A Criação da Luz escrita por André Tornado


Capítulo 32
De regresso


Notas iniciais do capítulo

"Códigos e enigmas tem ela que chegue, não precisa de sugestões, a vida em risco também, cada passo que dá encurta-a ainda mais."
in O Último Papa, Rocha, L. M., Porto Editora, 2013



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Saber que fora o soldado Frint que mudara o curso dos acontecimentos em Tatooine e, por conseguinte, na galáxia, era demasiado inquietante para me deixar inteiramente sossegada. Não sentia qualquer empatia pelo jovem soldado e não estava disposta a abdicar das minhas convicções, ainda que estas fossem ténues e afastadas da verdade absoluta, para ir atrás das ilusões que ele criara sobre mim. Frint continuava a ser um dos homens de O’Sen Kram e o senhor do trono negro não deixara de ser o meu inimigo, naquele instante em que eu estava completa, com todas as minhas memórias.

Não havia mais nada que devesse saber. Fora criada pelo conjuro do feiticeiro de Ekatha pouco antes de ser despachada numa nave para Tatooine e completara-me enquanto ser humano no tubo do líquido esverdeado onde Frint me vira pela primeira vez. O resto acabava de ser contado e eu tinha outro peso no coração. Demasiados segredos!

Uma vertigem devolveu-me ao meu corpo, encaixando-me naquele invólucro cheio de pecados que tantos adoravam. Um amor que não seria incondicional, mas antes um sentimento prático nascido das necessidades particulares de cada um. Toda a gente precisava de mim, desde Kram ao cavaleiro Jedi, passando pelo insuspeito Frint.

Esforcei-me por levantar as pálpebras, por oxigenar os pulmões, estalar a língua dentro da boca, murmurar que tinha regressado e que estava tudo bem, apesar de me sentir ligeiramente agoniada e a precisar de beber qualquer coisa. Alguém agarrou-me na mão e eu devolvi o aperto, a testar a minha sensibilidade ao toque. As imagens desfocadas que entrevi entre as pestanas foram ganhando mais nitidez e descobri-me deitada numa maca num compartimento apertado, ligada a uma máquina que me monitorizava os sinais vitais, reproduzindo-os num monitor minúsculo.

Descobri a seguir o olhar de Luke Skywalker pousado no meu rosto.

— Começa a ser embaraçoso – disse-lhe. – Sempre que me encontras, estou inconsciente e a precisar de cuidados.

Mostrou-me um sorriso caloroso.

— Não me importo de cuidar de ti. E tu já o fizeste uma vez. Cuidaste de mim.

— Sim… Numa cela da nave de Kram.

Conseguia compreender, por fim, a razão da minha relação extremada com o cavaleiro Jedi. Apreciava a sua companhia, mas afastava-o com veemência sempre que a aproximação se estreitava. A matéria e a antimatéria. Eu fora criada para destruí-lo, mas obrigaram-me a desistir desse objetivo quando me limparam a memória e introduziram novos conceitos na minha mente, entre estes a profunda admiração pela perseverança, valentia e altruísmo de Luke Skywalker quando lutara contra as trevas na guerra nas estrelas.

Não me podia envolver demasiado, contudo.

Relanceei os olhos pelo monitor onde passavam linhas brancas e vermelhas, com picos regulares e uma lista infindável de números, leitura que não sabia decifrar.

— Han Solo e Chewie conseguiram libertar-te – observei feliz. As minhas deambulações por Luyta, todas as peripécias e perdas irrecuperáveis tinham, no final, valido a pena. O cavaleiro Jedi já não estava na posse do senhor do trono negro.

— Encontraram alguma resistência, mas não tiveram dificuldade em desembaraçarem-se dos infelizes que me estavam a guardar. Julgo que não estavam à espera que alguém descobrisse o caminho para a ala de detenção desta base. A minha irmã disse-me que foste tu que lhes entregaste a chave para a minha localização.

— Sim, fui eu.

— O soldado deu-te o cartão.

— Foi um encontro fortuito. Não o conheço.

— Não recuperaste as tuas memórias?

— Não, lamento – menti.

Estiquei as pernas e espreguicei-me. Ia fazer uma última pergunta e depois pediria alguma coisa para beber.

— Há quantos dias estou a dormir?

— Dias, não. Julgo que nem chega a uma hora.

Sentei-me na maca como se tivesse acionado uma mola no meu interior.

— Ainda estamos em Luyta?

— Ainda estamos dentro da Millenium Falcon.

— Mas a minha perna está curada!

Levantei a perna direita enfaixada. O cano das calças pendia em farrapos sobre a ligadura limpa. Já não sentia dores, nem sangrava. Luke explicou:

— Não sei o que fizeste para impressioná-lo, mas Artoo gostou de ti e insistiu em arranjar-te imediatamente um androide médico, logo que soube que tinhas desmaiado. Han ficou irritado, queria ir buscar-me o quanto antes, dizia que tu te podias aguentar durante a viagem com o sedativo que te tinha dado, mas Leia deu permissão a Artoo para encontrar a enfermaria que tinha detetado enquanto se ligava ao computador da base. O astromec não parava de apitar em protesto! – acrescentou, sorrindo. Continuou: – Por sorte era uma sala que fazia parte deste espaçoporto privado e tudo foi resolvido rapidamente. Han trouxe para a Millenium Falcon o androide médico modelo 2-1B, um pouco obsoleto mas que ainda serve para pequenas cirurgias, mais um assistente modelo FX-7, ligaram-lhes as baterias.

Olhei admirada para os androides desativados que sombreavam a maca, o médico, com uma forma humanoide, e o assistente, um conjunto de cilindros revestidos a metal.

— As baterias tinham estado desligadas durante anos, pelo que o funcionamento dos androides estava muito condicionado. Felizmente, funcionaram o tempo suficiente para te fazerem uma pequena cirurgia na perna e espalhar bacta no ferimento, um fluido vermelho gelatinoso. Dentro de dois dias as cicatrizes irão desaparecer. A tua perna está, de facto, curada.

— Artoo – murmurei. – Nem eu sei o que fiz para impressioná-lo.

— Agora tenho de carregar com essas sucatas até ao nosso destino!

Reconheci a voz de Han Solo que passava pela porta do compartimento e que ouvira o final da conversa. Arranquei os fios do braço e o monitor minúsculo desligou-se com um silvo. Saltei da maca. Luke, que tinha estado sentado nesta, também se levantou. Assomei-me à entrada, Luke ultrapassou-me e postou-se na passagem que curvava para a direita mais adiante, recordando-me que aquela nave tinha a forma de um disco.

— Não temos tempo para nos livrarmos desses androides inúteis.

— Nenhum androide é inútil, general Solo – informou Threepio que acompanhava o corelliano. – Mesmo que me custe imenso dizer isto, sempre se podem aproveitar as suas peças para reparações de outros androides… funcionais.

— Muito obrigado pelo esclarecimento!

— De nada.

Han rolou os olhos. Chewbacca parou, regougando baixinho.

Surgiu Leia e Artoo.

— Estamos preparados para partir, Han – anunciou a princesa.

— Finalmente! Vai andando, Chewie. Liga os motores, já vou ter contigo.

O wookie esmagou Luke num abraço repentino, rosnou algumas palavras na sua linguagem peculiar e continuou pela passagem. Depois foi Han que abraçou o cavaleiro Jedi.

— Cuida bem de ti, miúdo.

— Obrigado por teres vindo por mim.

— Nunca te deixaria ficar com a diversão toda, sabes muito bem disso. Acho que não preciso de me preocupar mais contigo, não é? – Esticou o dedo indicador. – Vê lá o que aprontas daqui para a frente…

Luke sorriu-lhe. Han olhou para mim por cima do ombro do amigo e piscou-me o olho.

— Já te posso agradecer? O cavaleiro Jedi está aqui!

— Sim, claro – respondi entredentes.

— Muito obrigado e boa sorte, miúda. Toma conta dele. Ou vais ter de te ver comigo!

Recuou alguns passos, deu meia volta e desapareceu na curva.

— Tens a certeza sobre isto?

— Sim, Leia – respondeu Luke à irmã que o olhava comovida. – Nós ficamos.

Um calafrio sacudiu-me. As despedidas começavam a fazer sentido quando antes estavam a parecer-me uma aberração. Perplexa, indaguei:

— Nós vamos ficar? Porquê?

— Tem cuidado, por favor. O perigo é bastante maior para ti – disse Leia.

— Terei cuidado – assegurou-lhe Luke tomando-lhe as mãos. – Tu compreendes, melhor do que ninguém, o que estou a fazer.

— Tento compreender.

— Aquilo que me é exigido no esforço de guerra contra O’Sen Kram começa neste planeta e, dentro em pouco, juntar-me-ei a ti e ao Han. Se for bem-sucedido, e acredito que o serei, iremos comemorar juntos a vitória sobre este novo Mal que não nos deve acanhar, mas antes fazer de nós mais determinados.

Leia beijou-lhe ternamente o rosto.

— Estaremos no sistema Hosniano, se precisares de nos contactar. Iremos para lá para nos encontrarmos com Mom Mothma, criar um conselho especial e declarar guerra a Kram. Adiantarmo-nos a esse louco é fundamental.

Os motores da Millenium Falcon roncaram, após um zumbido inicial que fez estremecer a fuselagem da nave como se esta se fosse desintegrar. Olhei para o teto da passagem que sacolejava como um balde de parafusos.

Luke disse, soltando as mãos da irmã:

— Depressa, não têm muito tempo. Não te preocupes, vamos estar protegidos. Logo que sairmos da base imperial, não nos vão conseguir apanhar.

— Confio que sim. Até breve, Luke.

— Até breve, Leia. Que a Força esteja convosco!

— Que a Força esteja contigo.

A princesa fez-me um aceno discreto e dirigiu-se para a carlinga, Artoo e Threepio aproximaram-se. Educadamente tinham dado a primazia aos humanos e só depois avançaram para se despedirem. Luke agachou-se e pousou a mão enluvada sobre a cúpula rotativa do pequeno androide.

— Artoo, lamento amigo. Mas continuas a não poder acompanhar-me.

O androide piou com tristeza.

— Estaremos juntos, prometo, para novas aventuras, quando nos voltarmos a ver. Quero-te no meu X-Wing quando o pilotar outra vez e não falta muito para que isso aconteça.

Threepio agitou-se nos seus habituais movimentos rígidos.

— Tenha cuidado, menino Luke. Foi um prazer revê-lo e espero que voltemos a estar juntos, em melhores circunstâncias. Foi também um prazer conhecer a sua companheira. Senhorita Cleo… Perdão, Cleo. Não se arrisque demasiado e leve cuidado com o menino Luke. – Cumprimentou-me com uma ligeira inclinação de cabeça, girou sobre si mesmo e encaminhou-se apressado para o lugar dos passageiros, com Artoo no seu encalço.

— Não o deves encorajar a dizer aquele tipo de coisas – disse eu.

— Threepio? – admirou-se Luke. – Não o encorajo, ele é naturalmente sincero.

Votei-lhe um olhar fulminante, mas ele não mudou a serenidade da postura. Explicou-me com naturalidade:

— Nós temos uma ligação, desde o início. Julgo que essa questão já estava plenamente esclarecida. Vamos ficar em Luyta para trabalhar nesse laço que nos une.

— O que raios estás a dizer?! – exclamei agastada. – Tomaste essa decisão de que nós vamos ficar e nem sequer me consultaste! Achas que eu quero ficar aqui? Eu não sou… a tua companheira!

— Não te preciso explicar o que tu já sabes desde que chegaste a Luyta.

— Estás a ser prepotente!

— Estarei? – Entregou-me a minha capa esfarrapada, colocou a sua num braço e avançou pela passagem, tomando o caminho oposto ao dos amigos.

Segui-o furiosa. Ele parou junto a um armário que abriu, tirou deste duas pistolas laser DH-17, que tinham sido muito populares entre os rebeldes, entregou-me uma, colocou a outra no cinto, junto ao sabre de luz.

— Presumo que saibas usar isto?

— Não te preocupes. Saberei defender-me.

Abandonámos a Millenium Falcon quando a rampa de acesso já estava a ser recolhida, os motores rugiam na sua máxima potência, uma ventania artificial rodeava a nave. Corremos encolhidos, um braço sobre a cabeça para nos protegermos, saltámos da pista de aterragem para a folhagem estaladiça que a rodeava. Luke ajudou-me a levantar.

A antiga base imperial estava mais iluminada do que eu me recordava. Olhei para as passagens superiores onde se sucediam filas de janelas brancas e muitas sombras a passar por estas, na típica aflição dos soldados em patrulhas ininterruptas e manobras ofensivas. Estariam a procurar pelo cavaleiro Jedi que lhes tinha escapado, pela companhia da senadora Leia Organa Solo que deveriam neutralizar, pela criatura que Kram ordenara que recuperassem a qualquer custo. O perigo era muito maior naquele momento e eu continuava sem perceber por que razão quereria Luke Skywalker permanecer num lugar onde, tanto ele, como eu, tínhamos a cabeça a prémio.

Nas nossas costas, a Falcon estremeceu com os seus motores a roncar em fúria. Virei-me, uma aragem escaldante bateu-me no rosto. A nave bamboleou, subiu num bramido lançando uma vaga de luz que nascia da faixa dos seus motores e cruzou os céus escuros. Logo se transformou em mais um dos pontos luminosos celestes, confundindo-se com as estrelas.

De uma forma estranha e pueril, senti-me especial por ter tido o privilégio de contemplar a descolagem da extraordinária e lendária Millenium Falcon. Se havia um símbolo de resistência, de qualquer tipo de luta baseada numa convicção de justiça, era aquela nave.

Luke olhava-me intrigado. Tentei humedecer os lábios mas estavam demasiado secos para que os conseguisse hidratar com tão pouca saliva e lembrei-me de que não tinha pedido a bebida que me apetecia.

— Estás com sede – observou ele. – Desculpa, devíamos ter bebido alguma coisa antes de termos saído da Falcon.

— Depende do sítio para onde vamos – retorqui aborrecida. – Se for afastado, então concordo contigo. Devíamos ter bebido alguma coisa. – Coloquei a capa sobre os ombros, atando-a debaixo do queixo. – E como estamos no campo das observações e dos relatórios, devíamos arranjar outras roupas para mim. Estas já deram o que tinham para dar.

— Não precisas de ficar zangada. A nossa viagem não vai ser longa. – Vestiu também a sua capa. – Porquê tanto interesse na Falcon?

Estranhei a pergunta. Não me pareceu conveniente, apesar de fazer parte da sua habitual curiosidade em relação a mim, quando eu tinha uma dúvida mais premente, a razão de termos ficado em Luyta.

— É uma nave – atirei presunçosa.

— Eu sei que é uma nave…

— Nós não temos nenhuma nave! E estamos neste maldito planeta, onde é sempre de noite numa floresta pejada de animais selvagens. – Apontei para os edifícios. – Num sítio onde existem soldados que nos querem apanhar…

Luke avançou.

— Tens razão, não nos devemos demorar. Estás com sede e eu não tenho chá de fygre comigo. Segue-me.

Estava a troçar de mim. Estava, claramente, a divertir-se à minha custa.

— E se quisermos sair de Luyta, como é que vai ser? – insisti.

— Tudo sairá bem, não te preocupes. Sou um cavaleiro Jedi.

— Mas os Jedi não sabem voar!

Parou e encarou-me, mais sério do que o habitual.

— Vais ter de confiar em mim, Cleo. Lembras-te de como era confiar em mim, em Tatooine?

— Sim – gaguejei.

Uma tontura fez os meus joelhos tremerem. Quebrei o contacto visual. Ele tentava manobrar-me com a sua mente, mas encontrara, certamente, as minhas defesas que estavam permanentemente ativas, ainda que eu não as controlasse durante todo o tempo.

— Tens mais perguntas?

Apontei para a ferida que ele tinha na têmpora esquerda, provocada pelo punho da espingarda laser E-11 do soldado Frint e que estava tapada por uma película grossa e esbranquiçada.

— Está a doer-te?

Ele não estranhou por não lhe ter perguntado como fizera aquilo. Ou assumira que eu já sabia, o que era esquisito, porque admitia que eu conseguira segui-lo sempre desde a nossa separação, mesmo quando estava limitado pela estranha estrutura metálica que camuflava a Força, ou pensara que eu julgara que se ferira, atacado por algum soldado mais vingativo.

— Não – respondeu. – Espalhei um pouco de bacta e o corte cicatrizou com o tratamento. Dentro de poucas horas estará totalmente curado e a cicatriz também vai desaparecer. Como com a tua perna direita. Continuamos?

— Acho que sim, aqui não podemos ficar.

— Concordo, aqui não podemos ficar.

Uma explosão esventrou o corredor que dava acesso ao espaçoporto privado. Gritei com o susto. Luke puxou por mim, atirámo-nos para o solo e cobriu-me com um braço, com a sua capa. Os destroços atirados ao ar pelo rebentamento começaram a cair e rebolaram ruidosamente junto a nós. Aconcheguei-me ao corpo dele, em busca de proteção. Passado um pouco, ele soergueu-se e ordenou-me em surdina:

— Depressa, vamos correr quando eu der o sinal. Um… dois… agora!

Levantei-me e corri para a orla da floresta. Atrevi-me a voltar a cabeça e vi incontáveis soldados irromperem pelas salas do espaçoporto, a disparar raios laser, a invadirem o lugar onde eu tinha estado com Leia e Han, com Chewbacca, com os dois androides, a arrombarem o portão que dava acesso à pista de aterragem de onde partira a Millenium Falcon, de onde eu tinha saído com Luke Skywalker.

Ofegante, entrei no reino das árvores e continuei a correr.

A mão de Luke agarrou-me num braço e travei.

— Foi por pouco – observou. Segurava no sabre de luz desligado e olhava, de vez em quando, para a nossa retaguarda.

Encostei-me a um tronco, a recuperar o fôlego. Estava novamente na floresta de Luyta. Achei irónico que passara tantos perigos para conseguir sair viva dali, para poder salvar o cavaleiro Jedi, e que regressava agora com ele.

Ninguém se apercebera de que nós fugíamos durante o ataque ao antigo espaçoporto de Darth Vader e ninguém tinha vindo em nossa perseguição. Teriam julgado que estávamos acantonados em alguma sala e tinham preparado a emboscada, assumindo como certa a nossa captura. Luke guardou o sabre de luz e fez um gesto com a mão para que o seguisse.

— Sabes o caminho? – perguntei-lhe.

Sem se voltar, respondeu-me:

— O mestre Eilin falou comigo.

Quedei-me boquiaberta.

— Co-como?

— Telepaticamente, apenas.

O mestre Eilin estava no centro daquela tempestade. Cerrei os dentes. O que mais tinha o pequeno deus influenciado deixava-me baralhada e irritada. Onde estava a hipótese da imprevisibilidade quando havia alguém omnipotente a movimentar as peças no tabuleiro? À semelhança de Kram? Tive a impressão desagradável de que o jogo era disputado entre os dois e que nos estavam a manobrar como simples peões.

— Esse minorca traiçoeiro…

— Não deves falar assim do mestre Eilin – censurou Luke. – É uma entidade muito antiga do Universo. Arrisco a dizer que será divino, embora acredite que ele refute esse epíteto com veemência.

Eu também sou divina, pensei com uma sobranceria ofensiva.

Luke atrasou os passos e olhou-me com uma sobrancelha carregada.

— Cuidado. Estás a deixar escapar pensamentos.

Nunca julguei que as minhas defesas tinham fraquezas ou que ele tentasse permanentemente entrar na minha mente até encontrar uma falha. Repliquei ofendida, disfarçando o meu medo de ele conseguir descobrir quem eu era porque fora desleixada:

— Não tenho nada a esconder, cavaleiro Jedi.

— Claro que tens. Enquanto dormias estiveste muito agitada. Sonhos, premonições… ou lembranças?

— Continuo sem me lembrar de nada – tornei a mentir, baixando os olhos.

— Murmuraste muito.

Fi-lo parar pondo-lhe uma mão sobre o peito.

— O que foi que eu disse?

— Não consegui perceber. Nem sequer tentei. Não quis descobrir os teus segredos dessa maneira tão cobarde. Prefiro que sejas tu a revelar-mos, quando te sentires preparada ou quando o desejares. Nunca te forçarei a nada, Cleo. Mas consegui perceber algumas coisas, inocentes e que fazem todo o sentido. Houve alturas em que falaste em Tatooine, na atmosfera doce, no ocaso dos dois sóis.

— Oh…

Baixei o braço. O meu momento com Frint em que mencionei o cavaleiro Jedi pela primeira vez. Infelizmente, para desgosto do soldado, tinha estado sempre ligada a Luke Skywalker. Uma verdade incontornável associada à minha criação. A ligação forte e tão transparente que até um androide protocolar conseguia pressentir.

Retomámos a caminhada.

— Vamos para a clareira iluminada – constatei. – Ficámos em Luyta para que te pudesses encontrar com o mestre Eilin.

— Exato. Começas a compreender. Tu também te encontraste com ele.

— Sim. Foi o mestre Eilin que pagou pelo meu salvamento e foi assim que fugi da Belirium, a nave de Kram.

Se permanecesse tranquila, conseguia ter uma conversa decente com ele. A raiva toldava-me o raciocínio e fazia-me obsessiva. Não desejava envolver-me demasiado com o cavaleiro Jedi, mas não o devia afastar tanto que perdesse o seu precioso auxílio, qualquer que fosse. Compreendi o curso dos últimos acontecimentos, quando estivemos separados, mas em permanente comunicação, ligados, para sempre unos. Eu nunca o tinha deixado, Luke estivera sempre comigo.

— Não chegaste a conhecer O’Sen Kram.

— Por mais estranho que possa parecer, não o cheguei a conhecer – concordou Luke. – Depois de me terem ido buscar à cela onde estávamos os dois juntos, levaram-me para outra cela mais afastada, onde colocaram um dispositivo que inibia a minha utilização da Força.

— Mas eu conseguia ver-te!

— Uma habilidade incrível, se queres a minha opinião – revelou. – Voltando à minha condição como prisioneiro. Estive sempre sozinho nessa cela e não apareceu ninguém a fazer perguntas. Por causa desse dispositivo, também não fui capaz de sentir na sua amplitude total a aura de O’Sen Kram. Tudo o que sei sobre esse louco foi-me contado por Leia, que o soube através de ti. Enquanto estive preso, o mestre Eilin contactou-me…

— Ele contactou-te para quê?

— Um simples pedido. Disse-me que sabia que eu não estava na posse plena dos meus poderes, mas rogou-me que fizesse todos os esforços para que influenciasse os meus captores para que me trouxessem para a antiga base imperial do lado sombrio de Luyta.

— Para se encontrarem.

— Precisamente. O mestre Eilin precisa de se reunir comigo.

— E vai ser o mestre Eilin que te vai contar tudo sobre O’Sen Kram.

— Tudo o que eu precisar de saber para combatê-lo.

Eu faço parte dos planos do mestre Eilin. Eu e o cavaleiro Jedi vamos combater Kram, juntos. As estranhas voltas do destino, acrescentei mentalmente, lembrando-me daquilo que o mestre me tinha revelado. Luke olhou-me de través. Continuava a conseguir ler-me os pensamentos, voltei a cabeça para o outro lado. Seria da atmosfera daquela floresta escura?

— Como foi que Kram deixou isso acontecer? – perguntei, espantada. – Como foi que te deixou vir para Luyta? Pensava que ele tinha o controlo…

— É um jogo. Ele sabia que tu tinhas sido trazida para Luyta, sabia que a minha irmã Leia e Han Solo se dirigiam para cá em busca de respostas sobre o meu misterioso desaparecimento. Se eu estivesse aqui criavam-se as condições necessárias para te recuperar e para eliminar outro potencial adversário perigoso, Leia, que conhece os caminhos da Força e é uma importante senadora da Nova República. A armadilha resultaria. Foi feito um clone a partir de uma tosca projeção holográfica. O risco parecia mínimo… Kram está desesperado para te ter novamente na sua posse… Ele conhece-te.

A última afirmação deixou-me gelada. Vazei a mente para não ter nenhum pensamento incauto que perigasse a minha posição. O aviso do mestre Eilin reverberou na minha inconsciência, o cavaleiro Jedi não podia saber que eu fora gerada por Kram. Se eu precisava de confiar nele, Luke precisava de continuar a confiar em mim.

— Porque dizes que me conhece?

Ele fez uma pausa prolongada. Um pio agudo sobrevoou-nos e puxei as abas da capa para me aquecer os ombros congelados. Os olhos vermelhos dos animais vigiavam-nos na escuridão, os perigos continuavam a ameaçar-nos nas dobras misteriosas daquela floresta.

— Tu disseste-mo quando estivemos na cela da Belirium— revelou com uma falsa inocência. – Lembras-te? Estiveste com O’Sen Kram porque ele requisitou a tua presença.

Engoli em seco. Literalmente, pois a saliva tinha-se evaporado completamente no interior árido da minha boca. Pois tinha dito. Na minha confusão, aturdida com os últimos acontecimentos, dissera a Luke que Kram me conhecia. Ansiava por respostas e julgara, acertadamente, que o senhor do trono negro podia providenciar-mas. Mas depois de me encontrar com o mestre Eilin tudo tinha mudado, dramaticamente. E naquele momento, sabendo quem eu era, o que tinha acontecido na sua magna extensão, desde o meu nascimento até àquele ponto em que caminhava ao lado de Luke Skywalker na floresta de Luyta, resguardando memórias antigas, alheias e minhas, deixando fugir indícios de pensamentos por brechas inesperadas, sabia que teria de me armar de precauções sólidas como titânio. Achava que o devia esclarecer, levando-o por uma via que o afastasse da verdade.

— Luke… Sei que te disse que Kram me conhece, mas agora, depois de me ter encontrado com o mestre Eilin, depois de ter passado pelo que passei, já não acredito nisso. Kram capturou-nos porque te perseguia. És um inimigo formidável sendo um cavaleiro Jedi, e pediu para me ver pois deve ter percebido que eu sou diferente… Assim como tu sentes que eu sou diferente. Poderosa e tudo o resto…

— Talvez… Logo ficaremos a saber o que nos aguarda nesta luta que nos une contra Kram. No entanto, sei que ele quer recuperar-te. Algo aconteceu…

— Não aconteceu nada! – afirmei ríspida.

— Mudaste, Cleo. Não és o que eras em Tatooine.

— Mudei, como? – desconfiei.

— Noto-te mais… amadurecida.

— A sério?! – explodi. Como podia ele ousar inferir sobre a minha natureza de criação recente e artificial, que crescia e se transformava num intervalo de dias, de horas? Como uma ferida curada por bacta? – E o que tem isso que ver com o meu encontro com Kram?

Ele colocou uma mão sobre os meus lábios ressequidos.

— Chiu… Não digas mais. Não deves… comprometer a nossa missão. Nem eu tenho a premissa de te exigir as explicações que não podes dar. Estamos unidos contra Kram, mas cada um tem as suas responsabilidades e os seus próprios demónios para enfrentar.

Agarrei-lhe no punho.

— Agora, estás a ser condescendente!

Afastei-me, pisando furiosamente o chão coberto de folhagem morta. Queria muito recuperar a serenidade para não o confrontar, mas permanecer calma era um exercício cansativo que me drenava as energias de uma forma avassaladora, quase até ao ponto do desmaio. Era um combate interior contra mim mesma, uma luta de vontades, a minha tenacidade de poder acreditar que sim, que tinha a maldita de uma escolha.

Empurrei arbustos, caminhando para longe dele. Escutei-o a gritar:

— Não! Não, Cleo… Não vás por aí! Volta!

Gritei-lhe em resposta:

— E autoritário!

Mordi a língua. Passei as mãos pela cara, afastei as madeixas despenteadas. Precisava de tempo. Só mais um pouco para desanuviar a mente, recompor-me, munir-me das armas que eu não dominava para manter a minha inviolabilidade ante a sua insistência em perceber-me com a Força.

No fundo, tinha medo que ele descobrisse que Kram era o meu criador. Não sabia quais as consequências disso. Iria simplesmente odiar-me, ou seria desencadeado um acontecimento catastrófico que levaria a galáxia à implosão? O mestre Eilin não tinha sido esclarecedor… Mas eu não era assim tão importante, mais valia que deixasse de imaginar coisas despropositadas. A galáxia não implodiria, ele acabaria apenas por me odiar.

Baixei a cabeça. A neblina branca enrolava-se em novelos junto às minhas botas enlameadas. Observei-a demoradamente e notei que havia algo como um véu ténue azulado a cortá-la, uma bainha feita de franjas mínimas a roçar o solo. Estiquei os dedos mas o véu não era palpável, nem sequer parecia existir acima do chão.

Retive a respiração, atenta ao que me envolvia. Silêncio. Não escutava nada, nem o roçagar dissimulado dos bichos, nem os passos de Luke Skywalker a se aproximarem para vir ter comigo, para se zangar por causa da minha insensatez, para me puxar para o trilho certo. Afinal, ele não queria que eu tivesse vindo por aqui. No sentido literal ou figurado?

O ar moveu-se, como se um braço gigantesco tivesse varrido os céus da floresta. Foi mais som que movimento, a mudança de tom daquele silêncio denso, palpável, ilusório como o véu misterioso.

Um restolhar da vegetação rasteira. Pensei imediatamente num animal que cirandava por ali em busca de uma presa, tão ou mais faminto que um tuyaq. Os músculos da minha perna direita arrepanharem-se com o horror da lembrança do ataque. Olhei para todos os lados. Dei um passo atrás.

— Não te mexas!

Escutei o estalido de uma arma a ser destravada nas minhas costas.

Levantei os braços, dobrando-os pelos cotovelos, em sinal de rendição. Não via quem me interpelava, mas adivinhava que fossem soldados de Kram. Era normal que nos tivessem seguido desde a base e que tivessem aguardado que nos separássemos para nos apanharem, começando por mim que era a mais fraca. Depois, seguir-se-ia a habitual chantagem que obrigaria o cavaleiro Jedi a render-se para me proteger a integridade física. Fora tão estúpida em ter cedido às minhas emoções egoístas!

— Encontrámo-la, capitão! – exclamou alguém entusiasmado.

De um momento para o outro surgiram mais quatro homens que me rodearam. Sacaram das suas armas e também mas apontaram. Eram cinco canos pretos a ameaçarem-me, cortando-me a fuga e todas as ideias de que conseguiria dar a volta à situação. Surgiu um sexto homem, o capitão, mais velho, de cabelo e bigode grisalhos. Parou diante de mim, observou-me com desprezo e asco. Tinha mãos brancas e grossas, incapazes de perdoar qualquer deslize.

A floresta muda sublinhava a minha situação irreversível. A minha estupidez!

Baixei devagar os braços quando um dos soldados se aproximou e me revistou. Retirou-me a pistola laser DH-17, afastou-se, sempre a apontar-me a sua arma. O capitão perguntou-me:

— Onde está o Jedi?

— Não sei. Estou sozinha.

Deu-me uma estalada, voltei a cara com o impacto, rebentou-me a boca. Passei a língua pelo lábio dorido, saboreei o sangue.

— Não te atrevas a mentir a um oficial do Império.

Aproximou-se tanto que pude sentir-lhe o hálito.

— Vou perguntar-te outra vez. E creio que vais querer ser sincera, minha menina. – Sorriu-me. – Onde está o Jedi?

Sorri-lhe de volta, mesmo que sentisse os joelhos a tremer.

— Estou sozinha.

Outra estalada que me magoou o maxilar. Cerrei os dentes para recolocar o osso no sítio.

— Posso levar-te inconsciente, não me importo o estado em que vais ser entregue ao meu senhor.

— Creio que estás enganado nessa questão… capitão.

Ele abriu o sorriso malicioso.

— O teu atrevimento é louvável. Compreendo que não conheças a minha reputação, de outro modo não mostrarias essa falta de apego à tua miserável vida.

Conseguira lê-la naquelas mãos de carrasco, infelizmente. Mas não cairia no erro de me deixar abater por uma simples insinuação ou manobra psicológica. Mantive o desafio, o sorriso, a insensatez de provocar o louco, pois lia uma demência assassina naqueles olhos cinzentos que me fixavam, vorazes.

Os cinco soldados observavam de arma em riste, sem ousar interferir ou chamar o seu superior à razão, pois haveriam de temê-lo mais ainda do que Kram, embora soubessem, por certo, o quanto o seu supremo comandante desejaria capturar-me e sem qualquer dano. As sombras das árvores não me deixavam entrever corretamente as feições dos soldados, mas Frint não estaria entre eles, ou já teria avançado.

O capitão também conheceria o capricho do seu supremo comandante, mas o seu orgulho de oficial do Império não lhe permitia submeter a sua autoridade às provocações de uma menina.

A mão dele apertou-me o pescoço, com tanto ímpeto que parecia que me queria levantar no ar. Fiquei em bicos dos pés.

— Vou perguntar-te pela terceira e última vez. Onde está o Jedi?

Seria ainda mais ridículo que fosse destruída por um oficial de Kram.

Preparei-me para negar, pela terceira e última vez.

Uma luz verde irrompeu na escuridão.

— Aqui me tens.

Dois soldados quebraram a formação cerrada em meu redor e voltaram-se para a luz que eu só conseguia ver pelo canto do olho, uma barra luminosa a zunir. Apontaram-lhe as armas.

— Agora, solta-a.

A mão do capitão abriu-se e eu caí de joelhos.

— Quieta! – sussurrou-me o soldado que estava nas minhas costas, encostando-me a arma à nuca.

Esfreguei a garganta a tossir.

De repente, o soldado passou-me um braço pelos ombros, puxou-me, encostou-me a si e recolocou a arma na minha cabeça, por cima da orelha. Aprisionou-me num abraço tão apertado que arquejei sem conseguir conciliar a respiração.

Um zumbido elétrico cortava o silêncio da floresta.

— Skywalker, estás em desvantagem – avisou o capitão. – Um movimento teu e a tua amiga desaparece.

A ameaça era totalmente incoerente.

Luke não respondeu. Fechei os olhos.

Contactou-me em pensamentos, ouvi-o claramente. Não eram palavras, eram sensações, profundas e nítidas. Pedia-me para o ajudar, que estivesse atenta às suas ações, que não hesitasse quando ele se me dirigisse.

Foi demasiado rápido. Alguém disparou. Mesmo sem uma ordem expressa para abrir fogo, os outros imitaram o soldado mais precipitado e nervoso. Os raios laser choveram numa cascata azul e foram detidos pelo verde do sabre de luz. As armas voaram pelo ar, o capitão berrou desvairado e sacou da sua pistola. O garrote que me prendia aligeirou-se, atirei-me contra o soldado para o afastar de mim.

— Baixa-te!!

Estendi-me no chão, protegi a cabeça com os braços.

A lâmina brilhante do sabre de luz deslizou num amplo movimento circular por cima de mim, separando o ar e tudo o que encontrou em dois. Baques secos à minha volta. Os corpos decepados que tombavam inertes, a seguir as respetivas armas fumegantes.

Uma mão pousou-me nos cabelos. Dei-lhe uma palmada, rebolei e levantei-me, apoiando-me numa árvore. Odiava que me fizessem festas no cabelo, destravava o meu espírito sedento por sangue. Rosnei zangada. Não compreendia a reação excessiva, mas devia estar relacionada com a minha criação pouco natural. Seria, porventura, um mecanismo para que me tornasse insensível perante manifestações mais humanas. De vez em quando, recuperava essas características odiosas.

Cheirava a queimado. O sabre de luz foi desligado e ele disse-me:

— Vamos embora deste lugar. Não é bonito de se ver…

Encolhida, atravessei uns arbustos e ele seguiu-me. Eu corria mesmo com um peso no peito, transida de medo e com as pernas trémulas.

— Não gostas de matar?

— Não, Cleo.

Alcançou-me, fez-me parar ao colocar-se à minha frente.

— Mas, às vezes, é necessário – suspirou. Estendeu-me a pistola laser DH-17 que me tinha sido confiscada. – Estás bem?

O peso da pistola pesava-me no braço, mas não consegui enfiá-la logo no cinto. Era qualquer coisa de real, de palpável, que me assegurava de que ainda estava inteira e que tinha acabado de ser salva, mais uma vez, das mãos de Kram. De que apesar de rejeitar a minha humanidade, preferia-a ao meu lado animalesco.

Acenei que sim, ofegante.

Observou-me o lábio que começava a inchar, a face entumecida da segunda bofetada. Não queria que ele me voltasse a tocar e baixei a cabeça.

— Estou bem, não me está a doer…

— Temos de ir. Consegues andar?

— Estive a correr. Também vou conseguir andar.

— Estás em choque. É normal que tivesses corrido.

— Não sou tão frágil como julgas, Skywalker!

Sorriu-me.

— Isso é um melhoramento. Costumo ser o cavaleiro Jedi quando estás irritada.

— Pois…

Meti a pistola no cinto. Ele pediu-me:

— Não te afastes de mim. Estamos em segurança desde que nos mantenhamos dentro da proteção criada pelo mestre Eilin. Compreendes? Foi assim que aqueles soldados nos encontraram. Existem mais patrulhas a vasculhar a floresta. Andam muito perto, mas não nos conseguem ver se formos pelo caminho secreto. Sinto-os a todos. Estão cansados e enregelados, querem que isto termine para voltarem para o calor da base.

Reparei que as franjas mínimas que eu tinha detetado antes adejavam entre a neblina, no meu lado esquerdo, e que havia mais do lado direito, formando uma passagem que se abaulava diáfana sobre nós, fazendo tremeluzir as estrelas em tons de um azul pálido.

— A proteção do mestre Eilin… Estás a falar do véu?

— Consegues vê-lo? Inacreditável… Eu apenas consigo senti-lo. – Acrescentou com uma sincera admiração: – És realmente extraordinária…

— Não me tenhas em tão elevada conta, podes desiludir-te.

— Vamos.

Arrependida, pedi-lhe:

— Desculpa.

— Não faz mal. É normal que sejamos atacados quando somos tão cobiçados.

A bondade é inerente aos Jedi, esses nobres guerreiros.

E ao lado de Luke Skywalker sentia-me tão imperfeita. Era praticamente um poço de defeitos, herdados dos meus progenitores. Vi as costas dele endireitarem-se, enquanto caminhava, ligeiramente mais adiantado. Tinha conseguido captar mais esse pensamento.


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Notas finais do capítulo

E este é o início da terceira e última parte desta história.
Finalmente, Luke Skywalker e a Cleo juntos!
O reencontro foi emotivo, a continuação da convivência foi estranha, porque ela ainda não definiu exatamente como quer ser, como quer portar-se junto do cavaleiro Jedi. Depois de conhecer a verdade, ficou tudo demasiado confuso para a Cleo...
Vão encontrar-se com o mestre Eilin - o que acontecerá depois desta reunião?

Próximo capítulo:
O mestre.