Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 16
Reencontro


Notas iniciais do capítulo

Esperei muito pela chegada desse capítulo! Espero que gostem! ♥



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Não era a primeira vez que pisaria naquele território hostil, porém, ao pensar que estava ali para reencontrar Ja’far ficava extremamente ansioso e apreensivo.

Mesmo sendo alvo de olhares hesitantes e temerosos que vinham dos soldados e demais transeuntes naquele porto, o rei de Sindria tentou se manter tranquilo. Devia manter sua postura e por muitas vezes relembrou o tanto que aprendeu não só com Rurumu, mas também com o falecido rei Rashid. Aqueles que o ensinaram a se portar de forma diplomática e até mesmo intimidadora perante seus inimigos.

E por mais que Sinbad evitasse ao máximo denominar alguém como tal, ele tinha uma única certeza: Kouen era seu inimigo. Fora ele que levara Ja’far. Aquele que preparara tamanha emboscada para lhe tirar quem tanto amava.

Seu coração acelerava só de pensar em reencontrá-lo. Ansiedade, receio, tudo se misturava dentro de Sinbad.

Enquanto descia as escadas do pomposo navio, viu alguns guardas segurarem mais firmemente suas lanças, como se estivessem demonstrando estarem prontos a atacá-lo. O rei evitava encará-los quando foi surpreendido por alguém que saia do meio daquela multidão. Por suas vestes mais finas, tão diferentes do padrão que o governo exigia que as classes mais baixas usassem, Sinbad presumiu que aquele homem fazia parte da nobreza.

— Rei Sinbad! - de baixa estatura e rechonchudo, o aristocrata abriu os braços de forma amistosa. - Mas… que surpresa vê-lo aqui! Não vem a nosso Império faz alguns anos, não?

Certamente aquela pessoa havia sido mandada às pressas até ali para recebê-lo, pensou.

O moreno sorriu de canto, estendendo sua mão para cumprimentá-lo.

— Acho que não sou muito bem quisto aqui pelos olhares das pessoas. - ele riu, sendo bastante ousado. - Porém, não devia ser surpresa minha chegada. Enviei uma carta comunicando a seu general e primeiro príncipe de minha vinda.

— N-Não diga isso! Como poderia pensar algo assim?! - ele parecia desconfortável. - É que… não pensamos que chegaria tão rápido!

— É um assunto que exigia urgência. - Sinbad foi sucinto.

— B-bem, então vamos andando até o palácio, certo? Providenciarei carruagens para levarem suas bagage…

— Não se preocupe. - o rei o interrompeu. - Não passaremos a noite aqui.

— Mas como não?! Depois de tão longa viagem, precisam ao menos descansar! E Kouen-sama com certeza irá querer desfrutar de sua estadia aqui!

— Sinto muito, mas viemos aqui apenas resolver alguns problemas. - Sinbad esboçou um fraco sorriso, precisava permanecer a agir de forma diplomática.

Não querendo contrariar a vontade do rei de Sindria, o homem apenas assentiu antes de se afastar e tratar com alguns cocheiros que fariam o transporte de Sinbad e seus generais - ao menos os que ele parecia ter trazido - até o palácio.

Logo retornou para conduzi-los às carruagens e se sentiu aliviado quando os viu se afastar. Para muitos não era tão novidade o que o rei de Sindria estava fazendo ali. Havia, como aquele homem, quem soubesse que o Império Kou estava em posse de algo que pertencia somente a Sinbad. E sabendo do valor que aquilo possuía, eles só temiam o pior: guerra.

As duas carruagens serviram para que os quatro se dividissem.

Masrur fez questão de acompanhar seu rei, preocupado com sua segurança, enquanto que Hinahoho e Drakon seguiram em outra carruagem.

E durante aquele trajeto, o fanalis, tão perspicaz, observou as inúmeras vezes que Sinbad apertava as próprias mãos, entrelaçando os dedos. Ele estava tão pensativo que, mesmo sendo habitualmente tão falante, não trocou uma palavra sequer enquanto viajavam. Mas assim que a carruagem parou e Sinbad mordiscou o lábio, entreolhando seu amigo, Masrur tocou em seu ombro.

— Está acabando. Lembre-se do que prometeu aos outros.

Sem encará-lo, o ruivo proferiu aquelas palavras antes de sair da carruagem, deixando um pensativo Sinbad a refletir.

... nós só voltaremos para cá com o Ja’far!” - como poderia esquecer?

Respirando fundo, o rei afastou aquelas cortinas e saiu da carruagem, sendo amparado por Masrur, que já o esperava. Drakon e Hinahoho já estavam do lado de fora também e contemplavam a imponência daquele grandioso palácio.

E quando aquele lugar refletiu em seus olhos, mil coisas passaram por sua mente.

Como Ja’far havia passado aquele tempo ali? Como estava vivendo ali?

Será que havia sofrido? Será que havia se tornado um escravo? - não, não! Chegou a balançar para os lados a própria cabeça ao pensar aquilo. Não suportaria imaginar que Ja’far pudesse passar por algo semelhante à escravidão que teve a oportunidade de conhecer tão bem.

Porém apenas uma pergunta poderia responder a todas aquelas respostas e angústias: era aquele palácio uma fortaleza que o cingia ou seria aquele seu novo lar?

— Mas que honra tê-lo aqui, Rei Sinbad!

Tão perplexo com a grandeza daquela construção e tão aturdido por seus pensamentos como estava, Sinbad nem ao menos notou a aproximação daquele homem.

O par dourado refletiu o largo sorriso que Ren Kouen tinha em seus lábios.

Cercado em seus lados lados por duas fileiras de soldados no longo percurso da área externa que os conduziria até o palácio, o general mantinha os braços cruzados e uma expressão bastante amistosa e… feliz? Sinbad jamais havia o visto esboçar tanta vivacidade.

E por que ficara tão tenso ao encará-lo? Sentia-se, ridiculamente, pequeno e… patético diante dele. Completamente imóvel, não conseguiu respondê-lo. O que estava acontecendo?

— Impressionado com a beleza do nosso palácio? Que eu saiba já esteve aqui antes. - Kouen prosseguiu depois do prolongado silêncio do rei de Sindria.

— M-Me perdoe, alteza.

Sinbad retomou o largo sorriso. - No que estava pensando? - perguntava a si mesmo ao se recompor, colocando os ombros para trás ao estufar o peito. Precisava encará-lo de igual para igual.

— Realmente, me emociona muito a belíssima arquitetura de seu país.

O moreno estendeu a mão para cumprimentar o homem mais alto.

— Quem sabe algum dia temos a honra de reformular Sindria para que tenha não só nossa arquitetura.

Kouen não jogava para perder e aquela alfinetada em relação a uma futura invasão a Sindria deixou os generais pasmos. Sinbad apenas riu, parecendo inabalável, balançando a cabeça antes de voltar a encará-lo.

— Meus generais e eu estaremos sempre lá esperando.

Ácido, o moreno respondeu sem vacilar. Os olhos de ambos faiscavam ao se confrontarem e aquele clima fazia parecer impossível deixar aquele lugar sem um conflito. - pensavam aqueles que acompanhavam seu rei.

Porém, se a política dos representantes de Sindria era pacífica, a de Ren Kouen seria mais ainda quando o general pensava na possibilidade de perder Ja’far. Mas isso não significava que não faria de tudo para colocar seu inimigo em seu devido lugar. Mais do que nunca agora ele se sentia superior ao líder da Aliança dos Sete Mares.

O receio pela chegada de Sinbad se transformou em uma adrenalina deliciosa e o ruivo, altivo, divertia-se ao saber que possuía aquilo que havia lhe tirado. Ah, se aquele homem tão prepotente soubesse o que Ja’far pensava dele agora…

— Bem, vamos entrar, então. - Kouen deu a frente ao rei de Sindria. - Assim que soube de sua chegada, pedi que preparassem um banquete para recebê-lo.

Seguiram lado a lado sendo seguidos pelos generais que se mantinham atentos.

Quando desviava o olhar para o príncipe, Sinbad via um sorriso largo estampado em seu rosto. Como aquilo o deixava ainda mais tenso!

Assim que cruzavam os corredores, os servos iam se curvando em respeito à vossa alteza. Algumas moças que trabalhavam no palácio se cutucavam, deixando escapar risinhos enquanto admiravam a beleza tão exótica daquele homem que acompanhava Kouen. Não era dificil que aquelas mulheres sonhassem em agradar o rei de Sindria a ponto de imaginar que Sinbad poderia levar uma delas como concubina para longe daquele país.

Chegaram a um amplo salão onde havia, em seu centro, uma comprida mesa bastante farta. Enormes pratos com o melhor da culinária daquele país eram exibidos em luxuosas baixelas de porcelana.

Alguns criados ainda terminavam de ajeitar tudo, em especial as almofadas forradas com a mais luxuosa seda e bordadas com fios de ouro.

— Não precisava se incomodar com tanto. - Sinbad agia da forma gentil habitual. - É uma breve passagem apenas. Iremos embora essa noite mesmo.

— Como? - Kouen arqueou uma sobrancelha. O espanto que forjava era um grande esforço para conter sua alegria. - Não acredito! Mal vêm nos visitar! Adoraria que passasse ao menos um mês aqui!

Tanta simpatia vindo daquele homem... Era óbvio que algo estava estranho. Sinbad ficou a observar a expressão desolada do príncipe ao saber que sua visita seria breve. Era difícil saber como responder aquele que jamais, em toda sua vida, lhe tratou com gentilezas ou cordialidade e agora estava ali, sendo o melhor anfitrião do mundo.

— Err… - será que era o momento ideal? Sinbad se questionava. - Alteza, creio que sabe o porquê da minha vinda. - Sinbad desviou o olhar, mas precisava ser firme. Encarou o ruivo. - Ja’far desapareceu após vir até aqui.

O silêncio perdurou. Os olhos avermelhados refletiam os dourados. A angústia de Sinbad era palpável, não havia como disfarçar e o rei também não se acanhava em demonstrar aquele sentimento. Quem sabe aquilo também não amoleceria o coração de Kouen? - Tão ingênuo.

— Eu sinto muito, mas não sei de nada.

Havia piedade em sua expressão e um olhar realmente preocupado. O coração de Sinbad vacilou. Será que ele realmente não sabia de nada? “Não, Hakruyuu-kun me garantiu. Ele não mentiria!” - o rei de Sindria pensava consigo mesmo, mas ao mesmo tempo lembrava-se do alerta que Ja’far havia lhe feito, há anos, quando o quarto príncipe visitou Sindria: “Esse rapaz está sedento por vingança. Não podemos confiar cegamente.”. Não, Hakuryuu não mentiria com algo tão grave, aliás, nem sabia se ele ao menos tinha conhecimento da ida de Ja’far a Kou.

Sua mente processava tudo aquilo muito rápido enquanto continuava a observar Kouen, que permanecia a falar.

— … Seu conselheiro partiu daqui há mais de um mês.

— Não é possível! - o moreno respondeu um tanto quanto rispidamente, balançando a cabeça. - Nosso navio não retornou. - Droga! Ele precisava se manter calmo.

— S-sente-se. Vou contar como foi a visita de seu conselheiro. Mas acalme-se, sim. Por favor, sirvam uma bebida ao rei Sinbad, ele está muito tenso.

Kouen rapidamente se afastou, sentando-se na cabeceira daquela mesa. Sinbad, um tanto quanto atônito, colocou-se do lado oposto.

Reconhecia que as coisas não estavam saindo como planejara.

Era um gênio para negociações, persuasão, para mentir… E no entanto se via ali desarmado, completamente abalado pelo medo de não recuperar Ja’far. Aqueles que tanto lhe ensinaram sobre como ser um bom diplomata e um governante apropriado estariam envergonhados, tinha certeza.

Ao seu lado, os generais se sentaram, sem tirar os olhos daquele astuto homem, que se comportava de uma maneira tão atípica do que conheciam. Kouen sorria de forma bastante articulada enquanto orientava os serviçais que começavam a servi-los.

O primeiro príncipe era conhecido por sua altivez, prepotência e frieza. Agora demonstrava sorrisos e até mesmo compadecimento e carinho para com Sinbad.

— Quero propor um brinde a sua visita aqui, Sinbad.

Hm?

— Nunca temos a honra de termos uma visita tão ilustre. Certamente é um dia para comemorarmos, não?

— S-Sim… - o moreno abriu um sorriso meio amarelo. - Tem razão. E… acho que devemos brindar também a nossa aliança, certo? Afinal, Ja’far veio aqui para assinarmos o tão sonhado tratado de paz que irá não só melhorar nossas relações comerciais, mas também amistosas!

Ao ouvir aquilo, Kouen parecia um tanto quanto sem fala. O sorriso não saiu de seus lábios enquanto ele colocava sua taça de volta à mesa.

— Bem, quanto a isso, infelizmente não temos como comemorar.

Sinbad piscou, desentendido. O que Kouen queria dizer?

Hakuryuu havia lhe contado que o tal acordo era apenas uma isca para levar Ja’far até o Império Kou, mas por que o primeiro príncipe falava tão abertamente sobre a farsa?

— Eu sinto muito, mas seu conselheiro não quis aceitar os termos de nosso acordo e se recusou a assiná-lo.

Tinha de se conter ao ouvir tamanha mentira. Como era capaz de maldizer Ja’far assim?

— Não se preocupe. Não tivemos atritos. - ele prosseguiu. - Ja’far apenas explicou que as políticas da Aliança não aceitariam nossas exigências. Se quiser revê-las e ver se concorda…

— Não. - Sinbad o interrompeu. - Confio no julgamento de Ja’far. Se ele crê que não devíamos assinar esse acordo, só posso acreditar nele.

— Entendo… - o ruivo sorriu de canto. - Porém, sinto muito com o que aconteceu. Ja’far realmente parecia um ótimo profissional.

— Ele é. - Sinbad enfatizou. - Mais do que isso, ele é um grande amigo e estou preocupado com seu paradeiro. O único lugar em que esteve foi aqui.

— É uma infeliz coincidência. Infelizmente não tenho informação alguma de seu paradeiro depois que me despedi às portas do mesmo palácio que o recebi hoje.

— Entendo...

A angústia era nítida naquelas gemas douradas. Kouen observava atentamente o rei que parecia encurralado. Não era como se Sinbad não soubesse que o príncipe tentaria esconder o fato de ter Ja’far consigo, mas… e se ele, realmente, não soubesse o que aconteceu com ele? E se, realmente, Hakuryuu quisesse um álibi para que odiasse Kouen também?

Do lado de fora daquele salão, pela fresta da porta, um atento Koumei observava o que acontecia.

O sorriso estampado no rosto de seu irmão mais velho condenava que tudo estava saindo como Kouen havia planejado, tão diferente do que ele desejava.

Precisava tomar uma atitude para inverter aquela situação. Mesmo que significasse a tristeza de seu irmão, ele precisava entender o quão baixo estava indo para ficar ao lado de um homem, aliás, um assassino.

—-----xxxxxxx------

Ja’far permanecia pensativo naquele quarto, onde só podia imaginar o que estava acontecendo.

Cumprindo as ordens que Kouen havia lhe dado, permaneceu trancado ali, mesmo que já se sentisse faminto. A noite já havia caído e algumas vezes ele ousava olhar por entre as cortinas para o lado de fora para, então, voltar a se sentar naquela confortável cama.

Suspirando, Ja’far tateava os lençois de seda. Aquele quarto já não pertencia apenas a Kouen há um tempo, afinal, praticamente todas as noites o primeiro príncipe ia lhe buscar e arrastar para seus aposentos. Rara era a noite que não dividia aquela cama com ele.

Com um sorriso malicioso em seus lábios ele se deitou ali, sentindo o cheiro daquele homem, impregnado nos lençois e fronhas. Poderia preparar uma surpresa e esperá-lo ali para que se amassem mais uma vez, pensava.

— JA’FAR!

Seus devaneios foram interrompidos pelo exclamar que vinha do lado de fora. Duas, três, quatro batidas na porta denunciavam a urgência de quem o chamava. Mas como sabiam que estava ali?

— JA’FAR, ABRA!

Foi quando ele reconheceu a voz do segundo príncipe. Será que havia acontecido algo? Certamente Kouen confiava o suficiente em seu irmão para lhe confidenciar que Ja’far estava escondido ali.

O alvo se levantou e, rapidamente, correu até à porta. Levou uma mão à maçaneta e ouviu ecoar em sua mente as palavras do primeiro príncipe: “Não abra até eu voltar! É uma ordem!” - Mas era ninguém menos que o irmão de Kouen. Não poderia ignorá-lo. E se Koumei estivesse vindo avisar sobre alguma fatalidade que ocorreu? Sinbad era um homem perigoso. E se algo tivesse acontecido com Kouen?

Aflito, não pensou duas vezes. Abriu a porta sem hesitar para encontrar um desesperado Koumei.

— JA’FAR! - ele empurrou o mais baixo para dentro do quarto. - Aconteceu uma tragédia!

— Anh?! - Arregalando os olhos, Ja’far se assustou. Seu pressentimento estava correto, então. - O que aconteceu, alteza?! Cadê o En?!

— Sinbad atacou meu irmão, Ja’far! Ele está entre a vida e a morte e a culpa é sua!

O pouco de cor que havia no rosto pálido de Ja’far desapareceu. Perplexo, ele balançou a cabeça. Não negando que, de fato, Koumei estava certo. Por sua culpa Sinbad havia vindo até Sindria e tinha… tentado matar Kouen.

— EU PRECISO VER O EN!

Ele exclamou ao mesmo tempo em que se dirigiu à porta do quarto, mas Koumei o segurou firmemente.

— NÃO! Os médicos da corte já estão cuidando dele! O que você tem que fazer é ir atrás daquele miserável que fugiu, Ja’far!

— E-Eu? - gaguejou o alvo.

Koumei, então, lhe entregou um pequeno pacote forrado em veludo. Ja’far piscou, tentando não deixar transparecer o pânico que lhe consumia.

Abriu aquilo de qualquer jeito a ponto de uma das lâminas que estavam ali, forradas, irem ao chão.

Ja’far havia pedido para que Kouen escondesse aquelas armas desde aquele fatídico dia em que, inconscientemente, atentara contra a vida do primeiro príncipe.

Suas mãos tremiam ao segurar aquelas afiadas lâminas amarradas por fortes linhas vermelhas. Encarou Koumei, extremamente receoso.

— N-não quero isso…

— Você é um assassino, Ja’far! - ele o encarava de forma obstinada. - Vingue meu irmão! Por que hesita? Não deseja matar Sinbad e fazê-lo pagar por ter afastado o meu irmão de você?!

O ex-conselheiro de Sindria mordia o lábio quando assentiu. Koumei tinha razão. Porém, não podia evitar em sentir medo. Medo de voltar a se lembrar daquelas coisas ruins. Sentia que toda vez que estava próximo de algo que lhe remetia àquela vida mentirosa que Sinbad forjou, poderia perder a si mesmo.

Não havia tempo para lutar contra si mesmo naquele impasse, ainda mais quando o ruivo tocou seu ombro. Verdes e rubros se encontraram.

— Se você vingar meu irmão, Ja’far, eu prometo que nunca mais serei contra ficarem juntos!

Uma proposta bastante tentadora somada com o forte desejo de se vingar. E agora Ja’far ainda pensava que Kouen estava gravemente ferido por culpa de Sinbad. Melhor, por sua culpa. Porque graças aos sentimentos asquerosos que despertara no Rei de Sindria, ele simplesmente não se conformava em perdê-lo para En.

Como não o defenderia agora? Kouen havia feito de tudo, até mesmo ficado contra sua família para protegê-lo. Não era justo. Precisava honrar tudo o que sentia e todo o amor que havia recebido pelo primeiro príncipe.

— Eu… Eu vou fazer isso, alteza… - ele encarou Koumei. - Pelo En!

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O jantar seguiu praticamente em silêncio. Kouen era quem puxava conversa constantemente, mas a apatia no rosto do rei de Sindria era evidente.

Como combinado, partiriam após o jantar e, com um agradável sorriso, o primeiro príncipe se despedia de Sinbad e de seus generais.

— É inacreditável que, após viajaram para tão longe, nem ao menos permaneçam aqui essa noite. - ele forjava uma melancolia sem igual perante à partida do rei.

— Sinto muito, príncipe Kouen. - Sinbad esboçou um sorriso. - Agora iremos voltar pelos demais países no caminho procurando por mais pistas do paradeiro de Ja’far.

— Mas poderiam esperar até amanhã. Devem estar exaustos!

— Nosso navio tem o suficiente para ficarmos bem. Não se preocupe e muito obrigada pela preocupação.

As mãos se apertaram e os olhares se encontraram.

Sinbad sentia asco ao ver aquele homem agir de forma tão natural. Sabia que ele estava escondendo Ja’far. Não era possível! Não se convenceria até encontrá-lo.

— As carruagens que os conduzirão de volta já estão esperando. - Kouen anunciou.

— Não se preocupe. Iremos por nós mesmos.

Hm? - o ruivo franziu o cenho. - Mesmo acompanhado de seus generais, eu creio que seja perigoso para um rei andar sozinho pela noite. Temos uma densa floresta no caminho até o porto.

— Não se preocupe! Realmente gostamos de desfrutar da paisagem dos países que não conhecemos e… e Masrur não conhece Kou. - ele aproveitou a oportunidade. - Prometi que o levaríamos para conhecer essas áreas menos exploradas.

Kouen olhou de canto o fanalis que, como de costume, não esboçou a menor reação. Apenas acatava as ordens de seu rei. Os outros pareciam não estarem dispostos a fazer o mínimo esforço para serem agradáveis.

— Muito obrigado pelo jantar, alteza! - Sinbad sorria. - Espero sua visita a Sindria!

— Eu que agradeço pela visita e eu espero que possa reencontrar Ja’far o mais rápido o possível! - Kouen correspondeu aquele sorriso da maneira mais sincera que podia.

Assim que se despediram, Sinbad e seus três generais trazidos naquela missão seguiram viagem. Desviando-se da estrada principal, caminharam pela região onde as densas árvores formavam um caminho.

— Vamos embora sem o Ja’far, então? Se ficássemos lá, com certeza descobriríamos onde ele está sendo escondido!

Hinahoho se certificou de perguntar após se verem bem longe do palácio. Sinbad balançou a cabeça negativamente.

— Ele nunca deixaria o Ja’far tão fácil assim, Hina. - Sinbad suspirou. - Se o Ja’far estiver no palácio e passássemos a noite lá, é provável que Kouen fosse mandá-lo para mais longe, talvez fora de Kou. Se é que… - ele farfalhou os próprios cabelos. - ele está aq…

Não houve tempo para Sinbad concluir o que dizia. Masrur violentamente o empurrou, rápido o suficiente para que aquela lâmina que, à toda velocidade foi fincada ao chão, não atingisse seu rei.

Todos ficaram perplexos ao ver aquela arma. Não havia dúvidas.

Sinbad, que ainda estava ao chão sem entender muito do que acontecia, piscou, olhando em direção a todos os lados à procura do dono daquela arma.

— Tenham cuidado! - Drakon advertiu. - Não temos certeza se...

E novamente a distração traiu o rei de Sindria. Não só ele, como a todos.

Pulando de um dos galhos daquelas árvores, um vulto encapuzado saltou por cima de Sinbad.

Desorientado e sendo jogado ao chão de novo, o moreno não conseguiu reagir, as pernas de seu algoz prendendo firmemente sua cintura. Quando retomou o foco, ele pensou estar revivendo algo perdido em sua lembrança, há 20 anos atrás. Uma noite tão fatídica, em Immuchak, que o fez conhecer o amor da sua vida.

O rosto coberto por ataduras deixava visível apenas o esverdeado daqueles olhos. Estavam tão repletos de malícia que cintilavam vermelho ao lhe encarar.

E por mais que seus lábios estivessem cobertos, Sinbad podia ver o sorriso malicioso que ele portava.

Mesmo coberto em trapos, ele possuía o mesmo cheiro de sempre. Inconfundível.

E ainda que fosse a mira daquela lâmina que ele segurava tão firmamente, Sinbad não reagiu. Sentiu o tempo parar. O tão intenso déjà vu o fazia se questionar se era real o que vivia.

— Eu vou te matar, Sinbad!

Até mesmo as palavras eram as mesmas.

Mas aquele assassino não era uma criança de mais ou menos 10 anos que estava lhe ameaçando e sim… seu Ja’far. Aquele que criou, estimou e amou. Ele estava ali, diante de si.

A alegria e o alívio de encontrá-lo confrontaram com o receio. O que Ja’far estava fazendo tentando lhe matar?

— Ja-Ja’far… - ele gaguejou.

— É o seu fim, Sinbad! Vou me vingar por tudo o que fez a mim e ao En!


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Notas finais do capítulo

Eeeee finalmente nossos lindos se reencontraram! Imagino como Kouen vai ficar FELIZ ao saber que Ja'far descumpriu suas ordens. A culpa não foi dele, não?
Creio que desde a concepção da fic, eu planejava que o reencontro de Sinbad com o Ja'far fosse um deja vu do primeiro encontro deles. Ja'far como um assassino enviado para matar Sinbad só que, claro, apenas o Sin tem essa perspectiva por se lembrar perfeitamente do ocorrido.
Foi bastante difícil fazer as cenas entre Sin e Kouen. Eu tinha um planejamento diferente da postura do Sin, porém o Kouen cresceu tanto como personagem durante a fic que ele, realmente, ficou muito "superior" e com uma altivez saudável, mas irritante, o que faz com que o Sin, que é extremamente carismático e ISSO o faz superior, acabe se retraindo.
É mais um daqueles casos em que eu, escrevendo, estou assistindo também a cena e os personagens agem por si sós. Hahahaha!
Espero que estejam gostando! O próximo capítulo terá um passo crucial, continuem acompanhando! ♥



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