A Criação da Luz escrita por André Tornado


Capítulo 43
Na sala de comando


Notas iniciais do capítulo

"Quando a fatalidade começa a executar uma obra má, é raro que não previna caritativamente a vítima, como um espadachim faz ao adversário para lhe dar tempo a pôr-se em guarda."
in A Túlipa Negra, Dumas, A., Civilização Editora, 2012



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Depois de uma refeição ligeira que me forcei a engolir, de um banho quente e de ter vestido roupa nova, senti-me preparada. Tal como não fora capaz de explicar a Han Solo as razões objetivas que levavam um magnífico cavaleiro Jedi a necessitar do meu apoio, era-me igualmente impossível descrever o que estava a experimentar naquele momento em que percorria o corredor do hangar em direção à sala de comando onde se reunia o conselho de guerra que tentava salvar a Nova República de uma ameaça inconcebível, descabida e inoportuna.

A tranquilidade morava na minha alma. Estava una com a Força. A pedrinha negra palpitava pendurada no meu pescoço, muito viva e agora também quente. Sabia que tinha operado a metamorfose que o mestre Eilin me exigira. Sabia que podia ser um Jedi se transpusesse aquele derradeiro limiar que eu via abrir-se diante de mim, num cenário imaginado onde uma escadaria subia até ao infinito dos céus estrelados. Eu colocava o pé no primeiro degrau, olhando para cima, no meu rosto a serenidade de uma convicção.

Na verdade, a convicção de todos quantos iriam lutar.

Naquele dia, a vitória pertencia-nos.

Iko acompanhava-me, protegendo-me com uma dedicação irrepreensível. Não usei os elevadores que, por aquela hora, estavam congestionados, apinhados de gente. Preferi utilizar umas escadas metálicas laterais, junto aos geradores. Espreitava as movimentações das pistas à medida que avançava até à sala, desde o terraço, colada ao corrimão. Os avisos sucediam-se ininterruptamente nos altifalantes, os motores dos caças chiavam, as diversas pistas encheram-se do cheiro acre a combustível, Chewbacca entrava na Millenium Falcon.

Cheguei a uma ampla porta dupla que estava escancarada, para possibilitar o vai e vem de pessoas e de androides que monitorizavam os acontecimentos. Entrei devagar, com o monstro no meu encalço.

A sala obscurecida era iluminada indiretamente por projetores disfarçados no teto baixo, embutidos nos cantos. A pouca luz destinava-se a realçar as transmissões que se sucediam nas grandes telas transparentes, formas geométricas, linhas de código, mensagens distinguidas por cores diferentes consoante a sua prioridade. Painéis computorizados equipados com botões, luzes intermitentes e pequenos monitores forravam completamente as paredes, observados por técnicos que se sentavam defronte destes em cadeiras de rodízios. Através do sistema de som, que se ligava à frota que se preparava para descolar no hangar, era possível escutar com nitidez as conversas entre os líderes de esquadrilha, os pilotos e o alto comando, possibilitando uma comunicação fluida a qualquer um dos intervenientes.

No centro da sala estava o coração da operação militar. Num estrado retangular afundado como uma bacia, de cor escura para fazer sobressair os contornos, reproduzia-se o sistema Hosniano através de hologramas, com os diferentes planetas posicionados em redor do sol, os star cruisers pairando num dos setores, no seu bloqueio. Haveriam de surgir os caças da Nova República, a frota inimiga, as manobras de ataque, os disparos, as perdas, a emulação da batalha.

Em redor do estrado reuniam-se os representantes principais do conselho de guerra. Era orientado pela princesa Leia Organa Solo que conferenciava energicamente com Mon Mothma, que fora a líder suprema da Aliança Rebelde, mas que antes tinha pertencido ao Senado da Antiga República, sendo por isso considerada uma aliada indispensável devido à sua experiência, sabedoria, influência, tenacidade e sensatez. Aliás, era notório que qualquer decisão da princesa tinha o aval prévio da senadora, obtido numa conferência privada entre as duas. As decisões táticas e todas as decisões militares caberiam ao almirante Gial Ackbar, outro veterano da Aliança Rebelde. Havia outros rostos, jovens políticos que se tinham unido à resistência e que tinham escapado à recente purga ocorrida em Coruscant. Pretendiam justiça, mas também retribuição. Se estavam no conselho foram escolhidos por Leia e teriam o seu mérito, a começar pela incondicional lealdade aos ideais republicanos.

Num primeiro relance, o alto comando era uma cópia daquele que liderara a última e definitiva batalha contra o Império Galáctico, em Endor. Mon Mothma e o almirante Ackbar, grupo restrito agora reforçado com a brilhante presença da princesa Leia Organa Solo que, na altura, agia no terreno com o objetivo de destruir o gerador do escudo defletor da nova Estrela da Morte.

Um tremor inquietou-me. Havia algum tempo que aquelas memórias não me enchiam a mente de relâmpagos, plenos de gestos épicos e heroicos.

Leia descobriu-me junto à entrada. Com um aceno impercetível de cabeça convidou-me a avançar. Mon Mothma também reparou em mim. Era uma mulher elegante que gostava de usar longos vestidos que a tornavam mais alta do que já era, de cabelo curto e um perfil distinto que emanava uma autoridade natural. Declarou com eloquência e a sala calou-se para escutá-la:

— É uma honra para este conselho receber uma aprendiza de Jedi. A sua presença é uma indicação clara de que a batalha que estamos prestes a travar é justa, justificável e compreensível, dada a situação extraordinária com que nos deparamos. Esta é uma hora negra, mas que não restem dúvidas de que estamos mais determinados do que nunca a lutar para que o Bem prevaleça, para que a liberdade nunca morra na nossa galáxia. E que melhor símbolo da nossa civilização do que a nobreza e o altruísmo dos cavaleiros Jedi. Lutamos neste dia, lembrem-se, para preservar os nossos mais elevados e caros valores. É uma honra contar com a tua presença, padawan.

Os olhos de todos pousaram em mim. O escrutínio e a veneração naquele silêncio, apenas entrecortado pelos sinais sonoros e pelos rangidos do equipamento, deixaram-me ligeiramente incomodada. Ainda não tinha provado ou feito nada que justificasse aquele tratamento. Não considerava, como tinha dito a Han Solo, que bastava o meu sabre de luz e a capa castanha que agora vestia, que Iko trouxera da nave, para me definir como um Jedi. Contudo, aceitei a comparação com as incontáveis gerações de Jedi que me tinham precedido. Agradeci a Mon Mothma com uma vénia e encostei-me ao murete que limitava a larga bacia onde se estabeleceria o controlo das movimentações no terreno, as diversas transmissões e as correções táticas.

Uma voz metálica encheu a sala:

Atenção. Aproximação da frota inimiga. Chegada dentro de menos de um minuto.

A sala agitou-se. Nas diferentes telas acendeu-se um cronómetro a fazer a contagem reversiva do tempo.

O almirante Ackbar comunicou:

— A todos os líderes de esquadrilha… Líder Azul, Líder Dourado. Formação de ataque. Líder Vermelho, manobra de evasão. Ocupem os vossos lugares e aguardem.

Os altifalantes crepitaram.

Daqui Líder Azul. Compreendido. Todas as unidades, comuniquem.”.

Azul sete, preparado.”. “Azul dois, preparado.”. “Azul nove, preparado.”…

Os pilotos da esquadrilha Azul foram respondendo, um por um. Seguiu-se outra esquadrilha.

Daqui Líder Dourado. Compreendido. Todas as unidades, comuniquem.”.

Olhei para o cronómetro. Vinte e quatro segundos… Mais pilotos foram respondendo à chamada. A voz de Han Solo surgiu na sala.

Daqui Líder Vermelho. Compreendido. Aguardamos pelas ordens para entrar na festa. Até já!”.

Sempre descontraído, fez-me descontrair também. O mesmo não se passou com os membros do alto comando.

Os segundos esgotaram-se depressa e quando todos os cronómetros marcavam redondos zeros, a bacia escura encheu-se de desenhos tridimensionais vermelhos, uma gigantesca nave espacial à qual se seguiram outras naves que, embora igualmente grandiosas e intimidantes, pareciam pequenas comparadas com a primeira, luas em redor de um planeta monstruoso.

Os técnicos que supervisionavam a transmissão holográfica alteraram a escala para que fosse possível enquadrar todos os intervenientes no espaço da bacia. Os sinais de matrícula de cada nave inimiga foram listados num painel e transferidos para os hologramas. Sobre as imagens vermelhas surgiram sequências individuais de caracteres e de números, algumas tinham um nome. Li Belirium sobre o imenso imperial star destroyer que apequenava tudo quanto pairava próximo.

O almirante Ackbar solicitou às esquadrilhas que fixassem os alvos. Começariam pelas torres de comunicação, para que a frota inimiga não pudesse coordenar-se entre si, a seguir teriam de inutilizar os geradores dos escudos de proteção e os canhões laser. O combate individual com os caças viria depois. Ordenou ao Líder Vermelho que se posicionasse no flanco e que vigiasse os star cruisers.

Daqui Líder Dourado. Rapazes, preparem a formação em S para o ataque. Asas em posição! Escuto.”.

Compreendido, Líder Dourado.

Dourado quatro, estou com problemas com o meu medidor. Vou seguir em manual.

Dourado seis, não estás a cumprir a formação.”.

Desculpe, Líder Dourado. O meu astromec já está a ver o que se passa com um dos motores. Estou a aproximar-me.”.

Daqui Líder Azul. Asas em posição de ataque!

Daqui Azul dois, cuidado com o campo magnético dos destruidores. Interferem com os nossos transmissores.”.

Daqui Azul sete, estão a enviar interferências, não me parece que seja só o campo magnético.”.

Os caças X-Wings eram pequenos pontos que voavam irrequietos sobre as naves adversárias. Os primeiros traços luminosos surgiram na projeção tridimensional, os primeiros disparos laser que tentavam afastar e abater os caças da Nova República. O almirante Ackbar solicitou a intervenção dos A-Wings, foi dada ordem para que saíssem do hangar. A esquadrilha Vermelha manobrava afastada, em forma de cunha, com a Millenium Falcon na dianteira. Han Solo refreava a sua impaciência.

Daqui Líder Vermelho. Acabam de abrir as comportas dos star destroyers. Os caças TIE vão sair. Aguardamos ordens. Escuto.”.

— Daqui sala de comando – respondeu o almirante. – Continue a vigiar as alas, general Solo. Como estão os cruzadores?

Demasiado quietos, almirante. Escuto.

— Vão movimentar-se em breve. Estão a utilizar uma manobra clássica de flanqueamento. Não queremos ser surpreendidos, general Solo.

Não, senhor. Não queremos. Os caças TIE vão dar muito trabalho aos nossos rapazes.

— Estamos preparados para eles, general Solo. A todos os líderes de esquadrilha, estamos a receber novos sinais. Aproximam-se caças inimigos. Preparar para combate individual.

A Belirium estacionara no espaço, pairando junto a um planeta menor que não tinha qualquer colónia habitada, assim li nas informações de uma das telas transparentes. Talvez pretendessem fazer uma demonstração do potencial daquele cruzador, atirando sobre o planeta e pulverizando-o. Apenas a Estrela da Morte tivera, quando da hegemonia do Império, essa capacidade destruidora, mas muito se desconhecia ainda sobre que alterações tinham sido introduzidas por Kram no armamento imperial de que se servia.

Naquela posição estática, a nave principal de Kram constituía ainda o centro da formação inimiga, o núcleo operacional do qual partiam todas as indicações estratégicas de posicionamento, aproximação e assalto daquele exército invasor. Encontrava-se firmemente protegida por cinco star destroyers que não davam descanso aos grupos de caças republicanos que mergulhavam sobre eles, disparando os seus canhões sem cessar. Atrás dos X-Wings e dos Y-Wings colavam-se os caças TIE, em mortíferos voos picados.

Se tudo estivesse no seu devido lugar, pela lógica e segundo as informações que tinham sido recolhidas até ali, expondo os factos e ignorando os artifícios, naquela nave enorme estaria o senhor do trono negro acompanhado pelo cavaleiro Jedi. Presenciariam, desde a imensa cúpula do salão central, a batalha encarniçada que acontecia no sistema Hosniano. Mas eu continuava apreensiva e desconfiada. Alguma coisa estava terrivelmente mal. Lia o nome sobre o holograma vermelho, repetia-o em surdina, no entanto não me conseguia convencer de que aquela era a Belirium.

Tiroteio intenso, Líder Azul!”.

Estou a ver, estou a ver. Afasta-te! Eu cuido das torres, Azul dois. Trata dos caças inimigos!”.

Compreendido, Líder Azul. Demasiadas interferências.”.

Muito agressivos! O meu painel desligou-se. Estou com problemas no conversor, Líder Dourado. Vou subir.”.

Estou a ver-te, Dourado seis. Eu cubro a retirada.”.

Na fronteira do sistema planetário, os star cruisers deslizavam para se juntarem à batalha. O almirante Ackbar informou Han Solo da trajetória dos cruzadores, deu ordem para que a esquadrilha Vermelha os intercetasse.

Entendido, almirante. Rapazes, formação de ataque, sigam a minha liderança. Vermelho dois, protege o lado direito. Nada passa por aí, ouviste-me Antilles? Vamo-nos a eles!”.

Daqui Vermelho dois. Compreendido, general Solo.”.

Pousei as mãos no murete, apertei-o até ficar com os nós dos dedos brancos.

Alguma coisa estava terrivelmente mal.

Se Luke Skywalker estava tão próximo de mim, num lugar que eu podia facilmente identificar e ler com a ajuda da Força, já o teria pressentido e algum tipo de contacto já teria sido estabelecido entre nós. Na presença de Kram não fazia sentido que continuasse invisível, pois naquela fase, com a batalha a decorrer, a surpresa já se tinha esgotado, sendo também importante que o conselho conhecesse os seus esforços para interceder junto do inimigo para se encontrar uma solução diplomática. Nem Kram deixaria Luke Skywalker continuar com a farsa.

Então, por que razão eu não sentia a presença do cavaleiro Jedi?

Nem a presença do senhor do trono negro?

Eu nunca tinha disfarçado a minha aura, desde os meus treinos que eu libertava a minha energia e deixava-a misturar-se com a restante energia do Universo.

Se ali, no sistema Hosniano, eu estava tão perto de O’Sen Kram, que queria desesperadamente recuperar-me, por que razão ele ainda não tinha contactado comigo?

 A pedrinha ao meu pescoço palpitava com uma pujança inédita. O lado negro estava ausente, portanto. Aquela nave enorme no centro dos hologramas não podia ser, definitivamente, a Belirium.

Líder Dourado, ficamos encurralados se continuarmos a tentar acertar naquelas torres. Há demasiados caças inimigos na nossa perseguição!”.

Não quebres a formação, Dourado quatro!”.

Acabámos de perder o Vermelho nove! Solicito apoio, solicito apoio!”.

Azul sete, Azul dez, sigam o Líder. Venham comigo. Estamos quase a derrubar aquele star destroyer.”.

Bom tiro, Dourado quatro!”.

Daqui Líder Vermelho! Concentrem o fogo no star destroyer identificado pelo Líder Azul! Antilles, vai-te ao destruidor! Arrasa-o!”.

Isto não está a correr bem… Cuidado com os caças, Vermelho dois!”.

Estou a vê-los. Daqui Vermelho dois. Ouviram o Líder Vermelho. Atacamos o star destroyer identificado pelo Líder Azul.”.

Enquanto a ofensiva decorria, num computador discreto havia um operador que, observado pelo seu supervisor, tentava comunicar com o imperial star destroyer. Desde o início que se esforçava por estabelecer um canal de comunicação, mas as suas tentativas, até ao momento, saldavam-se num rotundo fracasso. Kram não pretendia negociar. Sabia-se tão poderoso e invencível que apenas aceitaria falar após a conquista do sistema Hosniano, último bastião da resistência.

Luke Skywalker também não estava a conseguir persuadi-lo.

— Onde estás, mestre? – murmurei. – O que estás a fazer? Tentas debater com Kram ou já lutas com ele?

A batalha estava mais feroz do que nunca. Um star destroyer acabava de ser abatido e ardia no espaço enquanto perdia sustentabilidade. As baixas republicanas acumulavam-se, os A-Wings tinham-se juntado à refrega e tentavam penetrar nas defesas da nave inimiga principal. A Millenium Falcon esgueirava-se admiravelmente entre o caos disparando os seus canhões, os caças TIE explodiam, os cruzadores tentavam sacudir os enxames de X-Wings que os atacavam incansáveis.

Na sala de comando, a senadora Mon Mothma observava tensa o rebuliço holográfico na bacia, o almirante Ackbar desdobrava-se em ordens, avisos, táticas corretivas, mensagens de incentivo.

Leia juntou-se a mim.

— Han disse-me que Luke foi encontrar-se com Kram.

Deviam ter falado através de intercomunicadores. Estavam os dois bastantes ocupados naquele dia, o corelliano não a informara pessoalmente. Não se veriam há seguramente mais tempo, embrenhados nos preparativos daquele assalto. Ela como chefe do conselho de guerra, ele como comandante de uma esquadrilha.

— Estava na esperança de que me pudesses dizer mais qualquer coisa… sobre Luke – revelei desapontada. – Pensava que o tivessem visto em Primeiro Hosniano.

— Não o vejo desde que saímos de Luyta.

— Ou talvez Threepio, ou Artoo. Onde está o androide protocolar?

— Têm sido dias bastante intensos, praticamente não tenho saído desta sala desde que Coruscant foi atacado – contou-me Leia, apoiando igualmente as mãos no murete. – Não sei onde está o Threepio, também não o vejo desde há alguns dias. Presumo que esteja a dar apoio noutro setor. Não estamos a apostar apenas numa solução bélica, temos mais gente nos bastidores, noutras salas, a tentar negociar um acordo que nos conduza a um tratado de paz que ponha fim a esta loucura.

— Luke também acredita nisso. Em negociações.

— Age como um Jedi… – observou Leia impressionada. – Os guardiães da paz e da justiça… Contudo, não vai resultar.

— Porquê?

— Kram mantém-se incontactável.

A princesa olhou de relance para a mesa onde se tentava, a partir daquela sala que determinava uma violenta resposta às investidas da frota invasora, estabelecer ligação com a nave do senhor do trono negro.

— Não me parece certo… – Dei voz ao meu pressentimento. – Alguma coisa está terrivelmente mal.

— Explica-te.

— Luke disse-me que iria encontrar-se com Kram, que iria tentar evitar o começo da guerra. – Estendi o braço sobre os hologramas. – Pelos vistos, não evitou nada, a guerra está mesmo a acontecer! Logo, só consigo imaginar que, como não preveniu esta batalha, decidiu-se a enfrentar Kram em combate singular. Está a lutar… Onde? O mais provável é que seja na Belirium, o quartel-general de Kram. Ou seja, está a acontecer neste preciso momento. Mas eu não sinto nada através da Força. – Colei o queixo ao peito e suspirei, frustrada. Sentia-me cada vez mais longe do meu mestre. – Aquela nave pode não ser a Belirium.

— A assinatura é indesmentível – contestou Leia. – Aquela nave é o imperial star destroyer de O’Sen Kram. É virtualmente impossível que Kram possua dois destruidores de dimensão idêntica. Não havia muitos no tempo do Império Galáctico, acreditava que todos tivessem sido desmantelados. Mas, mais uma vez, precisamos do Luke para confirmar essa informação, foi ele que supervisionou o projeto de desmantelamento das naves imperiais.

— Até pode ser a Belirium, mas Kram não está a bordo! – insisti.

— Como podes ter tanta certeza?

Entreolhámo-nos.

— Usa a Força.

— Kram pode aniquilar a Força – refutou a princesa inquieta.

— Segue o teu instinto, Leia. Percebo as tuas interrogações. Não consegues sentir a presença de Kram… nem a de Luke. Eles não estão no sistema Hosniano. Esperei senti-los quando começasse o ataque, Kram lideraria pessoalmente a frota, teria Luke como refém, estariam os dois na Belirium, mas não aconteceu. Tal como estava enganada ao julgar que Luke tinha vindo para cá para se encontrar com Kram durante esta batalha. Tenho estado sempre enganada!

— É verdade, não consigo sentir Kram, nem Luke… Mas julgava que era por estar destreinada com a Força – justificou-se desolada.

— Preciso de encontrá-lo, Leia – lamentei-me cansada. – Luke não pode enfrentar O’Sen Kram sozinho.

A princesa empalideceu.

Interpelei-a aflita:

— Tu também tiveste visões sobre o que iria acontecer. Diz-me … O que viste com a ajuda da Força?

— O meu irmão combatia… – contou emocionada. – E havia um vulto negro, possivelmente Kram. Eram dois sabres de luz verdes na escuridão. Uma traição, o lado negro. Na minha visão havia impressões, dor, mais do que imagens ou uma sucessão coerente de acontecimentos que possa relatar sem vacilar. Não tenho a certeza, mas sei que o meu irmão implorava por ajuda. Ele chamava por alguém. Depois, vi-o a morrer…

Gaguejei:

— Sou eu que devo ir ajudá-lo.

— Nas minhas visões, Luke clamava por um Jedi.

— Não sou ainda um Jedi, mas ele disse-me que completaria o meu treino a lutar com Kram… Por isso, tenho mesmo de ir… ajudar… lutar…

E, de repente, lembrei-me.

Estava um dia bonito, a primeira lua de Luyta. Um transporte de passageiros, muita gente. Perfumes e cor. Ele acariciava a mão direita enluvada. Falávamos do treino de um Jedi, moroso e muito detalhado. Ele tinha completado o seu treino quando lutara contra Darth Vader, na Cidade das Nuvens. Eu perguntara-lhe se me iria acontecer o mesmo. As imagens do futuro eram incertas, esclarecera-me, constrangido. E eu afirmara que ele me tinha visto a lutar contra Kram na Cidade das Nuvens.

Colin dizia a Morva Senthy que tinha um presente para ele. Agitava uma placa e contava que era de fonte segura, que havia movimentações estranhas no sistema de Bespin, que alguém estava a criar uma frota ofensiva com antigas naves do Império.

— Sei onde está o Luke! – exclamei.

— Onde?

— Bespin!

— Tens a certeza? Não há relatórios que indiquem problemas nesse sistema. Está tudo calmo. Além disso, conhecemos bastante bem o barão administrador da Cidade das Nuvens, Lando Calrissian. Ele teria mandado informar-nos se tivesse sofrido algum ataque. Quando Han o contactou, logo que regressámos de Luyta, não nos reportou nada de anormal, nem as tais suspeitas de uma frota clandestina em manobras. Desconhecia uma ocorrência desse género.

— Pode não ter tido oportunidade. Pode ter sido deliberadamente enganado por algum aliado secreto de Kram dentro da administração de Bespin, que lhe escondeu essas manobras.

— Todos os sistemas foram informados da queda de Coruscant. Estão em alerta, sabem que existe a possibilidade de uma tomada hostil do poder em qualquer governo que reporte à Nova República.

Sacudi a cabeça, desci o estrado.

— Tenho de ir, Leia. Já perdi demasiado tempo aqui…

— Para saíres de Primeiro Hosniano terás de passar pela batalha. Ou esperar que esta acabe – avisou-me Leia.

— Não posso esperar mais. Passo pela batalha.

— Vieste numa nave civil.

— Tenho um bom piloto.

— Podemos disparar os canhões de iões para proteger a saída da nave da atmosfera do planeta, mas uma vez que chegues ao espaço e antes de saltares para a velocidade da luz, estás por tua conta. Vais ter de contornar os destruidores, os cruzadores e todos aqueles caças TIE.

— Os canhões de iões vão ter de servir. Depois, conto com Iko.

— Dar-te-ei os códigos de permissão para abandonar Primeiro Hosniano.

— Obrigada.

Leia agarrou-me nas mãos.

— Vai ajudar o meu irmão. Peço-te que o tragas, são e salvo.

— Não deixarei que Kram o magoe. Ele… não vai morrer. Prometo!

Abraçou-me. Disse-me ao ouvido:

— Que a Força esteja contigo, Cleo.

E eu devolvi:

— Que a Força esteja contigo.

Éramos irmãs. Nas circunstâncias particulares daquela sala, no que nos unia através de Luke Skywalker, na guerra contra o senhor do trono negro, na Força. A sensação de pertencer a uma família emocionou-me. Estreitei o abraço. Pelo tempo de um suspiro. A seguir saí da sala de comando numa corrida.

O cavaleiro Jedi precisava, mais do que nunca, de mim.


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Notas finais do capítulo

A Cleo conseguiu finalmente descobrir onde se encontra Luke Skywalker - está em Bespin.
Agora ela precisa de ir para a Cidade das Nuvens e está presa no sistema Hosniano, com uma batalha a desenrolar-se nos céus. Mas ela não hesita, não se amedronta e vai fazer uma nova viagem.
A Cleo e a Leia finalmente fizeram as pazes e aceitaram-se, com todos os mistérios, virtudes e defeitos. A Força está com as duas mulheres.

Próximo capítulo:
Protocolo e lealdade.