A Criação da Luz escrita por André Tornado


Capítulo 42
Guerra


Notas iniciais do capítulo

"A memória da maior parte dos homens é um cemitério abandonado, onde jazem, sem honras, mortos que eles deixaram de amar. Toda a dor prolongada insulta o seu esquecimento."
in Memórias de Adriano, Yourcenar, M., Ulisseia, 2002



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/690677/chapter/42

A viagem, de algumas horas, decorreu sem incidentes.

Uma luz amarela piscou no painel de comandos, despertei. Foi quando me apercebi de que tinha adormecido na cadeira do copiloto. Pigarreei, endireitando-me no assento, desligando um par de interruptores. O monitor limpou a série de números que o preenchia, ficou vazio com o cursor intermitente no canto superior esquerdo. Com um movimento suave e contínuo, Iko puxou duas alavancas. A nave abanou ligeiramente. Na janela, as nuvens desfaziam-se em riscos brancos cada vez mais pequenos, até se converterem em pontos trémulos numa cortina escura. Quando abandonámos a velocidade da luz, chegávamos ao sistema Hosniano.

Observei o espetáculo planetário que enchia a grande janela da carlinga, múltiplos orbes de diferentes tamanhos, em variadas posições, que orbitavam em redor de um sol de um brilho intenso. A nossa nave aproximava-se gradualmente de um planeta azul imenso, cuja parte que não estava iluminada pelo sol se acendia em grandes manchas iluminadas, indicando a presença de enormes e movimentadas metrópoles construídas sobre as manchas castanhas que indicavam terra sólida.

O sistema Hosniano situava-se na zona conhecida como os Mundos do Núcleo, que congregava os lugares mais civilizados, mais cosmopolitas, mais abastados e tecnologicamente mais avançados de toda a galáxia, que incluíam igualmente Coruscant e o extinto Alderaan. Não admirava que as famílias importantes e os políticos se juntassem naqueles planetas onde a vida seria indubitavelmente mais fácil e agradável.

No entanto, o êxtase daquela visão espantosa foi diluído por um calafrio.

No limiar do sistema notei uma concentração anormal de veículos espaciais, uma frota nas profundezas do vácuo composta por naves brilhantes e ameaçadoras. Alinhavam-se numa formação estratégica, gizada por um qualquer almirante conhecedor das técnicas de assalto mais eficazes e que teria servido no Império Galáctico. O monstro também reparou naquilo.

Star cruisers— murmurei, estranhando o tipo de naves. – Onde estão os star destroyers, que têm um poder de fogo superior? E já estão aqui, no sistema Hosniano… Luke disse-me que Kram preparava o ataque e que podia suspendê-lo com supostas negociações… O conselho de guerra terá conhecimento da presença da frota inimiga?

Iko rosnou, mexendo a cabeça. Concentrei-me na Força. Não senti a presença de Luke Skywalker em lado nenhum, mas o espaço que eu varria com a minha perceção era demasiado vasto e eu demasiado inexperiente nesse exercício.

— Sim, provavelmente têm esse conhecimento, Iko. Alguma coisa não está a bater certo… Não estou a gostar disto.

O ataque parecia iminente, mas não se me afigurava destruidor ou incapaz de ser travado pela frota que a Nova República teria colocado à disposição do conselho de guerra que organizava a ofensiva contra Kram. Retomei as observações das naves inimigas, à procura da imponente imperial star destroyer chamada Belirium e não a encontrei. Outra estranheza que aumentava os meus receios de que estava a assistir a uma elaborada armadilha, que incluía, em alguma parte obscura, a neutralização do cavaleiro Jedi.

Raciocinei rapidamente. Ainda havia tempo de nos anteciparmos à jogada diabólica de O’Sen Kram, que não conseguia explicar com exatidão qual seria. Eu e Iko aproximávamo-nos do planeta principal do sistema, onde estaria a princesa Leia, Han Solo, onde estaria Luke. Não acreditava que a irmã e o seu melhor amigo deixassem que fosse encontrar-se com Kram, ou que o deixassem entregar-se para servir de garantia para uma eventual solução pacífica. O senhor do trono negro não queria a paz, em definitivo. O que eu vira podia ajudá-los, de alguma forma. O que eu sabia… Talvez conseguisse finalmente convencer Luke e fôssemos juntos ao encontro de Kram.

Um silvo agudo desviou a minha atenção da janela e das minhas conjeturas. Vinha do computador de bordo. Iko inclinou-se para ler o que exibia o monitor.

— O sinal vem do planeta azul, Primeiro Hosniano – disse eu. – Estão a pedir um código secreto para desativarem o escudo e permitir que a nossa nave entre na atmosfera e aterre. – Olhei para o monstro. – Sabes que código é esse?

Ele acenou que sim e voltou-se para o painel vertical do seu lado esquerdo, onde carregou em alguns botões e interruptores. A nave sacudiu-se, diminuíamos a velocidade. Não queríamos ser impedidos de aterrar por termos atravessado a linha de segurança antes de receberem o código que nos daria acesso e a certeza de que não pertencíamos ao inimigo.

— Um código da Rebelião?… – admirei-me ao perceber o que Iko começava a inserir no computador. – Sabes esses códigos? Está bem, não precisas de ficar zangado!… Confio em ti, meu amigo peludo. Mas é estranho estarem a pedir códigos da Rebelião… Não será assim tão descabido, tens razão. Só um código rebelde nos pode distinguir da gente que segue Kram que, no passado, pertenceram às falanges imperiais. Ah, então sabem que aqueles star cruisers andam por perto…

Olhámos para o monitor em silêncio. Aguardava com algum nervosismo, admitia-o. Confiava no meu amigo peludo, como lhe dissera, mas não tinha a certeza se do outro lado aceitariam o código que Iko afirmara conhecer.

Um segundo apito agudo fez-me saltar na cadeira, como se me tivesse picado em algo aguçado. Surgiu uma comunicação do centro de controlo principal de Primeiro Hosniano. Eu e Iko olhámos para o monitor, de respiração suspensa. A segunda mensagem, curta e lacónica, dava-nos permissão para aterrar. Seguiram-se indicações triviais sobre escudos defletores, ângulos de aproximação, pedido de dados sobre a nossa nave incluindo os passageiros e a carga, identificação de hangares e de pistas de aterragem.

Recostei-me aliviada na cadeira. Ajustei o cinto, tentei dominar a minha ansiedade, respirei fundo. Esperava que chegássemos ao sítio certo e que não nos tivessem enviado para um espaçoporto longe de onde se preparava a operação militar, pois viajávamos numa nave civil. Não queria perder mais tempo, pois sentia que cada instante era precioso, a diferença entre o triunfo e a desgraça, entre a vida e a morte. Literalmente. Concentrei-me na Força mas continuava sem perceber a presença de Luke Skywalker.

Estávamos com sorte. Quando saltei da rampa de acesso à nave percebi que tínhamos aterrado na pista secundária de um vasto hangar onde tinha sido recentemente criado um centro de operações militares para servir o conselho de guerra. Talvez não fosse sorte, mas um acontecimento normal, decorrente de um mero procedimento de segurança que pouparia os meios disponibilizados ao conselho, que não deviam abundar. Se todas as naves que pretendessem chegar a Primeiro Hosniano fossem encaminhadas para um único hangar, seria mais fácil controlar essas chegadas, filtrar e capturar os possíveis espiões ou sabotadores.

De pronto fui abordada por um androide protocolar que vinha fazer um inquérito sobre a nossa viagem, acompanhado de um outro que desempenhava tarefas burocráticas e um par de soldados armados. Respondi-lhe apressadamente. Origem, motivos da deslocação, confirmação dos dados que já tínhamos fornecido sobre passageiros e carga, autorização para uma revista à nave. Pedi a Iko que me seguisse e deixei a nave a ser inspecionada. Não iriam encontrar nada e não acedi aos apelos do androide para que ficasse, pois era norma que os ocupantes do veículo ficassem até ao fim da inspeção. Os soldados também não me seguiram, já estavam dentro da nave a revistá-la.

Corri por uns passadiços metálicos, com Iko no meu encalço, olhando para todos os lados à procura de um rosto conhecido. Qualquer um serviria, mas na realidade procurava pelo meu mestre, sentindo um aperto no estômago. Ele não iria gostar de me rever, pois se estava ali tinha-lhe desobedecido, mais uma vez.

O hangar do centro de operações militares de Primeiro Hosniano fervilhava com a agitação típica que antecedia um confronto armado. Nas diferentes pistas de aterragem, enxameadas pelas equipas de manutenção compostas por pessoas, androides e máquinas, repousavam os caças de assalto que outrora pertenceram à Aliança Rebelde, que no presente integravam a frota da Nova República. Eram na sua maioria X-Wings, mas também havia muitos Y-Wings. Numa pista mais afastada, um punhado de A-Wings estava a ser abastecido por compridas mangueiras flexíveis. Os pilotos, devidamente equipados com os seus fatos de voo e com os capacetes debaixo do braço, reuniam-se em pequenos grupos e escutavam os comandantes de esquadrilha que lhes davam as últimas informações operacionais antes de seguirem para as respetivas naves. O recinto era ainda percorrido por androides, maquinaria variada movimentando-se com o auxílio dos seus mecanismos de tração, pessoal de terra, carros rolando transportando cargas de munições e peças, afadigando-se entre os veículos. Os altifalantes transmitiam avisos contínuos de ordens e de horários, vozes metálicas que se misturavam com o roncar dos testes de motores e os ruídos dos aparelhos que se empenhavam nos últimos preparativos antes da indicação final para levantar voo.

Observei, apreensiva, aquele movimento frenético, que significava que o ataque estaria para breve. A ideia seria inutilizar os star cruisers numa demonstração de força da Nova República, ou atacar outra frota, mais imponente e destruidora, que estaria a aproximar-se do sistema Hosniano, em resposta à declaração de guerra, aproveitando a vantagem estratégica da recente queda de Coruscant.

Algumas unidades R2 passaram por mim e por Iko. Encaminhavam-se para os caças, apitando e silvando, orientados por um chefe da manutenção que ia conferindo as naves às quais tinham sido atribuídas. Não encontrei Artoo entre os androides astromec, ainda que um deles, que encalhou em mim, fosse muito parecido. Estaria certamente com Luke. Fazia sentido. Artoo não fora destacado para nenhum caça, pois o cavaleiro Jedi iria enfrentar Kram em duelo, não como piloto.

À minha direita descobri um átrio com as entradas para os elevadores que davam acesso ao piso superior do hangar, cujo terraço conseguia avistar, vedado por uma estrutura tubular, percorrido por oficiais e técnicos que compilavam os dados que seriam úteis para a tomada de decisões estratégicas na sala de comando. Nesse átrio estava um homem alto, cabelo escuro ondulado, mãos na cintura, a escutar uma criatura de pele cinzenta que lhe fazia um relato sobre o ponto de situação que conferia numa prancheta eletrónica. Reconheci Han Solo e aproximei-me. O corelliano despediu a criatura e, ao sentir-se observado, voltou-se para mim. Num primeiro relance, não me reconheceu. Vi-lhe a irritação relampejar no olhar duro, os civis não teriam autorização para andar a passear naquele local tão sensível. O facto de ser uma mulher amaciou-lhe a frase que preparava para me despachar, apreciou-me com inegável espanto e alguma coisa se deve ter lembrado. Inclinou a cabeça para a esquerda e disse na sua voz calorosa:

— Ei… Olá, miúda.

— Chamo-me Cleo.

— Eu sei que te chamas Cleo…

Os olhos dele percorrendo analiticamente o meu corpo, a boca dele murmurando adjetivos que eu só conseguia imaginar como impróprios e deselegantes, apesar de elogiosos, deixaram-me incomodada, mas depois reconheci a mesma admiração que encontrara em Iko, quando os meus treinos se espelhavam na minha postura e forma física de uma forma tão evidente que rever-me constituía uma surpresa agradável. Estiquei o pescoço, moderando a vaidade, preparando uma resposta adequada, servindo-me da minha pouca diplomacia.

Mas Han Solo não era previsível. Não comentou o que tanto apreciara em mim e desviou o olhar. Reparou no monstro cinzento e peludo. Deve ter-lhe lembrado o seu fiel wookie e fez um sorriso enviesado.

— É o teu copiloto? – perguntou sarcástico.

Respondi no mesmo tom:

— Na realidade, é o meu piloto e o meu protetor. É uma criatura dos lagos Kendon e chama-se Iko.

O monstro arreganhou os dentes.

— Um guarda-costas? – estranhou Han, arqueando as sobrancelhas. – Não sabia que os Jedi precisavam de alguém a vigiar-lhes os passos. A nova geração está a perder atributos.

— Ainda sou uma aprendiza, o meu treino ainda não terminou. Mas não preciso de um guarda-costas. Iko foi designado para esse posto e aceito a sua proteção, mesmo que na realidade não precise dela.

— Tens um sabre de luz…

— Um sabre de luz não define um Jedi.

— Muito obrigado pela lição, miúda!

Girou sobre os calcanhares e encaminhou-se para os elevadores. Apressei-me a juntar-me a ele, barrando a porta para impedir que se me escapasse.

— É assim que se recebe uma amiga?

— Já te cumprimentei, o que queres mais?

— Precisamos de falar.

— Já falei muito contigo. Não tenho tempo para ti.

O elevador abriu-se e tive de me desviar para deixar passar um par de técnicos, mas não deixei que Han Solo entrasse no compartimento. Ele zangou-se.

— Tu sabes escolher as ocasiões para apareceres. Não vês que estamos todos demasiado ocupados por aqui? Podias sair da minha frente?

A porta do elevador fechou-se. O corelliano passou a mão pelos cabelos, soprou demoradamente. Carregou novamente no painel para voltar a chamar o elevador que tinha subido. Perguntei-lhe:

— Onde está o Luke?

Olhou-me surpreendido, como se eu tivesse enlouquecido e numa reação extrema o tivesse mordido.

— Que raio de pergunta é essa, miúda? Julgava que o Luke estava contigo, em Luyta.

— Só estamos cá eu e o Iko, portanto, o Luke não está comigo.

— Não sei onde ele está.

— Quer dizer que não o viste?

— E o que queres dizer com ele não estar contigo? Não estavam a treinar juntos?

— Estávamos, mas… – Baixei a voz. – Ele foi-se embora.

— Para onde?

— Julgava que tinha sido para o sistema Hosniano.

O elevador abriu-se, saíram três androides e uma criatura com o uniforme da manutenção a carregar uma volumosa caixa prateada. Han afastou-se, agitou um braço na direção da pista e bradou:

— Ei, Antilles! Chega aqui.

Um piloto equipado com o seu fato de voo aproximou-se numa corrida. Reconheci Wedge Antilles, uma lenda dos caças X-Wing que participara em todas as batalhas mais importantes da Aliança Rebelde contra o Império Galáctico. Pela insígnia que exibia sobre o lado direito do peito deduzi que era chefe do esquadrão vermelho, o mais importante dos esquadrões de assalto. O melhor piloto da galáxia, depois de Luke Skywalker, sobrevivente do ataque à primeira Estrela da Morte, fora igualmente fundamental na vitória da Rebelião na lua verde de Endor.

Fez uma continência.

— General Solo.

— Viste o Luke Skywalker? – perguntou Han, depois de ter respondido com saudação idêntica.

— Não, senhor – disse Wedge admirado. – Já não vejo o comandante Skywalker há muito tempo. Estivemos juntos no programa de desmantelamento das naves imperiais, no fim do trabalho despedimo-nos e foi cada um para o seu lado.

— Ele não apareceu por aqui, nas últimas horas?

— Que eu me tenha apercebido, não… senhor. Nem nos últimos dias.

— Falta algum caça X-Wing, um desaparecimento que não tenha sido devidamente reportado ao alto comando?

— Não, senhor. Temos poucos caças, para começar. Se algum deles tivesse desaparecido, por muito embaraçoso ou inexplicável que isso pudesse ser, ninguém esconderia essa informação do alto comando. As esquadrilhas estão todas operacionais, em alerta máximo, a aguardar a ordem para levantar voo, senhor.

— Obrigado, Antilles. Ah, queria ainda perguntar-te se recebeste as novas ordens.

— Sim, senhor. Acabei de as receber. A Millenium Falcon vai com o esquadrão vermelho. Será uma honra combater novamente ao lado dessa nave, general Solo – acrescentou com um sorriso polido.

— Perfeito. Tudo a postos, então… Aguarda pela ordem de descolagem, serão os últimos a sair do hangar. Uma surpresa que estamos a preparar… Mais uma vez, obrigado. Podes ir, Antilles.

Nova troca de continências e o piloto afastou-se no mesmo passo apressado. Conheciam-se desde sempre, mas, naquela situação, interagiam com formalidade, num sinal de respeito pela hierarquia. Han colocou as mãos na cintura e interpelou-me com alguma brusquidão:

— Muito bem, miúda. O que é que se passa? Onde está o Luke?

— Saiu de Luyta e disse-me que tinha vindo encontrar-se com O’Sen Kram – expliquei apreensiva. – Deduzi que tivesse vindo para o sistema Hosniano, onde Kram vai atacar primeiro.

— Em segundo lugar. Começou por atacar Coruscant – corrigiu Han. – Estamos a aguardar a qualquer momento que a nave Belirium chegue ao sistema, acompanhada de uma impressionante escolta de star destroyers totalmente operacionais, com várias esquadrilhas de caças TIE. Os nossos espiões informaram-nos de que depois da ofensiva no espaço, Kram prepara uma ofensiva terrestre para derrubar o governo de Primeiro Hosniano, capturar os líderes da Resistência e acabar com qualquer tentativa de insubordinação contra o seu poder, que começou a ser consolidado após a conquista do Novo Senado em Coruscant. Segundo ouvi dizer, ficou furioso com a declaração de guerra.

Franzi a testa, processando o que me contava o corelliano. Kram não estaria furioso. Afinal, tratava-se do passo lógico que cumpriria o seu plano maior. Ele sabia que seria assim que veriam a sua suposta indignação. Fúria e impulsividade. Ofendido, o senhor do trono negro alegaria que nunca pretendera ser hostil, apesar de se estar a rodear do antigo poderio militar do Império. Lançava o medo, a confusão, criava a armadilha.

Mas se até Luke Skywalker fora enganado…

— Como vês, miúda – prosseguiu consternado –, estamos à beira da extinção da liberdade na galáxia ou, se formos mesmo muito otimistas, na véspera de outra vitória dos justos.

— E aqueles star cruisers? – perguntei. – Estão a fazer uma espécie de bloqueio?

— Nem mais, miúda. Também os viste…

— É difícil não os ver.

— Impedem que cheguem mantimentos e outras mercadorias de primeira necessidade ao sistema Hosniano, subjugando a população civil que pressiona o governo para que a loucura termine. Impedem igualmente que outros sistemas aliados nos enviem as suas naves, que aumentariam o nosso poder de fogo e nos assegurariam que venceríamos esta primeira batalha sem margem para dúvidas. Esta ofensiva vai sair desfalcada, temos poucas naves, poucos pilotos. A Millenium Falcon vai voar… O conselho tem esperança de que, com uma estratégia adequada, sejamos vencedores, mesmo em inferioridade numérica e que consigamos obrigar Kram à rendição e, posteriormente, à negociação. Então… onde crês que anda o Luke?

— Faria todo o sentido que estivesse aqui, à espera da Belirium. E Leia?

— Ela não me disse que viu o Luke, deduzo que não se tenha encontrado com ele.

— Nem… secretamente?

— Não acho que a Leia escondesse esse encontro de mim – desconfiou Han.

— Talvez. Luke não quer que se saiba das suas intenções de confrontar O’Sen Kram, enquanto cavaleiro Jedi. Discutimos antes de ele sair de Luyta – confessei, relutante.

— A sério?

— Ele quis vir sozinho. O encontro com Kram é perigoso e incerto, não me quis expor ao perigo e à incerteza. Sou apenas… uma aprendiza.

— Ele gosta muito de ti. Percebi isso, desde o início.

Corei e Iko regougou atrás de mim. Han observou surpreendido:

— E tu também gostas dele. O que andaram a fazer os dois, na lua de Luyta?

— O quê? – indignei-me a sentir as faces a escaldar. – Andámos a treinar!

— Paz! – pediu a mostrar-me as mãos. Tornou a encaminhar-se para os elevadores, no seu andar típico bamboleante e decidido. – Ouve, miúda…

— Cleo!

— Cleo, estou muito ocupado e já te dispensei grande parte do meu tempo. Falámos demasiado, mais do que podia. Agradeço-te teres-me informado de que não sabes onde anda o Luke. Terei isso em consideração quando abordarmos a Belirium.

— Pensam abordar a Belirium? – indaguei, acompanhando-o.

— Pensamos ganhar, já to tinha dito – respondeu, carregando no botão do painel do elevador. Olhou para o teto, pensativo. Suspirou. – Queres um conselho? Durante a ofensiva, vai para a sala de comando. Fala com a Leia sobre o Luke. Vocês entendem-se com a Força e… – Espreitou-me sobre o ombro. – Ei, porque não encontras o Luke com a Força? Sabes fazer isso, não sabes? Usar a Força…

— Já tentei. Se ele quiser pode ficar invisível e não o conseguimos sentir em lado nenhum. É o que está a acontecer agora, possivelmente.

— Esconde-se da irmã também?

— Ele quer enfrentar Kram sozinho.

— É um Jedi bem treinado, que já enfrentou o lado negro e venceu. Qual é o problema?

— Kram tem certos poderes que será muito difícil, até para um Jedi, anular. O Luke precisa da minha ajuda, porque tenho os mesmos poderes do que Kram. Não sou capaz de explicar melhor…

— Hum… No entanto, és apenas uma aprendiza.

As portas do elevador abriram-se. O compartimento estava vazio, Han entrou. Voltou-se para mim, carregando no botão interior para reter as portas.

— Outro conselho, miúda. Antes de ires para a sala de comando, vai descansar, mudar de roupa. Sempre que te vejo estás nessa lástima, como se tivesses acabado de lutar numa arena de Guyrthan. Pelo menos, não estás ferida e a sangrar. Não estás ferida, pois não?

Fiz um esgar.

— Não. Muito obrigada pela tua preocupação, general Solo.

— De nada, miúda. – Agitou um dedo. – Se não estivéssemos numa situação de emergência, não me importaria de trabalhar contigo essa tua inclinação para seres irónica e dizer piadas. Deves limar alguns pormenores, mas de resto considero que estás no bom caminho.

Sorriu-me, as portas do elevador fechavam-se.

— Que a Força esteja contigo, Han – desejei.

Ele agradeceu-me, movendo ligeiramente a cabeça.

Suspirei desolada.

— Bem, Iko… Luke não está em Primeiro Hosniano… Tens alguma ideia?

Rosnou-me impaciente e eu ri-me, embora sem vontade.

— Tens fome? Tens razão… Não temos comido nada, ultimamente. Vamos comer qualquer coisa e eu vou mudar de roupa, tal como me exigiu tão educadamente o general Solo.

Esperava encontrar-me com o cavaleiro Jedi antes de ele seguir para a Belirium e continuar sem saber do seu paradeiro deixava-me desconfortável, pois pressentia que alguma coisa não estava a encaixar-se naquela história. Se a nave de Kram iria aparecer em breve naquele sistema, por que razão Luke não estava ali à espera dele? Ou iria aparecer durante a batalha, num momento crucial, anunciando-se como o cavaleiro Jedi que poria fim ao conflito, tal como faziam os seus antepassados que intercediam pela Antiga República em caso de diferendos? Kram poderia aceitar esse expediente, ansioso como estava para me recuperar, para acabar com o último dos Jedi… Mas onde residiria a vantagem de Luke Skywalker, se estava numa posição fragilizada que o tornava permeável à chantagem do senhor do trono negro por causa de mim?

Tinha de esquecer, por ora, aquelas conjeturas e centrar as minhas energias no presente, raciocinando à medida que os acontecimentos se sucedessem. Tinha também de inventar fome, pois o monstro não aceitaria comer sem se assegurar de que eu me estava a alimentar convenientemente. Acariciei a pedrinha negra e disse a Iko para me seguir.

Ao fundo, na pista entre os caças, Wedge Antilles conversava com alguns pilotos. Viu-me, trocámos um olhar breve. Notei que reparou no sabre de luz a balançar no meu cinto e que reconheceu em mim qualquer coisa que o ligou ao passado que partilhara com Luke Skywalker.

A sensação foi tanto excitante, como perturbadora.

Wedge, de algum modo dúbio, confiava no meu auxílio naquela batalha.

Se eu enfrentasse O’Sen Kram, iria ajudá-lo, certamente.

O peso dessa responsabilidade encorajou-me.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A Cleo chegou ao sistema Hosniano... mas Luke Skywalker não estava lá e aparentemente ninguém o viu por lá.
O ataque da frota de Kram está iminente, a guerra aumenta de tom e a Cleo sente que o tempo esgota-se rapidamente.
O instinto dela esteve sempre errado ao julgar que Luke tinha seguido para o sistema Hosniano?
Ela encontrou-se com Han Solo... e com Wedge Antilles.
O famoso piloto da Aliança, que participou em todas as grandes batalhas desde o primeiro ataque à Estrela da Morte até à vitória final dos rebeldes sobre o Império, em Endor, não podia faltar. É um personagem discreto de Star Wars que representa o verdadeiro militar, altruísta, anónimo e o herói desconhecido.
O que poderá fazer agora a Cleo?

Próximo capítulo:
Na Sala de Comando.