pensamentos. - Pelo que vejo ele acaba de sofrer um ataque. Dizem que ele é viciado em trabalho. Não está esforçando ele demais? - ele aproveitava para pisar na ferida de Sinbad. - Ele não me parece nada bem!

Mas as palavras de Kouen demonstravam preocupação e, o pior de tudo: a verdade.

A amnésia não era o único problema que Ja’far trazia daquela viagem. Ele sofria surtos onde demonstrava bastante agressividade, inconsistência no que dizia e até mesmo em relação aos seus pensamentos.

Mesmo após evoluirem tanto, era normal encontrarem Ja’far bastante apático e pensativo. Não agia com a mesma agilidade e sede pelo trabalho que sempre teve. Volta e meia parecia estar chateado, frustrado, e volta-e-meia aquilo emergia de seu âmago como uma agressividade infundada. Tudo aquilo costumava preocupar Sinbad, mas ele sabia que Ja’far estava melhorando.

Mas será que toda aquela paixão por Kouen, por quem ele tanto clamava, era fruto de sua mente debilitada?

— Na-Não minta! Ja’far já falou sobre tudo! - sem perceber, o rei já estava um pouco menos convicto, apesar de insistir antes de se voltar àqueles médicos. - O que ele tem?

— Parece que foi outra daquelas crises que ele tem tido, mas parece que o fato de ele estar muito tenso a transformou em algo muito pior dessa vez. Ele precisa descansar. Vamos levá-lo aos seus aposentos. - um rapaz explicou.

Sinbad estava sem saber o que dizer enquanto assistia Masrur pôr Ja’far em seu colo para levá-lo para dentro do palácio. Repentinamente, toda aquela fúria e desejo de enfrentar Kouen para proteger seu conselheiro e amante, desapareceu.

Como se aquela revolta e desejo por vingança, por proteger quem tanto amava, não houvesse propósito algum. Como se jamais tivesse um real motivo para odiar o príncipe.

Sua cabeça latejava e ele se sentia perdido ao encarar Kouen. Como Drakon havia dito, estava cometendo… uma injustiça. E pior: uma injustiça que poderia levar seu reino à ruína.

A confusão exposta em seu semblante junto da subseqüente afasia fez com que seus generais interviessem.

— Bem, eu acho melhor que vocês conversem em outro momento, certo? - Hinahoho se colocou entre os dois e se dirigiu a Kouen. - Alteza, aproveite o festival!

— Vamos, vamos, aproveitem o festival! - Sharrkan bateu palmas e abriu um largo e forçado sorriso.

Sinbad estava tão perdido em seus próprios pensamentos que nem ao menos impediu que seus generais tomassem à frente. Tão distraído que estava, ele não conseguiu ver o sorriso vitorioso que surgiu nos lábios do príncipe.

Drakon o conduziu para o interior do palácio enquanto Pisti pedia que os músicos voltassem a tocar. As pessoas, aos poucos, iam voltando a conversar, dançar e agir como se nada tivesse acontecido, por mais estranho que aquilo tudo parecesse. Eles deviam se sentir tranquilos na presença de seu rei e generais e assim foi feito.

O príncipe Kouen foi acomodado e logo algumas dançarinas aproveitaram para dançar a sua frente e tentar seduzi-lo. Pena que ele mal as via, tendo em sua mente apenas a preocupação com Ja’far. Tudo estava saindo como planejado e isso significava que estava cada vez mais próximo de recuperá-lo - sem conflito algum, levaria aquilo que o pertencia de volta aos seus braços… e a sua cama.

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Sinbad observava o adormecido Ja’far, que havia sido colocado em sua cama e agora era cuidado por aqueles médicos que, rapidamente, deixaram seus aposentos. Eles haviam garantido que Ja’far logo despertaria, mas que precisaria ficar em repouso. Não era uma situação atípica aquele tipo de evento, mas durante aquela última semana em que haviam feito grande progresso, seu conselheiro estava tão bem...

O rei de Sindria se sentia completamente imóvel, incapaz de fazer algo ao se ver confrontado por uma verdade completamente diferente. Não. Kouen devia estar mentindo. - ele repetia a si mesmo enquanto andava de um lado para o outro no amplo quarto.

— Majestade!

As portas duplas se abriram e revelaram os generais que logo adentraram o quarto e trancaram aquela porta. Yamuraiha agitou seu cajado algumas vezes, fazendo com que um brilho dourado cobrisse aquelas portas.

— Podemos falar sem medo que alguém escute nossa conversa. - ela piscou um olho.

— Até que você serve para alguma coisa às vezes, hein, bruxa velha? - Sharrkan provocou e a maga fez bico, ignorando-o.

— Deixaram Kouen sozinho?! - Sinbad se alarmou. - Alguém precisa ficar de olho naquele homem! Vão imedia…

— Calma, majestade! - Pisti se adiantou. - Spartos ficou lá embaixo de olho. E como ele passa quase despercebido, aquele príncipe nem vai notar que está sendo vigiado. - a loirinha riu.

— Certo… - Sinbad suspirou voltando a andar em círculos.

— Acha mesmo que o Ja’far-san está mentindo, majestade? - Yamuraiha indagou, um tanto quanto preocupada.

O rei voltava a observar seu general adormecido, cruzando os braços em seguida.

— Não podemos negar que Kouen tem razão quanto ao estado de Ja’far. - foi tudo o que ele disse.

— O que está querendo dizer com isso? - o príncipe de Heliohapt se surpreendeu.

— Quando trouxemos Ja’far de volta… - Sinbad encarou o moreno. - ele não só estava desmemoriado! Ja’far tem apresentado um comportamento muito estranho. Por vezes está paranóico, aflito, e quantas vezes não foi bastante agressivo conosco?

— Mas ele estava sendo agressivo porque aquele homem colocou coisas na cabeça dele! Coisas que fazia com que o Ja’far-san nos odiasse! - Yamuraiha estava decidida a não acatar aquela ideia.

— Acha que ele pode ter mentido sobre tudo o que nos contou?! - Sharrkan também não estava disposto a ter aquele pensamento. - Por que o Ja’far-san faria algo assim?

— Ele não mentiu porque quis! - Sinbad tentava explicar. - Só acho que o Ja’far está muito perturbado e com a mente debilitada. Ele pode… ter acreditado em tudo isso. As coisas ficaram confusas quando ele se feriu, de alguma forma. Vimos a cicatriz na cabeça dele que mostra que ele realmente sofreu um trauma sério. - o rei suspirou, recostando-se à parede e apoiando a fronte à mão. - Acho que ele precisa de ajuda e que… eu posso ter cometido um erro terrível com Kouen agora!

Yamuraiha balançava a cabeça negativamente antes de dar um passo a frente.

— Majestade, me perdoe, mas vou ter que dizer que só agora você está cometendo um erro terrível!

Sinbad piscou, desentendido com a revolta de sua fiel maga.

— Esqueceu sobre o príncipe Hakuryuu? Ele nos contou sobre tudo o que acontecia! Ele é nossa testemunha e quem dá certeza de que tudo o que o Ja’far-san nos contou era verdade!

— Só que há um problema aí! - foi a vez de Hinahoho interrompê-la.

— Que problema? - confrontou a maga. - É a prova concreta que precisamos para confiar no Ja’far-san! - ela estava revoltada com aquela suspeita.

— A pessoa que é a testemunha que precisamos é alguém que pediu nossa ajuda para derrubar o príncipe Kouen e declarar guerra contra Kou!

Hinahoho havia tirado as palavras da boca de Sinbad. E como era doloroso para o rei constatar que não estava imaginando coisas. Aquele quebra-cabeça estava completo e, Yamuraiha, ao ouvir aquilo, também não teve mais como refutar. Era a verdade, nua e crua, por mais dolorosa que fosse.

— Hakuryuu-kun pode, muito bem, ter encontrado o Ja’far-san e até mesmo ajudado naquela ideia. Assim, se eu tivesse raiva do Kouen, eu poderia fazer… - ele suspirou. - fazer o que fiz agora, enfrentando-o e… até mesmo, tomado pela fúria, declarar uma guerra contra o Império Kou.

— Na-Não pode ser… - ela apertou o corpo de seu cajado com força. - Não podemos desconfiar do Ja’far-san!

— Não estamos desconfiando dele. Só não podemos nos esquecer de que o Ja’far-san não está bem ultimamente.

— E o que você vai fazer, majestade? - Sharrkan indagou.

Sinbad desviou o olhar e voltou a fitar Ja’far. Levando uma mão até o topo daqueles fios brancos ele afagou seus cabelos. Como ele pedia que seu amado voltasse ao normal logo, mas, de certa forma, o rei se sentia bastante aliviado.

— Pedir desculpas ao Kouen. - ele suspirou deixando um sorriso sincero cruzar seus lábios. - E podemos ficar tranquilos porque, diferente do que pensávamos, ele não quer tirar o Ja’far do nosso lado. - pausando, Sinbad encarou Drakon. - Por favor, Drakon, peça que o príncipe Kouen vá a sala de reunião urgentemente. Quero pedir perdão a ele e esclarecer tudo! Quem sabe… não conseguimos agora entrar em paz com Kou agora. - ele encarou seu conselheiro que, adormecido, mais parecia um anjo. - Era o que você mais queria quando foi até lá, não é, Ja’far?

—------xxxxx-------

Estava sendo bastante difícil para Kouen ter que lidar não só com a aflição de não ter notícias de Ja’far, mas também com aquele ambiente que ele considerava… inóspito. Música alta, um falatório e uma desordem sem fim. Fora aquelas mulheres vulgares, vestidas com pouco pano, que se ofereciam e dançavam a sua frente. Uma, mais atirada, chegou a se sentar em seu colo e, atritando os fartos seios no peitoral do príncipe, ela insistia:

— Príncipe, o Rei Sinbad não vai se incomodar se quiser que eu o faça companhia em seus aposentos. - com uma voz melodiosa, ela sussurrava em seu ouvido.

O ruivo contava até dez, até cem, até mil. Odiava aquele tipo de vulgaridade, mas precisava manter uma pose amigável até que conseguisse realizar seu objetivo.

— Me perdoe, mas estou muito cansado. Talvez não tenha ideia, mas o Império Kou é bastante distante de Sindria.

— Me leve para conhecer, alteeeeeza.

Ousada, a moça de longos cabelos castanhos passou a mão pela cintura do príncipe e ali encontrou um objeto rígido. Assim que tocou aquela região, Kouen a segurou firmemente pelo pulso em um movimento tão rápido e violento que chegou a machucar a moça, que gemeu alto.

— Cuidado onde coloca a mão, mocinha.

Um olhar intimidador daquele par de olhos vermelhos foi o suficiente para que, assustada, a concubina rapidamente se retirasse do colo do príncipe.

— Alteza!

Kouen teve de se recompor rapidamente enquanto ajeitava a adaga que estava escondida por baixo de suas vestes. Não se daria ao luxo de demonstrar que estava armado. Não com os planos que tinha naquele momento. Exatamente pela falta de seus metal vessels que devia evitar um confronto direto com Sinbad. Não teria chance alguma.

— Alteza!

Ele ouviu mais uma vez e forçou um sorriso ao encontrar aquele homem, o qual considerava um monstro, se aproximar.

— Nossa majestade deseja falar a sós com vossa alteza. - Drakon sorria. - Por favor, me acompanhe!

— Ah, será um prazer!

Levantando-se, Kouen tornou a ajeitar aquela adaga presa a sua cintura, antes de seguir o

Certamente havia chegado o momento em que deveria usá-la para tirar, definitivamente, Sinbad de seu caminho. Ninguém jamais voltaria a ameaçar sua união com Ja’far. Ninguém.

 


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Notas finais do capítulo

Só digo uma coisa: Sinbad, pelamor de Deus, escuta a Yamuraiha! Escuta ela!

Uffa, o capítulo foi bem tenso e eu tive que voltar várias vezes para mostrar os pontos de vista de cada um durante o embate entre Kouen e Sinbad.
Confesso que deu raivinha escrever o En tão falso!!! Imagino que ler deve ter sido cruel também! Dá vontade de entrar na fic e socar ele, não é? Hahaha!
E o Sin volta a falhar por não confiar nas palavras do Ja'far. Porém, quando introduzi o Hakuryuu e o coloquei como informante que revelasse a verdade ao Sin, eu o escolhi justamente por ele ser alguém "desconfiável". Como coloquei essa fic para se passar pós-timeskip de 2 anos, teria sido recente o pedido do Hakuryuu para que Sindria o ajudasse a derrubar Kou, o que o torna, facilmente, alguém desconfiável aos olhos do Sin, já que ele deseja ajuda para cumprir seu objetivo.
Em contrapartida, En poderia largar o posto de príncipe e virar ator! A pobre concubina não faz ideia de que ele tá de olho é... no conselheiro do seu país. XD

Espero que estejam gostando e, mesmo atrasada, lembrem-se que respondo todas as reviews então comentem, elogiem, critiquem, me digam se estou fazendo algo que não curtiram! ♥ Um beijo e até o próximo capítulo!



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