A Criação da Luz escrita por André Tornado


Capítulo 49
A pior das despedidas


Notas iniciais do capítulo

"Ainda proferiu, em voz baixa, algumas palavras que ela não ouviu. Era como se se queixasse para si mesmo."
in Cleópatra Rainha do Nilo, Peyramaure, M., Bizâncio, 1998



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A sala enchia-se de solidão e de um silêncio trágico.

Luke Skywalker ajoelhava-se imóvel, vulto negro recortado pela luz ténue que se esbatia no ar parado, onde subsistia o cheiro desagradável da batalha titânica que aí se tinha desenrolado pelo futuro da galáxia e do próprio Universo. A pestilência da morte, do sofrimento e do horror.

Junto a si, a mulher a quem ele não largara ainda a mão e que tinha acabado de partir. Nem sequer lhe tinha dito adeus. Não conseguira ou simplesmente não quisera. Contemplou-a angustiado, recordando as suas derradeiras palavras que esclareciam tudo, que a definiam numa criatura ainda mais especial, admirável e extraordinária, fazendo-o estremecer com um calafrio que o tornava humilde perante aquela vitória, que fora inteiramente dela mas que lhe pertencia também, como uma oferenda sagrada que ela lhe tinha deixado com o seu sacrifício.

Então, languidamente, como uma brisa cálida a passar pelas dunas de Tatooine, o corpo da mulher desvaneceu-se e só restou uma feia mancha escura no chão, provocada pelo sangue que aí secara. Não se misturou com a Força, nunca mais iria revê-la num futuro distante quando também ele se fundiria com a energia que unia o Cosmos. Ela não era feita da mesma matéria das criaturas do Universo e por isso não voltava à origem com a sua morte. O espírito de um cavaleiro Jedi que não o visitaria desde o mundo desconhecido do além, com quem nunca mais falaria. Iria ter sempre saudades dela, assumiu, apesar de, com a veemência que lhe era típica, ela ter afirmado que ele iria esquecê-la.

Levantou-se a tremer de mágoa.

Apanhou o seu sabre de luz, recuperou o sabre de luz dela.

Sabia que a iria perder. A Força não lhe mentira sobre o futuro e ele não fora suficientemente forte para contrariar o destino que o empurrava para o exílio da alma, que a empurrava para o desvanecimento. Ela também não colaborara. Não se tinha contido e fora em seu auxílio, contrariando as suas ordens. Abençoada rebeldia! Sem ela, admitia-o relutante e infeliz, não teria conseguido vencer O’Sen Kram. Agora, agradecido e vitorioso, padecia com a sua ausência.

O fim tinha chegado e devia regressar para junto dos seus amigos, família, um aconchego que o faria suportar melhor aquela angústia e aquele vazio. A Força dizia-lhe que a frota de Kram tinha sido destruída no sistema Hosniano, o Novo Senado em Coruscant dominara os usurpadores, celebrava-se a vitória. Han, Leia e Chewbacca exultavam em euforia, Threepio acompanhava-os nos festejos. Ali, na Cidade das Nuvens, Lando Calrissian recuperava o controlo administrativo da colónia mineira, o exército invasor neutralizado, Artoo estava com ele. E Iko, a criatura dos lagos Kendon, também.

Deteve-se a contemplar o sabre de luz que ela tinha construído, onde impregnara, naquele punho prateado, naquela lâmina luminosa, toda a sua personalidade difícil, os desejos de transformação, as ambições, os receios, os sonhos e os segredos. A necessidade de ser aquilo que não tinha nascido para ser. Estaria sempre com ela se mantivesse aquela relíquia junto a si, junto ao seu coração que se apertava com um sentimento forte e debilitante, diferente e incomparavelmente mais completo do que quando se julgara apaixonado por Leia. Apertou o punho do sabre de luz, esperando alcançá-la nesse abraço que fazia com os dedos.

Pediu mais tempo, queria que ela voltasse. Para levá-la outra vez à primeira lua de Luyta e vê-la mergulhar na lagoa. Sentir-lhe a felicidade e escutar-lhe o riso. Provocar-lhe as iras e os arrependimentos, a maneira desajeitada e sincera com que ela lhe pedia desculpas. Acariciar-lhe o rosto adormecido, escutá-la a agradecer-lhe por ter cuidado dela. Lutarem os dois com os sabres de luz verdes, como o céu do sítio onde ela se tinha treinado e amadurecido, onde se tornara naquela mulher fascinante, um Jedi único.

Pediu tempo… Apenas um instante fugidio. Passava-lhe a mão pelos cabelos e dizia-lhe aquilo que nunca fora capaz de lhe dizer.

— Amo-te… – murmurou.

Porém, ela não voltaria.

Nem estava ali para ouvi-lo.

E Luke Skywalker chorou.


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Notas finais do capítulo

Ficámos a conhecer o que sente o Jedi.
Neste momento de encerramentos, existe alegria e alívio pelo regresso da paz à galáxia, mas também angústia e sofrimento. Os equilíbrios sempre presentes...
De seguida, vamos escutar a Cleo uma última vez, quando ela nos disser adeus.
Foi ela que nos contou esta história, nada mais justo do que as palavras finais lhe pertencerem.

Próximo e ÚLTIMO capítulo:
A inevitável consciência do fim.