A Criação da Luz escrita por André Tornado


Capítulo 45
Combate no espaço


Notas iniciais do capítulo

"Dormira pouco na noite anterior. Mas nas vigias da madrugada olhara para si próprio e dissera a si próprio que isto era loucura e fraqueza (...)"
in Rei Rato, Clavell, J., Publicações Europa-América, 1962



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A confusão imperava nas pistas de aterragem, que eu e Iko atravessámos a fugir. Homens e máquinas afadigavam-se em redor de caças que pousavam e que descolavam. Os altifalantes emitiam avisos cada vez mais intensos, berros a solicitar peças, androides, ferramentas misturavam-se com os roncos dos motores em esforço. A temperatura era insuportavelmente quente dentro do hangar. Um A-Wing chegava a soltar faíscas azuis da fuselagem. Logo que bateu na pista foi rodeado por uma equipa da manutenção, que trataram da nave fumegante e do piloto aturdido. O artilheiro jazia morto no outro assento, o capacete perfurado.

A nossa nave estava onde a tínhamos deixado, numa pista secundária. Entrámos na cabina antes de a rampa de acesso tocar no chão, Iko carregou no botão para fechá-la e eu perguntei-me se aquilo afetaria de algum modo o seu sistema hidráulico. Uma minúcia sem sentido mas que ajudava a distrair-me e minguava o medo que eu começava a sentir por ir meter-me no meio de uma batalha espacial. Toda a coragem que exibira perante Leia Organa Solo e Threepio tinha-se esvaído ao ver o artilheiro do A-Wing morto. Podia acontecer. Havia tantos disparos laser lá em cima que seria uma questão de sorte não apanharmos com um em cheio que acabaria com todas as veleidades.

Tomámos os nossos lugares, Iko como piloto, eu como copiloto. Ligámos painéis, computadores, sistemas de navegação, indicadores de situação, tudo o que era necessário ligar naquela sucata.

Agarrei no braço peludo do monstro, olhou-me com uma rosnadela.

— Não precisas de fazer isto.

Abanou a cabeça, falando com alguns roncos. Suspirei desolada.

— Pois, tens razão… Sem ti não conseguiria pilotar a nave… E se um Jedi não sabe voar, uma aprendiza sabe-o menos ainda. Não tenho outra maneira de ir para Bespin, a não ser na tua companhia. Obrigada, Iko. – Sorri-lhe. – Mas seres o meu protetor não significa que deves alinhar em todas as minhas loucuras… E não significa que deves morrer por mim… Não, Iko! Não quero que morras por mim! Pode acontecer, mas eu não vou deixar que aconteça… Ouviste-me?

Voltei-me para o monitor do computador de bordo e introduzi o pedido de autorização para sairmos do hangar, esperando que Leia já tivesse fornecido os códigos que nos permitiriam levantar voo. Ficara sensibilizada com a declaração de Iko de que estava disposto a sacrificar-se por mim, por pura obrigação, deduzida do seu dever de protetor, mas principalmente porque gostava de mim e gostava do cavaleiro Jedi. Não iria permitir que algum mal acontecesse com aquele monstro simpático, de uma devoção ímpar.

— Estou à espera, Iko… Teremos os códigos, não tarda. A Leia tem outros afazeres na sala de comando, a batalha continua com intensidade, mas sabe que todos os minutos contam e que o Luke precisa da minha ajuda. Se Kram não nos contacta, não é por sobranceria. O que se passa é que está muito ocupado a lutar contra um cavaleiro Jedi.

Enchi-me de angústia. Acariciei a pedrinha negra. Palpitava, estava viva. Eu também me sentia viva, confiante, a acreditar numa vitória. Precisava era de chegar a tempo.

Foquei os sentidos e, pela primeira vez desde que tentara aquele exercício, pois já sabia para onde apontar, descobri a presença de Luke Skywalker. Experimentei uma ligeira tremura, muito débil, o mesmo calor suave que tinha na ponta dos dedos que acariciavam a pedrinha. Ele nunca se escondera de mim, simplesmente não sabia onde ele estava e a galáxia era incomensurável. Ao lado de Luke senti outra presença. Negra, portentosa. Era tão cativante que me senti tentada a segui-la, de olhos fechados, por aquele trilho insondável da inconsciência.

Agarrei-me ao assento, escancarando os olhos, a sorver o ar em golfadas como se tivesse saído de um mergulho em apneia demasiado longo.

Iko ligava os motores, a nave agitava-se e sacudia-se.

Não devia ceder à tentação… Não devia cair naquele abismo…

Assustei-me com a minha falta de controlo. Se Kram tinha conseguido manipular-me àquela distância, quando estivéssemos na mesma sala seria uma presa demasiado fácil. Tentei recompor-me, mas as mãos tremiam-me tanto como a estrutura da nave. As minhas certezas desmoronaram-se como uma construção de areia sob uma chicotada de vento em Tatooine.

Kram já me tinha detetado, sabia que eu estava a caminho. Sorriu-me na escuridão ou fui eu que lhe inventei um sorriso, pois ele não tinha um rosto que conseguisse identificar. Voltei-me para o painel principal, introduzi as coordenadas do sistema de Bespin. O monstro interpelou-me com uma rosnadela.

— Aguarda pelo código, Iko. Não respondas à mensagem do centro de controlo… Se responderes qualquer coisa ligam o feixe magnético e prendem-nos no hangar. Não quero isso! Mesmo com o código não o poderão desligar sem uma autorização especial do conselho. Estamos no meio de uma guerra… Diz-lhes para aguardarem. Diz-lhes que estamos a verificar os hiperpropulsores ou coisa parecida.

Cliquei num botão para apagar as mensagens antigas no monitor e verificar as novas. Não havia mensagens novas. Soou um apito agudo. O centro de controlo estava a insistir.

— Vamos lá, Leia… O teu irmão precisa de nós…

Nisto, o monitor do navegador acendeu-se com uma longa linha encriptada.

— Isso! Iko, temos permissão para levantar voo!

O monstro puxou duas alavancas, os motores silvaram. O veículo elevou-se a bambolear. Introduzi rapidamente o código, o centro de controlo deu-nos permissão para a descolagem indicando-nos o vetor de saída. Com um solavanco, que me colou as costas à cadeira, a nave partiu pista afora. Passou como um relâmpago pela atmosfera azulada do planeta, o céu transformou-se numa imensidão negra.

Ao nosso lado, vi os tiros do canhão de iões a acompanhar a nossa ascensão. Dois grossos raios vermelhos faiscantes. Afastaria qualquer obstáculo que, porventura, se encontrasse no nosso trajeto.

— Não te perguntei… hum, temos as armas preparadas?

Respondeu-me com um grunhido longo.

— Oh, céus!… – E lembrei-me do lamento de Threepio, tão adequado em momentos daqueles de puro desalento. – Vai mesmo ter de servir.

Na quietude ilusória do espaço sideral havia bastante mais do que as estrelas tremeluzindo na cortina noturna, como me tinha habituado a ver nas minhas viagens cósmicas. Aquele era um espetáculo grandioso e aterrorizador, ao mesmo tempo.

Explosões repentinas iluminavam brevemente a escuridão. Riscos luminosos, coloridos e intensamente brilhantes, cruzavam o vácuo numa chuva insistente e imparável. O seu alvo eram os caças que viajavam a altas velocidades por entre o fogo cruzado, esquivando-se, torcendo-se, afundando-se em manobras extraordinárias. As naves de maior dimensão e consequentemente mais lentas, pertencentes à frota inimiga, despejavam uma barreira de fogo que se queria protetora e dissuasora, mas os X-Wings e os Y-Wings insistiam em abrir brechas nessa muralha. Os antigos cruzadores imperiais abriam uma rota desimpedida até ao planeta principal do sistema Hosniano, protegidos pelos disparos dos destruidores maiores, movimentação contrariada pelos A-Wings que despejavam os seus tiros contra as carcaças metálicas. Os caças TIE, soando os seus reatores característicos, perseguiam os caças republicanos individualmente. As colisões sucediam-se em nuvens de fagulhas, num macabro espetáculo de luz.

E foi no meio de toda essa agitação desordenada que a nossa nave foi parar.

Apertei os dentes.

— É melhor eu ir para a arma…

Iko rosnou-me.

— Espero?! Espero o quê? Se não nos defendermos, acabamos desfeitos!

A nave deu uma guinada para a esquerda. Se não fosse o cinto de segurança, teria caído da cadeira. Finquei-lhe as unhas. Os computadores apitavam por todo o lado, o monstro carregava em botões enquanto empurrava o comando na direção que a nave tomava. Estávamos a virar para escapar, num primeiro lance, à confusão maior da batalha. Nem sabia se isso seria possível, pois os confrontos existiam por todo o lado. Rosnou-me exigente e eu introduzi dados no navegador.

— O hiperespaço? Mas se eu não disparar, acabam por disparar sobre nós! Temos de os dissuadir… Eu sei que também temos de fazer cálculos, mas eu não quero explodir antes de esses cálculos estarem feitos!

Saltei com o que surgia na janela. Em toda a extensão do vidro estava…

— Um star destroyer!

A enorme nave imperial barrava-nos o caminho e disparava os seus poderosos canhões. Vi um par de Y-Wings passar entre a nossa nave e o destruidor, um deles transformou-se numa bola de fogo. Tapei a cara com a mão e gritei.

Um disparo atingiu-nos a fuselagem. A nave sacudiu-se e rangeu com o impacto, o alarme dos escudos defletores disparou. Os canhões estavam voltados na nossa direção e disparavam continuamente. Iko virou a nave para a esquerda. Senti o corpo esmagado, enquanto o cinto me apertava para me manter sentada.

— O escudo defletor dianteiro está danificado.

Logo que acabei de reportar a avaria, fomos atingidos por um segundo raio. O metal chiava à minha volta, Iko apertava mais botões, empurrou o comando para baixo. A nave começou a descer.

— Estás a ir contra o star destroyer! – gritei.

Transferi toda a energia para o escudo defletor dianteiro, o alarme calou-se. Mais sacudidelas. Iko protestou, distribuí a energia para os escudos defletores posteriores. A nave descreveu outra curva, Iko puxava o comando que tremia, envolvido na sua mão peluda. Subíamos e eu só via estrelas, a girar na janela.

— O que estás a fazer? Para onde estamos a ir?… Estamos a fugir dos disparos. Muito bem, Iko! Já percebi… Não devíamos disparar também?!

Os diferentes avisos sonoros dos computadores de bordo não se calavam.

— Ainda não é possível?

Os motores roncaram. Três caças TIE em formação apareceram na nossa frente, nova viragem abrupta à esquerda.

— Estás… a carregar o canhão?

Novamente o star destroyer. Pareceu-me que estávamos encurralados. Olhei para Iko furiosa. Lembrava-me que teria de confiar na sua perícia de piloto que tanto tinha gabado a Threepio. Mas voar simplesmente não bastaria para escaparmos dali, teríamos de passar ao ataque para dissuadir quem nos quisesse atingir. Raios verdes rasparam a nave.

— E estamos também a calcular as coordenadas para saltarmos para o hiperespaço… Mas fazemos cálculos para tudo? Esta nave é mais antiga do que a Velha República, ou quê?… Está bem, não te zangues comigo! Estamos numa nave civil no meio da guerra, temos as nossas limitações. Eu sei, eu sei! Fui eu que quis vir para aqui. E tinha escolha?! – Apontei para a janela. – Cuidado!

A luz brilhante de uma explosão irrompeu pela carlinga. Iko rugiu-me que mudasse os escudos defletores para os flancos. O trio de caças TIE vinha em nossa perseguição e estavam a disparar. A nave tremia por todos os lados.

 Um dos caças ultrapassou-nos e elevou-se para nos apanhar de lado. O destruidor estava perigosamente perto. Quando julguei que nos iríamos despenhar naquele imenso terreno metálico, Iko fez subir a nave, descrevemos um círculo completo e o trio de caças que nos perseguiam ficou à nossa frente. O da direita explodiu atingido por um X-Wing. Os dois restantes quebraram a formação.

Era um milagre que ainda não nos tivessem feito em pedaços. A frota republicana saberia que estávamos ali e estavam a proteger-nos, as manobras súbitas do monstro resultavam num bailado que nos permitia esgueirar por entre a confusão e seria essa a explicação para ainda continuarmos inteiros.

No centro da janela surgiu um caça TIE a disparar sem parar. Assustada, esmurrei os botões que mudavam os escudos defletores para a dianteira. Os disparos que nos atingiram sacudiram a nave com violência. Iko virou para a direita, o caça passou sobre nós. Nessa manobra entrámos numa acérrima disputa entre um esquadrão de Y-Wings e outros caças imperais.

— Isto não está bom – apontei entredentes.

Iko respondeu-me com uma rosnadela. Fizemos uma inversão do voo, outro círculo completo, a fuselagem chiou ruidosamente, surgiu um alarme de fogo. Os estabilizadores do lado direito estavam danificados. Acionei o extintor.

Uma luz vermelha acendeu-se no painel lateral, perto do lugar do piloto. Iko rosnou-me e apontou freneticamente para a parte de trás da nave. A arma estava, finalmente, carregada. Desapertei o cinto e saltei da cadeira. A cabina dos passageiros que atravessei num par de passadas largas cheirava a queimado.

Atirei-me para dentro de um compartimento que existia na parte posterior do veículo, pelo qual se acedia através de um alçapão no chão que se destrancara. Era acanhado, com espaço apenas para um assento giratório diante do qual estava uma vigia redonda para apoio visual, um painel computorizado e um canhão que era possível orientar para qualquer direção por meio de um giroscópio. Acendi a mira azul, regulei o radar e logo o ecrã se encheu com milhentos pontos e formas volumosas, que representavam as naves pequenas e as maiores, numa grelha apertada rodeada por um círculo.

A nave abanou com um novo disparo que me fez perder o equilíbrio. Pela vigia vi passar um caça TIE. Ajeitei-me no assento, ajustei a bandolete do intercomunicador na cabeça para me comunicar com a carlinga, coloquei o dedo no gatilho, muito similar ao de uma vulgar pistola. A arma era um canhão ligeiro Kd-3 de um único cano, com um poder de fogo muito limitado. Faria apenas arranhadelas inofensivas em qualquer caça que atingíssemos. Nas naves maiores, como os destruidores e os cruzadores, seria igual a cócegas. Se tivéssemos sorte poderíamos apanhar um caça com os escudos defletores em baixo e então, talvez conseguíssemos causar algum dano. Duvidava seriamente que iria abater algum.

Mas teria mesmo de servir!

O nosso objetivo não era aquela batalha. Era chegar ao sistema de Bespin.

— Iko? Estou pronta. Escuto – falei para o pequeno emissor oval que estava colado à boca.

Recebi um grunhido afirmativo e nervoso.

— Bem, chega de conversa – disse para mim mesma. – Vamos à ação. Não querias disparar? Dispara!

Carreguei no gatilho e despejei uma saraivada de raios. Na mira os pontos passavam rapidamente, sem se fixarem no centro do alvo, por isso não estava a atingir nada. Espreitei pela vigia e descobri uma escaramuça entre caças de ambos os lados. Puxei a arma, orientei-a de modo a apanhar a nuvem de pontos. Disparei uma segunda saraivada. Depois soltei o gatilho. Estava a ser estúpida e impulsiva. A mira não distinguia amigos e inimigos, não podia apontar e atirar sem escolher os alvos corretos.

Concentrei-me na Força, mas, antes de poder relaxar totalmente, a nave fez outra das suas bruscas mudanças de direção e os pontos do monitor passaram com a mesma velocidade. Era impossível fixá-los.

Um raio verde atingiu o nosso veículo e a vigia encheu-se de faíscas dessa cor. Disparei, um caça TIE afastou-se zunindo. Empurrei o mecanismo composto pelo canhão e pelo pequeno computador de modo a fixar no centro da mira os pontos que vinham na nossa perseguição. Com a mente destrinçava aqueles que devia atingir, percebendo fugazmente os terrores nas almas confinadas nos corpos apertados nas caixas de metal.

A maioria dos meus tiros perdia-se no espaço, não por falta de pontaria ou de destreza, a Força estava a ajudar-me, mas porque o canhão era francamente modesto.

Um esquadrão de três caças TIE veio outra vez em nossa perseguição. Quando os vi encurtarem a distância para a nossa nave, através da vigia e também do monitor, lancei uma tempestade de raios que teve como resposta idêntica tempestade, de cor verde, que me iluminou o rosto.

— Desvia-te, Iko! – berrei pelo intercomunicador. – Eu não consigo afastá-los com os meus tiros.

A nave mergulhou e girou. Os caças sumiram-se.

Disparei sobre um cruzador que tinha as torres a arder e perdia sustentação. Não sei se ajudei a aprofundar os estragos, mas não me importava. A adrenalina fluía acelerada pelo meu corpo, os receios iniciais tinham sido substituídos pela emoção de estar a lutar.

Tudo estremecia, escutava os alarmes sonoros provenientes da carlinga, o cheiro a queimado intensificava-se, a força de centrifugação cansava-me os músculos, a intensa concentração drenava-me a mente, disparava a minha arma, atingia alguns caças, ia semeando no vácuo novelos ígneos.

Outro caça TIE vinha no nosso encalço. Demasiado persistentes para o meu gosto. Tinha o dedo dormente sobre o gatilho. Pressionava e saíam tiros ininterruptos que não o conseguiam dissuadir da perseguição cerrada. Um raio laser verde rebentou perto da vigia, fagulhas e uma série de luzes rubras que se acenderam no painel indicaram-me que a fuselagem tinha sido seriamente danificada. Semicerrei os olhos, rodei o canhão. O caça centrou-se na mira. Disparei. Na vigia, a pequena nave desfazia-se numa nuvem brilhante de destroços.

— Consegui destruir um TIE— gritei eufórica.

Iko felicitou-me entusiasmado.

Fora um de entre as centenas que continuavam a assolar-nos, a envolver-se em disputas individuais com os X-Wings e os Y-Wings, a proteger as naves grandes que vogavam inexoráveis para Primeiro Hosniano para desencadear um sentenciador ataque terrestre.

Recordei-me de que o nosso objetivo não era estar ali…

Um novo impacto no escudo defletor traseiro trouxe-me à realidade. Disparei mais alguns tiros, focando-me no monitor e na mira, que se perderam simplesmente nas profundezas espaciais. Iko pilotava a nave em piruetas fantásticas, ora retrocedendo, ora avançando, ora girando, repentinos desvios de rumo que esforçavam os motores que trovejavam em protesto. No entanto, não havia outra forma de conduzir um veículo por entre um encarniçado combate interestelar.

A nave descreveu uma curva apertada para se desviar dos poderosos feixes eletrónicos de um star destroyer. Continuei a disparar o canhão e vi, através da vigia, como um dos meus disparos resvalava num caça TIE que nos tinha estado a incomodar nos últimos minutos, soltando inúmeras faíscas brancas. O meu canhão era fraco, mas tinha o seu mérito e conseguia assustar qualquer piloto experimentado. O caça TIE afastou-se, aparentemente.

— Iko! Quando é que vamos para o hiperespaço? Acho que perdemos definitivamente o escudo defletor traseiro.

Na mira os pontos continuavam a ser demasiados. Um caça A-Wing despenhou-se sobre um cruzador. Um X-Wing desintegrou-se em chamas. Dois Y-Wings colidiram com um caça TIE num assomo suicida. A pedrinha negra engasgava-se e retomava os batimentos. Tantas vidas perdidas naquele dia por causa de um louco com uma ambição ainda mais louca. Tantos futuros desperdiçados… As perturbações na Força por cada morte atingiam-me, entristeciam-me, comprimiam-me o coração. Tinha a tentação de querer descarregar essa tristeza no ódio que devia a Kram, mas refreava esse sentimento que me levaria ao lado negro. Se a nossa luta era justa, a destruição de Kram aconteceria naturalmente e com o auxílio da Força. E a pedrinha negra retomava sempre os seus batimentos.

A nave acelerou. Apertei o gatilho para uma derradeira descarga de tiros sobre os caças TIE que insistiam em acossar-nos. As estrelas na vigia tremiam. A ponta ameaçadora em forma de seta de um star destroyer surgiu entre as estrelas e os caças imperiais. A estrutura da nossa nave, debilitada pelos numerosos impactos dos raios laser, abanou furiosamente com um som grave. Larguei o gatilho. As estrelas converteram-se em traços finos, cada vez maiores, até serem retas infinitas a riscar o firmamento.

O hiperespaço!

Um solavanco empurrou-me para a frente, segurei-me ao canhão. Quando me certifiquei de que já não corríamos perigo, de que a nossa fuga para Bespin fora bem-sucedida, tornei a respirar. Não havia mais motivos para recear ser abatida, desintegrada ou capturada. Viajávamos à velocidade da luz, longe do sistema Hosniano e da sua batalha espacial.

Abalada pela comoção daqueles últimos minutos, desliguei o monitor, retirei a bandolete, subi os degraus e emergi daquele compartimento, baixando e trancando o alçapão. As pernas trémulas mal me deixavam sentir o chão. Por momentos, temera ter-me colocado num perigo maior do que podia enfrentar e de ter deitado tudo a perder. Se morresse não iria ajudar Luke Skywalker e não teria feito qualquer diferença. O destino da galáxia continuaria a ser sombrio e a geração dos Jedi terminaria estupidamente. Sentia-me cansada.

Entrei na carlinga, ocupei a cadeira do copiloto, apertei o cinto. Na ampla janela desenhavam-se as nuvens disformes provocadas pelo hiperespaço. Ante aquele silêncio balsâmico, recuperei a serenidade. Agarrei no braço de Iko e sorri-lhe.

— Foste fantástico, amigo. És um excelente piloto! Só alguém com as tuas habilidades é que podia ter feito o que acabaste de fazer. Fazemos uma boa equipa. Devo-te a vida… Obrigada.

O monstro ronronou, passou desajeitadamente a pata pelos meus cabelos. Aquele gesto comoveu-me e aliviou-me. A criatura dos lagos Kendon era o meu protetor, nunca iria deixar que eu fosse abatida, desintegrada ou capturada. Daria a sua vida sem hesitar, para se certificar de que eu ficaria a salvo. Se dependesse dele, a geração dos Jedi não terminaria comigo. Nem com Luke Skywalker.

O alívio que experimentava deu-me energias renovadas. Mirei a paisagem sem nexo da janela.

O nosso próximo destino: Bespin.


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Notas finais do capítulo

A Cleo conseguiu superar a prova terrível de viajar no meio de uma intensa batalha espacial - apoiada no seu instinto, em pura sorte e no poder da Força.
Agora dirige-se para a Cidade das Nuvens, finalmente, onde outras provas a aguardam...

Próximo capítulo:
Nuvens.