Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 28
Lembrança


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! ♥ Me desculpem por não estar conseguindo postar toda semana! Tenho tentado manter uma periodicidade legal tanto em Remember Me, quanto em Escape, mas já deu pra ver que estou ficando enrolada, não é? Espero que curtam o capítulo! ♥



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No último badalar daquele sino eles tiveram certeza de que já era oito da noite. Certeza essa que nem o cair da noite, tampouco a lua alta no céu, que refletia naquele límpido mar, os trouxeram.

Caminhavam pela orla da praia, os sapatos em mãos enquanto sentiam as ondas, suavemente, refrescando seus pés.

Haviam passado o dia inteiro juntos apenas passeando por aquela ilha, conversando e ouvindo as histórias incríveis daquele homem. Muitas, aliás, a maioria delas, contavam com sua participação.

E enquanto ouvia as palavras do rei, Ja’far não cogitou que pudesse estar mentindo. Havia tantos detalhes. Havia tantos momentos que viveram juntos, compartilharam.

Momentos bons, momentos ruins. Momentos incríveis e momentos terríveis.

Quando imaginaria que, em algum momento, aquele homem tinha sido escravizado? Ou que Sindria já tinha sido em outra ilha, que não aquela? Que criaram uma companhia do nada e a transformaram no negócio mais próspero que o mundo já viu?

O único sentimento que havia no peito do, sim, ex-conselheiro de Sindria, que agora tinha plena consciência de que realmente pertencera àqueles momentos, àquele mundo, era angústia. Um grande vazio parecia corroer seu coração ao ouvir tantas coisas e perceber que elas haviam sido, simplesmente, extirpadas de si. Como pôde se esquecer de tudo?

O brilho prateado do luar refletia naquela pele tão branca, evidenciando todos detalhes do rosto tão bonito de seu conselheiro. Mas ele não parecia feliz.

Notando a apatia que surgiu naquele breve momento de silêncio, durante aquela caminhada, Sinbad decidiu se fazer ouvir.

— Parece triste... Não gostou do nosso dia?

— Hm!?

Ja’far, tão distraído, cessou o caminhar, balançando a cabeça como se tentasse trazer sua mente de volta àquele mundo, àquele instante que, como todas as histórias que ouviu, parecia tão único.

— Disse que está com uma expressão triste. - Sinbad repetiu, um pouco preocupado. - Não foi agradável passar o dia comigo?

— Foi… Foi ótimo.

Aquele sorriso genuíno que surgiu no rosto daquele que tanto amava era tudo o que Sinbad precisava. A brisa do mar fazia com que os fios tão alvos açoitassem aquele rosto tão bonito. “Preciso me segurar…” - Sinbad repetia mentalmente enquanto o observava.

— Acredita em mim agora? Sobre nós...

Ja’far suspirou e, instintivamente, levou uma mão ao centro do peito. Faltava coragem para assumir que acreditava no sentimento que havia entre os dois, em especial quando fitava o horizonte e pensava nele. Mas Ja’far engoliu a seco e assentiu.

O rei de Sindria tomou a liberdade de dar a volta no mais baixo e segurar firmemente seus ombros. Como ele estava tenso! - percebeu.

— Não se sinta pressionado. - ele sussurrou. - Não fiz tudo isso para ver esse olhar tão triste…

— Me desculpe! Não quero… desmerecer seu esforço.

— E eu não quero desmerecer os sentimentos que você… foi ensinado a ter.

—Melhor voltarmos para o palácio. - foi a forma que Ja’far encontrou para cortar o assunto que ele sabia muito bem onde estava chegando.

— Ainda não chegamos onde quero o levar.

— Eu estou cansado e já está tarde! Meus pés já estão doendo! - mentiu.

— Certo! Eu posso carregar voc…

— Não! - Ja’far foi categórico e o rubor em seu rosto arrancou um sorriso dos lábios de Sinbad. - Digo, eu… eu posso ir.

— Então vamos!

Foi quando Ja’far sentiu aquela mão, tão quente, agarrar seu pulso e puxá-lo para frente. Seguiram a correr por aquela orla e Ja’far teve de segurar o keffiyeh no topo da cabeça, para que não o perdesse em meio à ventania.

Temendo se perder em seus próprios passos, Ja’far viu seus passos se encaixando nas pegadas de Sinbad. Seus pés afundando naquelas marcas faziam com que os grãos de areia, ao seu redor, cobrissem seus pés a cada passo. Uma representação tão verdadeira do que estava acontecendo com ele: estava sendo completamente coberto, soterrado por aquele sentimento. Por Sinbad.

Seguiram correndo até um pontal onde subiram uma pequena montanha de pedras.

Ja’far suspendeu a barra das longas vestes, já encardidas por estarem úmidas e em contato com a areia, para que não tropeçasse durante a subida.

Assim que chegaram no topo, ele estava sem palavras ao ter aquela belíssima vista.

De um lado o infinito mar límpido que cercava Sindria e do outro podia ver ao longe o imponente palácio, todo iluminado, como se fosse único em meio àquela imensidão azul.

— Que lugar lindo!

— Muito, não?

Ja’far não saberia dizer se aquele arrepio que atravessou seu corpo era devido ao vento frio da noite ou devido ao braço de Sinbad, que enlaçava sua cintura com certa possessividade. O conselheiro permaneceu admirando a paisagem, por mais que sua expressão condenasse o constrangimento que surgia ao estar naquela posição e, por que não, a excitação que também sentia?

— Exatamente aqui, Ja’far… Trocamos nosso primeiro beijo.

O rubor tomou conta do rosto pálido. Perplexo, Ja’far ergueu o rosto para encará-lo.

— A-Aqui?! - ele gaguejou e Sinbad assentiu com um sorriso.

— Sim! Você… - o moreno desviou o olhar, parecendo um tanto quanto incomodado ao falar aquilo. - Me viu com uma mulher. Eu não imaginava que nutrisse sentimentos por mim até esse dia.

O ex-conselheiro balançou a cabeça negativamente. Algo não se encaixava naquela história.

— Disse que teve uma noiva, a princesa Serendine. E isso tudo aconteceu antes de encontrar essa ilha, em seu antigo país. Como eu agiria assim por tê-lo visto com uma mulher se eu já tinha o visto, tantas vezes, com ela?!

— Eu acho que… Como quando conhecemos a Serendine você era menor, você se conformou comigo tendo ela como mulher. Alguns anos depois da morte dela, eu finalmente decidi aceitar concubinas, apesar de… - Sinbad suspirar. - de eu sempre ver você de uma maneira diferente. Mas eu não imaginava que você pudesse… como vou dizer? - ele coçava a nuca, farfalhando os fios púrpura. - Não imaginava que pudesse gostar de um homem. Digo, sabia que gostava de mim e éramos grandes amigos, mas… Você sempre foi muito discreto no que sentia. Menos… naquele dia.

Talvez aquele fosse o único dia em todo ano onde ninguém, naquele palácio, trabalhasse. Ninguém exceto o conselheiro de Sindria.

Ele havia passado o dia sozinho em seu escritório, desfrutando do silêncio quase-fúnebre para adiantar alguns documentos, revisar contratos. Sentia que enlouqueceria se ficasse sem produzir, ainda mais em um dia como aquele.

Era o dia em que aquela tragédia completava mais um ano. Um dia no qual aquele país parecia perder toda a alegria que existia ao se lembrar de tantas perdas, de tanta tristeza.

O dia já terminava quando Ja’far decidiu ir até a cozinha do palácio e, por mais que os poucos criados que ficavam de prontidão para servir o rei e os generais - caso precisassem de algo - implorassem para lhe servir, o conselheiro decidiu, por si só, preparar um chá. O favorito de seu rei, aliás.

Aprontou a melhor louça de prata sobre uma bandeja, feita do mesmo material e levou tudo pelos corredores do palácio, subindo as escadas e chegando até os aposentos de seu rei.

Assim que se pôs diante das portas duplas daquela suíte, Ja’far se esforçou para equilibrar a bandeja em uma das mãos só para que pudesse girar aquela maçaneta. Mas o que chamou sua atenção era que a porta estava fechada. Sinbad não costumava trancar a porta, em especial à noite.

Sem mais delongas, Ja’far tirou de dentro das mangas largas um molho de chaves onde, claro, ele tinha uma chave reserva para os aposentos reais. Aquele acesso havia sido lhe confiado pelo próprio rei Sinbad.

Ja’far finalmente abriu a porta e conseguiu acessar o amplo quarto. Ele sorria abertamente, afinal, não tinha visto seu rei o dia todo e presumia que ele estivesse muito triste. Mas alguns gemidos femininos, misturados a arfadas, chamaram sua atenção. Quem estava ali?

Marchando em direção ao centro daquele quarto, Ja’far encontrou a enorme cama do rei. As cortinas que cercavam aquele leito estavam parcialmente abertas e ele pôde testemunhar o momento em que o rei Sinbad abocanhava o seio daquela moça, completamente nua, entre os lençóis de seda.

Ela gemeu alto, contorcendo-se enquanto que o rei a possuía.

Simplesmente chocado ao presenciar aquela cena, Ja’far sentiu seu peito doer. As alças, nas laterais da bandeja, deslizaram por entre seus dedos e apenas o som estridente da louça se quebrando, quando foi ao chão, chamou a atenção do casal que se entregava em completa luxúria.

Sinbad se virou para trás imediatamente, cessando as carícias na bela moça que tinha entre suas pernas. Foi quando encontrou os olhos verdes arregalados. Ja’far estava bem mais pálido do que de costume, como se estivesse prestes a desmaiar.

— Ja’-Ja’far!

 

Não houve tempo para Sinbad dizer mais nada.

Ja’far tirou forças, não sabia de onde, e deu meia volta. Correu o máximo que pôde para sair daquele quarto, arrependendo-se do momento em que decidiu ir vê-lo.

As lágrimas escorriam por seu rosto, ficando para trás, arremessadas pelo vento que aquela corrida proporcionava. Passou tão rápido que mal deu tempo de ouvir a conversa daqueles que não perceberam sua passagem.

— Sério, eu to falando! Eu consegui convencer a majestade em trazer uma menina do prostíbulo! - Sharrkan comentava bastante animado.

Não devia forçar esse tipo de coisa. - Masrur tinha os braços cruzados. - Se Sinbad-sama não quis se relacionar com ninguém até agora, ele tem seus motivos.

 

Ja’far correu para fora do palácio, atravessando toda a cidade.

Por que doía tanto? Por que doía muito mais do que… quando o via com Serendine?

Havia se conformado em vê-lo feliz, ao lado dela. Claro, Sinbad jamais o veria com outros olhos. Não bastasse o pior: eram dois homens. Alguém cheio de ambições, tão vaidoso e poderoso como ele, jamais o veria como alguém do seu nível. Afinal, em sua mais profunda essência ainda era um assassino nojento que, por sua piedade, vivia de forma luxuosa naquele palácio. No fundo Ja’far sabia bem quem era, o que era, e não culpava Sinbad por ignorá-lo como… alguém que pudesse ser mais do que um amigo. Já se sentia grato o bastante por poder acompanhá-lo.

Mas por que doía tanto? Por que vê-lo agora, nos braços de uma prostituta qualquer - e ele também não era um assassino qualquer? - sentia como se seu coração fosse feito em pedaços?

Será que, tolamente, inconscientemente, havia nutrido a esperança de que Sinbad lhe teria olhos?

Ele só percebeu o quanto andou ao se ver naquela praia e, tomado pela dor, deixando os joelhos irem ao chão, ele cobriu o rosto como se quisesse esconder as lágrimas que não paravam de cair. Como se sentisse vergonha até mesmo do mar, a única testemunha de seu pranto.

Mais uma vez, como tantas, ele se lembrou de quando Serendine morreu. Ja’far se lembrou também de como se questionou se a morte dela havia lhe trazido alguma felicidade já que, com ela, havia esperança. Ao cogitar tal possibilidade ele se sentia uma pessoa desprezível.

— JA’FAR!

 

Aquela voz chamou sua atenção.

Olhou para trás e nada viu. Mas ao ver uma sombra se projetar na areia ele olhou para cima e viu Sinbad, que estava fazendo uso do poder de Baal para voar.

Engoliu a seco ao mesmo tempo em que esfregou o rosto em uma falha tentativa de secar as lágrimas.

— SAIA DAQUI! - exclamou o alvo antes de correr em direção àquele amontoado de pedras.

Fiquei preocupado com você! - Sinbad suspirou, cruzando os braços antes de planar ao lado de Ja’far e voltar ao normal.

— Já mandei ir embora! - ele subiu mais alguns níveis e chegou ao topo da montanha formada pela natureza. - Sai daqui! Você estava ocupado e… e eu o atrapalhei!

 

Um novo suspirou escapou dos lábios do rei, que o acompanhou.

Assim que chegou perto, Ja’far virou o rosto. Parecia querer escondê-lo de toda as formas.

— Deixe-me ver você!

 - Dá para ir embora?! - Ja’far cruzou os braços na altura do peito. - Tem alguém te esperando lá no palácio! No seu quarto! Na sua cama!

— E por que isso o deixa tão irritado!? - Sinbad foi direto.

— Irritado?! Eu?! - foi a vez do alvo encará-lo e forçar um riso. - Me poupe, Sinbad! Eu não tenho nada a ver com as vagabundas que você leva para a cama! Só pense que dessas relaçõezinhas fúteis que você tem, pode acabar arranjando um filho com essas rampeiras e tendo que “amarrar seu burro”!

 

O que seria o terceiro suspiro de Sinbad veio acompanhado do revirar de seus olhos.

Sabe que depois que a Serendine morreu nunca me envolvi com outra mulher.

— Ah, claro! Agora você a leva logo para a cama! Você ach...

— É isso que te incomoda!? - interrompeu Sinbad. - Acha que preciso muito para levar alguém pra cama? Dar flores? Levar para sair?

— Ao menos Serendine-sama era uma mulher digna! Mas eu já disse! Não tenho nada a ver com isso!

— Então para quê fez esse escândalo todo!? - retrucou Sinbad. - Se não se importa com quem se deita na minha cama, por que não deu meia volta e foi embora tranquilamente?

 - Me deixa em paz!

— Responda!

 

Sinbad exigia, dessa vez segurando os braços de Ja’far, que decidiu empurrá-lo para se afastar. Mas assim que o fez, acabou escorregando naquelas pedras úmidas e caindo para trás.

O rei, rápido o bastante, segurou-o pelo pulso e impediu aquela queda.

Ja’far não teve escolha a não ser se apoiar no peitoral daquele homem. Por mais que quisesse afastá-lo de si, sentindo nojo por tê-lo visto com aquela mulher, ele permaneceu.

— Tsc… Por que não me disse antes?

 

Piscando, desentendido, o alvo abaixou a cabeça. Sinbad não podia ver sua expressão que denotava o quão confuso estava.

— Não sei do que está falando.

— Não se faça de tolo! - Sinbad se afastou por um instante e tomou seu queixo entre os dedos para encará-lo e para que Ja’far também não pudesse desviar de seu olhar. - Por que não disse que me amava?!

 

A palidez, novamente, foi tomada pelo rubor. Ja’far tentou evitar encará-lo, mas Sinbad o forçava a fazer exatamente o oposto. Ele se mantinha bem sério.

Está louco!? Somos… Somos dois homens. - ele esboçou um riso pequeno, quase irônico. - Como eu… - como negar se as lágrimas voltavam? - Como eu… - ele soluçava. - Como posso te...

 

Não houve tempo para completar. A mão ja apoiada em seu queixo serviu de apoio para erguer mais ainda o rosto de Ja’far que, na ponta dos pés, apoiou as mãos naquele peitoral.

Sinbad abocanhou seus lábios, cessando seu falar e degustando do sabor daquela boca, que era salpicada com as lágrimas de Ja’far.

Mal havia fôlego para o conselheiro que, tão confuso, se entregava naqueles braços tão quentes que o envolviam, abraçando sua cintura, suas costas. E pretendendo desfrutar mais daquele momento, Ja’far decidiu abraçá-lo também.

Num beijo longo e demorado eles só se preocuparam em sentir um ao outro, em aproveitar aquele momento. Único.

Ja’far abriu os olhos e se viu de volta à realidade que aquela lembrança os trouxe. Ele conseguiu ver com perfeição exatamente tudo o que Sinbad havia lhe contado.

Os lábios se afastaram e, ao reabrir os olhos dourados, o rei notou que Ja’far o observava com um largo sorriso. No que ele estava pensando?

— O que houve?

Uma das mãos de Ja’far subiu e ele dedilhou as poucas marcas de expressão que havia no rosto maduro de seu rei.

— Você não tinha essas ruguinhas aqui. - ele sussurrou.

Sinbad piscou, bastante emocionado enquanto abria um sorriso.

— Você lembrou, Ja’far?! - ele segurou os ombros do menor. - Lembrou-se de tudo?!

— Na-Não… - a decepção esmaeceu um pouco tanto o seu sorriso quanto o de seu rei. Mas… eu me lembro desse momento. Como… - ele levou as mãos ao centro do peito. - eu sinto que tudo o que me contou é verdade e… e aconteceu.

— Sim! - Sinbad assentiu. - Eu te amo, Ja’far! Eu jamais o faria mal! Mentiram para você!

Como Sinbad queria dizer o que realmente havia pensado: “Kouen mentiu para você!”. Mas não. Ele precisava muito mais da confiança de Ja’far do que plantar um sentimento ruim, como o próprio Kouen havia feito, nele.

— Não vai mais pensar em ir embora, não é?! Não vai mais… - havia um forte receio de perguntar aquilo. - querer ir viver com o Kouen, não é?

Ja’far mordeu o lábio inferior e, por um instante, desejou que o príncipe do Império Kou jamais existisse. Se pudesse, então, mais uma vez, perder sua memória e se esquecer de Kouen. De tudo o que ele significava em seu coração que agora era dividido com Sinbad…

— Eu… Eu quero voltar para o palácio, Sin. Estou muito cansado e… você também não devia pegar esse sereno. Está convalescendo ainda.

Foi a maneira que ele encontrou de não responder a pergunta de Sinbad.

— Ja’far…

— Por favor, Sin?!

O olhar de Ja’far era quase uma súplica e Sinbad, por sua vez, entendia bem o que ele queria dizer. Não. Não queria estragar aquele dia maravilhoso que tiveram e ainda pôde selá-lo com um beijo.

— Vamos voltar, então.

—-----xxxxx------

Uma semana se passou e, a cada dia que passava, parecia que nada, absolutamente nada, havia mudado. Como se Ja'far jamais tivesse ido a Kou, jamais tivesse perdido sua memória e jamais tivesse sido enganado por Kouen a odiar Sinbad e seus amigos.

Ja’far trabalhava a manhã inteira no escritório, auxiliando seu rei, Pipirika e, na parte da tarde, aconselhado por Sinbad, ele ficava com um dos generais que passava o dia a conversar com o ex-conselheiro. Porém, o que antes parecia bastante complicado e inspirava alguma tensão de Ja'far, quanto para os generais todos pareciam bastante receosos, temendo alguma reação inesperada de seu amigo, tornou-se uma rotina bastante agradável.

Exceto, talvez, quando esteve com Spartos que, apesar de fazer um grande esforço para ser bastante gentil, era tão cordial e calado, que acabou não conseguindo conversar muito bem com Ja’far. Infelizmente, o cavaleiro era com quem mais ele gostaria de ter falado, já que Sinbad havia dito tantas coisas sobre seu falecido irmão. Imaginava, enquanto o observava, como o tão falado Mystoras era. Será que eram parecidos?

E com Pisti, tirando o fato de ela ter lhe levado para voar em um dos enormes pássaros de Artemyra - e Ja’far ter achado aquilo simplesmente incrível - a princesa decidiu lhe contar todas as fofocas sobre os oito generais - inclusive sobre o próprio Ja’far e seu rei e como eles ouviam as noites de amor dos dois - ela descrevia tudo nos mínimos detalhes. Aquilo realmente havia deixado Ja’far bastante envergonhado, ao mesmo tempo em que ele achou tudo muito engraçado.

Certamente a melhor daquelas tardes foi a que passou com Hinahoho. Não só com ele, mas também encontraram seus filhos e Ja’far acabou descobrindo que, praticamente, havia os criado no lugar de sua mãe. Kikiriku, o mais velho, tinha bastante respeito e admiração por ele, apesar de já ser um homem feito.

Ja’far, aos poucos, descobria o que cada um fazia, quem eram, o que gostavam e o que tinham vivido juntos. Aos poucos tudo ficava cada vez mais natural e ele já se sentia confortável o suficiente para… se sentir um deles?

Ao cair da noite, se colocavam à mesa de jantar e riam juntos, zombavam um do outro, faziam piadas, arrancavam risos de seu rei e até mesmo do próprio Ja’far.

Pouco a pouco a lembrança de Kouen havia desaparecido, talvez, completamente, de suas memórias. Ou ao menos assim Ja’far quis pensar.

Mas depois daquele beijo, Sinbad não ousou tocá-lo mais. Ele pretendia deixar Ja’far ter seu próprio espaço e tomar suas próprias atitudes. Ele queria receber seus sentimentos mais genuínos. Em contrapartida, Ja’far ansiava cada vez mais pelo momento em que, novamente, poderia demonstrar seus sentimentos, ainda mais porque seu corpo parecia clamar pelo de Sinbad.

Podia ficar horas a admirá-lo. Observava-o a escrever sobre sua mesa em seu escritório e analisava cada detalhe daquele rosto, tão bem feito, daqueles cabelos que pareciam ter sido milimetricamente repicados para realçar ainda mais aquela beleza exótica.

Volta e meia Ja’far deixava sua mão encostar na dele, trocavam olhares. Mas Sinbad apenas sorria e jamais, durante aquele tempo, decidiu propor algo além. Nem ao menos um beijo e, quando a noite caía, Ja’far não tinha outra escolha - em seus aposentos - a não ser aliviar a si mesmo. E em todas aquelas vezes nunca, absolutamente nunca, Kouen passou por seus pensamentos.

Naquela noite haveria um grande festival. O rei Sinbad estava bastante feliz ao ver seu conselheiro de volta e seu reino em paz com sua presença. Era o que eles chamavam de Maharagan e Ja’far se surpreendeu bastante ao ver que não era um festival restrito ao palácio. Todo o povo estava convidado a comer, beber e se divertir.

Sindria realmente era um lugar incrível - Ja’far admirava a cada instante, a cada troca de olhar com Sinbad. Aquele homem era fascinante.

Naquele momento os demais generais estavam dispersos durante a festa e estava só ao lado do rei.

— Está gostando do festival, Ja’far?

A mão pesada de Sinbad cobriu a sua, que estava pousada sobre a mesa. As bochechas claras ficaram avermelhadas, mas ele sorriu abertamente.

— Muito! As pessoas ficam muito felizes, não?

— Sim! Todos de Sindria gostam muito de se divertir! - o rei sorriu. - Por que não bebe um pouco?

— Porque preciso ficar de olhos beeeem abertos para ver se você não está bebendo muito. - riu o conselheiro.

— Se nós dois ficarmos bêbados não vai ter problema. - brincou Sinbad. - E, aliás, você fica uma piada quando bebe! É a alegria da festa!

— Pode deixar que não vou servir para divertir vocês essa noite. - Ja’far cruzou os braços e riu.

Sinbad olhou para os lados antes de se agachar e tirar uma pequena caixinha de veludo vermelho que estava debaixo daquela mesa.

— Ja’far… Eu quero que essa noite seja ainda mais especial!

— Hm?!

O rei tomou a mão fina e a levou até seu joelho. Toda a música, burburinho que havia em volta, havia desaparecido completamente como se ali, naquele instante, existissem apenas os dois.

— Eu não quero mais viver com você apenas como… como amigo, por mais que as pessoas saibam do que temos, digo, tinhamos...

O coração de Ja’far, subitamente, acelerou. Onde Sinbad estava querendo chegar?

— Eu pensei muito sobre isso e, quando foi embora para Kou e não voltou e eu pensei que estivesse morto… - Sinbad suspirou, bastante angustiado ao se recordar. - Ja’far, eu pensei inúmeras vezes o quanto perdemos tempo não… não fazendo o certo.

Ainda em silêncio e apenas ouvindo as palavras de Sinbad, Ja’far viu quando o rei abriu aquela caixinha. Havia uma aliança dourada incrustada com ametistas e esmeraldas polidas que se entrelaçavam. Os olhos verdes cresceram ao refletir aquela joia belissima.

— Ja’far, quero que seja minha rainha! - convicto, Sinbad segurou as duas mãos de seu conselheiro. - Você quer se casa…

— MAJESTADE! MAJESTADE!

Era como se toda a magia daquele momento tivesse se quebrado.

Uma aflita Yamuraiha vinha acompanhada dos demais generais, que carregavam a mesma expressão. Sinbad se assustou, sendo forçado a interromper aquele momento.

— O que aconteceu?! - o rei se pôs de pé.

— Acabou de aportar um navio! - Yamuraiha, ofegante, tentava explicar. - O príncipe Kouen acaba de desembarcar em Sindria e está vindo para cá!


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Notas finais do capítulo

TCHAN TCHAN TCHAN TCHAAAAAAAANNN!!!! Que momento para parar a fic, hein? Eu sou terrível mesmo! Mas nem foi planejado. É que realmente eu já estava no meu limite de média de caracteres para a fic não ficar muito longa e acabar ficando chato para vocês lerem.
Preciso dizer que, ao descrever a primeira cena e o badalar do sino, eu imaginei o Ja'far bem Cinderella correndo e perdendo o sapatinho de cristal. Hahaha!
Eu adoro trabalhar com esses flashbacks porque, pelo fato do Ja'far estar desmemoriado e eu não poder trabalhar cenas de amor deles no momento, eu posso ter essa liberdade e proporcionar essas ceninhas fofas.
E Ja'far realmente caiu de amores por Sindria! Impossível não se apaixonar, não é? Esqueceu completamente do bode! Mas e agora que o En chegou? Como ele vai reagir? O coração vai bater mais forte? Ele vai decidir com quem vai ficar? Vai ter barraco? Vai ter briga se Ja'far vai ser rainha de Sindria ou imperatriz de Kou!?
Lembrando que críticas, sugestões, elogios ou só bater papo comigo é sempre bem-vindo! Me escreve review que eu AAAAMOOO! ♥ Um beijão e até o próximo capítulo - que espero sair antes de 2 semanas, gente!



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